Hoje não me apetece escrever…
…e está tudo bem.

Hoje não me apetece escrever…
…e está tudo bem.
27 de Janeiro. Já foi há tanto tempo. Um mês e meio. A encomenda que chegou nesse dia ainda está dentro da caixa, a caixa ainda está em cima da cadeira da sala. Ainda por abrir…
Por cima da caixa da encomenda que chegou a 27 de Janeiro vão sendo empilhadas outras caixas e até embrulhos de livros. Coisas que fui comprando aqui e ali ao longo deste mês e meio. E, sim, são tudo coisas que eu realmente preciso. Mas que, por qualquer motivo, ainda não consegui enfrentar. E sim, enfrentar é o verbo correcto. Porque todas essas coisas que eu fui comprando aqui e ali ao longo deste mês e meio, assim como o que está na caixa que chegou dia 27 de Janeiro, são coisas que preciso. Sejam elas para me organizar, sejam elas para a minha manutenção/recuperação física fora da clínica de Fisioterapia. Mas são, também, coisas que tornam o meu novo normal numa realidade que não é bem-vinda, não é aceite. Daí a minha dificuldade em abrir as caixas, retirar o conteúdo de cada uma e começar a usar o que eu não duvido que me vai ajudar…
Não, ainda não vai ser hoje que vou enfrentar essas coisas que me recordam o meu novo normal que, em casa, continuo a fazer de conta que ainda é aquele que já ficou lá atrás…
Não, não é fácil. Mas vai ter que acontecer. Um dia. Só não sei quando…
Quinta feira. E o corpo a pedir descanso sem que eu lho dê…
Facto: tenho que entrar na linha. Rapidamente. Não posso continuar a deitar-me tarde para acordar cedo e sair de casa logo a seguir para me meter na fisioterapia que é o meu novo ginásio. É onde, de alguma forma, trabalho o corpo. Mas, ao contrário do que acontece nos ditos ginásios normais, ali não trabalho o corpo para esculpir o corpo ou queimar calorias. Ali trabalho o corpo parar que o meu corpo não perca a capacidade de caminhar. E cada vez mais vejo que o meu grande objectivo é evitar a todo o custo aquele acessório que abomino e com o qual não me identifico porque não me reconheço…
E hoje fiz um acordo com o Fisioterapeuta: trabalhar à séria as pernas. E a marcha. E o equilíbrio. Porque eu quero manter algum controle sobre o meu próprio corpo que me leva do ponto A ao ponto B sempre que a minha cabeça assim o ordena. E não posso, nem quero!, deixar de me deslocar simplesmente porque a comunicação entre o meu cérebro e as minhas pernas está corrompida.
Quero poder NÃO IR ao Parque PORQUE EU NÃO QUERO e NÃO PORQUE EU NÃO POSSO! E para conseguir isso sei que vou ter que trabalhar muito. Vai ser duro? Vai! Vai ser pesado? Claro que sim. Mas não pode ser de outra forma. É verdade que não podemos controlar o que a vida nos reserva até sermos presenteados com alguma coisa. Seja boa ou não. Mas podemos, depois de presenteados, trabalhar para controlar o que nos chegou e a forma como lidamos com isso. E eu decidi que não será isto que me apanhou na curva que vai tomar conta da minha vida. Vou ser eu. Com o trabalho do Fisioterapeuta Zé aliado às orientações do professor Pedro com o que o Yoga pode fazer por mim. Agora é preciso que eu meta na cabeça de uma vez por todas que agora, mais do que nunca, preciso de me auto-disciplinar para entrar nos eixos.
O trabalho físico está encaminhado. O trabalho mental também. O trabalho cognitivo é urgente. E aqui tenho que me orientar sozinha. Tenho muitas ideias do que posso fazer para exercitar o cérebro. Mas sei que se tiver quem me oriente e/ou acompanhe será mais fácil para me pôr a mexer. Porque disciplina nunca foi o meu forte…
Agora é preciso é descansar por hoje. Já mais tarde do que gostaria. Ainda não é hoje que vou para a cama cedo. Sendo que passa das 23h só poderá ser cedo aí algures num qualquer fuso horário que não este.
Amanhã é sexta feira. E mais uma consulta para a caderneta. Depois, quando chegar a casa, vai ser almoçar, beber café e obrigar-me a recolher ao sofá! Porque sábado é dia de acordar cedo para ir para o Yoga e o meu corpo tem que estar minimamente recuperado. Mas, por agora, chega. Estou demasiado cansada. Um pouco perdida também. Mas irei reencontrar o Norte rapidamente. Ou assim o espero…
Dia tão comprido… Fisioterapia de manhã, como sempre. Uma visita ao Hospital para a habitual análise de avaliação da função hepática. Voltar para casa…
Chegar a casa às 14h30 depois de ter saído às 8h. E só de manhã as minhas pernas deram tudo o que podiam dar. Ao ponto de quase terem desistido assim que chegaram a casa. Dar um simples passo? Há já algum tempo que consegue ser tarefa quase impossível. Eu dou-lhes ordem para avançar e elas parecem não me ouvir. Cruzar a perna esquerda por cima da direita quando estou sentada é possível? Ser possível é, mas hoje foi particularmente difícil.
Com Yoga ao fim da tarde, era imperativo descansar no sofá por um bocado. Não aconteceu durante tanto tempo como gostaria, pouco mais de meia hora foi pouco, muito pouco. Mas foi o suficiente para sair de casa com um pouco mais de agilidade nas pernas. Ao contrário dos últimos dias em que tinha blocos de cimento no lugar das pernas, hoje estavam notoriamente mais flexíveis. Mas ainda assim tinha receio da aula de Yoga…
Não há dúvida que as aulas de Yoga são o melhor momento das minhas semanas. E hoje não foi excepção. Subir aquelas escadas sem corrimão é sempre um desafio. Que supero sempre que há aula. Mas não nego que tenho medo, muito medo, da chegada ao primeiro andar…Aquela porta estreita que fica toda chegada à esquerda e onde não há onde me agarrar é a parte mais difícil. Requer um esforço que não tenho como descrever. E, sei-o bem, é um risco grande para mim. Mas não é isso que me vai fazer deixar de ir às aulas.
E depois há as palavras do professor Pedro em resposta ao feedback que lhe enviei a pedido dele que me fazem continuar a progredir e me ajudam a acreditar um pouco mais em mim mesma. “Tens sido uma pessoa que me faz acreditar que, quando queremos viver, vale sempre fazer um esforço para continuar de cara alegre.” E nem sempre a cara alegre é fácil de alcançar. Mas no Yoga, com o Yoga, tenho conseguido muito mais do que alguma vez pensei alcançar. A nível físico, claro, mas acima de tudo a nível mental. E sei que é ali, com alguém que acredita em mim mais do que eu mesma, que vou conseguir alcançar a melhor versão de mim mesma, com ou sem dificuldades. Mas, como escrevi ao professor Pedro, hoje posso não conseguir alcançar uma postura. Mas sei que amanhã vou conseguir. E é assim também na vida lá fora: é não desistir e descobrir o meu ritmo para alcançar.
Agora, a esta hora, 23h50, é urgente descansar e dormir. Amanhã a clínica de Fisioterapia espera-me logo cedo. E o meu corpo está a cobrar-me o dia tão comprido de hoje…
Dos dias difíceis: hoje. Sair de casa às 8h para chegar às 14h. Era “só” para ir à fisioterapia. Não foi…
E sair de casa com dores e dois blocos pesados de cimento no lugar das pernas já é mau, fica ainda pior quando na fisioterapia há manipulação (a custo…) das pernas e exercícios que obrigam a mover esses blocos de cimento que pesam 4 toneladas cada um…
Chegar a casa às 14h porque eu não ando, arrasto-me. Com as dores. Porque os blocos de cimento são pesados e pouco ágeis…
E, ao entrar em casa, as primeiras palavras que digo traduzem o que vai cá dentro: “quero voltar a ser EU!” Porque esta não sou Eu. Ou não era. Ou…já não sei.
Sei que não me reconheço. Sei, também, que não me identifico com nada disto que agora me acompanha. E que me vai acompanhar sempre.
Não. Esta NÃO sou EU. Ou não era. Ou…sei lá!
Cansada de me sentir presa! Em tudo! Por tudo!
Ser corrida a toque de caixa para cumprir horários e objectivos que não são os meus. O MEU TEMPO agora corre como eu: mais lento. E eu PRECISO daquilo que é MEU: o MEU tempo! Para me reencontrar. Para me conhecer de novo. Porque ainda não conheço esta nova Eu que NÃO SOU EU!
As pernas doem. Muito. Mas o resto, aquilo que não se vê mas que faz de mim EU, dói muito mais.
E quem não entender, quem não aceitar, quem não quiser ficar…siga! Eu, se pudesse, também me afastava de mim…mas não posso…
Há dias difíceis. E depois há aqueles dias que são MUITO difíceis. E hoje foi um deles.
Começou com a Fisioterapia, que custou MUITO e onde o Fisioterapeuta percebeu que o meu uso da máscara é, também, para esconder as caretas que faço a fazer os exercícios aparentemente tão simples. Que são.
E depois a consulta com o Fisiatra da clínica que me diz, muito sério, que eu preciso de fazer chegar ao neurologista a informação sobre os novos sintomas e sinais de progressão desta coisa que me apanhou na curva e que, sendo sintomas e sinais cognitivos, têm que ser avaliados rapidamente.
Para terminar esta manhã em que me senti sempre pressa nos movimentos e que o Fisioterapeuta disse que eu não estou presa mas estou com alguma resistência ao movimento, resistência que lhe disse não ser consciente, veio a chuva. A MUITA chuva. E ver a água a escorrer na estrada é ver o chão a mexer e isso é assustador.
Já em casa. E só me apetece chorar. E dizer a TODA a gente: se não tens nada útil ou simpático para dizer, então não digas nada!
Dizerem que há quem esteja pior não ajuda. Em nada. Não é útil. Não é simpático. E sempre ouvi dizer: com o mal dos outros posso eu bem. E posso!
Sim, estou de telha! Impossível de aturar. Mas não me esqueço de quem me diz: estou aqui. E, a quem está, eu digo: MUITO OBRIGADA ❤️
Agora vou só ali lamber as feridas. Com licença. Obrigada e boa tarde.
(…não me moam…por favor…)
A reter…
(e a processar para digerir para aceitar)
incapacidade
(in·ca·pa·ci·da·de)
nome feminino
“incapacidade”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/incapacidade.
E, dentro de alguns meses, a respectiva percentagem…porque ela é real e só hoje me caiu a ficha… Mais uma de tantas fichas que estão por cair ainda…
Às vezes apetece-me fazer como ela: enroscar e aninhar e, em posição fetal, tapar os olhos para o Mundo, esquecê-lo por um tempo e ficar assim, fechada sobre mim mesma…o Mundo está um lugar feio para se estar. E eu estou cansada de o ver assim: a perder o rumo. Ou, ainda pior, a tomar um rumo muito pouco recomendado.
Amanhã, se perguntarem por mim, é muito provável que esteja a dar uso ao sofá. De olhos tapados para o Mundo, como ela.
Jana. Nome da tempestade que me abanou e encharcou no caminho para casa. Que me fez tremer. E que me fez rir. Rir muito. Riso de gargalhada solta e sonora enquanto me debatia de frente com a força de um vento desmedido que teimava em tentar derrubar-me. Ri como há muito tempo, demasiado tempo!, não ria!
Em casa tento reorganizar as ideias na minha cabeça das mil e uma coisas que tinha em lista para fazer esta tarde. São 16 horas e das mil e uma coisas ainda não fiz uma única. Porquê? Porque teimo em deixar-me distrair por coisas pequenas. Até porque as coisas grandes estão todas na minha cabeça a causar dano quando penso nelas. E por isso permito-me ser distraída por coisas menores que não doem, que não magoam…
A vontade é fechar-me no quarto, em posição fetal em cima da cama, fechar-me sobre mim mesma numa tentativa de auto-protecção. Mas proteger-me de quê?
………acima de tudo, proteger-me de mim mesma. Já conheço demasiado bem o poder de auto-destruição que carrego comigo. O poder imenso de me magoar a mim mesma. E a vontade de me auto-punir por algo que, já sei, não procurei, não fiz por alcançar, mas que me encontrou e veio para ficar…
Não, não tenho qualquer responsabilidade no que me chegou. Ainda assim tenho aquela vontade imensa de auto-punição. Como se, de facto, a responsabilidade fosse inteira e exclusivamente minha…e qualquer auto-punição merecida.
Jana. Nome de tempestade que, lá fora, vai fazendo estragos e deixando marcas por onde passa. Cá dentro? Há uma outra tempestade com um nome para mim impronunciável que vai progredindo e fazendo estragos e deixando marcas. Em mim. Uma tempestade que não vai passar nem desviar-se da rota quando o único alvo sou eu.
Auto-punição? Merecida. Ou mecanismo de auto-protecção para navegar na tempestade que me atingiu? Na realidade não sei. Mas estou disposta a descobrir. Deitada em cima da minha cama. Em posição fetal…porque não vai doer mais do que já dói.
…………
22h15m…e das tais mil e uma coisas que tinha em lista para fazer esta tarde, fiz 2. As outras 999? Não me lembro de nem uma…o que eu tinha em mente para fazer perdeu-se por aí numa memória com sérias dificuldades em absorver informação. Não me lembro de nem uma coisa que tinha em mente para fazer, mas sei que há muita coisa que preciso de fazer e não consigo dar esse passo…
Amanhã. Amanhã logo se vê. Hoje não. Hoje recolho cedo. Porque amanhã é dia de Yoga logo de manhã cedo e o meu corpo está a cobrar-me o tão necessário descanso que insisto em não lhe dar…e ir até ao limite, ou para lá do limite!, não é nem bom sinal nem bom para mim. Seja a nível físico ou mental…
A 20 dias do meu aniversário. Tinha prometido a mim mesma que, este ano, não faria contas ao tempo que falta para fazer o upgrade para a versão 4.8 mas, como acontece sempre com as promessas que faço a mim mesma, não vou cumprir. As promessas que faço aos outros faço questão de manter e cumprir sempre. Mas, lá está!, os outros primeiro. Sempre. Desde sempre. E só depois eu…
Este ano, e de repente cai-me a ficha que daqui para a frente o calendário não deverá sofrer grandes alterações, não vou reunir os amigos, como fiz o ano passado. Quero muito ir almoçar e/ou jantar nesse dia com alguém, claro que sim. E até sei onde gostaria de ir e com quem. Mas, numa data que vai coincidir com o início de um período de auto-isolamento para preparação de nova toma de medicação para isto que me apanhou na curva, já sei que terá que ser só com uma pessoa. Até podem ser duas, desde que se dividam pelo almoço e jantar, uma em cada refeição.
Mas, se calhar, já está na altura de começar a falar com quem quero presente. Ainda não o fiz, claro… Depois queixo-me, mas a culpa será, obviamente, minha. E tenho que deixar de ser parva e de pensar que vou estar a incomodar ou a impor a minha presença, ou o que for. É importante pensar em mim e no que eu quero. E se, no ano passado, consegui juntar 14 pessoas para jantar, porque é que não conseguirei este ano chamar uma pessoa para almoçar e/ou jantar?
Depois, dentro da minha cabeça, claro que já começou a discussão entre a voz que me diz para lhe enviar a mensagem que há quase um mês que quero enviar e a voz que se ri escarninho e diz-me para estar mas é quieta porque a resposta vai ser negativa. E eu gostava tanto de desligar estas vozes…mas ainda não encontrei o botão de on/off…
…………é só mais um aniversário………que é só mais um dia como os outros………não! Não para mim! É o meu aniversário! É o meu dia! E em tantos anos foram poucas as vezes que comemorei com amigos! E depois do aconchego que senti no ano passado e com o que este último ano me trouxe de tão desconfortável quero muito ter um momento em que só importa o facto de eu cá estar!
Acho que não é pedir muito…não é pedir demasiado… Não estou a pedir nada impossível! Não peço o céu! Só quero marcar o meu dia com algo diferente, algo especial, algo confortável, algo aconchegante…
Estou cansada…
…cansada de tudo. Cansada, acima de tudo, de ser eu. Tão simples e tão complicado quanto isso…
Sonho demasiado. Mesmo estando perfeitamente acordada, sonho demais. Tanto que dou por mim a questionar-me se estarei assim tão acordada ou é um sonho demasiado vívido que chega a parecer real. Um sonho projectado em tela alheia onde o público se ri da facilidade que é enganar-me… Acordada ou não, não sei, não importa, seja em que estado for sinto vontade de me fechar sobre mim mesma numa tentativa de auto-protecção. Não sei ao certo do que me estaria a proteger. Mas mesmo ainda antes de me fechar sobre mim mesma já estou a lamber as feridas que ainda nem existem…
O dia de hoje foi estranho. Foi confuso. Tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo na minha cabeça e nada à minha volta. E é nestas alturas que me lembro da coruja que existe aqui e que esta noite ainda não ouvi. A facilidade que ela tem de se deslocar. Basta abrir as asas e voar para outras paragens. E eu, que para ele sou uma corujinha da noite, invejo essa facilidade quando, para mim, até caminhar é um desafio. E queria tanto, precisava tanto!, de voar para outras paragens sabendo exactamente a distância até lá chegar… 135km. Distância fácil para a coruja do bairro. Distância impossível para a corujinha da noite que sou eu.
Cansada…tão cansada. E a lidar com tanta coisa a acontecer comigo e na minha cabeça e sem ter aprendido como o fazer!
Chega! Por hoje chega! Entrego os pontos por esta noite e falho mais uma promessa que fiz a mim mesma, a promessa de que seria hoje que me iria deitar cedo. E às 23h30m que são agora já é tarde…
Amanhã. Hoje chega. Já nada do que está escrito faz grande sentido. Mas não consigo parar de escrever, mesmo que não tenha absolutamente nada para dizer…
Psicossomático. Ou quando o teu corpo decide não responder quando lhe pedes para fazer um movimento tão básico como sentar-te no chão. Ou até ajoelhares-te…
Foi um bloqueio? Foi. É preciso, rapidamente, resolver tanta coisa cá dentro para não bloquear novamente!
Psicossomático…
O café do costume na esplanada do costume. Mas não na mesa do costume. Aquela mesa ali ao canto. Afastada de tudo e de todos. Protegida e abrigada ali ao canto. Confortavelmente ao canto. Longe de tudo e de todos. Mas a mesa já lá não está. Foi arrumada. Esquecida como se nunca tivesse existido.
…e, de repente, percebo que o mesmo acontece connosco, as pessoas. Especialmente as pessoas que, como eu, se abrigam e protegem confortavelmente a um canto, afastadas de tudo e de todos. A certa altura, especialmente quando é detectado um qualquer defeito que as retira da perfeição, são arrumadas e acabam, simplesmente, por ser esquecidas.
…como se nunca tivessem existido.
E nunca como hoje eu me reconheci numa mesa de esplanada em que foi detectado um defeito que me retirou da perfeição: arrumada, esquecida, como se nunca tivesse existido…
…………
Paciente regular na clínica de Fisioterapia desde Maio de 2024, tendo iniciado tratamentos de Fisioterapia no Hospital algures em Fevereiro de 2024.
Seria de esperar que o dia mais difícil, mais duro por causa do início dos exercícios depois de tanto tempo sem me mexer muito, dizia eu que seria de esperar que o dia mais difícil, mais duro, tivesse sido o primeiro dia.
Não foi…
…foi hoje! Por algum motivo que desconheço, o meu corpo decidiu fechar-se para o Mundo, enrigecendo cada músculo desde o alto da cabeça até à ponta do dedo grande do pé direito, mas muito especialmente do pé esquerdo. Porque a perna esquerda, já sabemos, tem tendência para pesar 3 toneladas. Hoje? Não sei muito bem como descrevê-la. Aliás, não sei também como descrever o que foi hoje fazer todos os exercícios da fisioterapia.
Não foi duro, não foi difícil. Foi, sim!, MUITO duro, EXTREMAMENTE difícil!
Mas estive lá. E, com dores ou sem elas, com músculos mais ou menos rígidos e contraídos, com articulações mais ou menos presas e doridas, fiz todo o trabalho físico prescrito e indicado na folha do fisioterapeuta.
Sem dúvida, hoje foi o dia mais duro e mais difícil de todos os dias de fisioterapia.
O mais fácil teria sido dizer ao fisioterapeuta “hoje não!” e não fazer nada ou fazer muito pouco. Mas eu não de caminhos fáceis e, repetindo essa premissa para mim mesma, fiz tudo o que era suposto, como era suposto.
Agora? Continua tudo muito difícil de fazer. Mas estou cá. Só tenho que me lembrar de ouvir o meu corpo. E obedecer-lhe…
Há dias compridos. Longos, demasiado longos. Como o de hoje, que começou estupidamente cedo que ainda o ontem não tinha verdadeiramente terminado.
Tic tac…Tic tac…e o tempo continua a passar e passa a correr. Como assim, quase 2 anos de mão dada com ele, num percurso acidentado e que tantas vezes parece uma montanha-russa sem travões? E, nesses muitos dias que são tantos que não me atrevo a contá-los, quantas folhas já não passaram por esta árvore? Não sei…sei apenas que, na mesma medida que as folhas que passaram por essa árvore, foram tantos os momentos tatuados na memória de ambos. E, assim como as raízes desta árvore se aprofundaram na terra, também nos aprofundámos um no outro. Nos colámos. Nos entranhámos. Nos fundimos. Dois que, no fundo, nos tornámos um só.
A palavra que fica do dia de hoje: incrível. Porque diz-me ele que o sou. Porque, digo-lhe eu, se o sou é porque ele me permite sê-lo, fazendo-me acreditar que o sou.
Tic tac…Tic tac…e as folhas regressam aos ramos desta árvore com o regresso da Primavera. E nós seguimos de mão dada. Num percurso incrível a dois.
Dois que somos um. De raízes profundas. Fortes. Firmes. E todos os dias a florescer mais um pouco.
Gosto muito de ti. Tanto tanto tanto tanto.
Março. Finalmente, Março. Que tardava em chegar.
Março, o mês da renovação. Do rejuvenescimento. Do renascimento. Do recomeço.
Março.
E pergunto-me se será em Março que me reencontro comigo mesma. Que me reconecto comigo mesma. Se me acalmo a mim mesma. Se me tranquilizo a mim mesma.
Será em Março que volto a caminhar de mão dada comigo mesma? Que volto a dar um passo seguro na direcção certa? Que deixo de ter o medo que hoje tive mais do que nos outros muitos dias?
Março. O resto não interessa. É altura de recomeçar. Quase do zero, mas recomeçar. E acreditar que vou deixar de sentir o medo que todos os dias me consome mais um bocadinho…
Março.
E, acredito, está na hora de me sentar comigo mesma e organizar esta confusão que vai na minha cabeça. Só depois ser-me-á possível avançar de cabeça erguida. Um dia de cada vez. Sem pressa e sem pressão. Mas avançar.
E nunca desistir de mim mesma.
Março.
O dia de hoje foi…estranho. Fisioterapia de manhã, turismo no supermercado novamente quando só ia buscar uma única coisa, almoçar tarde, não dar pelo tempo passar e já são horas de ir dormir.
Dia Mundial das Doenças Raras. E eu, Doente Rara, ainda sem encaixar o diagnóstico e todos os dias a ter que, à força ou não, nem sei!, lidar com tudo o que já me trouxe…
E, ao chegar a casa, percebo que me fecho sobre mim mesma quando tenho mensagens e comentários para responder e não sei (mesmo) o que lhes dizer. Sei que é tempo de cada um que me deixou algumas palavras, e o tempo não é reembolsável e por isso, mesmo sem ter ainda respondido a cada um directamente, agradeço desde já por esse pedaço de tempo que me deixaram.
E continuo com grande dificuldade em conseguir gerir o meu tempo, aquele que eu não dou por passar, mas que vejo a sua passagem todos os dias no Nada que são as minhas tardes, só para chegar à noite e dizer que não fiz nada porque não tive tempo.
Faz sentido? Claro que não. Mas, para mim, cada vez faz mais sentido. Porque eu não consigo organizar a minha cabeça para conseguir organizar o meu tempo…e sozinha já sei que não o vou conseguir fazer.
Mas depois há flores brancas, em vasos pequeninos no supermercado e eu não resisto a flores brancas. E com as flores brancas tento recordar a mim mesma que o dia já terminou e está na hora de ir descansar para amanhã, de manhã cedo, ir bem para o Yoga.
E não se esqueçam: até à meia noite é Dia Mundial das Doenças Raras. Que são “Muito mais do que pode imaginar”.
Boa noite e até amanhã. Não é tarde para vocês, para mim já é tardíssimo. Cruzamo-nos por aí amanhã.
E, quando o teu corpo te diz que tens que parar, tu páras. Antes que acabes por parar à força, recolhes ao sofá à tarde, embrulhas-te na manta e dás descanso ao corpo e à mente e dormes!
Hoje o dia esteve perfeito para ficar embrulhada na manta e aninhada no sofá o dia todo. Mas a manhã, como sempre, foi passada na fisioterapia. E será assim por tempo (demasiado) indeterminado. No entanto, consegui sair a tempo de apanhar o tão desejado autocarro das 11h03m e ao meio dia já estava em casa, mesmo com passagem pela esplanada do costume para um café rápido e fugir da chuva intensa que caiu de repente.
Deixei a chuva abrandar até vir para casa. E ao entrar em casa o meu corpo gritava por descanso. Mas ainda resisti, lutei para não ir para o sofá, tinha tanto para fazer: telefonemas importantes, emails urgentes para escrever, terminar uma entrevista em inglês para um trabalho de faculdade…
Como sempre, tomar conta de mim não estava a acontecer. Até que não deu mais. O som da chuva intensa lá fora embalou-me até ao sofá onde, à minha espera, estavam as mantas e as almofadas térmicas quentinhas. E, mais uma vez, adormeci com o telemóvel na mão.
Tenho que aprender a parar. Para descansar e recuperar. E não me posso esquecer que, durante anos, ignorei as ordens de descanso que o meu corpo me deu até que em Setembro de 2023 ele me gritou para parar e eu tive mesmo que parar.
Só alguns meses depois, ao sair o meu diagnóstico, é que confirmei que o meu corpo estava a ser levado ao limite demasiadas vezes e o limite não era tão longe como eu achava…
Por isso é importante meter na cabeça, nem que seja à força, a obrigatoriedade de parar e descansar!
Ordens do Professor Pedro: ir para a cama cedo para, no sábado de manhã, estar em condições para a aula de Yoga.
Recomendações do Fisioterapeuta: descansar e recuperar.
E hoje já não vou para a cama tão cedo como queria.
O que eu preciso para entrar na linha quanto ao descanso? Uma grande dose de auto-disciplina! Que não tenho nenhuma!
Mas concedo que preciso de descansar. E, por isso, hoje não vou ficar até depois da hora…
Cansada. Muito cansada. Demasiado cansada. E já em trânsito. Outra vez.
Devia ter descansado depois de almoço. E descansaste? Não, claro que não. E não porquê? Não tive tempo…
E quando é que começas a tomar conta de ti? A tratar de ti a sério? Antes que seja à força? Pois…não sei…
É esta a conversa na minha cabeça neste momento. Conversa que espelha a (minha) realidade.
Tenho coisas à espera de resposta? Tenho.
Mas vão ter que esperar. Só mais um bocadinho. Por favor…
Começar o dia com andorinhas. À porta de casa.
Dia extraordinariamente longo. E estupidamente cansativo.
Fisioterapia.
Hospital – consulta de Fisiatria com testes, avaliações clínicas, encaminhamentos.
Autocarro – almoço – supermercado – autocarro novamente para chegar a casa já sem tempo para descansar antes de mais uma entrada na agenda.
Consulta. A primeira. Via WhatsApp, claro. Com uma nova psicóloga que, desta vez!, tem tudo para me ajudar: empatia, conhecimento, interesse e vontade. Vem na mesma linha do terapeuta fofinho. Não tem nada a ver com o psicólogo que não me ouve, o do Hospital. Portanto, vai correr bem.
Agora? Rapidamente para a cama. Descansar é urgente. Amanhã? Não tenho pressa. E logo se vê. Mas não posso permitir que os meus dias sejam tão cansativos como o de hoje. Especialmente quando não havia real necessidade…
Este miúdo dos olhos doces, que ainda não percebi se é um cromo ou um caramelo ou, até!, ambos os dois em simultâneo ao mesmo tempo, que não se deixa fotografar nem se mostra a ninguém, é aquele a quem irei sempre chamar de mini-sobrinho. Ou sobrinho-maravilha. Ou simplesmente meu sobrinho. Que, dos dois que tenho, é o meu “sobrinho mais velho preferido” na exacta medida em que o microsobrinho, também ele um cromo ou um caramelo ou “ambos os dois em simultâneo ao mesmo tempo” é o meu “sobrinho mais novo preferido”.
Dizia eu que este miúdo dos olhos doces que está a menos de meia dúzia de centímetros para ter 1,71m como a tia dele e que não tarda nada me mete literalmente debaixo do braço e cuja voz ao telefone está irreconhecível (e desde o Verão que insiste que está rouco…), dizia eu ou tentava dizer porque ainda me custa fazer estas contas ao tempo, queria eu dizer que este ser humano maravilhoso faz hoje anos. 15 anos. Mas com’assim QUINZE ANOS? Se ainda ontem estávamos na sala de espera da maternidade de Santa Maria com um frio horrível e um vendaval demoníaco lá fora…
Têm sido 15 anos maravilhosos com um dos homenzinhos da minha vida. Mas acho que já não posso chamar de “homenzinho”, pois não? Pois não…
Resumindo que a tia até se enrola toda emocionada: o Miguel faz 15 anos hoje! (Sim! Dói assumir os 15! Mas ao mesmo tempo é tão bom ❤️). 15 anos de um sobrinho-maravilha que (ainda) dá abraços à tia quando chega e quando se vai embora. É o puto mais giro e doce e tudo de bom que pode existir e é MEU SOBRINHO! E há 15 anos fiquei muito mais feliz e estupidamente milionária com a chegada dele ❤️
Miguel dos olhos doces! Sei que não gostas nada quando o digo, mas irei repeti-lo sempre que me apetecer: GOSTO MUITO DE TI!
Parabéns, MEU Minhoca, sobrinho-maravilha, homem da minha vida! Gosto tanto de ti! ❤️