{#339.028.2024}

Sim, gosto muito de abraços. Aprendi o poder de um abraço com o terapeuta fofinho logo na primeira consulta com ele, nos idos de 2016, quando, no final da consulta, ele me perguntou: “posso dar-te um abraço?” Eu não estava, de todo, habituada a uma pergunta destas. Ou seria um pedido? Nunca soube, nunca saberei. O que sei é que, logo desde essa primeira consulta, o abraço tornou-se obrigatório para finalizar as consultas. Obrigatório porque eu comecei a habituar-me a esse aconchego depois de uma sessão de exposição de fragilidade, depois de deixar sair tudo o que tanto me doía. Esse abraço no fim da consulta, apertado e sinceramente sentido, ensinou-me a força do aconchego que um abraço pode e sabe ser. E ensinou-me também que os abraços ajudam a voltar a respirar. Acalmam. Tranquilizam. Fortalecem.

Foi com o terapeuta fofinho que aprendi o poder de um abraço. E foi a partir daí que dei por mim a facilmente abraçar outras pessoas nas mais diversas situações, das melhores às piores.

Já não estou fisicamente com o terapeuta fofinho há mais de 2 anos. Já há muito tempo, ainda pré-pandemia, ele não estava em Lisboa e as nossas consultas aconteciam todas as semanas via Skype, onde é impossível abraçar quem está do outro lado. Mas, sempre que ele desce à capital e consegue encaixar-me na agenda social das visitas a família e amigos, já sei que pomos os abraços em dia. À chegada e à partida, como passou também a acontecer nas consultas ainda presenciais: um abraço à chegada antes de iniciar a sessão para relaxar e mudar o chip, um abraço no final para aquele aconchego antes da partida.

E foi assim que aprendi a gostar tanto de abraços.

Mas hoje aconteceu ficar a conhecer outro abraço sobre o qual já tinha lido várias vezes e que, apesar de me despertar alguma curiosidade um bocadinho mórbida, sempre soube, pelos relatos e descrições que fui lendo, que seria um abraço demasiado desagradável, muita vezes doloroso e sempre aflitivo…o chamado Abraço da Esclerose Múltipla, essa coisa que me apanhou na curva e para a qual continuo a não estar preparada.

Estava tão tranquila. Relaxada. A fazer contas ao tempo para sair de casa para ir ao Yoga. Estava quase na hora de lanchar e eu tinha acabado de almoçar há relativamente pouco tempo, depois de ter acordado tão tarde… Estava no sofá, a conversar com a minha mãe. E, de repente, sem pré-aviso, tinha o peso do Mundo inteiro nos meus ombros. Que, devagar, se começou a espalhar, cobrindo por completo os ombros e as omoplatas. O pescoço não tinha qualquer peso. Nem força. Parecia até que estava completamente solto do resto do corpo, talvez apenas preso por uma frágil linha que ameaçava romper a qualquer momento. A verdade é que, enquanto sentia o peso do Mundo inteiro nos meus ombros, o pescoço não tinha sequer qualquer força para segurar a cabeça…

Respirar. Era preciso respirar fundo. Com calma e de forma consciente. Até que percebi que, aquele peso todo que sentia nos ombros e se espalhou às omoplatas, de repente deixou de ser apenas o peso do Mundo inteiro para se transformar também num bloco de cimento. Duro. Muito duro. Ao ponto de me dificultar a respiração profunda e calma que eu tentava que me ajudasse a relaxar…

A respiração passou a ser muito superficial e sem ritmo definido. Ao mesmo tempo que tentava voltar a respirar fundo e com ritmo definido, percebi que o tal bloco de cimento que cobria e prendia os meus ombros e as minhas omoplatas se tinha espalhado até aos braços. Dos cotovelos até aos ombros. O peso. A rigidez do bloco de cimento que, de repente, ganhou proporções de granito. Mover os braços era extremamente difícil…quase impossível…

A cabeça solta, presa ao pescoço por uma frágil linha, a respiração superficial mas um pouco acelerada ainda que sem ritmo definido, aquele bloco em que o meu torso se tornou e que, afinal, não era de cimento mas sim de granito. Os braços imóveis entre os ombros e os cotovelos. Tudo isto durou longos minutos. Até que comecei a perceber-me presa por correntes que cada vez me apertavam mais e mais à volta dos braços. Como num abraço. Onde, em vez de ser aconchegada por dois braços quentes e tranquilizantes, era simplesmente apertada, cada vez mais apertada!, por correntes, ou por um qualquer cinto, que me prendiam desde os ombros até aos cotovelos

Não houve dores. Apenas a pressão do peso do Mundo inteiro em cima de mim, a pressão da rigidez do granito, a força extrema das correntes que me apertavam dos ombros aos cotovelos. Tudo isto como num abraço. Mas o abraço mais desconfortável, mais aflitivo, quase agoniante que senti até hoje.

Não sei quanto tempo durou. Só sei a intensidade que teve. E a certeza de que este não era, nem é!, o abraço de que preciso. Mas, sei agora, este é, de facto, o famoso Abraço da Esclerose Múltipla. A minha curiosidade mórbida ficou, finalmente, a saber como é. Pavoroso. Horrível. Aflitivo. Desconfortável. Agoniante. Gostava de poder dizer que não quero repetir. Mas já sei que estou sujeita a que se repita a qualquer momento, sem sequer haver pré-aviso.

E o que eu queria mesmo era um abraço do terapeuta fofinho…não este que tive hoje e que vem acompanhado de um grande sofrimento.

Não!, o que eu queria mesmo era aquele abraço quentinho e protector, aconchegante e tranquilizador. Não só o abraço do terapeuta fofinho. Mas, acima de tudo, o abraço dele. Não este…

{#338.029.2024}

Dormir até ao meio dia. Há tanto tempo que não fazia uma destas que já não me lembro quando foi a última vez. Ou, se calhar, até aconteceu há pouco tempo, mas esse registo na minha tabela de Excel dos momentos e memórias está numa daquelas células em branco às quais não consigo aceder. Não interessa. Interessa sim que este acordar tão tardio foi um recado do meu corpo a recordar-me da necessidade de descanso. E, nos últimos dias, a verdade é que abusei um bocadinho da pouca energia que ainda vou tendo…

Do que eu não me esqueço, o que eu guardo em células especiais da minha tabela de Excel dos momentos e memórias, células protegidas que não são apagadas, são todos os momentos com ele. Mesmo que à distância de um clique, não importa. Todos os momentos com ele são momentos nossos. Irrepetiveis. Únicos. Tremendamente especiais. Nos últimos dias houve algum desencontro, é verdade. É aquela coisa da vida a acontecer. Que acaba sempre por interferir com encontros à distância de um clique. Que acabaria sempre por interferir mesmo que a distância fosse inexistente. Mas esses dias de desencontros trouxeram, claro, as saudades. As minhas saudades dele. As saudades dele de mim. E reforçaram a vontade, a necessidade que temos um do outro.

Tudo começou com um simples “Olá” numa qualquer rede social. Um simples e inocenteOlá“. Inocente de ambas as partes. E o resto simplesmente aconteceu. Ou nasceu. Ou surgiu. Ou o que lhe quiserem chamar. Mas foi uma coisa tão natural… Uma espécie de encaixe perfeito de duas peças que se completam, que pertencem uma à outra. Desde sempre.

Não me canso de dizer que não foi um simples encontro. Foi, sim, um reencontro. Como se já nos conhecessemos de outros tempos, outras vidas. Outros sítios, até. Quando não existia distância entre nós. Quando também não havia redes sociais para nos manter juntos…

Por algum motivo que desconheço, que não tenho como saber, algures no Tempo acabámos por nos afastar. Por nos perdermos um do outro. Duas metades da mesma peça que se partiu por algum motivo e nos afastou um do outro. E todo este tempo em que estivemos longe um do outro nunca encaixámos correctamente com todas as outras peças com que nos cruzámos. Porque não eram as peças certas. Não eram eu. Não eram ele.

Até que um simples e inocenteOlá” como que nos acendeu uma luz para que nos reconhecessemos. Para que nos reencontrássemos. Para que o tal encaixe perfeito destas duas metades se desse. Ele é, sem dúvida, a metade que me faltava. Agora sim, em cada momento com ele, mesmo que à distância de um clique, estou completa. Estou inteira. Eu e ele somos as duas metades de uma peça única e especial, perfeitamente funcional depois de termos percebido o encaixe perfeito.

Sim, os meus momentos com ele ficam registados na minha tabela de Excel dos momentos e memórias em células protegidas, impossíveis de apagar. Porque cada momento com ele é uma tatuagem na memória. E as tatuagens ficam para sempre.

{#337.030.2024}

Quando programas o teu dia para ser produtivo, com uma manhã mais activa do que tem sido e já sabes que à tarde tens que sair porque tens uma consulta, o que é que acontece? De facto acordas cedo, mentalizas-te para a manhã que programaste e, quando dás por ti, mais uma vez és derrotada pelo teu corpo que, apesar de ainda não ter feito nada de extraordinário, grita por descanso e acabas por adormecer no sofá e ali ficas duas horas até seres acordada para tomares banho, almoçar e sair de casa, tudo a tempo de chegares ao Centro de Saúde à hora marcada para a consulta…

E, dentro da minha cabeça, desde ontem à noite, aquela sensação que não podes chamar de som de uma espécie de ressonância grave como se, por perto, houvesse um qualquer concerto ou alguém no prédio estivesse a ouvir música alta e só se conseguisse ouvir os graves. Ou sentir os graves. No interior da minha cabeça e não exactamente nos meus ouvidos. Porque não era um som que pudesse ser ouvido. Mas era uma vibração. Uma ressonância. Qualquer coisa que não sei explicar o quê. Mas que começou ontem à noite, dificultando, e muito!, o adormecer. E que esta manhã continuava presente. E à tarde também… E essa vibração, essa ressonância, essa coisa que não sei descrever nem sequer explicar criou uma confusão tão grande na minha cabeça todo o dia.

Confusa. Algo baralhada. Nem eu sei muito bem o quê. Apenas sei que não, não estava bem

A vibração, a ressonância nos meus ouvidos, ou se calhar era na minha cabeça?, nem eu sei bem!, acabou por passar. A confusão acalmou um pouco. Mas voltaram as vozes que gritam por ajuda, que ecoam na minha cabeça antes de iniciarem o processo intrusivo de ideias parvas e, eventualmente, perigosas. E eu não quero voltar à urgência de Psiquiatria. Especialmente depois de ter sido acusada de usar os meus sintomas Borderline como “arma de manipulação“. Quando o que eu preciso é de ajuda. E quem, supostamente, tem o papel de me ajudar, é exactamente a mesma pessoa, o mesmo profissional!, que me acusou de manipulação

A minha Perturbação de Personalidade Borderline tem estado muito controlada a nível de sintomatologia. O terapeuta fofinho, que me testou o suficiente para ter o resultado deste diagnóstico confirmado, também ele, pela primeira psiquiatra que me acompanhou, deu-me muitas ferramentas práticas para eu própria conseguir controlar a Perturbação. Mas ela não deixou, obviamente, de existir. A verdade é que, enquanto tive o acompanhamento dele, tinha sempre quem me ouvisse e puxasse por mim para eu própria fazer por ficar bem em situações menos boas. E isso, parecendo que não, foram as ferramentas que ele me ensinou a usar para controlar a Perturbação e não acordar a sintomatologia.

Mas o acompanhamento do terapeuta fofinho terminou no final de Março, por falta de disponibilidade dele. E eu fiquei um pouco desorientada, sem chão, sem apoio, sem ajuda para me defender de mim própria ao fazer face ao diagnóstico e à chegada do meu novo normal que de normal tem tão pouco…

Acompanhamento psiquiátrico existe. De tempos a tempos, como é normal. E veio daí o encaminhamento para o apoio psicológico. Entretanto, a Depressão começou a mostrar-se presente novamente. Essa que já estava tão melhor. E, com a Depressão, começaram a querer acordar os sintomas da Perturbação de Personalidade Borderline. Reconheci rapidamente os sinais de alerta. E há meses que digo que preciso de ajuda. Que, mesmo tendo um profissional que supostamente me acompanha a cada mês e meio, não tenho a ajuda que preciso. Porque não me ouve. Não se lembra do que já lhe contei. Não reconhece os sinais e sintomas descritos verbalmente em cada uma das muito poucas consultas que tivemos enquanto que, ao mesmo tempo, até o neurologista reconheceu no meu olhar, apenas no meu olhar porque a máscara não permite ver as expressões por inteiro, que a minha Depressão estava pior

A sintomatologia é um desafio diário. E, sem a ajuda que eu preciso, só eu sei o tamanho da luta interna que travo todos os dias.

E depois há um diagnóstico para aceitar, um novo normal para me habituar, uma solidão à qual sobreviver, uma vontade de me magoar, de me punir até!, como se tudo isto fosse responsabilidade minha. Como se essa punição fosse merecida por algum motivo. Que desconheço. Que não entendo. Mas que sinto ser real.

Não!, não quero voltar à urgência de Psiquiatria. Não me parece que vá lá fazer nada. Mas preciso muito de ajuda. E não sei ao que recorrer. Consulta com o psicólogo que não me ouve e acusa de manipulação? Janeiro. Consulta com o psiquiatra que vem substituir o anterior que se ausentou do Hospital? Final de Fevereiro. Até lá? Não sei. Não sei mesmo. O que fazer. A quem recorrer. Não sei nada. Só sei que me conheço o suficiente para saber que não estou bem, para reconhecer o despertar da sintomatologia da Perturbação Borderline, para admitir que tudo isto me mete medo

E, como se não bastasse, para hoje estava marcada Junta Médica da Segurança Social por causa da minha baixa médica à mesma hora da minha consulta com a médica de família. Claro que não pude ir à Junta Médica. Tenho a justificação do Centro de Saúde. A Junta Médica deverá ser remarcada para breve. E eu tenho medo do resultado. Porque eu não estou em condições de voltar ao trabalho. Não com a Depressão neste nível. Não com os desafios, até os cognitivos, do meu novo normal.

Não. Eu não estou bem. Eu preciso de ajuda que não estou a receber. Estou muito confusa. Baralhada, até. E não sei o que esperar da Junta Médica…

Por agora, cansada e moída, quando a noite já se inicia na fase da madrugada, é hora de baixar os braços por hoje. Reconhecer que também preciso de descansar. E mereço descansar! De nada que me possam apontar que tenha feito hoje eventualmente desgastante fisicamente. Mas da luta interna que travo todos os dias com tudo isto que trago cá dentro e que tenta, à força, travar-me. E também da luta constante com o meu corpo cansado sem se ter esforçado que me deixa esgotada, tanto física como psicológicamente. E aqui, neste campo, a única coisa a fazer é realmente ouvir o meu corpo e obedecer-lhe, seja ao adormecer no sofá a meio da manhã ou a seguir ao almoço, seja ao ir para a cama cedo. E esta parte é outra luta que travo comigo mesma todas as noites: sei que tenho que voltar a ter um horário decente para ir dormir. Mas deixo-me ficar acordada até tarde para provar a mim mesma que ainda consigo ficar acordada até tarde! E só eu sei o quanto me custa manter-me acordada até tarde. Mas é só mais uma luta entre o meu Eu mental e o meu Eu físico. E eu sei que tenho que respeitar mais o meu corpo, o meu Eu físico. Mas, lá está, é aquela punição de que falava há pouco. Que não faz sentido nenhum, mas que o meu Eu mental me impõe. E a luta recomeça todas as noites…

Mas, por hoje, o meu Eu físico ganhou. É tarde. Muito tarde. Mas está na hora de dar descanso ao corpo. Como se vai comportar a cabeça durante a noite? Não faço ideia. Mas espero sinceramente que colabore…

{#336.031.2024}

Das coisas que tenho vindo a aprender: depois de um dia em que esgotei a energia do meu corpo, como ontem, é dia de recuperar. Descansar. Dormir. Não sair de casa. Não fazer rigorosamente nada. Na verdade, nem sair do pijama.

E hoje foi assim, tal e qual. Esta parte tenho vindo a aprender. O que parece que nunca mais aprendo é ir dormir a horas decentes! Ontem a madrugada já corria solta quando me deitei. Adormecer foi instantâneo, como tem sido sempre que aninho e enrosco na minha cama. Mas já eram 4h da manhã…

Esta noite…bem, a madrugada já corre por aí. Ainda não saí do cadeirão, mas vou fazê-lo de seguida. Hoje tenho o sono que ontem não tinha. Mas antes da uma e meia da manhã não devo estar a dormir…

Para quê estes horários? O para quê, não sei. Mas o porquê sei-o bem demais…

{#335.032.2024}

Passar 7 horas e meia num centro comercial, em fim de semana de Black Friday e início do mês de Natal não estava nos meus planos nem nos meus piores sonhos. Mas hoje aconteceu…

Chegar a meio da tarde e sair já com as lojas todas encerradas. E não posso dizer que fomos a muitas lojas porque estaria a mentir. Mas, de facto, não sei como é que se passaram tantas horas num centro comercial.

Seja como for, grande parte (a grande maioria!) do Natal cá de casa está tratado. E os objectivos principais, que eram comprar café e um novo pé para a minha bengala, também foram alcançados.

Claro que me cansei mais do que gostaria, mas algum dia teria que ir ao Fórum tratar do Natal. O café podia ter sido encomendado pelo telefone mas antes de terça ou quarta feira não teria café em casa. E, sem mais nada para fazer, já mais ou menos recuperada do dia de sexta feira, lá fui com a minha mãe. Sozinha não iria, claro. Fomos as duas e o que mais me custou não foram as horas em pé, de um lado para o outro, os quase 2km que fizemos no Fórum. O que mais me custou mesmo foi ver a minha mãe a carregar com os sacos todos, um deles até pesado porque era o saco onde depositámos os nossos casacos assim que percebemos a temperatura que estava lá dentro.

Insisti várias vezes para que me deixasse trazer pelo menos um saco. Não me iria ser assim tão difícil. Acho eu. Mas ela não quis. Penso, porque ela não o disse, que tinha medo que eu desequilibrasse e eventualmente caísse. Admito que também pensei que seria um risco trazer um saco com algum volume e peso do lado direito, o lado contrário à bengala, a única mão que tenho livre para me apoiar aqui e ali sempre que é necessário ou, até, para agarrar o braço da minha mãe.

Custou-me, de facto, não poder aliviar a minha mãe. E é sempre o que mais me custa, vê-la sobrecarregada por eu não conseguir, já, ajudar…

Consegui, já quase no fim das compras, convencê-la a deixar-me trazer pelo menos o saco do café! Pouco peso, volume aceitável, fácil de transportar e que, de certa forma, me ajudava a manter o equilíbrio. Pode parecer pouco para quem está de fora, mas, para mim foi voltar a sentir-me minimamente útil! Que é coisa que, nos últimos tempos, não me tenho sentido…

Enfim…foi um dia diferente. Já não me lembro quando foi que disse à minha mãe que não queria passar 8 horas no Fórum quando ela sugeriu irmos noutro dia e, pelo que me lembro, seria de manhã. Lá está a minha tabela de Excel com algumas células em branco e outras baralhadas! Acho que foi ontem que disse à minha mãe que não queria passar 8 horas no Fórum se fossemos hoje de manhã, mesmo que pouco antes do almoço. E a verdade é que não passámos 8 horas no Fórum. Foram “só” 7 horas e meia…

Enfim, agora que a noite já passou a madrugada e eu estou acordadíssima, o que me resta fazer é ir descansar o corpo que está moído. Curiosamente, e ao contrário do que eu esperava, as pernas não estão demasiado doridas. E isso é bom. Já o joelho esquerdo é que está miserável…

De resto, o fim de semana lá se passou a correr. E as saudades dele sempre presentes. Mas, amanhã, pode ser que consiga matar essas saudades logo de manhã. O resto do dia? Logo se vê. A agenda para amanhã está em branco. O mais certo vai ser recuperar do dia de hoje. O resto é só mesmo isso: o resto.

{#334.033.2024}

If you can dream it, you can do it!
Era tão bom se fosse assim tão simples…

Eu tenho sonhos, muitos, tantos! E alguns deles até são tão simples de realizar. Mas depois tenho um corpo, um corpo doente, que se ri de mim e diz-me assim “pensa lá bem…achas que sim?”…

Já tenho lido muito sobre os efeitos e sintomas que isto que me apanhou na curva pode trazer a cada um de nós. Já tenho lido testemunhos de pessoas iguais a mim. Especialmente sobre o efeito Fadiga. Que não é igual a cansaço, agora entendo…

Não me lembro do que fiz na quinta feira, mas acho que foi nesse dia que tive consulta no Hospital. Exacto! Já confirmei, quinta feira foi dia de consulta no Hospital. Acordei cedo, saí de casa relativamente cedo, fui a Almada ter com a minha mãe, seguimos para o Hospital. E planeei depois de almoço descansar um pouco antes de me preparar para mais uma aula de Yoga. Não me lembro a que horas cheguei a casa nem se passei pelo sofá para descansar ou não. Isto de não me lembrar das coisas também faz parte…é como ter uma tabela de Excel carregada de informação com uma mão cheia de células em branco às quais não consigo aceder… Assim anda a minha memória.

Fui ao Yoga, vim directa para casa, jantei e cama. Tarde, como sempre…

Ontem acordei cedo novamente. Cansada, com sono, com o corpo moído. De tal maneira com sono que adormeci na cadeira do cabeleireiro enquanto me lavavam o cabelo. Eu, que não consigo dormir em lado nenhum que não seja a minha cama ou o meu sofá, adormeci na cadeira do cabeleireiro

Com uma Teleconsulta marcada para as 18h (até às 19h) e um jantar às 20h, ainda com tanta coisa para fazer achei que ia conseguir descansar e recuperar energias para a noite. Claro que não aconteceu o que tinha programado, com tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo.

Tive a consulta e, não sei como, consegui atrasar-me para o jantar…! Mas fui ao jantar, socializei, conheci pessoas novas, conversei, soube tão bem.

Cheguei a casa já passava da 1h da manhã. E, ainda sem perceber muito bem como, adormeci pelas 3h.

Esta manhã era dia de Yoga. Consegui acordar a horas de ir, mas o meu corpo riu-se de mim e perguntou-me “achas mesmo?”.

Ainda antes de conseguir sair da cama percebi a mensagem do meu corpo e claro que não conseguia ir a lado nenhum. O meu corpo é que manda e sabe melhor do que eu do que é capaz de fazer em determinado momento…

Mensagem para o Professor Pedro a quem ontem tinha confirmado que lá estaria e assumir que não, não consigo. Eu que, estupidamente, ainda continuo a achar que consigo tudo! Ainda não consegui foi aceitar que a minha cabeça pode até conseguir muita coisa (menos aceder às tais células da tabela de Excel que estão em branco e me fazem esquecer coisas que já aconteceram…e há pouco tempo!), mas o meu corpo esgota a reserva de energia muito rapidamente…

Pequeno almoço tomado às 9h30 e a necessidade e vontade de ir beber um café. À rua. Para acordar para a vida! O primeiro café da manhã aconteceu muito perto das 13h. Porquê? Porque antes disso estive no cadeirão a tentar reunir um bocadinho extra de energia para conseguir ir à rua beber café. Mas fui. E fiquei pela esplanada. Mais tempo do que na realidade pensava que tinha passado.

O sono continuava presente. Tinha programado com a minha mãe uma ida ao Almada Fórum à tarde. Mas o meu corpo continuava a rir-se de mim. “Ok, não vamos a seguir ao almoço, vou esticar-me um bocadinho no sofá, vamos ao fim da tarde”, sugeri. A minha mãe concordou. Acho que ela e o meu corpo têm um qualquer sistema de comunicação entre eles e ela percebeu que eu não estavam só cansada e ensonada…estava esgotada!

Sei que passava muito pouco das 17h quando, finalmente, me estiquei no sofá. Sei também que a minha mãe estava praticamente pronta para sair nessa altura. Sei que procurei um qualquer canal na televisão e ainda tive tempo para pôr os óculos. Como se fosse conseguir manter-me acordada para ver fosse o que fosse!

Sei, sem sombra de dúvida, que assim que me instalei confortável no sofá, com a manta e as almofadas térmicas quentinhas, adormeci de imediato. Não dei pela minha mãe sair de casa, não sei o que se passou à minha volta, sei que fui acordada à força para comer qualquer coisa quase às 21h.

Depois de ter comido, tenho estado numa luta comigo mesma. O meu corpo diz-me “vai dormir!” e a minha cabeça, a mil, responde-lhe “é só mais um bocadinho…”

A verdade é que agora compreendo os relatos de outras pessoas como eu quando dizem que têm que planear muito bem o que vão fazer, especialmente quando aparece um qualquer programa que acaba mais tarde, como um jantar ou uma saída com amigos. Dizem também que, depois dessa saída da rotina se sentem completamente esgotadas. Drained, é o termo que mais tenho encontrado na comunidade internacional com a mesma condição (por algum motivo que desconheço e ainda menos entendo, os portugueses não falam disto, como se fosse um enorme tabunão é tabu! E muito menos é motivo para terem vergonha!). Mas sim, é completamente drained que me sinto! Esgotada é a única palavra que encontro em português para isto, mas que não acho suficiente para descrever esta absoluta falta de energia

Tenho lido várias vezes nessa tal comunidade internacional que, se um dia abusas um bocadinho mais do teu corpo, ele no dia seguinte vai cobrar com juros e a ti só te resta pagar! E eu já percebi que entre quinta feira e ontem devia ter conseguido um bocadinho de tempo para parar, descansar e recuperar. Hoje estou a pagar a conta do excesso de uso da escassa energia, mesmo que esse excesso de uso pareça ser tão pouco para quem está de fora… Mas, só o facto de ontem ter adormecido enquanto me lavavam o cabelo no cabeleireiro, já me devia ter servido de sinal de alarme

Enfim… É muito fácil e muito bonito dizer que “if you can dream it, you can do it!”. Mas não é assim tão simples quanto parece. E agora começo a ver e a conhecer melhor os efeitos que isto que me apanhou na curva tem sobre o meu corpo. E cada vez gosto menos. E assim fica cada vez mais difícil de aceitar este meu novo normal…

{#333.034.2024}

Quando faltam uns, há sempre outros. E, às vezes, os outros somos nós. E estamos lá, sempre.

Felizmente, hoje por uma boa causa. A Mariana faz anos e o jantar é por aqui. Tão na Margem Cool e eu não conhecia, ao contrário de toda a gente.

{#332.035.2024}

As minhas pernas. Parte daquele hardware que o neurologista me confirmou estar um pouco danificado mas que o real problema está no software que está em muito mau estado.

Foram as minhas pernas as primeiras a darem-me sinais de que algo estava errado e que eu durante tanto tempo desvalorizei. “Foi muito tempo em teletrabalho, quase não andava durante o dia, elas parecem não obedecer mas voltando a andar mais em trabalho presencial e caminhadas ou até ginásio elas recompõem-se”, repeti eu para mim mesma tantas vezes durante tanto tempo.

Desvalorizei, não dei importância, para mim existia uma razão óbvia. Não podia estar mais enganada. Afinal havia mesmo bug grande no software que se reflectiu rapidamente no hardware

As minhas pernas. Que eu teimo em querer dar uso. Mas em que há dias em que as dores são tantas que dar um passo que seja é uma espécie de sacrifício.

Dor neuropática, confirmou hoje a Fisiatra do Hospital. Já sabia que era “” mais um sintoma a juntar aos outros todos, só não lhe sabia ainda o nome.

A acompanhar as minhas pernas que me levam do ponto A ao ponto B está a bengala. E, tantas vezes, em simultâneo a minha mãe. Porque o equilíbrio está aquela estupidez e caminhar sozinha é, de facto, um risco.

A Fisiatra, e eu entendo o papel dela!, sugeriu-me hoje: “e que tal trocar a bengala por um andarilho? Dá-lhe mais estabilidade e segurança.” NÃO! “Mas não porquê?” PORQUE EU RECUSO! NÃO QUERO! Enquanto conseguir continuar a caminhar com a bengala, eu RECUSO o andarilho! “E também há umas cadeiras de rodas com motor eléctrico…” NÃO! Não quero! Recuso! “Está à espera de quê, Catarina? De cair?” NÃO QUERO! Nem um nem outro! E ainda estou à espera de conseguir aceitar isto que me apanhou na curva! E continuo a não aceitar!

Enquanto conseguir, com mais ou menos dores, vou continuar a DAR USO às MINHAS pernas! Aceitei facilmente a bengala. Mas mais do que isso é NÃO!

Venha então a medicação para as dores! Venha o Viparita Karani que o Yoga me trouxe para fazer TODOS OS DIAS e que me ajuda tanto! Venha novamente a fisioterapia! Caminhadas no parque até ao paredão! Venha isso tudo! Mas trocar a bengala por um andarilho NÃO!

{#331.036.2024}

Há uns dias, no Instagram, comentei uma publicação, de uma amiga que veio da blogosfera lá pelos idos de 2003 e permanece até hoje, sobre uma t-shirt que ela comprou e que eu andava há meses a namorar e que já constava da minha wishlist desde a primeira vez que a vi. Achava piada ao boneco, um animal astronauta, mas foi a frase que me prendeu: “Houston, I have so many problems”.

Falámos um pouco sobre a t-shirt e a loja online de onde veio. Já tínhamos falado anteriormente sobre meias. Sim!, meias! Daquelas giras, originais e diferentes vindas da mesma loja de onde eu também já comprei umas quantas com obras de arte de Van Gogh, Klimt, Münch e Da Vinci. Chegámos ambas à conclusão que a loja é uma perdição e que o meu problema é ter nascido pobre e não herdeira e que estar de baixa médica há mais de um ano a receber 70% do meu salário (mínimo) me obrigava a planear muito bem todas as despesas e, claro, compras online seriam “para quando der”.

Falámos nessa altura e ficámos por aí sobre o assunto. Até que, passados alguns dias, ela me envia uma mensagem: “fica atenta à caixa de correio. Ainda vai demorar uns dias, mas considera um Natal antecipado”, seguido de um link para seguir uma encomenda. Fiquei sem saber muito bem como reagir na altura, não estava mesmo nada à espera de uma mensagem dessas, muito menos de receber uma encomenda da tal loja.

Os dias foram passando e eu, volta e meia, lá ia espreitar por onde andava a encomenda e, ao mesmo tempo, pensava “a rapariga é doida! De certeza que resolveu enviar-me os patos que eu adorei!”. Os patos são, oh espanto!, meias! Que fazem uns patos muito engraçados e que também estão na minha wishlist.

Esta manhã, nova mensagem dela: “vai chegar hoje! Entrega prevista entre as 9h45 e as 12h45!” E, confesso, houve um bocadinho daquela ansiedade boa de saber que algo bom está a chegar aliada à ansiedade da curiosidade!

Foi quando a minha mãe chegou da fisioterapia que me trouxe, da caixa de correio deprimida, duas coisas: um envelope com uma carta e um pacote! A carta? Mais uma convocatória da Segurança Social para Junta Médica. Já estava à espera, nada de extraordinário, mas dispensava porque ali tanto posso ser atendida por seres humanos como por autênticos calhaus! E calhaus não me apetece, sinceramente. O pacote era o tal que eu sabia que ia chegar mas que era demasiado volumoso para ser um simples par de meias. Não sendo as meias dos patos então é que não sabia mesmo o que poderia ser…

Não consegui abrir logo o pacote. Estava a saber-me bem saber que tinha ali uma surpresa para mim. Que não fazia a mais pequena ideia do que esperar. Fui até ao cadeirão beber um café e fumar um cigarro e o pacote ali ao meu lado a olhar para mim à espera de ser aberto…

Dei por mim a sentir-me como uma criança de 5 anos sentada ao lado da árvore de Natal à espera de autorização para abrir as prendas, tal era a ansiedade (da boa) aliada à curiosidade! E há muito tempo que não me sentia assim: entusiasmada! E quis preservar esse entusiasmo por mais um bocadinho. Estava mesmo a saber-me muito bem!

Respirei fundo e disse: “bora lá!” Peguei no pacote, rasguei o plástico, meti a mão lá dentro para tirar o que lá vinha e, assim que espreitei ao mesmo tempo que a minha mão agarrava no conteúdo soltei uma gargalhada como há muito tempo não soltava e comecei a rir sozinha! A rir muito! Porque mesmo antes de tirar o conteúdo já tinha conseguido ver o que era! E ri! Ri muito! E disse à minha mãe “aquela miúda é doida!” E continuei a rir! Já estava muito contente por ter chegado a encomenda, mas depois de ver que era “A” t-shirt de que tínhamos falado, que eu lhe tinha dito que era a minha cara só pela mensagem que tinha impressa, só consegui rir! Rir muito! Rir tanto! Porque estava realmente surpreendida e FELIZ! A t-shirt é linda e ainda vinha acompanhada com uma bolsa a fazer conjunto com a mesma mensagem: “Houston, I have so many problems!”.

Não foi só a t-shirt que me deixou feliz. Foi também o gesto de quem ma ofereceu depois daquilo a que normalmente se chama de conversa banal. Informei-a, assim que o pacote me chegou às mãos, de que já estava comigo. Mas ainda demorei quase uma hora para o abrir. E, depois de aberto e ainda a rir, agradeci mil vezes na mesma mensagem e continuei a rir. Disse-lhe que tinha adorado, claro, como não?! Uma t-shirt que é a minha cara! Que me fez ganhar o dia! Ao que ele me responde: “é só uma coisinha pequena para animar um bocadito mais os dias”. Com’assim, uma “coisinha pequena”? Só pelo gesto, pelo carinho, pela amizade, pela preocupação de me animar um bocadinho é uma coisa GIGANTE! E a verdade é que o ânimo deu uma volta de 180 graus para muito melhor!

…e a esta hora, em que a noite começa a roçar a madrugada, ainda estou incrédula, a rir e extremamente agradecida. Pela t-shirt, claro, mas acima de tudo pelo gesto! Inesperado. E inesquecível! E dou por mim a perguntar a mim mesma o que é que eu fiz para merecer tanto?! Mas depois penso logo a seguir “eu também mereço que me aconteçam coisas boas!” E, no caso dela, só é pena morar na outra ponta do país. Porque se fosse daqui de perto saía rapidamente um abraço gigante mal a encontrasse. E, o mais engraçado nisto tudo, é que nos conhecemos há 21 anos, já partilhámos histórias, já partilhámos experiências, já nos inspirámos uma à outra, temos acompanhado o que cada uma decide depositar no éter. Mas nunca nos vimos ao vivo!

Amizades via Internet. Ainda há quem desconfie desse tipo de relações, aproximações, o que lhe quiserem chamar. Mas depois há exemplos como este que, mais uma vez, me diz: sim!, é possível o que começa na Internet de forma tão ligeira e simples como o nosso caso em que líamos o blog uma da outra, tornar-se em algo forte e verdadeiro.

E hoje, só por causa de uma conversa banal que se transformou num gesto gigante, o dia foi bom! Muito bom, até! E, mais uma vez, digo: eu sou uma miúda de sorte!

{#330.037.2024}

Dia demasiado longo e muito dorido, doído e doloroso.

Último dia do ciclo de fisioterapia que será retomada sabe-se lá quando, mas dificilmente antes de Janeiro.

Sair de lá já com dores. Fazer tempo por aqui e ali para entretanto almoçar e seguir para o Hospital para a consulta que eu esperava e que precisava. Consulta que me provou o óbvio: não é com aquele profissional de saúde mental que vou ficar bem. Nas palavras dele, estou a manipular para ter atenção e se os meus amigos desapareceram todos é porque eu não sei como fazer para chegar a eles. Portanto, a culpa é minha. Não!, não é! Mas se ele acha que sim… Está na altura de escrever um email para o hospital e pedir troca de profissional de saúde mental por pura incompatibilidade com ele. E nem vou falar da incompetência…

Voltar para casa continuou a ser muito doloroso. As pernas a fraquejar, as dores cada vez mais fortes e ainda tanto para caminhar…

A aula de Yoga que não aconteceu no sábado passado foi remarcada para ontem. Sabia que me ia fazer muito bem, por vários motivos. Mas cheguei a ponderar não ir. Não só por ter chegado a casa muito em cima da hora para preparar tudo para chegar a horas à aula e ainda lanchar e conseguir descansar as pernas por uns minutos, mas também porque ainda teria muito que caminhar até ao clube. E eu não conseguia dar um passo por causa das dores… “Vais de Uber”, diz-me a minha mãe a certa altura. Ela sabia, sem eu lhe ter dito nada, que ponderava não ir à aula. Mas fui. E ainda bem que fui!

Uma aula de Yoga Restaurativa fabulosa. Dores nas pernas depois da aula? Perto de zero. Profundamente relaxada depois de ter entrado num furacão de emoções à tarde. Mas, ali, voltei a reencontrar-me comigo. Voltei a acertar o ritmo da respiração. Naquela hora de aula, deitada no tapete, era só eu e a respiração. E acalmei as emoções, relaxei as tensões e o Yoga fez o resto.

Voltar para casa não foi tão doloroso. E deitar-me na minha cama teve aquele efeito que é cada vez mais habitual em mim: adormecer com o telemóvel na mão enquanto ainda iria iniciar este post. Que escrevo no dia seguinte porque não quero perder o ritmo diário dos últimos 10 anos. Não quero espaços em branco. Para espaços em branco já me basta quando simplesmente não me lembro de alguma coisa, seja um dia inteiro, seja um momento do dia. Na minha cabeça aparece uma tabela de Excel com células em branco quando há alguma coisa que a minha memória apagou…

Enfim…foi um dia muito longo, doído, dorido, doloroso. E foi também o dia que confirmei o que há meses já suspeitava: em todas as áreas, há bons profissionais, há maus profissionais e depois há “isto” com que me cruzei e que não é a pessoa certa para mim.

{#329.038.2024}

Em Almada, ao meio dia, o Sol escapou de entre as nuvens por uns minutos. O tempo suficiente para poder senti-lo no rosto e receber tudo aquilo que me trazia para além da vitamina D que tanto preciso de receber.


Tirei esta foto e enviei como reflexo de uma foto enviada por ele há dias. Ao que ele me responde “Essa pose tem direitos de autor”. E tem. Esta pose, a sentir o Sol, é o reflexo dele a sentir o mesmo Sol, apenas em dias e locais diferentes.

Aquilo que mais facilmente partilhamos é a mesma Lua, é o mesmo Sol, é o mesmo Céu Azul. E, sendo ele o meu Raio de Sol, que outra pose poderia eu fazer ao senti-lo tocar-me, aquecer-me, iluminar-me e, até, proteger-me?

Partilhamos a Lua, o Sol, o Céu e tanto mais. Até as ondas do Mar da Caparica. Não partilhamos o mesmo local, o mesmo sítio. Não ainda. Um dia, talvez… Mas reflectimos a pose um do outro ao absorver através da Lua, do Sol ou do Céu as mensagens que enviamos um ao outro fora das tecnologias.

Tudo por causa de um simples “Olá” numa qualquer rede social que veio no momento certo. Que trouxe tanto de bom. Que transformou tanta coisa. Para ambos.

E, desde 5 de Junho de 2023, sei que não estou sozinha neste meu percurso atribulado. O meu Raio de Sol faz o caminho comigo, sempre de mão dada. E já me disse “se o caminho se tornar mais difícil, levo-te ao colo“. E nem ele sabe o número de vezes que já me levou ao colo…

O meu Raio de Sol que, ao meio dia, escapou de entre as nuvens em Almada e me envolveu no seu calor. No seu abraço quentinho.

E tudo por causa de um simples “Olá” que valeu tanto. E continua a valer.

——-

Ir à rua beber um café pouco antes das 19h e sair da esplanada minutos antes das 20h é, agora, sinónimo de dores absolutamente insuportáveis nas pernas. Porque, neste meu novo normal, sinto a humidade e o frio a entranharem-se nas pernas como nunca senti antes.

Já passei muitas horas de Inverno rigoroso de Janeiro naquela esplanada. Nunca, até agora, o frio me atingiu as pernas desta maneira.
Janeiro é conhecido por ser muito frio. Nos tempos de teletrabalho era certo que, perto das 19h, o meu lugar era na esplanada. Ao frio. Sujeita à humidade. Nunca tive dores nas pernas por causa disso. Até que cheguei a este meu novo normal. Que não!, AINDA não aceito. Não aceito que me limite ao ponto de não conseguir dar um passo porque as pernas estão impregnadas de frio e humidade e com dores como nunca senti antes

Ao chegar a casa, tenho ali o tapete de Yoga e os blocos à minha espera para mais 30 minutos de Viparita Karani que me vai ajudar a melhorar a condição das pernas. Um compromisso que assumi com o professor Pedro diariamente até ao Natal, mas que acima de tudo assumi comigo mesma.

Mas, antes de avançar para o tapete, é obrigatório tirar o gelo das pernas ou não consigo, mesmo em casa, caminhar até lá. Por isso, almofadas térmicas de trigo, 2 minutos no microondas e 10 minutos nas pernas. E sinto o gelo a sair das minhas pernas…

Agora, já com as pernas mais aliviadas, vou ali até ao tapete. Sempre soube que o Yoga me ia ajudar muito. Não imaginava que ajudasse TANTO, porque depois dos 30 minutos de pernas na parede já sei que não vou ter dores.

E cada vez mais tenho certeza disto: este meu novo normal não é recomendado a ninguém!

Posso chorar um bocadinho…? Pois…o pior é que continuo a não conseguir chorar

{#328.039.2024}

Aventureiras. Não sei se cabras, se ovelhas. Apenas sei que são aventureiras. E ousadas. No topo da Arriba, com coragem e equilíbrio suficientes para andarem no limite. Às vezes gostava de ser como elas: com coragem e equilíbrio suficientes para arriscar sair daquela zona confortável, de segurança, e arriscar um pouco mais, sem duvidar das minhas capacidades.


Elas, lá em cima, no topo da Arriba, à beira do abismo, com sabedoria suficiente para não darem um passo em falso. Confiantes da sua força. Da sua coragem e equilíbrio. Sem a vertigem do abismo logo ali, à frente delas.
Eu, cá em baixo, com todas as minhas dúvidas e inseguranças, sem coragem para dar mais do que dois passos no passeio sem apoio. Sem o devido equilíbrio, seja ele de que tipo for, para sair da minha zona confortável, de segurança.

Elas todos os dias fazem do topo da Arriba a sua rotina. Vivem sem pressa. Não perdem tempo a pensar no amanhã, ou no dia que vem depois de amanhã ou de como será daqui a um tempo indeterminado.
Eu? Continuo a tentar aprender a viver um dia de cada vez, digo sempre que é sem pressa mas secretamente desejo voltar ao normal rapidamente. Mas depois lembro-me que esse tal normal é, para mim, todo um novo normal ao qual ainda não me habituei. O qual ainda não aceitei

Elas lá em cima sem a vertigem do abismo.
Eu, cá em baixo, a sentir-me à beira do abismo.
Ainda tenho tanto que aprender com aquelas aventureiras no cimo da Arriba…

{#327.040.2024}

Esta manhã, ao contrário do previsto, não houve aula de Yoga. Fez-me falta, claro, mas a (ir)responsabilidade de uns afecta directamente os compromissos de outros em relação a terceiros e lá os “que parece que mandam” saberão o que andam a (des)fazer sem aviso e sem dar cavaco a quem deviam. Claro que o professor não gostou e com toda a razão. Mas há-de haver uma alternativa e eu lá estarei, como sempre.

Não havendo aula, enquanto esperava pela minha boleia para voltar para casa, decidi ir até ao paredão ver o Mar. E, sendo uma zona do paredão para onde raramente vou, percebi que estava na minha praia dos anos 90. A Praia Nova. E instantaneamente fiz uma viagem de 30 anos na minha cabeça.

Recordei o Bexiga, na sua estrutura azul com letras brancas, com esplanada, casa de banho e balneário. Recordei os encontros e desencontros na Praia Nova, os mergulhos quase forçados porque, ao entrar na água devagar, já com a água pela cintura, me dizem “mergulha! Ou vens para a praia para não molhares o cabelo?!”. As Carlsberg geladas na esplanada. Até os dias de Inverno.

Foi uma viagem no tempo que eu não estava a contar, mas que me soube muito bem.
O que também me teria sabido bem era ir até lá abaixo. Talvez até pôr os pés dentro de água daquela maré baixa de um Mar quase sem ondas. O calor que estava de manhã convidava a isso tudo e muito mais. Mas, sabendo que na areia seca não me consigo equilibrar, estando sozinha não arrisquei.

Mas irei lá voltar o quanto antes para, precisamente, caminhar no areal e seguir as ordens do médico: “andar na areia seca para trabalhar o equilíbrio, na areia molhada para estimular os pés. E, se cair, não é muito grave, já está na areia”.

Tenho a vantagem de ter autocarro quase à porta de casa até à “porta” da praia e o acesso do paredão ao areal é feito por uma rampa de madeira com pouca inclinação e não uma escadaria imensa como a praia aqui em frente, portanto com um acesso muito mais facilitado.

Voltarei em breve à Praia Nova. E, na minha cabeça, ressoa apenas isto: “se a Praia Nova falasse……tinha muitas histórias para contar!”

{#326.041.2024}

Sexta feira. E apetecia-me dizer que tenho tanto para contar. Mas não tenho. E, ao mesmo tempo, também não me apetece dizer nada.

Apenas dizer que as amizades com mais de 30 anos têm um valor extraordinário. Mesmo que durante alguns anos nos tenhamos perdido uma da outra, mesmo que milhares de kilómetros nos separassem durante anos, é tão bom saber que, agora a pouco mais de uma hora de comboio, estas amizades, ou neste caso esta em particular, esta amizade me faz sentir de volta a casa. Ambas crescemos, passámos pelo Tempo, o Tempo passou por nós, demos as voltas que a vida tinha guardada para cada uma de nós, mas continuamos exactamente as mesmas uma para a outra. E isso é tão bom. Sabe tão bem.

Afinal, nem toda a gente desapareceu. Porque quem chegou há mais de 30 anos chegou naquela altura para ficar para sempre.

{#325.042.2024}

Dia comprido, mas nem por isso um dia menos bom:

  • na fisioterapia, e ainda por causa das dores nas pernas, novamente um tratamento mais ligeiro, sem esforço muscular, apenas alongamentos, manipulação das pernas e pés e ligeira massagem;
  • ir aos correios levantar o pacote volumoso que me enviaram e confirmar que vinha exactamente com o que eu já calculava: diospiros do mais natural que existe, sem qualquer químico, alimentados a água e amor;
  • uma aula de Yoga para recuperação do que tem atormentado as minhas pernas e que, ao sair da aula, pude sentir como as minhas pernas fossem tão leves como uma nuvem e sem qualquer dor;
  • uma chamada que não atendi, nem ouvi entrar, por estar no Yoga mas que retornei assim que entrei em casa e que me deixou de coração quentinho: aquele amigo que fiz há 10 anos e que me ajudou tanto a sair do fundo do poço quando mais precisei vai ser pai e eu não podia estar mais feliz por ele; claro que a chamada nunca poderia ser breve, foram duas horas e meia que pareceram tão menos do que isso.

A única coisa que falhou neste dia comprido foi o tempo. Que não estica e não me deu oportunidade de fazer tudo o que queria e ainda estar com ele tanto quanto e como gostaria. Mas, agora que está na hora de aninhar e enroscar, é quando vou poder estar mais perto e durante a noite toda, mesmo que à distância de um clique.

A esta hora já a noite roça a madrugada. Outra vez. E amanhã é dia de fisioterapia logo cedo. Por isso, dou o dia de hoje por terminado. E amanhã será um dia bom novamente. Mas com mais tempo para mim, para ele, para nós.

{#324.043.2024}

Lido por aí hoje, numa qualquer rede social através dele: “nunca desvalorize o poder de um elogio“.

É aquela coisa do reforço positivo. Que nos ajuda a manter a cabeça erguida e a seguir em frente. No sábado tive esse reforço positivo quando o Pedro, professor de Yoga, me disse que, apesar do meu diagnóstico, eu sou capaz de alcançar nas aulas mais do que eu mesma imagino. E soube muito bem ouvir isso, claro que sim. Foi também uma espécie de elogio, penso eu. Pelo menos, é como eu o vejo.

Na fisioterapia cruzo-me com muitas pessoas de diversas idades e condições físicas. E algumas bastante sérias e limitantes. Como a é o caso da Célia. Mais ou menos da mesma idade que eu, com algumas dificuldades parecidas com as minhas, mas com muito mais limitações pelo diagnóstico mais complexo. Foi a Célia que, no dia em que nos conhecemos e sabendo ela já do que se passava comigo porque o encontro não foi casual mas sim programado pela fisioterapia que me sabia tão perdida no meu processo, me disse qualquer coisa como “a vida não acaba com o diagnóstico”. E tenho aprendido, devagar, que é como ela diz. Tem sido uma pessoa que puxa por mim, que me faz acreditar que é possível viver bem e com qualidade apesar do diagnóstico.

Na fisioterapia temos muitos exercícios semelhantes, um dos quais é caminhar entre duas barras paralelas com pequenos obstáculos que nos (re)ensina a andar e a forçar a manutenção do equilíbrio. Já tenho visto a Célia a fazer o seu exercício de barras e é notória a dificuldade maior do que a minha. Ontem foi a vez da Célia me ver a mim a caminhar entre as barras. Neste exercício as barras estão lá para nos podermos apoiar em segurança enquanto caminhamos. Já o conhecia dos tempos de Fisioterapia no Hospital e logo nessa altura eu fazia questão de tentar caminhar sem me apoiar nas barras. Era raro consegui-lo. Tinha que me apoiar sempre, nem que fosse só com uma mão. Mas sempre fiz questão de insistir em tentar largar as barras.

Os resultados da Fisioterapia no Hospital foram muito positivos, saí de lá a caminhar melhor, com um pouco mais de equilíbrio, mais confiante. Com a passagem para a Clínica mantive o objectivo que tinha, mentalmente, definido para mim: não ir pelos caminhos mais fáceis. Neste caso, o mais fácil não me traz grande benefício. Por isso, sempre que vou às barras, insisto em tentar caminhar sem me apoiar. É verdade que a distância é muito curta, não sei se chega sequer a 2 metros, mas é o suficiente para me desequilibrar logo no primeiro passo se não me apoiar.

Tenho insistido muito em não me apoiar nas barras. E tenho conseguido o meu objectivo: ir de uma ponta à outra, ultrapassando os obstáculos que estão no chão, sem me apoiar. E ontem, ao observar-me no exercício das barras, a Célia viu aquilo a que eu chamo de pequena conquista: fazer o percurso várias vezes sempre sem me apoiar. E, quando viu que eu consegui, começou a bater palmas e genuinamente a puxar por mim, feliz por mim. Se isto não é um reforço positivo, não sei o que será. Soube muito bem perceber que não estou sozinha, que há quem torça por mim e fique feliz comigo com as minhas pequenas conquistas.

Hoje o tratamento foi mais reduzido, mais limitado porque as dores que tinha ontem à noite ainda estavam presentes nas minhas pernas esta manhã. Não houve caminhar nas barras para repetir o não me apoiar. A fisioterapeuta apostou apenas na manipulação das pernas e pés para aliviar do esforço das últimas semanas. E eu agradeço esse intervalo. Ainda tenho mais 4 sessões até terminar este ciclo de tratamento. Mas tenho que ouvir o meu corpo e obedecer-lhe.

As pernas hoje continuam com dores. Mais ligeiras que ontem, mas as dores continuam a incomodar. Amanhã de manhã logo se vê como estarei e como será o tratamento. Mas, saber que o reforço positivo está lá, é meio caminho andado para correr bem.

{#323.044.2024}

Depois do nevoeiro da manhã, o céu de um azul intenso como há muito tempo não o via. O Sol quente. O regresso da Arriba Fóssil ao lugar que lhe pertence.

E, o que regressou também, igualmente de forma intensa como há algum tempo não acontecia, foram as dores. Nas pernas. Dos joelhos para baixo. Dores que não me deviam pertencer, não deveria haver lugar para elas em mim. Dores de uma intensidade impossível de descrever…
Já doíam ontem. Mas nada comparado com o que doem hoje. Já doíam de manhã. Mas nada comparado com o que doem agora…

Os exercícios da fisioterapia moem-me os músculos das pernas, é verdade, mas não estes músculos. Porque na fisioterapia o que sinto mais trabalhado são os músculos dos joelhos para cima. Mas aí só os sinto moídos. E com a manipulação da fisioterapeuta aliviam bastante e não chegam a doer. Mas dos joelhos para baixo…

Ingenuamente cheguei a pensar que as dores eram resultado de mais uma noite pouco dormida e que, se descansasse no sofá com as pernas esticadas, as dores iriam passar. Fui tão ingénua

Adormeci no sofá. Foram 2 horas e meia em que desliguei do Mundo. E, quando acordei, as dores… As dores mais fortes, mais intensas, quase insuportáveis. Ainda assim, novamente ingenuamente, decidi ir à rua beber um café. E foi a caminho do café que percebi: as dores. Piores do que as sentia em casa. E dar um simples passo em frente esteve muito perto de se tornar impossível.

Ainda não sei bem como, mas consegui chegar ao café. Sentei-me na esplanada do costume. Bebi o café. E, ao levantar-me para voltar para casa…as dores. O esforço imenso para fazer 150 metros. A vontade de chorar de dores. Mas as minhas lágrimas secaram e foram substituídas por palavras, apenas.

Não faço ideia de como estarei amanhã de manhã para ir à fisioterapia. Mas sei como estou agora para ir do cadeirão até ao sofá. E as dores são de tal forma fortes e intensas que chego a duvidar se vou conseguir sair da varanda para a sala.

Se isto faz parte daquela coisa que me apanhou na curva? Não faço ideia. Sei que as dores são muito perto de serem insuportáveis de tão fortes e intensas que estão hoje.

E eu não aguento mais…

{#322.045.2024}

Segunda feira. Aquele dia em que todos os outros que não eu retomam a rotina do trabalho. Sair de casa cedo, enfrentar o trânsito em veículo próprio ou transporte público. Entrar à hora certa. Cumprir funções. Cumprir horário. Sair do trabalho à hora de sempre ou, em tantos casos, mais tarde do que o horário no contrato dita. Voltar a enfrentar o caminho, desta vez de regresso a casa. Eventualmente ir ao ginásio ou ao supermercado. Tratar do jantar. Tratar dos miúdos quando os há. Olhar para a televisão sem realmente assistir a alguma coisa. Preparar o dia de amanhã em que tudo repete no mesmo horário, no mesmo ritual, no mesmo ritmo.

Tenho algumas saudades dessas rotinas diárias. Não tenho saudades de sair de casa ainda de noite para sair do trabalho já de noite. Mas tenho saudades de acompanhar o nascer do Sol no caminho para Lisboa. Atravessar a ponte. Ver o Sol à direita na ida para lá e ainda a acabar de nascer.

Não tenho saudades do autocarro, nem do trânsito, nem do barulho da cidade logo cedo. Mas sinto falta do segundo pequeno almoço do dia naquele café que adoptei e onde sempre fui bem recebida, bem tratada e bem servida. Tenho saudades do café cheio, intenso e sem açúcar na esplanada a ver os pombos a entrar no estabelecimento e os funcionários a apressarem-se a tentar expulsá-los.

Não tenho saudades do caminho que fazia enquanto fumava aquele que seria o último cigarro nas próximas horas. Mas tenho saudades das montras das lojas onde nunca entrei nem perdi um segundo que fosse a ver o que as montras promovam.

8h50. Passar o cartão, abrir a porta e entrar naquele espaço amplo e quase asséptico onde não é permitido haver um mínimo sinal, fora do horário entre as 8h30 e as 19h, de que quem ali trabalha são, de facto, pessoas. E, mesmo no horário de trabalho, os sinais de que ali estão quase 100 pessoas a pôr uma imensa máquina a mexer têm que ser mínimos.

Não tenho saudades de me sentir apenas um número ou peça de engrenagem numa máquina que precisa dessas quase 100 pessoas para funcionar de forma célere, correcta e satisfatória. Tenho saudades de me rir com os colegas localizados mais perto, mesmo que esses momentos de riso sejam escassos, rápidos porque há clientes para atender ao telefone.

Tenho saudades de fazer atendimento telefónico ao cliente, conhecer o processo em questão, responder às questões que posso responder, resolver o que tenho autonomia para resolver, ser prestável, educada, correcta, amável. Dar o melhor de mim para um atendimento de qualidade. Não tenho saudades das análises mensais de resultados em que, mesmo tendo excelentes resultados em 3 de 4 factores, há sempre um onde falho porque me é exigida a quantidade quando eu dou prioridade à qualidade.

Não. Não tenho saudades de ser um número. Pressionada para ser uma máquina de trabalho e não aquilo que sou: um ser humano. Mas sim!, tenho saudades de rotinas certas e horários que sejam mais do que apenas ir à fisioterapia durante 15 dias úteis para depois ficar novamente sabe-se lá quanto tempo novamente à espera de vaga para retomar os tratamentos. Cumprir 1 hora e meia, se tanto, de exercícios que têm como objectivo recuperar um pouquinho do tanto que já perdi.

Tenho saudades de me sentir útil. De ser aquela miúda do atendimento telefónico ao cliente prestável, educada, correcta, amável e que nas auditorias de qualidade não raras vezes passava dos 90%. Até mesmo dos 95%.

Segunda feira. Aquele dia em que todos os outros que não eu retomam a rotina do trabalho. Eu? Para já mantenho a rotina de sair de casa com o Sol já nascido, apanhar o autocarro que, por vezes, como hoje, falha e não aparece, sair no centro de Almada com tempo mais do que suficiente para beber café com calma na esplanada que, mesmo no Verão, me gela o corpo mas cujas colheres de café são muito giras. Terminado o café, inicia-se a fisioterapia. Terminada a fisioterapia, fazer o caminho de volta a casa. Se o autocarro aparecer. Não sei o que se passou hoje com o autocarro, mas para lá falhou um, para cá falharam dois.

E do que eu não tenho mesmo saudades, porque acontece todos os dias, é ficar a ver o tempo passar. A sentir-me inútil. Continuo educada, prestável dentro do que me é possível fazer, amável com quem me recebe bem.

Do que eu também não tenho saudades, e cada vez tenho menos!, é de ter à minha volta blocos de tijolo e cimento, vulgarmente conhecidos como prédios. Fazem-me sentir ainda mais enclausurada e quase sem conseguir respirar. São blocos de prédios com gente dentro, com vida a acontecer no interior, mas que só nos mostram as paredes exteriores todas mais ou menos parecidas, com uma ou outra excepção, já elas onde não se vê ninguém, como se fosse tudo um amontoado de caixotes de tijolo e cimento.

Sim, eu sei que tenho um parque maravilhoso praticamente à porta de casa e que depois do parque está a praia. Tanto um como o outro me fazem bem, permitem-me respirar, sentir-me um bocadinho mais viva. Mas não é só disso que estou a precisar. E não é de hoje que penso nisto, que sinto isto. Começou antes do Verão a vontade, praticamente a roçar a necessidade!, de ter, ao meu redor, não blocos de tijolo e cimento, mas sim o verde de árvores e as imensas cores da natureza no seu estado não agredido, não derrubado onde, em troca, se encontram os tais blocos de tijolo e cimento.

Preciso, muito!, de campo. Árvores. Flores. Bichos. Grandes, pequenos, o que for. Preciso de algum sítio onde ninguém me conheça, onde ninguém me faça perguntas e simplesmente me deixe estar, me deixe ser, me deixe sentir o pulsar na natureza, onde me permitam tocar em árvores, senti-las, e porque não abraçá-las?, onde possa respirar fundo.

E aí podia criar uma nova rotina qualquer. Porque a rotina faz(-me) falta. Mas não aquela rotina de segunda a sexta, de passar o dia a correr de um lado para o outro para um dia perceber que essa é a rotina de quem apenas sobrevive, também por não ter tempo para muito mais, e não de quem realmente vive! E eu quero viver, não apenas sobreviver. E não quero ser apenas um número ou uma peça de uma qualquer engrenagem onde me é exigido o que não consigo dar, mas onde dou aquilo que deveria ser realmente importante e com muito bons resultados.

Sim. Segunda feira. Dia de regresso à rotina. E eu? Também tenho uma rotina, embora não seja a melhor opção para uma rotina minimamente saudável: todos os dias, sem excepção, ver o tempo passar…apenas e só, ver o tempo passar.

{#321.046.2024}

Ontem escrevi sobre o efeito das palavras. As que nos doem e (quase) nos destroem e as outras: as que nos suavizam as dores, as que nos ajudam a crescer, as que nos fazem olhar para nós próprios com maior segurança e, até, com mais e melhor confiança.

A estas últimas, as que realmente nos fazem bem, chamo de reforço positivo. E o que me foi dito ontem foi exactamente isso: um reforço positivo! Que tanta falta faz quando sentimos tudo a desmoronar em nós. E um reforço positivo não é, nunca foi, nunca será!, um “dar na cabeça“. Para abrir os olhos. Para olhar para e por mim.

Não! Não é disso que eu preciso, de levar na cabeça. Estou cansada de levar na cabeça por tudo e por nada! Estou cansada de levar na cabeça por toda a gente. Lamento, mas comigo levar na cabeça não funciona. Nunca funcionou, na verdade.

Se teve algum efeito em mim, crescer a levar na cabeça por ser quem e como sou? Teve. Aquele efeito negativo de hoje não me saber valorizar. De achar sempre que fiz alguma coisa mal. De sentir que não pertenço a lado nenhum. De sentir que não sou suficiente. De sentir que sou um fardo para todos.

Cresci a levar na cabeça por ser quem e como sou porque sempre foi mais fácil dar-me na cabeça do que tentar entender-me. Mas, para tentar entender-me, seria preciso primeiro conhecer-me realmente. E cada vez mais percebo que, quem diz que me conhece, é quem menos sabe de mim. Quem sou realmente. Porque é que sou como sou. Porque é que sinto tudo como sinto. Até as palavras. Todas elas são sentidas por mim como algo com poder. Poder de destruição e/ou poder de crescimento.


E eu prefiro sentir as palavras com poder de crescimento. As tais que são o reforço positivo. Porque as palavras com poder de destruiçãocresci com elas, já fizeram o estrago que tinham a fazer. Não quero mais. Não preciso de mais!

Neste momento, em que me vejo a regredir em tanta coisa por causa disto que me apanhou na curva, o que eu mais preciso é de reforço positivo. De palavras com poder de crescimento. Porque é nessas que vejo e sinto o apoio que mais preciso.

Mas, infelizmente, dar-me na cabeça sempre foi o caminho mais fácil. Como esta manhã, que me estragou o resto do dia e até da noite…

{#320.047.2024}

Há palavras que nos doem. Que nos magoam. Que (quase) nos destroem. Mas depois as outras. As que nos suavizam as dores. As que nos ajudam a crescer. As que nos fazem olhar para nós próprios com maior segurança. E até com mais e melhor confiança.

Às vezes temos que estar atentos ao que nos é dito. E filtrar. Deixar no coador as palavras que nos doem para não nos afectarem e deixar fluir as outras. Deixá-las entrar em nós, deixá-las ter em nós aquele efeito positivo que, por vezes, nem nos apercebemos que precisamos.

E hoje ouvi palavras dessas, das que não sabia que precisava de ouvir mas que entraram em mim e têm ecoado na minha cabeça o dia todo. E as palavras que hoje ouvi são daquelas que me fazem olhar para mim mesma com mais segurança. Com muito mais confiança.

As aulas de Yoga fazem-me muito bem, não apenas pelo Yoga em si mas também por quem está lá. Como o professor Pedro que, desde o primeiro dia, se mostrou uma pessoa que nos ouve e nos vê. E que, tantas vezes, nos diz as palavras certas. Como hoje.

No final da aula, naquele momento em que já estamos a arrumar as coisas para ir embora e já toda a gente se foi embora menos nós, já nem sei do que falávamos em concreto. Até que ele me diz “tu, apesar da doença que tens, fazes aqui coisas que acho que nem tens noção que consegues“.

E isto, estas palavras, trouxeram-me aquela confiança em mim mesma que me tem faltado e a segurança mais do que suficiente para não desistir. Nem do Yoga e muito menos de mim.

Por isso, Pedro, muito obrigada por tudo desde o primeiro dia, mas especialmente por estas palavras que me deram exactamente o que estava a precisar.

O Yoga é um desafio constante. Mas é daqueles desafios que, quando superados, nos trazem tanto mais do que aquilo que é visível. E saber que, apesar do que me apanhou na curva, alcanço aquilo que nem eu tenho noção de que consigo, só me dá mais força, ânimo, coragem e confiança para continuar o meu caminho. Com mais ou menos dificuldade, é possível continuar e chegar . Seja esse “” onde for. Mas que para mim é chegar à melhor versão de mim mesma, em todos os aspectos.

E que bom foi saber filtrar e deixar fluir só as palavras que fazem bem.