{#045.321.2025}

Ontem foi de fazer filmes na minha cabeça e, claro, viajar na maionese. Tive, confesso, algum receio do resultado dessa viagem e dos meus filmes. Mas, desta vez, acabei por ser surpreendida pela positiva.

Não esperava receber menos do que aquilo que ele já me habituou: uma resposta franca e honesta. Mas, desta vez, o que não esperava mesmo era receber essa mesma resposta por áudio. Quando recebi as notificações de duas mensagens de voz, tremi, confesso. Gelei. Paralisei por breves instantes. Mas estava na hora de sair de casa para apanhar o autocarro, ouvir as mensagens teria que esperar. Mas o caminho até à paragem do autocarro foi feito a tentar não pensar para evitar fazer mais filmes na minha cabeça. Mas estava muito complicado, porque não me saíam da cabeça as poucas palavras que tinha lido da notificação que chegara antes dos áudios. E repetia-se aquele “mea culpa” da mensagem dele na minha cabeça.

Finalmente o autocarro chegou. Entrei. Sentei-me. Os phones já estavam postos. Abri as mensagens. E lá estava aquele “mea culpa” na mensagem de texto. Ainda demorei a ter coragem para ouvir as mensagens de voz. Respirei fundo. Carreguei no play. Do outro lado aquela voz que eu adoro, que me aconchega sempre que a oiço, a voz dele. Calmo. Tranquilo. Seguro de si. E, como sempre, uma voz franca e honesta.

Contou-me o que havia para contar, sempre numa voz calma, tranquila. Nada daquilo que eu receava porque experiências passadas, noutro tempo, noutra vida, outros interlocutores me deixaram de pé (muito) atrás e com medo de um furacão de palavras intensas e pouco simpáticas. Mas com ele ouvi exactamente o oposto. Calma, serenidade, tranquilidade, paz, segurança e…amor.

Tudo esclarecido. Fiquei, claro, estupefacta com o que ouvi, o tal murro no estômago que, ontem, ele me disse ter levado. E dei-lhe razão para se sentir como sentiu. Se tivesse sido comigo também eu teria levado um murro no estômago.

Capítulo encerrado. Viagem na maionese terminada e sem consequências negativas. Mas ainda havia mais uma mensagem de voz para ouvir, esta com uma duração muito mais curta do que a anterior. Carreguei no play e…aquela voz tranquila, calma, serena, trazia agora com ela um sorriso. Sim, é possível ouvir o sorriso na voz. E nesta mensagem estava bastante evidente, bastante presente. E, para terminar a curta mensagem relativa ao dia de hoje, uma pergunta que eu não estava à espera mas que me colocou um imenso sorriso no rosto e que me aconchegou como só ele sabe fazer: “will you be my Valentine?” e o sorriso doce dele lá estava na pergunta. A minha resposta só podia ser uma: sim! Claro que sim!

No final do dia, a continuação da troca de mensagens. Até que, não sei de onde me saiu a questão, decidi que era altura de assumir o verbo! E o verbo foi assumido porque, como ele mesmo disse, e bem!, não temos feito outra coisa que não isso mesmo: namorar.

Verbo namorar assumido. Nem podia ser de outra forma porque tem sido assim há 620 dias, ou seja, desde o primeiro dia. 620 dias que, diz ele, podia até ter sido só um. Já teria sido maravilhoso. E eu não podia estar mais de acordo.

Sim, foi um dia de crescimento a dois, de reforço da segurança que damos um ao outro, de partilha de tanto, tanto amor que temos, eu e ele, nós.

Amanhã? Não será muito diferente no que diz respeito a nós. Estamos em sintonia que é para manter durante muito tempo. Por isso, hoje como há 620 dias acontece, durmo aconchegada e de sorriso no rosto.

{#044.322.2025}

Dia estranho este…

Demasiado longo e, sem ter passado pelo sofá depois de almoço, muito cansativo.

Manhã de nevoeiro e caos no trânsito, muito frio e 50 minutos à espera do autocarro de manhã.

Fisioterapia sem esforço para as pernas recuperarem, mas regressar a casa com dores horrorosas, limitantes, quase incapacitantes porque dar um passo era tarefa hercúlea e quase impossível.

Café em muito boa companhia depois da fisioterapia, daquelas companhias que, apesar de morarem relativamente perto, ficamos anos sem nos ver mas a conversa não começa mas sim continua como se não tivesse havido qualquer interrupção.

Ler e tentar entender o que está escrito. A poesia é interpretada de forma individual e pode, por vezes, criar filmes que não existem e que acabam por viajar na maionese na cabeça de uma overthinker como eu.

Dormir cedo? Ainda não foi hoje que consegui. Mas ainda vou a tempo de conseguir…amanhã!

Por isso encerro o dia por hoje. Amanhã? Logo se vê.

{#043.323.2025}

Quarta feira, dia do meio, dia nim, nem não nem sim. Mas um dia longo que começou comigo a passar pela experiência de Martim Moniz, versão século XXI e não ter achado piada nenhuma. Ficar presa no ar, instável e sem apoio, porque o motorista do autocarro decidiu fechar as portas comigo ainda a sair podia ter corrido muito mal… Reclamação? Claro que sim. Pena que quando estava a terminar de a escrever o site bloqueou com um erro qualquer e não sei se não terei perdido o texto todo que estava a terminar de escrever… Mas amanhã, com tempo, volto a tentar. A esta hora já é demasiado tarde para sequer estar acordada, quanto mais para estar a escrever tudo novamente.

Felizmente a tarde foi mais tranquila. Ainda consegui recuperar das dores das pernas com que cheguei a casa à hora de almoço e que não sei de onde surgiram antes de sair para o Yoga.

Queria ter saído a tempo de apanhar o autocarro que me iria permitir ver o pôr do Sol na praia, que já não vejo há tantos dias. Não consegui. Mas consegui apanhar o seguinte. E posso não ter assistido ao mergulho do Sol no Mar que marca a linha do horizonte, mas ainda consegui ver cores lindas sobre o Mar sem ondas.

E a aula de Yoga…mais uma vez uma experiência daquelas que não dão para explicar. Mas que me sabem sempre tão bem, que me fazem sempre tão bem, que me deixam sempre tão bem. E, ao voltar para casa com boleia do Professor Pedro, voltei a dizer-lhe: tem sido uma viagem extraordinária. E num piscar de olhos faz em Maio 2 anos que esta viagem começou. E ele próprio diz que me tem feito muito bem. Mas acho que nem ele tem noção do quanto!

Agora, já muito depois da hora que tinha prometido a mim mesma, está na hora de aninhar e enroscar. Amanhã vai ser um bom dia. Só porque sim. E porque eu quero.

{#042.324.2025}

Sentada há várias horas no cadeirão com o telemóvel na mão a tentar escrever o que há muitas horas não me sai da cabeça. Tantas horas que até é capaz de já vir de ontem. Porque, na verdade, o que tenho necessidade de pôr por escrito acompanha-me todos os dias. Especialmente desde que comecei a Fisioterapia ainda no Hospital. E que, aprendi com o tempo, faz parte disto que me apanhou na curva e que eu continuo a não chamar pelo nome. Sei que o fiz há dias para me obrigar a olhar isto de frente e a aceitar o que me apanhou na curva. Não resultou. Porque não há um botão on/off para estas coisas que nos caem em cima e que, de repente, nos condicionam em tanta coisa e nos viram de pernas para o ar e ainda ouvimos “tens que aceitar”.

Não! Eu não “tenho que” nada! E se “tiver que” alguma coisa então serei eu a ditar as regras. O jogo veio para ficar? Então será jogado como EU quero.

É revolta, é frustração, é luto, é medo, é ansiedade? É isso tudo! E é também dor. Física. Intensa. Condicionante. Limitante.
No fundo, é uma merda, é o que é. E tantas vezes tenho vontade de desistir, de entregar os pontos.

Gostava de poder falar abertamente com mais pessoas sobre o que sinto, especialmente quando tenho tanta vontade de desistir. Não o faço com quase ninguém. Porque não me sinto no direito de me queixar constantemente das dores nas pernas que me condicionam ao ponto de, tantas vezes, não conseguir dar um passo que seja. Não me sinto no direito de preocupar ninguém. Não me sinto no direito de ser um peso para ninguém.

Só eu sei o quanto me custa pedir ajuda. Seja a quem for. Mas pedir ajuda à minha Mãe…não tenho como descrever o tanto que me custa.

Isto que me apanhou na curva, que eu não procurei mas que me encontrou e veio para ficar, e que é diferente para cada um que tem o mesmo, eu só consigo descrever de uma forma muito simples: DORES! Muitas. Intensas. Fortes. Condicionantes. Limitantes.

…e a minha vontade continua a ser a mesma de todos os dias desde há dois anos e que eu NÃO CONSIGO concretizar: chorar! Simplesmente chorar…para fazer o meu luto, para aliviar o peso que trago cá dentro…tão simplesmente chorar. E não consigo…

Tantas perguntas para fazer. Tantas! Tantas! Tantas! E sem ter ONDE as fazer. Ou a quem as fazer!

Já o disse antes: eu não procurei NADA disto! Mas isto apanhou-me na curva, desprotegida, vulnerável, diria até que, tantas vezes, abandonada. Apanhou-me na curva, encontrou-me e veio intencionalmente para ficar.

As perguntas? Sobre o ontem já perguntei e não sabem a resposta, porque isto sobre ontem não há como saber a resposta. O hoje é um dia de cada vez, porque aqui todos os dias podem ser absolutamente diferentes. O amanhã…é esse o meu grande volume de perguntas que tenho para fazer, mas não tenho a quem.

Confusa, frustrada, perdida. E a vontade é desaparecer e começar de novo num sítio qualquer distante, deixando para trás o que me apanhou na curva. Mas não é possível. Eu posso até desaparecer e começar de novo num sítio qualquer distante, mas onde quer que vá isto vai estar lá sempre comigo. E eu não quero

Sei como é o hoje. Faço alguma ideia do que poderá ser o amanhã. E não quero! Mas também não posso fugir dessa hipótese que insisto em recusar!

E continuo a dizer: não quero ser um peso para ninguém! E sei que já o sou, por muito que, educadamente, me digam que não sou!

Mas já sou um peso enorme quando era a última coisa que queria ser

…e A QUEM é que eu faço todas as perguntas que tenho para fazer…? A ninguém…

{#041.325.2025}

Segunda feira. Nova semana a iniciar significa voltar à Fisioterapia depois de dois dias de descanso que foi o fim de semana. E no fim de semana até cumpri as recomendações do Fisioterapeuta: pouco ou nenhum esforço. Fiz Yoga no sábado de manhã, fui à esplanada das mesas infinitas, é verdade. Mas tirando isso não abusei das pernas. No entanto, hoje foi difícil o início do caminho de manhã. Já sei que a perna esquerda é a que está mais danificada, que nos exercícios, mesmo os mais simples, pesa 3 toneladas com tendência para ficar presa. E, no caminhar, é a mais difícil de acompanhar.

A Fisioterapia foi, novamente, leve e tranquila. Mas cheguei a casa completamente esgotada. Não encontro outro termo que melhor descreva o meu estado ao chegar a casa… E o resultado foi simples: almocei, bebi o meu café, fumei o meu cigarro e arrastei-me até ao sofá, onde me embrulhei nas mantas, enrosquei, aninhei e devo ter adormecido ainda enquanto aninhava. Sim, vinha absolutamente esgotada…

Fui acordada para jantar às 20h30. Seria de esperar que, depois dessas horas todas a dormir, agora me sentisse mais descansada, revigorada, o que seja. Mas a verdade é que não é isso que sinto. Continuo cansada. Com muito sono. Sem energia para nada. E não posso continuar assim.

É verdade que a anemia também não deve estar a ajudar em nada. E a minha esperança é recuperar a energia perdida quando tiver reposto os valores normais de Ferro e Ferritina e o mais que seja necessário. Só sei que já não aguento este cansaço extremo que me faz perder as tardes que eu podia (e queria!) aproveitar para fazer alguma coisa que valesse a pena.

Enfim…faltam 37 dias para a Primavera. Talvez também eu esteja à espera da Primavera para começar a florir com mais energia…

Amanhã de manhã, em vez de um “Serviço de Despertar, bom dia”, teremos uma espécie de Vitinho para desejar uma boa noite de manhã. E vai ser tão bom começar o dia assim.

Mas, agora, vou só ali arrastar-me até à cama. Já não aguento o sono que tenho…e amanhã é dia de acordar cedo para ir para a Fisioterapia e, à tarde, não vai ser possível apagar no sofá porque há consulta com o psicólogo que não me ouve…e logo se vê como vai correr desta vez. Mas o importante (e até urgente!) agora, é ir dormir. Sabendo que, amanhã, faltará menos um dia para a Primavera.

{#040.326.2025}

Tinha prometido a mim mesma que hoje não saía de casa o dia todo para poupar ao máximo as minhas pernas e seguir o conselho do Fisioterapeuta: pouco ou nenhum esforço, isto para recuperar o melhor possível para enfrentar mais uma semana de deslocações e tratamentos que implicam sempre um esforço que nem sempre as minhas pernas aguentam tranquilas. Basta lembrar-me como foi chegar a casa na quarta feira quando, ao finalmente entrar no meu quarto, as minhas pernas cederam e dei por mim a ficar de joelhos no chão agarrada à minha mãe e apoiada à cama…

Mas, claro, tive que sair de casa… Tinha uma carta importante e urgente para escrever e que tem que ser enviada amanhã por correio registado com aviso de recepção. E, já percebi, em casa não consigo escrever no papel. Não sei explicar porquê, até porque não faz sentido. Mas em casa sinto-me presa e a sufocar. Quase como se me faltasse espaço e ar para me expandir na escrita em papel…

Sei que não faz sentido. É parvo, até. Se for para escrevi à mão em papel preciso de me sentir livre, com espaço e sei lá o que mais. Sei que, neste momento, só me sinto capaz de o fazer na esplanada das mesas infinitas. Que tem um espaço imenso e onde consigo respirar fundo, pegar na esferográfica e pôr no papel ideias, vontades, coisas que posso e (ainda) consigo fazer. E escrever cartas. Aquela que vai amanhã para o correio e aquela que, ridícula como descreveu o poeta, está prometida há demasiado tempo e que não consigo concretizar por esta absurda falta de espaço e sensação de sufoco que me prendem.

Todos os dias tenho vontade de ir à esplanada das mesas infinitas e ficar por lá sem pressa e sem pressão, simplesmente estar e deixar a tinta correr no papel. Mas ir até lá sozinha, neste momento, é um risco. Diz o Google Maps que estou a 350 metros de distância e que o percurso a pé é feito em 5 minutos. Nos 350 metros não ponho qualquer questão, mas os 5 minutos só são aplicáveis a quem não tem dificuldades na marcha, porque eu, e já confirmei!, demoro 25 a 30 minutos…

Quero muito voltar a fazer esse percurso sozinha. Sei que consigo. Com muito cuidado e extrema atenção, nem que demore 1 hora!, consigo fazer esse percurso sozinha. Mas tenho medo, claro. A minha mãe já se ofereceu para me acompanhar até lá, deixar-me ficar o tempo que eu quiser e ir buscar-me quando lhe ligar. Mas custa-me. Custa-me estar tão dependente da minha mãe e custa-me vê-la assim de um lado para o outro conforme o que eu quero ou preciso. Levar-me até à paragem do autocarro de manhã e ir buscar-me no regresso já me custa o suficiente…

E eu que tinha prometido a mim mesma não sair de casa hoje, acabei por ir para a esplanada das mesas infinitas onde acabei por ficar duas horas na companhia da minha mãe e escrevemos em conjunto a carta importante para enviar amanhã. Foram 350 metros para cada lado. 700 metros no total. E 350 metros de cada vez não implica demasiado esforço. Faz-se bem. Devagar, devagarinho e o caminho faz-se.

Provavelmente terá sido a humidade a, mais uma vez, me atacar as pernas, porque ao regressar a casa as dores já estavam de novo instaladas. E acreditei que a água quente do banho me iria aliviar as dores…até perceber que a água quente do banho me atacou com muita força os joelhos que deixei de sentir tão firmes como deveriam estar. E as pernas continuaram a doer. Muito. Sair do banho só aconteceu com ajuda. Caminhar da casa de banho até ao meu quarto, que fica na porta ao lado, aconteceu agarrada às ombreiras das portas e apoiada na parede. E ir do meu quarto para a sala só apoiada à minha mãe…

Estou farta de estar assim. Quero muito acreditar que a Fisioterapia é só o início de um trabalho que me devolva a autonomia, a independência. Mesmo que tenha que ser acompanhada pela bengala. Mas quero voltar a poder dizer “vou ali” e ir sem ser um estorvo para ninguém. Que é o que sinto que sou neste momento. E não quero continuar a ser.

Voltar a ser como era já sei que não vai acontecer. Mas quero alcançar o melhor de mim para, apesar do diagnóstico, ser capaz de “ir ali” sozinha e sem precisar do apoio constante de ninguém…

Amanhã, segunda feira, é dia de Fisioterapia. E tentar conversar com o Fisioterapeuta sobre este meu objectivo de conquistar maior autonomia. E digo que vou tentar porque já sei que me fecho na minha bolha e não partilho o que quero…

Mas, para já, por agora!, está na hora de ir dormir. Descansar as pernas, o corpo e tentar desacelerar a cabeça para conseguir efectivamente preparar-me para mais uma semana de trabalho e esforço para conseguir conquistar o meu objectivo…

Depois? Depois logo se vê.

{#039.327.2025}

As recomendações do Fisioterapeuta para o fim de semana, no que diz respeito à recuperação das minhas pernas, foram claras: pouco ou nenhum esforço. Para aliviar as dores. Para recuperar os músculos. Para chegar a segunda feira e recomeçar o trabalho. Que, agora já sabemos, terá que moderado para se conseguir alcançar objectivos.

Ontem, depois da fisioterapia e destas recomendações, foi um abuso para as minhas pernas. É verdade que, assim que cheguei ao sofá, lá pelas 19h, dormi directa até às 3h30m da manhã. Recuperei o corpo cansado, mas tinha algum receio de como estariam as minhas pernas, principalmente porque tinha uma aula de Yoga esta manhã que não queria perder de forma nenhuma.

A verdade é que esta manhã acordei cedo e, no banho, o bater da água quente nas pernas não prometia nada de bom… Mas não era o suficiente para me impedir de ir à aula, porque a ausência não é quarta feira por falta de condições nas pernas, especialmente falta de força!, foi sentida, não apenas em termos físicos mas especialmente mentais.

Depois do banho tomado, roupa vestida, pequeno almoço comido, desafiei as minhas pernas. Ainda sem beber café, saí em direcção à paragem do autocarro. Sendo sábado, já sabia que o autocarro iria chegar antes do horário previsto. E, claro, 8 minutos antes do que consta como horário de passagem, entrei no autocarro e segui viagem.

Cheguei cedo à paragem de saída ao lado da praia e a vontade, àquela hora, era ir espreitar o Mar por um bocadinho antes da aula. Mas já sabia que ia acabar por me atrasar. E ainda precisava de um café. Desisti de ver o Mar e pus-me a caminho. Imediatamente em frente à paragem do autocarro, um café aberto. Bastou atravessar a estrada. Ainda era cedo, tinha tempo para o meu café. Que, não sendo essencial, é quase obrigatório para começar o dia.

Cafés bebido, pus-me a caminho. Descer as escadas até à rua de baixo não foi demasiado difícil. Mas as pernas já davam sinais de precisarem de descanso. E, para chegar à aula de Yoga, foi preciso, como é sempre, subir ao primeiro andar numas escadas extensas e difíceis de subir. Não há um corrimão à direita e a entrada, no cimo das escadas, é feito à esquerda, o que me obriga a algum trabalho de equilíbrio com extremo cuidado. E é tão fácil, para mim, cair para trás ali…porque não há onde me agarrar de forma segura até me chegar toda à esquerda e alcançar a estreita passagem da porta.

Chegada à aula, não tive muito tempo para me sentar e descansar daquele esforço que é sempre subir aquelas escadas. As aulas começam, habitualmente, sentados no chão de pernas cruzadas e coluna direita para alinhar a respiração profunda e consciente ao momento. Sempre daria para descansar um bocadinho as pernas. Mas hoje começámos (e mantivemo-nos) em pé.

Activar as pernas, que é como quem diz puxar os músculos contraídos para ajudarem no equilíbrio, empurrar firme o chão com debaixo dos pés. Manter a respiração, alongar braços e tronco, esticar tudo ao máximo para abrir espaço permitindo que a respiração profunda e consciente transporte oxigénio a cada pedaço do corpo.

Aula dinâmica, como é sempre, e as minhas pernas a suportar o meu corpo. Sem queixas, mas a serem sentidas pelo trabalho efectuado. E quase todo de pé. Algumas posturas de alojamentos das pernas, agora deitada. E as minhas pernas agradeceram. Os alongamentos, sejam no Yoga ou na Fisioterapia, para além de muito importantes, são algo que me sabe sempre tão bem, que me alivia tanto o peso e a pressão das pernas.

Chegou então o momento Savasana, ou o relaxamento. Que não sendo Nidra, o relaxamento profundo, permite também pequenas viagens quando permitimos relaxar todo o corpo, desde o cimo do Craneo até à planta dos pés, percorrendo os braços e as mãos, cada pedaço que faz parte do corpo. E relaxei. Sem pressa. Mantive o foco na respiração. Deixei o meu corpo ir.

Quando regressei daquele momento, quando o meu corpo voltou a estar activo, a diferença entre o antes e o depois era, como é sempre, muito grande. Depois de cada savasana fico muito lenta, muito relaxada, muito tranquila. Sou sempre a última a sair. Porque depois do savasana não consigo simplesmente arrumar tudo à pressa e desaparecer, como acontece com as minhas colegas. O meu dia a dia já é tudo sem pressa, devagar, devagarinho. Depois de relaxar no savasana mas ainda mais no Nidra? É tudo ainda mais devagarinho. É muito lento, lentinho.

Desço sempre com o Professor Pedro, de braço dado com ele porque, oh espanto, não há corrimão. Aproveitamos para conversar um pouco. Para ele se manter actualizado sobre mim. Para trocarmos ideias. E hoje, ao chegarmos à saída, ele perguntou: “então, como é que sentes as pernas agora?” e foi aí que percebi que mal sentia a presença das minhas pernas como se se tivessem diluído no relaxamento. Partilhei essa informação com ele, ri-me, e percebi no olhar dele que ali está um bom mestre. Não apenas um bom professor de Yoga. Está ali alguém que, desde o primeiro dia em Maio de 2023, tem seguido e acompanhado o meu caminho, no Yoga e no diagnóstico, e está sempre disposto a ajudar-me, seja adaptando aulas e asanas, seja simplesmente conversando e/ou perguntando como estou.

E, ao despedirmo-nos hoje, deixou a recomendação sábia para o fim de semana: “tu agora tens é que dormir. Dormir muito.” Ri-me mas percebi a recomendação: dormir muito para o meu corpo recuperar.

A verdade é que, apesar de ter regressado cedo, eram 10h39m quando me instalei na esplanada do costume, depois de almoçar (tarde!) o meu corpo começou a ceder e a dar-lhe sinais de que estava na hora de enroscar e aninhar no sofá para dormir um bocadinho.

Sei que já passava das 17h quando enrosquei. Adormeci de imediato. E aquilo que seria dormir um bocadinho estendeu-se até à 1h da manhã…

Agora que já comi uma torrada e umas iogurte, que já estou a escrevi há muito tempo, tanto que já não sei quanto, o meu corpo está de novo a dizer-me que está na hora de aninhar e enroscar. E, por algum motivo que ainda não percebi, vou dormir acompanhada por uma gata que, nos últimos dias, não me larga.

Portanto, depois de mais uma fabulosa aula de Yoga logo pela manhã cedo, o mais do que merecido e necessário descanso que, para muitos, pode parecer uma perda de tempo, mas que para mim é tratar de mim. E agora que a madrugada já corre solta há muito tempo está mais do que na hora de desligar por hoje. Quanto a amanhã…? Logo se vê. Mas não deve ser muito diferente da tarde de hoje…

{#038.328.2025}

Dia muito comprido e, no final, extremamente dorido e absolutamente exausto….

A saber, então, que foi assim, em três partes…

O dia acordou chuvoso. Não tão frio na Costa como agora em Almada, mas há um factor em comum: o chão parece manteiga. Está escorregadio como tudo e eu nunca soube andar de patins. Por isso, subir aquele curto mas muito inclinado pedaço de passeio que já de si é perigoso, hoje vai ter que ser feito com extremo cuidado.
Felizmente já não chove, mas está frio e tudo muito escorregadio. Ou seja, muito perigoso para mim…

E se me disserem “amanhã acorda-me com um bom dia”, é certo que o Serviço de Despertar vai funcionar. Aquele serviço velhinho em que os TLP nos ligavam à hora previamente combinada e que começava sempre com “Serviço de Despertar, bom dia”. E hoje aconteceu. E eu assumi, com muito agrado, o papel de despertador.

Do outro lado da linha, ele já estava acordado. E fez-me companhia, de mão dada comigo como desde o primeiro dia, da Costa até Almada. E começar o dia com ele tão “já aqui” soube tão bem. Melhor maneira de começar o dia logo cedo do que esta? Não há.

E agora é hora de ir até à clínica de Fisioterapia de preferência sem patinar na manteiga espalhada por esse passeio fora. É que continuo a não ter vontade nenhuma de ir conhecer o chão de perto.

——-

Hoje não há Sol na esplanada depois da Fisioterapia, mas há a companhia da melhor Mãe do Mundo, que só por acaso é MINHA!

E agora vamos só ali algures comer qualquer coisa a que possamos chamar almoço e, depois, tratar de coisas chatas porque há pessoas teimosas e que não sabem o que andam a fazer com a vida dos outros. E tudo por causa de, oh espanto!, um simples papel! Só que eu também sou teimosa. Um bocadinho teimosa. Um bocadinho grande, vá! Pronto, está bem!, eu sou assumidamente teimosa. Nem que seja só por causa de um simples papel que eu preciso COM A INFORMAÇÃO CORRECTA!
Enfim…podia ser pior. Mas não precisava de ser assim, pois não? Pois não…pois não!

——-

Haja alguma coisa boa que me aqueça!
Na Fisioterapia hoje não exercitámos as pernas por causa das dores. Mas só desde que saí de lá já trabalhei o equilíbrio ao evitar escorregar no passeio molhado, já apanhei chuva suficiente para me molhar as calças e gelar as pernas, já viagem em pé no Metro de Almada porque as portas fecharam antes de eu ter tempo para sair, já lutei contra o vento que queria deitar-me ao chão e cheguei agora a um serviço público que fica num primeiro andar e que, por acaso!, até tem plataforma elevatória para utentes em cadeiras de rodas (e acho muito bem!) mas que, quem não vem com cadeira tem que vir em pé numa plataforma com equilíbrio precário. Ou seja, tive de subir 25 degraus a muito custo. Até porque, para ter acesso à plataforma, é necessário que alguém no primeiro andar informe a funcionária de serviço.
Custou, mas já estou cá em cima. São 15h05m e a minha marcação, feita online ainda algures em Janeiro, era para as 14h40m.

Está bem…todos os exercícios que não fiz na Fisioterapia para poupar as pernas e com recomendação do fisioterapeuta para muito pouco ou nenhum esforço no fim de semana foram todos feitos esta tarde depois da Fisioterapia.

E agora, 16h45m já depois de atendida no tal serviço público, perfeitamente esclarecida dos próximos passos a dar e confirmada a razão do meu lado (como eu sempre disse que estava porque eu SEI ler!), prestes a chegar a casa com mais dores do que era suposto e do que eu queria. Vou finalmente descansar as pernas, repousar e restauraram o corpo e desligar a cabeça por um bocadinho. E não vai ser preciso café para me aquecer e ninguém me tira de casa novamente hoje!

Muito cansada e com demasiadas dores e amanhã logo de manhã cedo tenho que estar em boas condições para a aula de Yoga…

Entretanto, são 16h57 e estou finalmente em casa. Posso ir ali aterrar no sofá por um bocadinho? Obrigada.

{#037.329.2024}

Depois do dia de hoje, que não se ficou pelo péssimo final da manhã, não posso esquecer-me do que escrevi há dois dias sobre as papoilas de Janeiro que resistem até Fevereiro.

Não me posso esquecer de me manter papoila de Janeiro, mesmo que, ou especialmente quando!, os desafios forem demasiado pesados. Como foi hoje. O dia todo… O desafio quase impossível de superar. Mas que consegues, a custo!, terminar com sucesso.

É isso. Vou querer continuar a ser papoila de Janeiro. Não posso ser de outra forma. Ainda que tantas vezes sozinha, é papoila de Janeiro que serei.

{#036.330.2025}

Dores. Falta de força. Fraca mobilidade. Pouca estabilidade. Equilíbrio? Sem estabilidade não funciona como deve ser. Foi assim a manhã das minhas pernas… O caminho de manhã cedo até à paragem do autocarro foi acompanhada como é todos os dias. A partir daí fico por minha conta. E o risco passa de grande estando acompanhada a elevado estando sozinha. E cada vez tenho mais percepção disso. Mas insisto nos meus caminhos sozinha. Numa tentativa de manter a minha autonomia e a minha independência o máximo de tempo possível. É, também, uma espécie de fuga à realidade? Claro que sim. É uma tentativa de voltar a ser quem já fui e não volto a ser…

Continuo a recusar o andarilho. Não quero. Não me reconheço com ele. É possível e até provável que venha a ter que ceder ao seu uso. Mas até nessa altura irei continuar a recusá-lo. Porque essa não sou eu!

Ao chegar, a muito custo, à Fisioterapia falei nas dores, da força de que ontem senti a abandonar as minhas pernas, da fraca e muito difícil mobilidade, a falta de estabilidade e equilíbrio. Em conjunto, decidimos exercícios leves, com muito pouca incidência no esforço das pernas. Eu já sabia o quão prejudicial é o frio intenso nas minhas pernas, mas ainda não tinha havido necessidade de abordar o assunto como hoje.

Fisioterapia em modo suave terminada, hora de regressar. Não resisti à esplanada ao Sol e por lá fui ficando. O calor do Sol quente nas minhas pernas geladas permitiu-me a capacidade de caminhar, com extremo cuidado, até à paragem do autocarro.

No caminho de regresso a casa, sentada no autocarro, percebi que o resto do dia não ia ser fácil. Ao sair do autocarro, a minha mãe pronta para me acompanhar, as dores cada vez mais intensas, a dificuldade em caminhar cada vez mais extrema, o cansaço pesado já instalado. E, ao final da tarde, a aula de Yoga…

…à qual consegui ir. Não tinha como…e custa-me tanto faltar ao Yoga. Mas é preciso ouvir o que dita o corpo. E o meu ditou que o descanso é prioritário.

Hoje não foi fácil. Nada mesmo. O ponto alto do dia? O Sol na esplanada a aquecer-me. Amanhã? Logo se vê.

{#035.331.2025}

O que é que me encanta, cativa, me faz gostar tanto das papoilas de Janeiro que, em Fevereiro, resistem cheias de cor e vida?

A resiliência. Não apenas a resistência de quem enfrenta o frio gélido de Janeiro, o vento, a chuva, todas as agressões que não pode controlar. Mas a forma como se fazem regressar ao seu máximo esplendor no Verão depois de tantas agressões no Inverno.

Tenho que aprender a ser papoila de Janeiro. Sempre me considerei resiliente, mas o último ano tem-me posto à prova como nunca. E eu tenho tentado resistir a todas as agressões de um Inverno que, para mim, começou em Junho de 2023…

Dia de regresso à Fisioterapia. E, hoje, sozinha. Companhia até entrar no autocarro cedo de manhã. Companhia desde a saída do autocarro no regresso a casa. Todo o restante caminho sozinha. E não é um caminho fácil. Chão não muito irregular, é verdade, mas com demasiadas texturas, demasiados tipos de solo que atrapalham o caminhar em segurança, incluindo os carris do Metro de superfície de Almada que, quer queira que não, sou obrigada a atravessar.

A parte mais difícil vem depois. Aquela inclinação até chegar à entrada do prédio da Fisioterapia…acompanhada já não é fácil. Sozinha é uma aventura. E, já percebi, de um risco de queda bastante elevado. Mas não quero obrigar ninguém a ir comigo até à Fisioterapia para ficar quase 2 horas à minha espera só por causa de uma inclinação. E, quando digo “alguém”, refiro-me obviamente à minha mãe. Que também começou a fazer Fisioterapia na mesma clínica mas que, agora que terminou o ciclo de tratamentos, está à espera de vaga para recomeçar. Eu, doente neurológica, já não preciso de esperar entre ciclos, posso começar de imediato. Mas, desta vez, pedi uma semana de descanso. Porque os exercícios podem parecer muito simples. Para os outros talvez sejam. Mas não para mim. E, mesmo tendo estado de fora uma semana, o regresso provou-me que não posso parar.

Foi um regresso duro. Em que só a muito custo consegui fazer os exercícios todos. E quando envolveu a perna esquerda, voltei a comprovar o mau estado em que está. Pesa 3 toneladas. Erguê-la requer um esforço enorme para conseguir completar os exercícios. A nível sensibilidade não sei como está, mas nos exames hospitalares de há um ano a percentagem de falta de sensibilidade já denotava limitações. E é, de facto, na perna esquerda que sinto maiores dificuldades para tudo…

O frio não ajuda. E senti os seus efeitos no regresso a casa. Dificuldade em caminhar, mesmo em casa, já é habitual. Mas hoje senti a ausência de força nas pernas sempre que me desloquei em casa. E isso nunca tinha sentido, com maior ou menor esforço das pernas, nunca tinha sentido a força a abandonar-me…

Amanhã repete-se a manhã: companhia até à paragem do autocarro de manhã, prosseguir sozinha até à clínica, fazer os exercícios, voltar sozinha até à paragem do autocarro ao pé de casa, companhia até casa. Depois vai ser almoçar, descansar a cabeça que continua entregue a uma caixa de som e vibração ininterrupta, esticar-me, aquecer e relaxar no sofá até serem horas de sair para o Yoga que, a partir de amanhã, acontece às quartas feiras em vez das quintas.

Quero conseguir descansar o suficiente para ir mais cedo. A tempo de um café enquanto vejo o pôr do Sol na praia. Se vou conseguir? Não sei. O que sei é que não me posso esquecer da resiliência das papoilas de Janeiro que resistem em Fevereiro e se voltam a erguer no Verão. Eu sempre disse que, quando crescer, quero ser uma árvore. Hoje altero o desejo. Hoje digo que, quando crescer, quero muito (tanto!) ser uma papoila de Janeiro!

{#034.332.2025}

8h30 da manhã parece-me uma boa hora para chegar ao serviço de urgência do Hospital Garcia de Orta. Mas, pela vontade da enfermeira da Linha SNS24 tinha sido na última noite às 2h da manhã. Hora em que não há ao serviço os especialistas que eu preciso. Agora é esperar pela triagem e depois…logo se vê.

Mais de 8 horas depois, a pulseira amarela que há em mim teve alta. Passei com distinção por todos os testes e análises, até aquelas que (me) foram difíceis de recolher. TAC Craneo Encefálica sem alterações, o que é muito bom. Não se confirmam as suspeitas da enfermeira da Linha SNS24. Suspeitas essas que me preocuparam mas, acima de tudo, me assustaram. Muito!

Já em casa, longe do barulho e confusão que é a sala de espera de uma urgência hospitalar, garanto: a caixa de som e vibração que existe dentro da minha cabeça continua a bombar. E, disse o médico que me deu a alta, não há como desligá-la. Ou, em português corrente, “é aguentar e esperar que passe”.

Está bem. Só que não…porque eu não aguento o barulho que não existe e que só eu consigo ouvir e sentir!

Às 18h45m chegavam, pela minha janela, as últimas cores do final do dia depois do pôr do Sol às 18h01m. E eu, muito cansada, demasiado cansada!, a considerar seriamente voltar para a sala de espera da urgência do Hospital. Porquê? Porque durante as mais de 8 horas que lá passei hoje, muito devido ao barulho que existe sempre nas salas de espera da urgência de um Hospital, a caixa de som e vibração que está instalada na minha cabeça não me incomodou. Não sei se esteve sempre em silêncio, sossegada, ou se foi o ruído à minha volta que abafou o incómodo que é ter esta caixa constantemente a funcionar e a perturbar o meu sossego. O que sei é que, mal saí do Uber que nos trouxe de volta, ainda na rua, o ruído e a vibração voltaram… E, pelo que percebo, voltaram em grande força. Já não os consigo suportar. O incómodo é demasiado. A perturbação é imensa. E eu estou muito cansada. Dizia-me esta madrugada a enfermeira da Linha SNS24 que eu preciso de descansar e isto, seja lá isto o que for, não me está a deixar. E não está mesmo…

Agora que tratei de jantar o mais cedo possível vou aninhar e enroscar. Se tomo a medicação que me obriga a descansar? Não queria. Mas tomei. O que sei é que amanhã é dia de regressar à fisioterapia às 9h30 e preciso de estar (minimamente) descansada. Coisa que não estou nem consigo estar…

Mas, se alguém souber como se desliga a caixa de som e vibração que existe dentro da minha cabeça, por favor diga alguma coisa porque eu não aguento muito mais…

{#033.333.2025}

Nunca fui, desde que a marca chegou a Portugal, grande fã da Mr. Wonderful. Nem grande fã nem apreciadora mediana, diga-se de passagem. Sempre achei que demasiado açúcar enjoa e a marca sempre me enjoou.

Contam-se pelos dedos de UMA MÃO (e ainda sobram muitos dedos) o número de vezes que entrei na loja por vontade própria. Entrei em Maio para ir ter com a minha mãe que estava lá com uma amiga já há demasiado tempo e, até eu me espantei!, acabei por comprar um caderno. Um caderno sem açúcar, bastante simples, mas com uma mensagem que, desde o diagnóstico, eu repetia na minha cabeça todos os dias: “I’ll do it my way“.

No final do ano, a minha cabeça começou a fervilhar de ideias do que quero, posso e (ainda) consigo fazer! Mas precisava de um suporte físico para organizar as ideias e, na loja online, encontrei exactamente o que procurava.

A encomenda chegou às minhas mãos na segunda feira passada, dia 27/Janeiro às 15h50m. Fui beber café, vim para casa pouco depois e depositei a caixa (por abrir) numa cadeira na sala. Hoje, 2/Fevereiro às 23h35m a caixa continua no mesmo sítio e no mesmo estado: por abrir

Sei exactamente o que vem lá dentro. Mas também sei que, para começar a dar-lhes uso, primeiro tenho que organizar a confusão que vai dentro da minha cabeça. E é uma confusão de processamento cognitivo, não uma confusão espacio-temporal como o fabuloso psicólogo queria à força que fosse. Sei exactamente dia do mês, mês respectivo, ano e também onde estou. E ele pareceu-me desiludido quando me disse “afinal não está assim tão confusa e baralhada como diz…”

Do que eu preciso com alguma urgência? Que alguém se sente comigo, com tempo e paciência, sem pressa mas com sabedoria para me ajudar a desfazer este nó que tenho na minha cabeça. Que me ajude a baixar a temperatura que leva ao fervilhar de tantas ideias para que eu consiga identificar uma que seja e comece a passar para o papel tudo o que tenho na cabeça e, posteriormente, também com tempo e calma, organizar e dar uso ao que está dentro da caixa que ainda não abri.

E sim!, isto É um pedido (grande) de ajuda…que continuo a não ter…

{#032.334.2025}

Sábado é dia de Yoga. E, a partir de hoje, com novo horário: 9h da manhã, em vez das habituais 10h.

Ter aula às 9h obriga a sair de casa um bocadinho antes das 8h para chegar à paragem do autocarro a horas de o apanhar. Até porque, já sabemos, ao Sábado chega sempre antes do horário! O horário diz que passa às 8h25m. Entrei no autocarro às 8h17m…são 8 minutos que fazem tanta diferença! E já o fez anteriormente. Por isso, sair cedo de casa para quem, como eu, (já) não consegue andar rápido, é essencial. E assim aconteceu esta manhã, depois de adormecer perto das 2h da manhã. Que é coisa que não pode continuar a acontecer. Especialmente quando no dia seguinte tenho que acordar muito cedo…

Tinha pensado em, quando saísse do autocarro, ir espreitar o Mar logo ali, tão perto da paragem do autocarro. Acabei por não ir. Porque o sono era mais do que muito e não tive tempo para beber café antes de sair de casa. Apesar de ter chegado à paragem de saída muito cedo, tive medo de conseguir o que consigo tantas vezes quando até chego cedo: acabar por me atrasar

Àquela hora, ainda muito ensonada, consegui ser ainda mais lenta do que o habitual. E, talvez com o frio, talvez com o sono, talvez com “ambos os dois em simultâneo ao mesmo tempo“, o meu corpo, ou parte dele, parecia estar preso. Como se tivesse um nó do lado esquerdo do corpo que não me permitia caminhar tão direita como queria, como precisava…

Cheguei cedo, claro. Fui subindo, mesmo não sabendo se o professor Pedro já lá estava ou não, eu queria era enfrentar aquela escadaria horrível de subir devagar e ter tempo para respirar ao chegar lá acima.

O professor Pedro já lá estava, abriu-me a porta da sala e disse-me para ir entrando. Tirar o casaco e pendurá-lo no cabide. Atravessar a sala. Tirar os blocos. Estender o tapete. Tirar as calças de ganga que vão sempre por cima das calças de Yoga. Descalçar as meias. Tudo a um ritmo muito lento. Devagar, devagarinho. O ritmo de quem ainda não estava completamente acordada, com falta de café e, sobretudo, a sentir metade do corpo preso num nó. Posso ter sido a primeira aluna a chegar. Mas, com tudo isto, fui a última a sentar-me no bloco…

Parar. Respirar. Alongar o corpo. Manter a respiração tranquila, profunda e consciente. Alongar mais um bocadinho. E ninguém imagina o bem que me soube. E o bem que fez.

Pôr de pé. Pés juntos, que é coisa para me tirar o equilíbrio rapidamente, hoje não tirou e foi relativamente fácil de conseguir. Fechar os olhos. Hoje o professor Pedro não o disse, mas costuma dizer: “fechem os olhos. Todos menos a Catarina”. Porque já sabemos que, de olhos fechados, é-me mais difícil encontrar o ponto de equilíbrio e por isso não os fechei mas foquei-me num ponto fixo mesmo à minha frente para me ajudar a manter o equilíbrio.

Respirar fundo de forma consciente. Sempre. Inspirar e esticar os braços para cima. E aqui comecei a sentir que aquele nó que me prendia o lado esquerdo continuava lá e começou a atrapalhar. Se era para esticar os braços para cima alongando o tronco com o peito para fora mantendo todo o corpo alinhado e direito, o que eu sentia era o nó que me prendia, que me condicionava os movimentos, que me fazia sentir um alinhamento muito torto. Estivesse a fazer o que estivesse, era torta que me sentia…

Asanas de equilíbrio em pé? Outro objectivo que tentei alcançar o melhor que consegui. A ideia para garantir um melhor equilíbrio é vincar bem os pés no chão. Tenho conseguido fazê-lo. Mas hoje as dores na sola dos pés voltaram. Não percebo de onde vêm estas dores, porque ao caminhar não dou por elas. Mas ali…ali de vez em quando aparecem.

Fui sempre tentando e ao falhar um asana repetia a postura desde o início até as dores me dizerem “hoje não”.

Depois do relaxamento final, descer as escadas de braço dado com o professor Pedro e ir conversando sobre a aula. Referir o nó que me prendia o lado esquerdo do corpo, as intensas dores nos pés que me impediram de alcançar os asanas e ouvi-lo dizer “eu reparei. No início estava a correr muito bem, mas lá para meio complicou.” Tal e qual…

Regressar na boleia habitual e ir onde tinha que ir com urgência: à esplanada do costume beber o primeiro café do dia!

Café bebido e fui-me deixando ficar por lá por mais um bocadinho. Não por não querer voltar para casa, que é o sentimento habitual. Mas apenas por me estar a sentir bem ali, mesmo que com muito sono ainda e muito relaxada depois da aula e do relaxamento final.

Voltei para casa perto da hora de almoço. Mudei de roupa a custo, especialmente porque em casa está sempre mais frio do que na rua. Almocei. Bebi o meu café e fumei o meu cigarro. Fui para o sofá…

…e enroscada nas mantas, aninhada com as almofadas térmicas quentinhas, adormeci de imediato enquanto ainda estava a escrever no telemóvel.

A mensagem acabou por ser publicada mais tarde. Muito mais tarde. Bastante mais tarde! Porque só fui acordadas para jantar. O meu corpo hoje decidiu fazer uma espécie de reset. Apagar para reiniciar. E é, de facto, o que preciso: um reset ao meu sistema. Aquele sistema que, já sabemos, tem bug. E a esta hora, quando a noite já roça a madrugada, ainda aqui estou, a escrever, a descrever o meu dia praticamente ao pormenor como se interessasse a alguém, mas que me servirá de cábula quando for preciso recorrer à memória e não conseguir.

Mas, mesmo depois do reset que foi feito durante toda a tarde, é urgente fazer um novo ctrl+alt+del para reiniciar o sistema em condições.

{#031.335.2025}

Sexta feira com um sabor esquisito. Tudo porque não me lembro, de maneira nenhuma!, do que fiz de manhã, a que horas acordei, quando é que tomei o pequeno almoço… Sei que o almoço foi a horas normais… Sei? Na verdade nem isso sei. Para saber preciso de fazer batota e ir ver a que horas tirei a foto…mas não sei se quero ir por aí. Queria, muito!, simplesmente saber. Lembrar-me. Nem sei o que vi na televisão enquanto almoçava… Agora que penso nisso, e depois de um ligeiro esforço, até tenho uma vaga ideia. Mas tenho saudades de quando esse saber era mais espontâneo, mais imediato…e está cada vez pior.

E os dias continuam sempre iguais. E todas aquelas ideias que me ocupam espaço na minha mente continuam sem passar para o papel porque não sei sequer por onde começar. Ou, pior ainda, como começar. Especialmente quando sei que as ideias são muitas e eu não consigo lembrar-me de uma só que seja…

Mas, de há uns dias para cá, há uma coisa que ressoa na minha cabeça: a vontade de ser mais, de ser melhor, de fazer a diferença. É uma ideia ou são três? Não sei… E ser mais, ser melhor, fazer a diferença…em quê? Também não sei!

O que sei neste momento é que está mais do que na hora de ir para a cama. É uma forma de fugir a uma eventual exploração deste tema? É possível que seja, sim. Mas a verdade é que amanhã, mesmo sendo sábado, é dia de acordar muito cedo e sair de casa muito cedo para não perder o único autocarro que me leva até ao Yoga. Yoga que mudou de horário aos sábados. Em vez de ser às 10h, passa para as 9h. E eu gosto dessa ideia de fazer Yoga logo de manhã cedo. Mas, para isso, é preciso desligar por hoje, descansar e dormir. E ainda me falta fazer tanta coisa antes de dormir…

Quero muito desenvolver e explorar as ideias que deixei aqui hoje. Mas preciso de fazê-lo com tempo e com calma. E, de preferência, com alguém que converse comigo, me oiça e me ajude a desenvolver e explorar o tema. Mas, já sei, não vai acontecer…

Enfim…foi só mais um dia igual a tantos outros, sem História ou histórias, mas com o processador que é o meu cérebro, e que tem bug já confirmado pelo neurologista, com toneladas de informação que não está a conseguir processar.

Por hoje chega. Amanhã? Logo se vê como será…

{#030.336.2025}

Ontem, numa Teleconsulta onde de facto me ouvem e se lembram do que foi falado anteriormente, disseram-me sobre os meus dias: “são sempre iguais, não são?”. E, de facto, contando com (já) 17 meses de baixa médica que se traduzem em muito perto de 400 dias (agora não me apetece ir fazer contas para saber o número certo, mas não falho por muito), os meus dias não têm sido muito diferentes uns dos outros. Já passei aquela fase em que todas as semanas tinha que ir ao Hospital para testes, exames, análises, consultas, fisioterapia, tratamento preventivo. Nessa altura havia sempre algo de diferente a acontecer, mesmo que o denominador comum fossem as idas ao Hospital. Depois de concluído o diagnóstico, mantêm-se uma ou outra consulta de vez em quando, estando a menos de um mês de concluir o tratamento preventivo vão terminar também as análises mensais seguidas de consulta médica para divulgação e avaliação dos resultados e consequente consulta de enfermagem para receber a medicação e a Fisioterapia, que veio sem data de término porque vai ser necessária para sempre, mudou do Hospital para clínica no centro de Almada. E com essa acalmia chegaram os dias todos iguais. Sem grandes rotinas. Sem grandes diferenças. Sem nada, no fundo…

As únicas coisas que se mantêm são as aulas de Yoga às quintas feiras ao final da tarde e aos sábados, agora logo no início da manhã. E foi a melhor coisa que podia ter feito, inscrever-me no Yoga em Maio de 2023, ainda longe de saber o que tenho e ainda sem qualquer suspeita sequer. E sempre que recordo as palavras do neurologista em Outubro passado, “nem pense em desistir do Yoga!”, digo sempre que desistir do Yoga não faz parte dos meus planos. Mesmo! E, lá está, desde Maio de 2023 que tenho sempre alguma coisa (boa) a acontecer.

Depois existe também a Fisioterapia na clínica no centro de Almada. Em ciclos de 15 tratamentos diários que se resumem em 3 semanas de trabalho de equilíbrio e reforço muscular. Onde tenho conhecido pessoas novas, é verdade. E que, até há bem pouco tempo, entre ciclos existia um período de espera demasiado grande e onde chegava a regredir por falta de tratamento. Felizmente já perceberam que situações neurológicas, como é o meu caso, não podem ficar tanto tempo sem tratamento e passámos a ser prioritários para início de novo ciclo. O que significa que se o último dia de um ciclo for a uma quinta feira, por exemplo, desde que a prescrição médica já tenha dado entrada na clínica posso iniciar o novo ciclo logo na sexta feira seguinte. Posso também não avançar logo para o novo ciclo e, como disse o Fisiatra da clínica, tirar umas férias para descansar e recuperar o corpo antes de regressar ao trabalho. Desta vez senti necessidade de tirar essas tais férias. Adiei o início por uma semana. Tempo suficiente para descansar e recuperar. Terça feira, dia 4 de Fevereiro, regresso. E, desta vez, novamente sozinha.

E, de repente, páro para pensar e perceber que, mesmo com os dias de Yoga e os ciclos de Fisioterapia, sim, os meus dias são sempre iguais.

E continuo cheia de vontade de fazer tanta coisa e sem me conseguir organizar. Especialmente por sentir que, sim!, tenho vontade de fazer tanta coisa mas sem conseguir apontar uma única coisa que seja…

Por isso, sim!, os meus dias são sempre iguais. E, mesmo não fazendo nada para além da Fisioterapia e do Yoga, as 24 horas do dia não me chegam. Para quê? Na realidade, para nada mesmo…e dou por mim a querer mais, mesmo não sabendo do quê em concreto. Mas quero mais! Provavelmente mais de mim mesma, mas ainda estou a tentar perceber como funciona para alcançar, para ter, para ser mais de mim mesma. E não sei. Assim como também não sei a quem perguntar…

Amanhã será mais um dia igual aos outros. Acordar à hora que for, almoçar sabe-se lá a que horas e depois…depois logo se vê…

{#029.337.2025}

Ainda não percebi ao certo qual das duas é a melhor a jogar ao jogo do Faz de Conta, se ela ou se eu.

…mas começo a acreditar que sou eu. Porque faz de conta que está tudo bem? É comigo. Faz de conta que não se passa nada de (muito) errado em mim? É comigo. Faz de conta que consigo fazer tudo normalmente e sem ajuda? É comigo.

…há muitos anos que digo que sou perita no jogo do Faz de Conta. Mas a este nível, that’s a first.

[e ela sempre no meu caminho, a atirar-se de barriga para o ar a, lá está!, fazer de conta que quer festinhas quando o que quer é morder. Ou a parar em frente aos meus pés quando eu tento caminhar em casa sem perder o equilíbrio. Ou, ainda, a enrolar-se nos meus passos numa clara ameaça de me fazer cair. É, já faltou mais para eu cair em casa por causa dela. Mas, para ela, faz de conta que não se passa nada…]

E eu…? Continuo a encolher os ombros, sorrir e acenar. Porque faz de conta que está tudo bem. Só que não está

{#028.338.2025}

Sair de casa relativamente cedo e meio à pressa para conseguir chegar a horas ao analista. Depois das alterações que o meu corpo sofreu no último mês e meio, alterações perfeitamente naturais e, até, já expectáveis mas ainda assim intensas, fazer análises tinha que acontecer.

Análises feitas, pequeno almoço tomado e entre o pequeno almoço e o almoço, das duas uma: ou apaguei completamente a informação da minha memória ou não se passou mesmo nada digno de nota. Já não sei. E, neste momento, já nem me esforço para tentar saber…

Almoço na vila. E, entre o almoçar e o ir apanhar o autocarro de volta para casa, outra memória em branco. Sei que não bebi café na vila, vim bebê-lo à esplanada do costume. Não sei, não me lembro!, a que horas cheguei…sei, sim, que ainda não foi hoje que voltei à esplanada das mesas infinitas para, com tempo e sem pressa, organizar as minhas ideias e passá-las para o papel. Ou, e porque também quero muito fazê-lo, escrever aquela carta prometida há tanto tempo, uma daquelas cartas ridículas, como são todas as cartas deste género, como afirma o poeta. Uma pedida e prometida carta de amor. Amor esse que todos os dias, e desde há tantos dias!, cresce mais um bocadinho. Ele existe, é real, é um facto, é bonito, é especial, é único. É nosso. E, talvez por ser tão único, tão bonito, tão especial, eu tenha algum receio de não estar à altura das palavras que essa carta há tanto tempo pedida, há tanto tempo prometida, merece.

Sei que cheguei a casa demasiado cansada, sei que foram demasiadas horas fora de casa e sei, também, que não cheguei bem. Cabeça muito confusa, cabeça muito cansada, extremamente sensível ao mínimo ruído que me confundia ainda mais. Pela primeira vez em muito tempo, busquei o silêncio… Nem a música, que me acompanha sempre para todo o lado, era algo que conseguisse tolerar… E aquela necessidade, que eu considero básica, de conversar com a minha mãe, claro, não aconteceu. E eu precisava tanto

Há momentos em que tudo isto que me apanhou na curva tem um peso insuportável. E preciso de o partilhar. Em primeiro lugar, com quem me acompanha de perto todos os dias, 24 sobre 24 horas. Que foi tão apanhada desprevenida quanto eu. Só não teve direito a diagnóstico, mas não duvido que seja o que for que me afecte a mim, também a afecta a ela: a minha mãe. E era com ela que eu estava tanto a precisar de conversar, desabafar. E dou por mim, agora, passadas estas horas todas desde que chegámos a casa, sem me lembrar do motivo que me fez precisar tanto dela como precisei hoje. O que é que me estava a incomodar tanto naquele momento em que, mais uma vez, me senti simplesmente posta de parte por quem eu estava a precisar tanto

Acabei por, mais uma vez, depositar nele parte deste peso imenso. Conversámos e, mais uma vez, ele me trouxe de volta à Terra para, através das palavras dele, perceber que se para mim não é fácil também não o será para a minha mãe. Que para ela será demasiado. Que para mim é a minha realidade. Mas, pelo que eu sinto, também é demasiado para mim. E, mais uma vez, ele me confirmou que não estou sozinha. Tenho-o a ele. Longe, à distância de um clique. Mas tenho-o a ele.

E foi aí, foi a conversar com ele que assumi a minha frustração. De não ser melhor. Melhor filha. Melhor irmã. Melhor tia. Melhor amiga. Melhor pessoa. Melhor o que for! O não querer ser um peso para ninguém, muito menos para a minha mãe e para ele. E é isso que sinto que sou, neste momento: um peso, um estorvo, um empecilho, um atraso de vida para todos à minha volta. E não quero ser isso. Não quero! Não posso! Mas é o que sinto estar a ser…

Não, não estou bem. E, mais uma vez o digo: eu preciso de ajuda. Urgente

E, ao final do dia, recebi no email o resultado das análises desta manhã: uma anemia. Grande. Nada que não suspeitasse. Mas porra…a sério?! Não há mais nada?!

{#027.339.2025}

Não era a esta esplanada que eu queria ir, a chamada e conhecida esplanada do costume. Queria, precisava!, a outra das mesas infinitas vazia aos dias de semana ou nos fins de semana cinzentos de Inverno. Porque a esplanada do costume tem sempre barulho, mais do que aquele que consigo suportar, vozes demasiado altas, demasiadas vozes. E, apesar de me sentar sempre na mesa mais afastada de tudo, ali no cantinho, sinto-me demasiado presa com falta de espaço. Na esplanada das mesas infinitas vazia aos dias de semana sinto a liberdade do espaço imenso coberto pelas árvores que ali habitam e o sossego da ausência de vozes alteradas em conversas cruzadas num volume de som desnecessário que me incomoda, que me perturba.

Não era a esta esplanada que eu queria vir hoje, mas a chuva e o vento demasiado forte e que me deixa mais instável e insegura a isso obrigaram.

Não consegui, naquela falta de espaço demasiado ruidosa passar para o papel o que ando há dias a tentar sem sucesso.

Ainda levantei uma encomenda na papelaria, bebi o café (duplo) e voltei para casa. Ainda a sentir-me muito relaxada depois da meditação de ontem e com demasiado sono, não resisti ao sofá e às mantas. E dormi. Rapidamente adormeci. E só muito mais tarde acordei…

A esta hora em que a noite já passou a madrugada a caixa da encomenda continua por abrir. E a vontade de amanhã ir à esplanada das mesas infinitas mantém-se, sem horário definido para ir e sem pressa para voltar.

Eu preciso de espaço aberto. E preciso de sossego e uma mesa de apoio para tudo o que tenho para passar para o papel. E ali, abrigada pelas árvores que ali habitam, estou no sítio certo.

{#026.340.2025}

Final de dia programado para, com ligação directa à Suíça, trinta minutos de meditação guiada com a Charlotte, que há 20 anos (com’assim, 20 anos?!) começou por ser a filha do patrão inglês e que, rapidamente, se tornou uma amiga.

Não nos vemos ao vivo há muito tempo, muitos anos!, mas graças às redes sociais nunca perdemos contacto e de alguma forma vamos sabendo uma da outra. E foi assim que fui acompanhando o percurso dela até agora ser, entre outras coisas, instrutora certificada de futuros professores de Yoga. E já lhe disse: quando vier a Portugal quero marcares uma aula de Yoga com ela! Não para formação, o meu caminho não passa por aí. Mas para um momento de partilha. Partilha de quê? Não tinha pensado nisso até agora…mas penso que, talvez, uma partilha de energias.

Gosto muito da Charlotte e tenho saudades das nossas conversas, do tempo que, em trabalho ou fora dele, passámos juntos. Que, mesmo que de formas distintas, crescemos juntas. Éramos umas miúdas crescidas na altura, 20 anos depois continuamos umas miúdas mas agora mais crescidas. Percursos de vida diametralmente opostos, como desde sempre. Mas, mesmo com uma História tão diferente, encaixámos tão bem desde o primeiro dia.

Já sabia que, esporadicamente, ela fazia directos de meditação guiada pelo Instagram, mas nunca tive muito interesse, curiosidade, o que seja. Provavelmente ainda não tinha chegado o momento certo. Porque tudo acontece quando tem que acontecer, nem antes nem depois. Tudo tem sempre o seu tempo certo para acontecer.

Nas minhas aulas de Yoga temos tido momentos de meditação guiada, especialmente quando temos Yoga Nidra. Que nada mais é do que um relaxamento profundo. E onde, sim!, de vez em quando viajo. Para fora de mim? Talvez. Mas com ou sem viagens, com ou sem temas, e com a Charlotte houve temas específicos, a meditação tem feito muito sentido para mim nos últimos meses. Tenho tentado procurar saber mais. Tenho, ainda que timidamente, procurado informações e ferramentas para incluir a meditação nos meus dias de uma forma mais regular. E, quando vi o anúncio da Charlotte sobre a meditação guiada para hoje ao final da tarde, sabia que este era o momento certo.

Meditação centrada em 3 temas distintos: Reflexão, Resolução e Gratidão. Reflexão sobre o primeiro mês deste ano que está prestes a terminar. Resolução do que queremos para o próximo mês. Gratidão pelas pessoas que temos à nossa volta, aquelas 3 pessoas que mais agradecemos por ter junto a nós, que estão presentes, que nos são verdadeiramente importantes. Foram fáceis de identificar as duas primeiras: obviamente a minha Mãe e logo de seguida ele, que chegou sem aviso com a força de um terramoto com epicentro a 135km de distância e que provocou em mim um Tsunami. A terceira pessoa, Pê de Presença, não podia ficar de fora. Já teve um papel mais proeminente nos meus dias, mas já percebi também que, apesar de tudo, continua a ser um porto de abrigo e uma espécie de farol, com uma luz mais distante, é verdade, mas que mesmo assim continua a guiar-me em segurança.

Meditei sobre os três. A importância de cada um. E agradeci a cada um na meditação. E também lhes disse que gosto muito dos três, cada um com o seu papel, com a sua relevância nos meus dias, com a sua importância.

Ao fim de 30 minutos, o regresso da meditação. E, mesmo não tendo sido um Nidra, voltei num estado de relaxamento muito grande. Voltei muito diferente do estado de agitação, inquietação, frustração e impaciência com que comecei. Num estado de muita calma e tranquilidade. E confirmei: tenho que introduzir a medicação nos meus dias. Hoje foram 30 minutos, guiada para explorar temas muito específicos. Mas já me informei com o professor Pedro que pode ser um processo mais simples. E é por aí que quero ir.

Agora, várias horas depois daquela meditação que me relaxou e tranquilizou e me deixou num estado de leveza que dura até agora, aquela hora em que a noite está prestes a virar madrugada, é hora de sorrir e agradecer outra coisa que tocámos na meditação: as pequenas coisas que nos fazem bem. E, para mim, sem dúvida que as papoilas de Janeiro estão no topo da lista das pequenas coisas. E vai ser a pensar nas papoilas de Janeiro que vou enroscar e aninhar com ele, o meu Terramoto que me transformou em Tsunami e que me chegou no momento certo, no tempo certo, no tempo que era tempo de ser tempo…