{#253.114.2024}

Percebi hoje que, de facto, o meu corpo já se ressente de esforços da véspera. Não vejo outra explicação para a estupidez de cansaço, sono e fadiga do dia de hoje a não ser como resposta à ida até ao paredão ontem.

O paredão é “já ali“, mas ir e voltar resulta numa caminhada de 3 km. Que, realmente, não é grande distância. Para os outros… Para mim, neste momento e desde que fui apanhada na curva por isto que, de certa forma, me derrubou, fazer uma simples caminhada até “já ali” e totalizar nas pernas 3 km é muito. E, desta vez, sem pausa no caminho, seja para lá ou para cá. Parei pouco mais de 10 minutos no paredão para ver o pôr do Sol na praia e pus-me a caminho de volta para casa.

O ritmo da caminhada não foi intenso, nunca é porque já não consigo que o seja. Mas acabou por até ser um pouco mais rápido do que o meu já habitual devagar, devagarinho. E acho mesmo que foi isso que hoje o meu corpo acusou.

Acordei pouco depois das 8h. Para voltar a apagar poucas horas depois. 11h? 11h e tal? Já não sei…mas não aguentei. Ou o meu corpo não aguentou.

Voltei a acordar pelas 14h, talvez. Almocei. Bebi café. Tentei reagir para acordar. Ir à rua era impensável porque a Nortada estava demasiado forte e não convidava a sair.

E sempre o sono. Tanto. E o corpo cansado. Muito lento. A pedir repouso.

Não, hoje que precisava tanto!, não aterrei no sofá. Ainda estiquei as pernas cansadas ao final da tarde, mas não dormi. E a luta para me manter acordada foi muito difícil, muito complicada. Mas consegui resistir e não adormecer.

A Nortada abrandou significativamente e consegui convencer-me a mim mesma a ir à rua beber café e dar uso às pernas. Foi pouco mais de meia hora na esplanada com a minha mãe, naquele café que, já sei, fica a 17 minutos de casa. Para cada lado. E que hoje pode até ter sido um pouco mais.

Ainda houve tempo para conversar com a vizinha do rés do chão e a minha afilhada-gata Mia. E as minhas pernas, de estarem tanto tempo em pé, gritavam-me dores que só eu ouvia, só eu sentia.

Voltámos para casa tarde, claro. E o sono parece ter acalmado. Continuo a sentir-me cansada. E começo a desconfiar que aquele cansaço imenso que senti hoje, juntamente com o sono quase incontrolável é, de facto, aquela verdadeira fadiga que isto que me apanhou na curva também traz consigo.

Consegue não ser fácil distinguir o simples cansaço de um estado de fadiga quando o corpo só pede para parar e descansar. Mas acho que, na sequência do passeio de ontem, fiquei finalmente a conhecer o que é essa tal fadiga

Continuo a sentir-me cansada, com algum sono que já não é incontrolável como era mais cedo. E olho para as horas e vejo que já passei da noite à madrugada e já devia estar a dormir há muito tempo. Mais uma vez, não estou…

Amanhã devo acordar à hora de sempre. Cedo, portanto. Para tomar o antibiótico, fazer tempo e tomar o pequeno almoço. Beber café. E voltar para a cama.

Sempre, no meio disto tudo, com a companhia dele à distância de um clique. Com tempo para partilhas e segredos que, juntos, tatuamos na memória um do outro, um com o outro. E com despertares únicos, indizíveis, que apenas nós entendemos. E, no final de um dia que em tudo foi estranho, confirmar que temos lugar no abraço um do outro. E nada mais importa.

Agora é hora de, finalmente, dar o dia por terminado e enroscar, mesmo que à distância de um clique, no abraço seguro, quente e protector dele. Amanhã será outro dia. E mais tatuagens serão gravadas na memória de ambos.

O resto? O resto é só isso mesmo: o resto. Depois, logo se vê. Por hoje já chega.

{#252.115.2024}

E depois há aquele dia em que o telefone toca. O telefone que, tirando família que liga, raramente toca. E hoje tocou. Logo de manhã. Aquele telefonema que eu esperava há meses aconteceu! E confirmou: a Fénix VAI renascer das cinzas. Já com data marcada. Uma espécie de data de nascimento. Ou renascimento como boa Fénix que é. Que sou!

E hoje o telefone tocou. Aquele telefonema que esperei durante meses intermináveis. Finalmente aconteceu. E, claro, entrei em contagem regressiva. Faltam 14 dias. 14 dias para renascer das cinzas. E, dizem, depois desses 14 dias, as coisas melhoram. Eu melhoro.

Vão ser 14 longos dias? Vão. Mas, como sempre, não tenho pressa e vai ser um dia de cada vez. E renascer das cinzas é dos acontecimentos mais importantes do mundo de cada pessoa. E este, que acontece dentro de 14 dias, será O MEU momento de renascer das cinzas.

Fénix. Tantas vezes já renasci das cinzas. Esta será só mais uma vez. Com data marcada. E que, a seu tempo, ficará também marcada na pele. Porque se há coisas que vêm para ficar, outras há que são importantes de registar. Como a data de nascimento. Como a data de RENASCIMENTO!

Faltam 14 longos dias. Mas, pelo menos, já há data, hora, local e um processo demorado marcados na agenda. E, neste momento, pouco ou nada mais importa.

14 dias. E em contagem regressiva.

{#251.116.2024}

Às 19h15 o Sol (ainda) bate directamente na minha janela. Sei que já não vai demorar muito tempo até deixar de o fazer e só lá para finais de Março volta aqui. Hoje reclamo que, a esta hora, o Sol ainda está quente e não consigo estar muito tempo tempo no cadeirão por causa disso a menos que baixe as cortinas. E mesmo assim… Sei que lhe vou sentir a falta naqueles 6 meses em que não bater aqui, mas também sei que, sendo eu, tenho que reclamar porque sim, porque não e ainda porque também…

Tirando isso, hoje estou num daqueles dias em que me apetece (muito) conversar. Ao fim de uma hora na esplanada com a minha mãe, em plena hora de jantar (jantar esse que, por minha causa, só aconteceu lá pelas 22h), dizia eu que ao fim de uma hora de esplanada com a minha mãe, não sei como é que ela (ainda) não me disse “cala-te um bocadinho”. Quero dizer, sei! É minha mãe!

Mas, lamento, não só me apetece (muito) conversar como PRECISO de o fazer. Tenho alguma coisa de jeito para dizer? Não, nem por isso. Mas, cada vez mais, sinto uma enorme necessidade de conversar. Ou, por outras palavras, COMUNICAR. Se tenho com quem conversar de viva voz? Tenho a minha mãe. E muito raramente uma ou outra pessoa. Talvez por isso o tente fazer por escrito. Ajuda. Mas serve para alguma coisa? Só se for para tirar de dentro de mim a pressão que trago cá dentro.

Se houver por aí alguém que queira conversar de viva voz, mesmo que eu não tenha nada de jeito para dizer, sintam-se à vontade de ligar. Qualquer Messenger ou Instagram tem a função de fazer chamadas de voz, nem precisam de ter o meu número de telemóvel. Eu tenho é que deitar tudo cá para fora, mesmo que esse tudo seja…nada!

Entretanto, sexta feira na sala de espera deprimida do Hospital Garcia de Orta, a sala de espera da consulta externa dos serviços de Psicologia e Psiquiatria.

A Depressão é, de facto, um lugar escuro. Mas não é obrigatório que, visto por fora, o doente deprimido tenha que apresentar um ar escuro, triste, pesado. Também faz parte, é verdade. Mas também é possível um doente deprimido apresentar-se na consulta com uma “máscara”, aquela máscara cheia de brilho e cor que transparece sorrisos e tenta abafar risos. Tanto os sorrisos e os risos que a tal máscara transparece nada mais são do que armas espontâneas de defesa contra a escuridão que carrega. São uma espécie de camuflagem que permite a integração no ambiente que o rodeia. Por isso, quando um doente deprimido entra no consultório do psicólogo a rir e a fazer piadas, não quer necessariamente dizer que “está muito animada hoje”, como me disse o psicólogo na sexta feira.

É preciso tempo, muito tempo, e disponibilidade para permitir que o doente deprimido se sinta seguro para deixar cair a máscara.

Sim, a Depressão tem cura. Mas deixar cair a máscara é dos passos mais difíceis quando se inicia o caminho da cura com alguém que acabou de entrar na nossa vida e (ainda) não nos conhece. Por isso, sim!, dêem-me tempo para me permitir deixar cair a máscara. Só depois disso é que me vai ser possível encontrar o caminho no mapa para a cura.

Mas pedir ajuda não é vergonha nenhuma. Por isso, se precisares de sair da escuridão, respira fundo e PEDE ajuda. Há muita luz e cor lá fora. E ajuda para encontrar o caminho.

{#250.117.2024}

Sábado de manhã é sinónimo de Yoga cedo. E cada nova aula, que nunca é igual à anterior, é sempre a melhor forma de começar o dia. Assim como à quinta feira, que acontece ao final do dia, é sempre a melhor forma de terminar o dia.

Não busco a perfeição nos asanas, não é para isso que lá estou. Também não procuro aquelas posturas estranhas que se vêem tanto por aí, de inversões com a cabeça a servir de ponto de apoio ou qualquer outra coisa que pareça (e seja) um bocadinho mais extrema. Não é isso que quero do Yoga. E, como diz o professor Pedro, isso não é Yoga, é só showoff.

Yoga é permanecer no asana, a postura, mantendo a respiração profunda e consciente e com isso revigorar corpo e mente. Cada asana tem a sua função e a respiração profunda e consciente não só permite que a postura que se está a trabalhar cumpra o seu papel.

E, já o disse antes, a prática de Yoga cada vez me faz mais sentido. São apenas 2 vezes por semana, por mim poderia ser todos os dias. Em aula, sei que não seria possível, não só por condicionantes do espaço mas também porque, para mim, seria financeiramente impossível. Mas sei que já tenho conhecimentos suficientes para, em casa, seguir aulas online, seja em versão YouTube ou seja em versão app dedicada ao Yoga. O que me falta? Aquilo que, para fazer seja o que for em casa, nunca tive muita: auto-disciplina.

Mas depois queixo-me que os meus dias são sempre iguais, a ver o tempo passar, quando podia tirar uma hora por dia para me dedicar à prática em casa… Enfim, sou eu a ser eu, como sempre.

Mas a verdade é que a prática de Yoga me ajuda a muitos níveis. Ajuda a trabalhar os músculos, seja a fortalecer ou a alongar, a melhorar a postura, a trabalhar o equilíbrio (que preciso tanto!) e, também muito importante, a aquietar a mente. Mente essa que tem estado em rebuliço com tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo. E aqui a respiração profunda e consciente tem um papel fundamental. Porque enquanto me concentro só na respiração não estou a pensar no que não devo, no que não interessa, no que não me faz bem. Porque enquanto me concentro na respiração nada mais existe, só eu e o meu respirar.

Como disse lá para cima, as aulas nunca são iguais. Obviamente que há asanas que se repetem nas várias aulas, mas o esquema da aula actual nunca é igual à aula anterior. E isso é muito bom.

Tenho mesmo que me convencer a praticar em casa. Tenho que me auto-disciplinar sem me cobrar demasiado. Porque, praticar em casa todos os dias um bocadinho, só me trará benefícios.

Já disse ao professor Pedro que não desisto do Yoga por nada. Sei que, quando regressar ao trabalho, se tiver que ser um regresso presencial (que eu não consigo…), volto ao esquema inicial de apenas uma aula por semana e sei que lhe vou sentir a falta e a diferença. Mas, se me for permitido o regime de teletrabalho dadas as dificuldades de deslocação, mantenho as duas aulas por semana.

Mas não quero estar agora a pensar em algo que não sei sequer quando irá acontecer. Vou parar 5 minutos, respirar profundamente e de forma consciente para fechar o dia que já vai longo e vou descansar. Também preciso disso. E, de preferência, a horas decentes e não como tem acontecido nos últimos dias (semanas?) e que também vai acontecer hoje: ir dormir demasiado tarde. Também aqui preciso de me auto-disciplinar.

Do dia também ficam as conversas com ele e confirmar o que já tinha percebido: não está a 100%. E eu não posso fazer grande coisa para além de dar tempo e espaço e estar cá, deste lado, nos dias bons e nos dias menos bons, como estou sempre desde o primeiro dia.

Enfim…um dia de cada vez. E o de hoje já terminou. Amanhã? É permitir-me descansar de manhã, dormir até quando for e, se for de sair de casa para um café na rua, saio. Mas não me vou obrigar a fazê-lo. A vontade é ir novamente até ao paredão ver o pôr do Sol na praia. Se vai acontecer? Não faço ideia. Logo se vê. Mas o mais importante agora é ir descansar. O meu corpo está a pedi-lo e eu vou fazer-lhe a vontade. Mas, antes disso, posso resumir o dia como não tendo sido um dia mau. E só isso já vale a pena.

{#249.118.2024}

Sexta feira, 6 de Setembro, aquele dia pelo qual eu esperava desde a primeira consulta a 17 de Julho: finalmente nova consulta com o psicólogo.

E, sem dúvida, fiquei muito mal habituada com o terapeuta fofinho e os praticamente 8 anos em que fui acompanhada por ele: tinha tempo para falar. Sei que, no Hospital, não posso contar com consultas de 3 horas como tantas vezes aconteceu com o terapeuta fofinho. No Hospital, as consultas são contadas ao segundo. E hoje não podia ter sido de outra forma.

Tanta coisa que tenho para trabalhar com ele e tão pouco tempo fazem-me falar depressa, com pressa, para ter tempo para falar de tudo e acabar por não falar de quase nada…

E perceber, de uma vez, que a Depressão é tão fácil de esconder. Porque por fora podem ver-me a sorrir, a rir, a fazer piadas e dizerem-me logo no início da consulta que estou muito animada. Por fora podem ver tudo isso, mas o que vai cá dentro só é visível com tempo e trabalho. E, ali, o tempo é contado ao segundo. E o aparentar estar tão animada nada mais é do que uma espécie de bóia de salvação. Salvação do quê? De mim mesma. Do que trago cá dentro.

Na primeira consulta, o psicólogo usava máscara cirúrgica por causa dos surtos activos que havia naquela altura. Hoje, já tinha decidido, ia pedir-lhe para retirar a máscara nem que fosse por 10 segundos só para poder associar uma cara a um nome, a um especialista que me segue e que me irá ajudar a trabalhar e arrumar o caos que carrego comigo. Mas, assim que me chamou para a consulta, percebi que esse pedido não ia ser necessário: hoje não trazia máscara cirúrgica. E, no final da consulta, percebi que quem estava a usar máscara hoje era eu. Não uma máscara cirúrgica, apenas uma cara sorridente e animada que em pouco ou nada corresponde ao que trago cá dentro…

Não, eu não estou bem. Já me conheço o suficiente para saber que por fora posso estar perfeitamente bem disposta, mas cá dentro está tanta coisa desfeita, a doer e a sangrar. Por isso, não é estranho que a primeira coisa que tenha dito quando iniciámos a consulta tenha sido “sinto-me completamente perdida”. Tentei explicar o porquê. Falei-lhe no mapa que tenho na cabeça onde tudo está baralhado e não existe o pino a informar “você está aqui”.

Falámos disto que me apanhou na curva. Disse-lhe que ainda estou na fase da não aceitação. Que continuo à espera da medicação. Que as dificuldades e limitações são cada vez mais evidentes. Mas não soube pedir ajuda. Não directamente. Provavelmente porque ainda não aceitei isto.

Voltamos a ter consulta no final de Outubro. Outra vez tanto tempo de intervalo… Um mês e meio é muito tempo para quem precisa tanto de orientação, ajuda, chamem-lhe o que quiserem. É muito tempo…

Mas, já sei, terei que viver um dia de cada vez até chegar à data da consulta e não adianta contar o tempo que falta, não será por isso que a consulta vai chegar mais depressa…

Páro. Respiro fundo. Respiração profunda e consciente. Lambo as feridas. E logo se vê como vou aguentar este mês e meio até à próxima consulta…

Por agora, que já é bem mais tarde do que eu queria para ir dormir, dou o dia por terminado mas com a cabeça num turbilhão. Amanhã, Sábado, é dia de acordar cedo, é dia de Yoga. Que é o que me tem realmente ajudado a desligar do Mundo por um bocado. Depois? Quando voltar para casa? Ou volto para a cama ou refugio-me no sofá. Longe do Mundo, de tudo e de todos. E, se adormecer, é da forma que não vejo o tempo passar…

{#248.119.2024}

Acordar porque sim às 6h da manhã depois de mais uma vez ter adormecido com o telemóvel na mão enquanto escrevia. Não pode continuar a acontecer… Preciso mesmo muito de me auto-disciplinar para voltar a dormir cedo…

Claro que voltei para a cama por volta das 10h já com os telefonemas importantes da manhã feitos. E, quando voltei a acordar, estava muito confusa. Perfeitamente convencida de que seria já umas 8h da noite, tal era a confusão nesta cabeça…

Felizmente não eram 8h da noite, era hora de almoço. Menos mal. Não tinha perdido o dia por completo. Mas, mesmo assim, acho que o meu dia só começou mesmo lá pelas 4h da tarde quando comecei a organizar as coisas para o Yoga às 7h…

Desta vez, para garantir que não perdia o autocarro que chega sempre antes da hora, saí de casa antes da hora prevista. O Yoga é às 19h, eu saí de casa antes das 18h. Para dar tempo para tudo, incluindo chegar à paragem antes do autocarro. E, desta vez, não perdi o autocarro! Mesmo que o autocarro tenha chegado à paragem 5 minutos antes do que está previsto no horário.

Cheguei cedo à Associação onde agora são as aulas, fui com calma, sem pressa, ainda tive tempo para, no bar da Associação, ir beber um café à esplanada, ouvir um pouco de música, estar comigo mesma. E depois então ir para dentro.

Também o professor Pedro chegou mais cedo, ainda tivemos tempo de um pouco de conversa antes de chegar o resto das minhas colegas. E se há pessoa com quem gosto de conversar desde o primeiro dia é com ele. É professor de Yoga? É. Mas também é psicólogo. Tem a cabeça no sítio. Pés na Terra. Tem as suas crenças, os seus hábitos, mas não os impõe a ninguém. E só por isso já vale a pena conversar com ele.

A aula, mais uma vez, foi o que é sempre: muito boa. E que me estava a fazer falta. Não só para alongar o corpo, mas também para sossegar a mente. E, de certa forma, preparar-me para a consulta de amanhã com o psicólogo. Que, de tanta coisa que tenho para trabalhar com ele, nem faço ideia por onde começar…

Logo se vê… A única coisa que sei neste momento é que a noite já começa a roçar a madrugada, o despertador toca às 7h da manhã para fazer tudo o que tenho que fazer antes de apanhar o autocarro às 9 e qualquer coisa que ainda nem vi o horário e, pelo meio, ainda tenho que dormir e descansar. Já sei que vai ser dormir a correr e, quando chegar a casa vai ser almoçar e enroscar no sofá e depois logo se vê.

Não posso dizer que o dia tenha sido longo por ter acordado às 6h da manhã. A verdade é que a única coisa de que me lembro antes de voltar para a cama às 9h é do telefonema que fiz. E, após ter acordado, sei que almocei mas já nem sei o quê…não me lembro mesmo. E até às 16h a memória do meu dia é um vazio pouco agradável…

Sei que os meus dias não podem continuar assim. Mas também sei que não estou em condições de voltar ao trabalho, especialmente enquanto aguardo a medicação que tarda em chegar até mim. Portanto, o que é que eu posso fazer dos meus dias para além de ver o tempo passar? Pois…nada.

Enfim…esse é só mais um assunto que preciso de falar com o psicólogo. Se vou conseguir no meio de tanta coisa? Não faço ideia.

O melhor mesmo é dar o dia por terminado por hoje. Amanhã logo se vê como será. Mas, para já, estou cansada, tenho sono e, ao contrário do que é costume e muito por conta da aula de Yoga, estou relaxada. E hoje não vou adormecer com o telemóvel na mão enquanto escrevo porque tudo o que era para escrever hoje está escrito, publicado e enviado. E amanhã há mais…

{#247.120.2024}

Hoje, como ontem, fechada na minha concha, isolada do Mundo, de tudo e de todos por opção e necessidade. Todos menos ele, claro.

Há quem me diga para descansar. E eu descanso. Não sei do que é que estou cansada quando não faço nada, mas até isso cansa. Por isso, descanso.

Todos os dias acordo relativamente cedo, sem propósito ou objectivo que não seja ver o tempo passar. Tomo o pequeno almoço. Bebo o meu café. E sinto o regresso violento e forte do sono que foi interrompido ali umas duas horas antes sem necessidade. E não é possível resistir a esse sono forte e violento que toma conta de mim. Nem o café o consegue vencer…

Volto a dormir. Mais 3 horas? 4 horas? Não sei, mas são as horas que o meu corpo me exige. Para descansar não sei do quê…

Depois do almoço, novamente o café e novamente aquela sonolência sempre presente, mas nem sempre tão forte e violenta. Mas há dias, ou tardes!, em que não lhe consigo resistir. E o sofá sabe tão bem como me aconchegar…

Se esta tarde dormi depois do almoço? Muito sinceramente, é coisa de que já não me lembro. Sei que enrosquei no sofá, desligada do Mundo, isolada de tudo e de todos menos dele, mas não me lembro mesmo do que aconteceu esta tarde…

Sei, sim, que não saí nem tive vontade de sair de casa. E cada vez tenho menos vontade. Faz-me falta retomar a fisioterapia, não só porque preciso mesmo muito de trabalhar o equilíbrio com orientação de um fisioterapeuta, mas também porque me faz sair de casa, porque me obriga a dar uso às pernas, a cansar o corpo de forma que justifique o cansaço que sinto todos os dias e que, neste momento em que não saio de casa, só vejo ser possível se for um cansaço mental. Não vejo outra explicação…

Ainda estamos no Verão, é verdade, mas o vento forte, a Nortada feia que insiste em não ir embora faz arrefecer os dias. Dentro de casa é preciso manta para não arrefecer quando me enrosco no sofá. Mas, mais perto do final do dia, o Sol bate directo na janela e a casa aquece um pouco. E, com ela, já percebi que aqueço eu também. Um aquecer estranho em que mais parece que o meu corpo inteiro começa a destilar por causa de um calor absurdo que não aguento. Mesmo que só eu sinta esse calor. Mesmo que, da janela, entre ar frio, é um calor que eu não consigo aguentar, que parece fazer o meu corpo destilar, mas ao mesmo tempo sem transpirar… Não sei que raio de calor é este, mas sei que não são afrontamentos. Ainda não cheguei a essa fase. Mas, pelo que já fui lendo, é a ausência de auto-regulação da temperatura corporal e também faz parte disto que me apanhou na curva…

E foi esse calor insuportável que me fez sair de casa depois de jantar para ir beber um café ao único café que estava aberto hoje às 9h da noite. Porque a esplanada do costume está de férias, o café ao lado fecha às 20h, o restaurante com esplanada no jardim encerra às quartas feiras, a esplanada alternativa em frente ao parque fecha às 19h, o café mais próximo fecha antes das 18h e sobra aquele lá ao fundo, ao pé da paragem do autocarro, que não sendo demasiado longe, porque não é!, está a 17 minutos de distância no meu acelerado passo devagar, devagarinho…

Café com esplanada, onde pude beber um café, fumar um cigarro, arrefecer este calor absurdo com o vento e, às 21h48, ser convidada a sair porque o café fecha às 22h…

Novamente 17 minutos para voltar, devagar, devagarinho. Envergonhar quem acabou de estacionar o carro atravessado em cima do passeio até ficar a 10cm da parede do prédio, eu querer passar, não poder, recusar-me a ir pela estrada, o dono do carro sair do carro, ver-me, ouvir o que não gostou, voltar a entrar no carro, afastá-lo da parede para eu poder passar juntamente com a minha mãe, o meu necessário apoio à direita, para voltar a avançar até à parede para que quem vier depois tenha que seguir pela estrada… Não dá para perceber esta gente que quer ter o carro estacionado dentro de casa.

Chegar a casa, finalmente. Naquela estranha mistura de tenho calor mas também tenho frio… E olhos embaçados. Tal e qual como se, de repente, os meus olhos ficassem embaciados. Já não bastava a visão dupla? Tudo isto faz parte daquilo que me apanhou na curva. E eu estou farta…

Dizem-me para descansar. E é isso que tenho feito. Na minha concha, isolada do Mundo e de tudo e de todos. Não quero saber. O Mundo, pelos vistos, também não quer saber de mim. A minha única ligação directa com alguém é com ele. Sempre com ele. O único que ainda me aconchega. Que, sei-o, se sente frustrado por não poder fazer nada para me ajudar. Já lhe disse, ele já sabe, basta que ele esteja , à distância de um clique. Sabê-lo , especialmente nos dias menos bons, é a melhor forma de me ajudar. Porque ele estando , à distância de um clique, significa que não desiste de mim, apesar disto que me apanhou na curva e tudo o resto que me tem caído em cima nas últimas semanas e que ele tem acompanhado de perto porque não lhe escondo nada.

Tudo isto é uma treta. Para não dizer logo que é uma merda! E não, hoje não foi um dia muito bom. Nem muito mau, na verdade. Foi só mais um dia igual aos outros, a ver o tempo passar. E eu não gosto de ver o tempo passar sem nada a acontecer…mas a verdade é que nada acontece!

A medicação que tarda. A consulta com o especialista daqui a um mês. O funeral que não acontece. A fisioterapia que não recomeça. A única coisa que ainda me dá esperança de ver alguma coisa a acontecer em breve é a consulta com o psicólogo daqui a 2 dias. E se eu preciso dessa consulta…

Mas agora a noite já começa a roçar a madrugada. É tempo de tentar desligar a cabeça mais uma vez. Voltar a dormir tarde porque agora a luta que travo todos os dias comigo mesma não me deixa ir dormir mais cedo como fazia antes disto. Sei que não me faz bem nenhum ir dormir tarde. Mas não consigo desligar a cabeça cedo…

Amanhã? Logo se vê como corre. Sei que vou ter que sair de casa porque é dia de Yoga, e ainda bem que é! Não me apetece ver ninguém, ouvir ninguém, falar com ninguém. Mas a prática em si é-me demasiado importante para me ajudar a sentir melhor. E só por isso é que amanhã saio de casa e me volto a ligar um bocadinho ao Mundo. Mas só mesmo ao Mundo que se resume às aulas de Yoga. Porque, de resto, estou na minha concha e, quando assim é, não estou para ninguém. Excepto para ele.

{#246.121.2024}

Estado actual: fechada na minha concha.

Isolada do Mundo, de tudo e de todos, por opção e por necessidade urgente de me reencontrar. Não estou para ninguém, excepto para ele. Que, mesmo à distância de um clique, está sempre comigo.

A minha concha, o meu auto-isolamento, tem lugar no sítio de sempre: no meu sofá, na minha sala, na minha casa. Com a televisão nas séries de sempre que já vi e revi 500 mil vezes. No limite, com o Spotify a tocar as mesmas playlists de todos os dias.

Porquê? Porque não me são estranhas, não me são desconhecidas. São, sim, para mim neste momento!, confortáveis. E é isso que eu procuro. E preciso. Sentir-me confortável. Sentir conforto. E, fechada na minha concha, isolada do Mundo, de tudo e de todos, é conforto que sinto, é conforto que tenho.

Não estou para ninguém. Excepto para ele. Por isso, se o telemóvel tocar, só irei atender se vir o nome dele no identificador de chamada. Caso contrário, lamento, vai acabar por ir parar ao voice mail.

Dêem-me o que eu preciso agora: tempo e espaço. Só para mim.

Obrigada.

{#245.122.2024}

Escrevi ontem aqui no blog que a minha vontade é desaparecer daqui, ir para um sítio qualquer no meio do nada, onde NINGUÉM me conheça, onde não me façam perguntas, onde não me exijam estar aquilo que não consigo estar: bem. Porque, de facto, não o estou. E tenho todo o direito a não o estar.

Só preciso de um sítio longe daqui, no meio do nada mas com árvores à minha volta. Não me perguntem o porquê da necessidade de ter árvores à volta, não o sei explicar. Mas sinto-lhes a falta por perto.

Já sei que desaparecer daqui para um sítio qualquer longe daqui no meio do nada não vai acontecer. Por isso, a alternativa que encontro é fechar-me ainda mais na minha concha. Não procurar nada nem ninguém. Deixar os dias correr e riscá-los do calendário um atrás do outro. A única pessoa que me faz sentido ter presente comigo é ele. Mas, diz-nos a vida e as suas rasteiras, não pode ser. E não é a distância de 135 km, que não é nada, o maior obstáculo. Se calhar é só a pessoa certa no momento errado. E quem somos nós para controlar os momentos certos ou errados? Se calhar este não é, de todo, o nosso momento. Embora já o seja de certa forma. Porque é real. Existe. Só (ainda) não é físico. É tudo à distância de um clique. Mas não foi essa distância de um clique que impediu ou dificultou tudo o que já temos hoje. Que, para uns, é tão pouco a roçar o nada, mas que, para nós, é tanto a roçar o tudo.

E, neste momento, é só disso que preciso: o tanto a roçar o tudo que temos. Que me aconchega todos os dias, em todos os momentos, sejam bons ou maus dias e/ou momentos. Que me conforta quando tudo o que procuro é o conforto do que me faz sentir bem. Que vê em mim mais do que eu mesma vejo. Que acredita mais nas minhas capacidades do que eu mesma arrisco acreditar. E está tão certo em ver e em acreditar em mim mais do que eu mesma. Porque, aos poucos, os meus dias dão-lhe razão. Às vezes nem eu sei muito bem como, mas a verdade é que dão. E o último ano, mas mais especificamente as últimas semanas, têm sido exemplo disso. E, acredito, é por isso que, ao fim de mais de um ano, ele não desistiu de mim. E já disse, várias vezes, que não vai desistir, venha o que vier.

E é só disso que eu preciso: ter, ao meu lado, alguém que, desde o início me disse “fazemos o caminho de mão dada. E, se ficar muito difícil, levo-te ao colo”. É este conforto, esta segurança, este sentimento que partilhamos. É isto. Nada mais do que isto. Que existe. É real. É intenso. É profundo. É recíproco. É quase vital! É só disto que eu preciso para, todos os dias, ter força e coragem e vontade para sair da cama e enfrentar o Mundo. Enfrentar os meus demónios. Os meus monstros. Os meus medos. A minha realidade! É só disto que eu preciso. E tenho! Nele! E é por ele que todos os dias dou um passo de cada vez para enfrentar tudo o que ele sabe que eu consigo superar. E faço-o porque ele sabe que eu sou capaz. E só por isso não merece que eu faça o mínimo de sobrevivência. Ele merece que eu continue a ser EU mesma, que sou tão mais do que tudo o que me caiu em cima nos últimos meses. Ele sabe que eu sou tão mais do que aquilo que por vezes demonstro, que tento esconder gato com o rabo de fora. Ele sabe que eu sou tão mais que tudo isso. Eu também sei. Mas, em momentos de fraqueza e maior desânimo, acabo por me esquecer. Mas lá está ele, ao meu lado, para me relembrar quem sou, o que sou, o que consigo ser!

Sim, é das pessoas mais importantes que tenho. Acima dele, só a minha mãe e os meus sobrinhos. Mas família é um patamar diferente que não é possível comparar com mais ninguém. Por isso, tirando o patamar Família, ele está bem lá em cima no grau de importância, destacado das restantes pessoas importantes que tenho e que são poucas, muito poucas.

Sim, continuo com vontade de desaparecer daqui para um sítio qualquer longe e no meio do nada. E ele, não podendo ir comigo, não deixaria nunca de estar sempre presente à distância de um clique. Continuo com vontade de me isolar do Mundo e de quem me exige e me cobra. Isolar-me de volta para a minha concha já que não tenho para onde ir, nem como ir. Por isso, e mesmo sem sair de onde estou, cada vez me isolo mais na minha concha. Mas com ele sempre comigo. De mão dada comigo desde o meu primeiro momento de dificuldade. Ele sempre comigo porque, e se calhar nem ele sabe, é ele que me impede de desistir de mim mesma.

Fecho-me na minha concha numa última tentativa de o Mundo se esquecer de mim por uns dias. Para me dar tempo. Para me dar espaço. Para que, nesse tempo e nesse espaço, eu me volte a reencontrar, eu me volte a conhecer nesta nova versão de mim mesma. E para que eu mesma me aceite como estou. Não como sou, porque serei sempre EU. Mas como estou: com as dificuldades e limitações que vieram para ficar.

Dêem-me tempo. Dêem-me espaço. Eu preciso de mim mesma, independentemente de qualquer outra ajuda externa que tenha ou ainda venha a ter. EU preciso de MIM mesma. E, por isso mesmo, isolo-me na minha concha para tratar de mim, para cuidar de mim, para me reencontrar no que sou, para me conhecer no que estou. E, ao interior da minha concha onde me escondo, onde me isolo, onde me procuro, só ele terá acesso. Sempre.

{#244.123.2024}

Setembro, dia 1, Domingo.

Sempre encarei Setembro como o mês do início de um novo ciclo. Março é o meu mês da renovação, Setembro é o meu mês do início de um novo ciclo. Uma espécie de passagem de ano antecipada. É uma coisa que vem dos tempos de escola, quando era em Setembro que se dava início a um novo ano lectivo. Os tempos de escola passaram, terminaram há muitos anos, ficaram lá atrás, noutros tempos, noutra vida. Mas o início de um novo ciclo, ou de um novo ano, ficou.

Não houve festa de passagem de ano, nunca há, embora ontem à meia noite tenha havido fogo de artifício vindo dos bares de praia para, ainda que com alguns dias de antecedência, darem o Verão por terminado. À meia noite terminou, para os bares de praia, o Verão. À meia noite, e com o fogo de artifício, chegou Setembro, o mês do meu ano novo.

É em Setembro, algures lá pelo meio do mês, que completo um ano de baixa médica. Porque, na altura e mesmo só tendo trabalhado um mês e meio depois de três meses de baixa, não só ouvi mas senti que o meu corpo não aguentava mais os horários, os percursos, a pressão das mais de 50 chamadas diárias. O meu corpo estava no limite. E, nos primeiros três meses de baixa inicial, eu jurava que o meu problema era um Burnout. Que os três meses tinham sido suficientes para descansar e recuperar corpo e mente.

Nada disso aconteceu. Nem o corpo nem a mente recuperaram. E, a meio de Setembro, o meu corpo cedeu. E eu parei. E, até ver, indefinidamente. Porque não era Burnout. Ou, pelo menos, não era só Burnout. Era algo mais. Que ainda hoje não consigo, por muito que me seja necessário escrevê-lo para aceitar, não consigo escrever o nome disto que me apanhou na curva. Não consigo. Porque ainda hoje não aceito, não compreendo, não entendo o “porquê eu?” que, já sei, não tem resposta. Ainda hoje não aceito as dificuldades e limitações que se têm desenvolvido a uma velocidade, para mim, assustadora.

Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não.

Estou farta disto? Muito. Estou cansada. Estou frustrada. Estou triste. Estou revoltada. Estou magoada. Estou, acima de tudo, assustada!

Quero chorar e continuo a não conseguir. Preciso de o fazer. Não para resolver nada!, mas para aliviar este peso que carrego em cima de mim, o peso no peito, o nó na garganta, o nó que me revolve o estômago! Eu preciso mesmo muito de chorar e NÃO CONSIGO!

E depois recordo as palavras da médica de família depois da consulta com o psiquiatra que deixou no meu processo: “está melhor da Depressão”. Não, não está! Não, não estou! Estou a afundar-me a uma velocidade que me assusta, que eu conheço tão bem o processo por já ter passado por ele antes!

E eu sou a primeira a dizer: eu preciso de ajuda. Urgente. Tenho psiquiatra? Tenho, mas que acha que eu estou melhor da Depressão porque, pelos vistos, não ouviu metade do que lhe disse. Tenho psicólogo? Tenho, mas que só vi 1 vez no mês de Julho e que se riu quando eu lhe disse que tenho muito trabalho para ele. Porque tenho! Não é só isto que me apanhou na curva que me leva até ele. É possível que tenha sido isso que levou o psiquiatra a encaminhar-me para a consulta de Psicologia, mas tenho tanto mais para trabalhar, arrumar, resolver…

Tenho consulta com o psicólogo quase dois meses depois esta sexta feira de manhã. Nem vou saber por onde começar por ter tanta coisa em cima de mim. Mas vou-lhe dizer que preciso de ajuda. Da ajuda dele. Não faço ideia de quando voltarei a ter consulta, mas preciso muito de ajuda. Porque não sei a quem mais posso pedir ajuda. Não sei. Só sei que PRECISO de ajuda porque eu sozinha não vou conseguir aguentar tudo por muito mais tempo. E esse tudo é tanto

A minha vontade? É sair daqui, ir para um sítio qualquer longe daqui, no meio do nada, onde NINGUÉM me conheça. Um sítio onde ninguém me faça perguntas. Não me critiquem. Não me julguem. Não me cobrem.

Sim, isso seria isolar-me ainda mais do que já o faço. Mas eu preciso de me afastar desta realidade, deste ambiente que me limita os movimentos, que me prende, que não me deixa respirar, onde há sempre alguém à espera de alguma coisa vinda de mim que eu não posso dar! Porque me pedem, me exigem, me cobram!, um estado positivo que eu não tenho e, neste momento, não consigo ter!

Preciso de tempo para mim. Mas também preciso de espaço para mim! Para trabalhar em mim tudo aquilo que, mental e/ou emocionalmente me está agora a falhar. E eu sei que tenho todo o direito a estar assim! E a querer isolar-me do Mundo. E fechar-me sobre mim mesma e simplesmente sentir tudo o que tenho que sentir, tudo o que tenho para sentir. Sentir tudo o que já sinto, e é tanto e tão confuso, mas que sinto, tenho que sentir porque está cá dentro, preciso de sentir para saber como processar o que sinto.

Respiro fundo. Respiração profunda e consciente. Lambo as feridas. Mas continuo perdida, sem saber onde estou para poder reencontrar-me. E é por isso que preciso de me afastar. De me isolar. De me fechar para o Mundo. De onde vêm de todos os lados exigências e cobranças do que eu não posso dar neste momento: o melhor de mim.

Sim, preciso de ajuda. Preciso muito de ajuda. Urgente. Porque sozinha não vou conseguir voltar a ser EU…

Setembro, início de novo ciclo. Mas, apesar de ser um novo ciclo, mantenho um velho hábito: viver no Mundo do Faz de Conta. Faz de conta que está tudo bem. Faz de conta que eu estou bem. Faz de conta, simplesmente. E eu já sou especialista nesse jogo. Porque, todos os dias, faço de conta que está tudo bem…mas não está.

{#243.124.2024}

Ainda funciona, todos os dias úteis, com recolha sempre às 10h30 em ponto a única caixa de correio que substitui os velhinhos (e lindos!) marcos do correio aqui do bairro. Todos os dias a vejo, quando olho para ela, oiço-a a dizer-me “estou à espera que envies mais dos teus postais!”. E eu sei que ela tem razão. Eu é que não estou lá grande coisa para escrever e enviar coisas bonitas para ninguém. Mas sei que ela tem razão…e eu tenho que me reencontrar por aí algures para voltar a fazer coisas bonitas. Como enviar postais.

Hoje o dia não é dos melhores. A manhã começou com uma fantástica aula de Yoga que me afastou da (minha) realidade durante 2 horas. E foi também de manhã que percebi que ainda há pessoas que não conhecemos com o coração do lado certo. Como o condutor do Uber que me levou de manhã até ao Yoga e que, quando chegámos, se prontificou a sair do carro para me ajudar a sair com as mil tralhas que levava comigo. Agradeci, sorri e disse-lhe “não é preciso, eu consigo”.
E, no caminho de regresso a casa, depois da meia boleia, quando atravessei a avenida nos semáforos, a custo, onde ainda me apoiei no pilar antes de avançar para a segunda metade que faltava atravessar, ouvir uma voz “precisa de ajuda para atravessar?”. Era o motorista do autocarro que estava parado no sinal, pronto a sair do autocarro para me ajudar com um sorriso no rosto. Sorri de volta, agradeci e disse que não era preciso só para, logo de seguida, avançar ainda com o sinal verde para mim.

Estas coisas parecem pequeninas. Mas não são. São enormes. Eu insisto em fazer o máximo de coisas possíveis sem ter ajuda. É, claro, uma parte de orgulho a responder por mim e outra parte a não querer desistir de mim.

Mas, às duas pessoas que me aconchegaram esta manhã, só posso mesmo sorrir de volta e dizer “obrigada!”.

E não, o resto do dia não foi fácil e às 22h50 continuava a não ser…

Agora, já de volta a casa, o último sítio onde quero estar, e já depois da meia noite continua a não ser fácil. A cabeça num turbilhão de pensamentos menos bons, vozes que não se calam e ainda se riem de mim e do (mau) estado em que estou e que eu não consigo calar. Já cá as tive antes e foi preciso muito trabalho e muito tempo para as silenciar com a ajuda fundamental do terapeuta fofinho. Agora já não há a presença semanal do terapeuta fofinho. Há um novo psicólogo que vi uma vez há já largas semanas e que voltarei a ver na próxima semana. Tive oportunidade de, na altura, lhe dizer, que tinha muita coisa para trabalhar com ele. Riu-se na altura. Mas nem ele imagina o que trago comigo e que preciso de ajuda para aguentar, arrumar, ultrapassar, resolver, o que lhe quiserem chamar. Mas que, numa só palavra, posso dizer que é para resolver.

Já sei, tenho que serenar, acalmar a cabeça, bater com o pé no chão, afastar de mim todos estes pensamentos menos bons. Mas é fácil? Não. Não é. Porque esses pensamentos reflectem a minha realidade actual. Aquilo que me apanhou na curva e já me trouxe tanta coisa menos boa e em tão pouco tempo. E eu não sei lidar com isto! Não sei o que sentir. Não sei o que esperar. Mas sei que todos os dias são um bocadinho piores que o dia anterior. Seja nas dores, seja na falta de equilíbrio. E hoje foi dia de comunicar à minha mãe o que tenho tentado não comunicar a mim mesma: já uso bengala de apoio à esquerda, é verdade, mas começo a sentir cada vez mais necessidade de ter, em simultâneo, outra bengala de apoio à direita. Porque não dá mais para fingir que não tenho dificuldade em caminhar só com um apoio. E eu não quero nada disto! Mas esta é a minha realidade, que teimo em não querer aceitar!

Por isso, sim!, o novo psicólogo vai ter algum trabalho comigo. E não pode ser uma consulta a cada dois meses. Porque, se for assim, eu não vou conseguir aguentar…

Eu sei que sou muito mais do que isto. Mas está tão difícil de conseguir ser esse tal “muito mais”…

A pergunta que mais repeti esta noite à minha mãe foi “o que é que eu faço à minha vida?”. Ela, claro, não me soube responder. E eu também não…

{#242.125.2024}

De manhã, uma passagem (muito longa) pelo Hospital Garcia de Orta. À tarde, a chamada visita de médico, de tão rápida que foi, ao Hospital de Santa Maria.

A questão da manhã continua a ser seguida no Garcia de Orta. A questão da tarde vem na sequência da pequena cirurgia dermatológica realizada no final do ano passado. O material recolhido foi para análise e já houve consulta marcada para Fevereiro para saber o resultado. Mas, entretanto, o médico responsável foi-se embora de Santa Maria. Reagendamento para hoje, seis meses depois da primeira marcação.

Resultado ao material recolhido? Deu positivo para tumor, sim. MAS tumor NÃO maligno e até bastante comum que surge tantas vezes num simples folículo piloso. Palavra do médico para definir o tumor? Insignificante. Toda a zona adjacente foi retirada com sucesso, portanto não há perigo de coisa nenhuma.

O que é que importa reter daqui? Isto: depois de tanta pancada e tantas rasteiras da vida nos últimos meses, finalmente uma boa notícia!

No autocarro de regresso a casa lá estava ele. SEMPRE de braços abertos para quem chega à Margem Cool, a margem certa. E, ao fim de tantos anos, percebi hoje porque é que gosto tanto de o encontrar assim à chegada à Margem Cool: sinto-me acolhida. Bem recebida. E com um abraço à minha espera. Claro que, abraços na Margem Cool são raros de acontecer. Mas acontecem. Nem que eu tenha que pedir ao fim da noite, à porta do meu prédio, dentro do carro ao P de Presença. Mas, sem ter que pedir, nas últimas semanas começaram a acontecer no fim da aula de Yoga, depois de terminado o relaxamento, quando a aula é dada por terminada. Mas, aí, sou eu que me abraço a mim mesma. Num abraço de conforto. E que, aprendi, me sabe sempre tão bem. E sim, vou continuar a terminar as minhas aulas de Yoga assim: a abraçar-me a mim mesma. Porque me faltam os abraços. E eu tenho sempre dois braços disponíveis para um abraço. Tenho-me é esquecido de mim mesma. Como sempre. Como em tudo. E não posso continuar a esquecer-me de mim…

{#241.126.2024}

O dia, apesar de parcialmente ocupado, felizmente foi mais tranquilo. Mais alguns episódios da novela dos últimos dias, mas nada que não fosse suportável ou demasiado stressante.

Mas foi um dia que me obrigou a dar uso às pernas. 2,140km não é nada, eu sei. Mas as minhas pernas estão no seu direito de discordar. Por causa das dores. E, por falar em dores, não falemos do meu joelho esquerdo que, nos últimos meses tem dado sinais de não estar a 100%. E hoje foi dia de ir buscar o resultado da TAC aos joelhos. E o diagnóstico, que para mim é grego, é uma Entesopatia. Seja lá isso o que for…

Mas isto tudo para dizer: eu sempre soube que era tesa! Daquelas sem um tostão. Nem sequer um tostão furado! Não era preciso gastar dinheiro ao Estado para fazer uma TAC aos joelhos para confirmar! Bastava mostrar o saldo bancário, ou não?!

Eu juro que, se não brincar com estas coisas, acabo por enlouquecer, e hoje, apesar das dores nas pernas e no joelho, só o nome me dá para rir e fazer piadas! O relatório sugere Ressonância Magnética. Está bem. Só que não… Vou pedir à médica de família encaminhamento para Ortopedia, claro. E, no Hospital, se quiserem avançar com a Ressonância Magnética, não me vou opôr, claro. Porque de outra forma não é possível.

É só mais uma queixa para juntar às outras todas. Como aquelas dores horríveis que tenho nas virilhas e que não faço ideia de onde vêm nem porque as tenho. Mas a vontade que dá é trocar algumas peças por outras novas. Infelizmente, não é possível. Por isso, façam-se exames atrás de exames e encaminhe-se para especialidade. E, acontecendo o encaminhamento hospitalar, é desta que eu peço o Cartão de Paciente Frequente com visitas convertíveis em cafés. Não peço muito, na verdade. Mas se o meu objectivo agora é tratar de mim, mesmo já vindo um pouco atrasada, encaminhe-se, examine-se e trate-se.

Eu sei, a idade não perdoa. Mas escusava era de me cair tudo em cima ao mesmo tempo. Afinal, eu sou só UMA! E já me bastava esta coisa que me apanhou na curva e que eu ainda não consegui aceitar.

Mas seja. Amanhã é dia de acordar cedo, de manhã um Hospital, de tarde outro. Vai ser um dia muito longo e cansativo, um verdadeiro desafio de resistência para as minhas pernas. E para o meu joelho. E para a minha cabeça. E para a minha paciência. Mas bora lá! É só mais um dia e, desta vez, não vai ser um dia igual aos outros.

O que me tem safado, ou seja, me tem ajudado a manter um mínimo de sanidade mental, ainda é o Yoga. E é também aí que vou descobrindo que há coisas que me doem em posturas básicas e não deviam doer. Mas, sim, é o que me faz aguentar o resto. E cada vez mais sinto ali uma espécie de rede de apoio. E isso não só é bom e sabe bem como é muito importante. E já sei que, naquele grupo, estou perfeitamente integrada, com bengala ou sem ela. Desde o professor Pedro às minhas colegas, estão lá todos para me ajudar. Não existe relação fora do Yoga, é verdade. Mas naquele período sei que posso contar com a ajuda de todos.

Agora já passa largamente da meia noite e o despertador amanhã toca muito cedo. E hoje podia continuar para aqui a divagar e conseguir a proeza de não dizer nada de jeito. Mas não posso. Estou cansada. E o dia amanhã promete ser duro para além de longo. Por isso, que se dê o dia por terminado. Amanhã? É devagar, devagarinho, mas chegar a horas às consultas é muito importante. Por isso, cama! Já! O resto? Logo se vê.

{#240.127.2024}

É impressionante como é que, depois de tantos anos com consultas semanais com o terapeuta fofinho em que todos os (meus) temas foram abordados, de repente, e em simples trocas de mensagens com quem me permite desabafar e descarregar o que trago cá dentro, as fichas me estão todas a cair.

Na semana passada foi sobre o meu pai, tema que durante anos não consegui entender, aceitar, processar. Depois sobre os meus irmãos e as relações que não existem com nenhum dos três e que, já percebi, dificilmente serão recuperáveis.

Hoje? Foi sobre a minha mãe e a dificuldade que tem em dar-me aquilo que, neste momento, mais preciso. O apoio da minha mãe, desde sempre e em tudo, sempre foi incansável e incondicional. Mas, neste momento em que ainda estou a tentar aceitar o que me apanhou na curva, e apesar de nunca me falhar ou faltar, percebo que não há, há muito tempo, o que mais falta me está a fazer agora: o apoio emocional. Que preciso tanto nem que seja para poder dizer que já sei que sexta feira me vai ser um dia duro com duas consultas hospitalares em hospitais distintos que me vão obrigar a caminhar demasiado e as dores vão fazer-se presentes em força. Poder dizer isto sem ser imediatamente criticada por ser “tão negativa”, por só “pensar no lado mau”, por me queixar, no fundo.

Não duvido que também ela tenha sido apanhada de surpresa, claro que foi. E também não é fácil para ela lidar com o que se passa comigo de forma neuro-degenerativa e progressiva e que assusta qualquer um. Ela também não saberá como lidar com isto. Mas eu também não! E esta seria a altura certa de ambas aprendermos! Mas, para isso, preciso muito do tal apoio explícito que me está a faltar: o apoio emocional.

E, de repente, percebo porque é que, tendo tanta gente à minha volta com palavras de apoio e mãos estendidas prontas para não me deixarem cair, me sinto sempre tão sozinha. Porque sinto a falta do mais importante: o apoio emocional da minha mãe

Eu sei que, para ela, exprimir emoções é difícil. Guarda tudo para dentro. E não pode! Não lhe faz bem nenhum! Não faz a ninguém… E sei, também, que não é agora que ela vai mudar. Faz parte da maneira de ser dela. Da maneira de sentir dela. E eu sou completamente o oposto… Não existe um ponto de equilíbrio entre nós. E era tão importante que existisse.

Eu preciso da minha mãe agora mais do que nunca. Não só para ir aqui ou ali. Eu preciso do apoio emocional da minha mãe. E esse está-me a faltar…

{#239.128.2024}

Das coisas que tenho aprendido (à força!) nos últimos meses: quando o teu corpo diz que é para parar, tu páras! Mesmo que tenhas acordado tarde, mesmo que o simples tomar banho te tenha deixado cansada, mesmo que só tenhas ido “já ali” à rua beber café na esplanada do costume a 100 metros de casa e te tenha levado o resto de energia que ainda tinhas. Ou seja, mesmo que não tenhas feito absolutamente NADA e só tenhas andado 200 metros para ir ao café e voltar para casa, se o teu corpo diz “PÁRA!” tu ouves e obedeces.

Portanto, sofá! E em menos de nada tinha a certeza que estaria a dormir. Porquê? Porque quem manda é o meu corpo e a mim só me resta obedecer-lhe…

Dizem que “faz parte” disto que me apanhou na curva. E que o stress dos últimos dias não ajudou em nada. Por isso, é tempo de pensar em mim, tratar de mim, ouvir o meu corpo e obedecer-lhe.

Se eu queria os meus dias reduzidos a isto? Não! Não queria mesmo! Mas é o que se pode arranjar. Agora é ir aprendendo um dia de cada vez, mesmo que cada dia seja sempre diferente do anterior e esta coisa não seja linear, simples e/ou previsível…

E acabaram por ser, novamente, três horas completamente apagada no sofá. Para acordar ainda cansada e com sono. Ainda não são 23h30 mas, ao contrário das outras noites, é a caminho da cama que vou agora.

A noite passada foi mais uma daquelas, uma já de muitas, de adormecer com o telemóvel na mão e Spotify a bombar a noite toda. E não pode continuar a ser…por isso, cama já!

Amanhã? Logo se vê como será. Mas se o dia for tranquilo como foi hoje, sem telemóvel a tocar para mais um episódio da novela actual, já será um dia muito.

{#238.129.2024}

Ontem à noite, numa inesperada conversa de raparigas com desabafos de ambas as partes, quando falei do que me apanhou na curva e do que preciso de fazer para recuperar o recuperável e manter o que ainda vou tendo, do outro lado disseram-me (e com muita razão!) “a Catarina está a precisar de um abanão!”. Estou, eu sei. Não tenho dúvidas nenhumas disso. O que eu não estava a contar era que esse abanão chegasse às 5h11m da madrugada com uma magnitude de 5.3 na escala de Richter!

Foi um senhor tremor de Terra! Daquelas coisas que eu mais pavor tenho! Que me acordou sobressaltada, assustada e que me levou a ter a única reacção que poderia ter: chamar pela minha mãe! A minha mãe que estava à janela, na varanda, com tantos outros vizinhos e todos a tentar entender que som horrível foi aquele que os acordou.

A minha mãe não sentiu nada a abanar ou a tremer, mas ouviu o som da Terra em actividade e que, quem já ouviu, diz ser horrível e verdadeiramente assustador.

Três horas depois do susto, sem sinais de réplicas nem alerta de Tsunami apesar da proximidade do Mar, voltei a dormir. Não sem antes pintar o pior cenário na minha cabeça e concluir: eu não tenho como sair daqui num estado de urgência…não tenho como nem consigo!

Acordei poucas horas depois para confirmar o que já sabia: ao fim de semana nada mexe, nada acontece, nada funciona. Mas, logo após o almoço começou o telemóvel a tocar: agência funerária a informar que já havia autorização do Ministério Público para a cremação desejada, a advogada do meu pai de férias na Suécia e que só regressa a Portugal amanhã à tarde a querer saber o que se passou e a informar-nos do que nem suspeitávamos, os advogados da Associação que, por sua iniciativa e conta, vão avançar com o processo crime que é mais do que correcto neste caso.

Era preciso e urgente enviar um email. Um simples email. Mas com recibo de leitura. Que o Gmail não tem… Um pedido de ajuda online, uma resposta concreta e, três horas depois, conseguimos enviar o email. Agora, mais uma vez, é esperar. E eu só quero que este filme termine. Rapidamente! Vi o estado da minha mãe no fim de semana. O estado físico de um corpo de 72 anos que gritou para parar a bem. Porque, caso contrário, não duvido que o corpo acabaria por ceder e parar à força. O desgaste psicológico foi muito forte durante toda a semana e reflectiu-se, claro, no corpo físico.

Descansou bastante no Sábado e no Domingo, recuperou. Mas hoje, segunda feira, depois de dois dias em que nada mexe, nada acontece, nada funciona, recomeçou a pressão…e eu, claro, tenho medo por ela.

Foi um dia de tal forma estranho que só agora, largamente depois das 23h, consigo ter um bocadinho de tempo SÓ para mim. Aquele meu momento de esplanada para desligar e mudar o chip na esplanada do costume só está a acontecer agora… E, mais uma vez, a minha vontade é a de ter um colo e um abraço e conseguir chorar.

Hoje nem para ele consegui ter tempo. Hoje nem para nós consegui ter tempo. E o que eu precisava TANTO dele agora. O que eu precisava TANTO de nós agora…

Dia tão confuso que demorou a passar e que passou tão depressa! Não gosto de dias assim. Mas também não gosto de telenovelas e menos ainda de filmes de terror surreal sem data prevista para terminar…

Só quero fechar um capítulo. Fechar a porta e deitar a chave fora de uma vez. Está difícil de acontecer. Mas, quando finalmente acontecer, só peço tempo e espaço para mim e para a minha mãe. Especialmente para ela. Para respirar. Para descansar. Para recuperar.

Agora é hora de desistir da esplanada do costume e voltar para casa. Vim sozinha. Volto sozinha. E aposto que, quando entrar em casa, a minha mãe já terá adormecido. Portanto continuarei sozinha até acordar novamente amanhã, seja a que horas for. Só não quero ser novamente acordada à força de abanões, sejam eles de que magnitude forem…

{#237.130.2024}

Hoje convidei a minha mãe para almoçar fora. E, coisa rara!, ela aceitou!

Estamos, as duas!, a precisar de sair de casa, apanhar um bocadinho de ar, desligar do filme dos últimos dias onde fomos enfiadas e ainda não tem data para terminar. Eu chamo-lhe filme de terror surreal de muito longa metragem e com várias sequelas cinematográficas. A minha mãe chama-lhe telenovela da TVI com 500 mil temporadas que, quando achamos que uma acabou, de imediato começa a temporada seguinte. E enrola. E enrola. E enrola… Já lhe perguntei se é nesta temporada da telenovela que aparece a terceira gémea! Ainda não me respondeu. Nem ela sabe, já, o que esperar disto tudo. Mas acredito que já nós as duas esperamos por qualquer coisa, sem saber o quê. Mas QUALQUER COISA mais.

Precisávamos as duas de sair de casa. Por minha vontade, até podíamos ir dar uma volta ao paredão e ver o Mar. Afinal, já estamos no parque e o Mar está “já ali“. Mas esse “já ali“, para mim, não dá. De casa até ao parque foram 400 metros feitos a MUITO custo, com muitas dores e muito pouco equilíbrio, até menos do que já é habitual. Por isso, vou continuar com vontade e saudades de ver o Mar. O importante, agora, é aproveitar o tempo com a minha mãe fora de casa e numa pausa do filme de terror surreal de muito longa metragem.

O café depois do almoço era para ser em frente ao parque. Foi “” caminhar até à passadeira, atravessar a estrada e chegar à esplanada, toda ela coberta de árvores. Fresca e ainda longe da hora de ponta do atendimento.

Enquanto eu me fui sentar num local fresco da esplanada, a minha mãe foi tratar de ir pedir o café. Não foi preciso esperar muito tempo para a minha mãe regressar. E o café? “Há um problema com a máquina. Não há café.”

Respirei fundo ao lembrar-me do caminho de regresso a casa: pouco mais de 400 metros totalmente ao Sol. O chapéu estava na cabeça, tudo bem, o problema não estava aí… Tenho café em casa, também não era esse o problema. O problema eram as muitas dores nas pernas por causa do calor e os pouco mais de 400 metros à torreira do Sol até casa! Que, de facto, foram feitos! À estonteante velocidade de fazer pouco mais de 400 metros em meia hora! Não me apetece fazer contas para saber a velocidade exacta a que vim, mas vim o mais depressa que esta coisa que me apanhou na curva me permite! Por isso, sim!, a coisa ESTÁ assim tão má! E eu estou farta disto! E de saber que, apesar de ter tratamento, não tem cura e eu CONTINUO À ESPERA da medicação que, no dia 10 de Julho, me foi prometida (garantida?) para “muito em breve”. Percebi já que não sei qual é, de facto, a noção de brevidade do médico, mas Agosto está a chegar ao fim e, para mim, o “muito em breve” já passou há muito tempo.

Estou zangada! Revoltada, comigo mesma, com isto que me apanhou na curva e com a falta de tratamento garantido pelo médico que só preciso de saber para quando! Por mim, era para ontem!

Já percebi que o calor é o meu pior inimigo no momento. Que me faz ter demasiadas dores que comprimido nenhum resolve. Que caminhar é uma aventura. E que o equilíbrio é um bem escasso. Por isso, deixem-me vomitar no éter aquelas palavras que, cá em casa, se recusam a ouvir!

Se “isto” se vê? Não. Se é contagioso? Não! Letal? Hell no! Só acontece aos mais velhos? É que nem de longe nem de perto! “Isto” apanhou-me a mim. Na curva. Sem eu prever nada ou, sequer, estar preparada! Coisa que nunca ninguém está… Mas, em menos de um ano!, já fez estragos suficientes. E eu estou cansada. E farta. “Disto“!…

{#236.131.2024}

Diz quem viu que eu, hoje, tenho olhos chorosos mesmo que não chorem. E é verdade, as lágrimas continuam a insistir em não cair. Apesar do peso de todas as fichas que me têm caído nos últimos dias. E hoje caiu-me mais uma: não é a ausência de quem morreu que me entristece. É a ausência de quem está vivo e não quer saber. E essa tristeza dói. Muito.

Vim à esplanada do costume às 20h, voltei para casa pouco depois das 21h. A minha mãe, exausta do peso da última semana, adormeceu. E eu quero MUITO que ela durma até amanhã à hora que for.

Voltei às 22h para a esplanada. Vim sozinha. Hei de voltar sozinha para casa. E vou estar sozinha na esplanada do costume. Como estou sempre. Como estou todos os dias. Como NÃO devia estar AGORA.
Porque os olhos chorosos podem não conseguir verter as lágrimas. Mas, por dentro, é a chorar que estou. E, como sempre, sozinha.

Não, não é a ausência de quem morreu que me entristece ou dói. É a ausência de quem está vivo e não quer saber que me dói. Demais…

{#235.132.2024}

Tenho (tantas) saudades dos meus dois (meio-)irmãos mais novos…e só hoje me caiu a ficha de que os perdi. A vida fez o favor de nos afastar. E os problemas que o meu/nosso pai criou, e que prejudicou tanta gente, incluindo eu e um deles, veio cortar a ligação (ténue pela distância geográfica mas forte pela ligação desde o primeiro momento) que existia.

Se há alguém que não teve culpa de nada, fomos nós, os filhos. Os 4 filhos. Todos eles (muito) prejudicados por quem nos devia ter protegido. E foi preciso o meu/nosso pai morrer para me pôr a mexer no sentido de os informar e, de alguma forma, saber deles e recuperar o tempo perdido que a distância ditou. Sei que, sem dúvida, também eu me devia ter mexido mais cedo. Mas a vida acontece todos os dias e acabamos por ir deixando coisas para trás. E, de facto, nesse ponto é verdade que tenho alguma culpa da distância. Mas agora quero muito encurtar essa distância, quero recuperar o tempo perdido, quero conhecer quem eles são aos 21 e aos 38 anos.

Já sei que um deles, aos 38 anos, não quer sequer ficar com o meu contacto. Não quer qualquer aproximação. Cortou-me da sua vida da mesma forma que eu cortei o meu/nosso pai da minha. Aquele bebé que me surgiu de surpresa uns dias antes de eu ter 9 anos e por quem me apaixonei de imediato. Que fui vendo crescer. Que me ensinou a mexer no ICQ e no MIrc por telefone e que passou a fazer parte dos meus contactos online durante algum tempo. A quem apareci, de surpresa e a convite da mãe dele, na festa dos 18 anos. Que tantas vezes e tanta gente nos tomou por gémeos apesar dos 9 anos de diferença, principalmente na sua fase de cabelo comprido.

Que me apresentou, de forma completamente inesperada, o meu/nosso irmão há 21 anos atrás. Irmão esse com quem consegui falar para comunicar o que já sabia. Que me pareceu ter recebido bem o meu telefonema, mas que não posso garantir que assim tenha sido. A quem disse para guardar o meu contacto e que não faço ideia se o terá feito ou não. Que o deixei à vontade para ligar quando e SE quiser. Mas que eu duvido que ligue.

A perda do meu pai eu já tinha assumido há muito tempo. Mas a perda dos meus irmãos nunca me tinha ocorrido…até que, mais uma vez, a realidade fez o seu trabalho. E só hoje, ao partilhar toda esta história com ele, me caiu a ficha dos 38 anos e levantei a dúvida dos 21. E foi nesse momento, nesse momento, que percebi as saudades que sinto de ambos. E, percebo agora enquanto escrevo, que existia uma barreira entre nós, que de alguma forma contribuiu e muito para essa distância: o meu/nosso pai.

Mas agora essa barreira já não existe. Faz-me sentido a tentativa de recuperar o tempo perdido, se é que alguma vez esse tempo perdido possa ser recuperado. Mas quero voltar a conhecê-los! Saber quem são! O que fazem! Onde estão!

Infelizmente parece-me que só a mim faz sentido. E, não nego, isso dói. Muito! Mais uma herança dolorosa de quem me deixou para trás há tanto tempo. E eu só quero ter os meus dois (meio-)irmãos de volta.

São meus irmãos! De mães diferentes, todos eles! E depois? Não deixam de ser meus irmãos!

A vontade é de chorar. Não pela perda de quem me deixou para trás há tanto tempo, mas pela perda da presença destes meus dois irmãos na minha vida. Mas, e apesar de doer demasiado, se é essa a sua vontade, só tenho que aceitar e respeitar. Por MUITO que me custe, por MUITO que me seja doloroso. Aceitar e respeitar.

Mantenho a esperança que a curiosidade dos 21 anos ainda exista, que resistam ainda memórias que o deixem com vontade de guardar o meu contacto, pelo menos isso.

E espero que, um dia, não sei quando sabendo que não tem que ser já amanhã, os possa abraçar a ambos. E dizer-lhes pessoalmente que tenho muitas saudades deles

…e se não choro é unicamente porque não consigo chorar

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Desde que o filme de terror surreal iniciou no Sábado passado, ainda não tinha tido oportunidade de parar para respirar. Tão simplesmente respirar. Aquele respiração profunda, completa e consciente que ajuda, e muito!, a desligar a cabeça e relaxar. Porque enquanto estou concentrada na respiração completa, profunda e consciente não estou a pensar em mais nada. E eu precisava tanto disso! E hoje tive essa oportunidade na aula de Yoga, como tenho todas as quintas feiras e sábados.

É verdade que esse simples exercício que é respirar profundamente e de forma consciente posso (e devo!) fazer em casa todos os dias. Basta tirar uns minutos para isso. Mas esta semana ainda não tinha tido tempo para mim. para mim. Para respirar e tratar de mim. Mas a aula de Yoga estava lá, à minha espera, para parar e finalmente respirar.

O stress dos últimos dias tem sido demasiado intenso, quase extremo. Aquele tipo de stress negativo que não faz bem a ninguém mas que, na minha condição que continuo a não conseguir chamar de doença, não é nada recomendável, não traz nada de bom e ajuda à progressão do que se pretende travar. Mas hoje foi dia de parar para respirar fundo e parar. Tratar de mim.

Finalmente parece haver uma luz ao fundo do túnel para, de uma vez por todas, conseguir encerrar o capítulo, fechar a porta e deitar a chave fora. Segunda ou terça feira, algures por aí.

E, mais uma vez, a confirmação de que há amigos, e depois há Amigos. Não com A maiúsculo mas sim com A gigante. E se houver algo maior do que gigante é aí que estão classificados.

Custa, claro, pedir ajuda a alguém para encerrar um assunto que não lhe diz respeito de maneira nenhuma mesmo que esse alguém se tenha prontificado para ajudar desta forma “se for preciso”. E, efectivamente, foi preciso. É preciso. Tive que, obviamente, pôr o orgulho de lado e dizer “eu preciso dessa ajuda”. Não é fácil, claro que não. Mas, por outro lado, sem essa ajuda, não seria possível encerrar o assunto da forma que tem que ser encerrado: com dignidade.

Agora? Estou muito cansada. Demasiado cansada. De quê? De nada e de tudo em simultâneo. Está mais do que na hora de dar o dia por terminado e ir descansar e dormir. Eu preciso de dormir. As últimas noites têm sido miseráveis no que diz respeito ao número de horas dormidas e esse é outro factor que, juntando ao stress extremo e intenso, não me traz nada de bom. Por isso é hora de desligar.

Amanhã é mais um dia. Que se espera e deseja que seja mais tranquilo. Agora com luz ao fundo do túnel para finalmente conseguir encerrar o capítulo, já só peço mesmo um dia tranquilo. Que, acho eu, não é pedir muito.

Por isso, por hoje chega. E amanhã logo se vê como será…