Não escrevo para contabilizar likes, como tanta gente que conheço.
Escrevo, acima de tudo, para mim. Não escrevo para agradar a ninguém. Escrevo como terapia. Para mim.
Faço-o “publicamente”, é verdade. Por fazê-lo no meu perfil de Facebook. Repito, no MEU perfil.
Escrevo o que quero, quando quero. Mas, acima de tudo, quando preciso.
Não me interessam números. Muito menos likes. Não é para os outros gostarem que escrevo. É para eu reler quando for preciso. Para me relembrar que assim como há dias maus também há os bons.
E quando os dias são bons, falo deles. E quando são maus falo deles também.
Não embarco na prática do perfil fantasioso, onde tudo é cor de rosa e brilhante e cheio de festas e almoços e jantares e brindes e prendas.
O meu perfil de Facebook, repito, o MEU perfil de Facebook, é o que eu sou. Volto a dizer: não contabilizo likes. Assim como não contabilizo número de amigos. Ou antes, “amigos”. Ou, chamemos-lhes antes, contactos.
Já o disse, não escrevo para os outros. Lê quem quer. Quem não quer, faça scroll down. Ou, se estiver farto, é só ir ali algures e eliminar-se da minha lista.
Não, a vida não é sempre uma festa, não é sempre corderosinha e coisinhas boazinhas e amiguinhos e amorzinhos e festarolas e brindes e férias e o que for. A vida é também o oposto de tudo isso. São os dias doridos, cinzentos, frios. São um pesadelo muitas vezes. Como agora. Como nos últimos dias. Como na última noite. Como hoje.
Nunca me coibi de ser online o mesmo que sou offline: absolutamente transparente. Porque não sei ser opaca. Nem de outra forma. Se estou contente, digo-o. Demonstro-o. Vivo-o. Sinto-o. Se estou feliz também.
Mas, se algo me dói, queixo-me. Se a dor se torna insuportável, choro. Grito se for preciso. Porque a vivo. Porque a sinto. E porque chega, como ontem, como hoje, a ser insuportável. E é preciso, é-ME preciso extravasá-la. Esvaziar-me dela. Deitá-la para fora.
Escrevo sobre o que me faz bem. Escrevo, também, e acima de tudo, sobre o que me faz mal. Numa espécie de exercício de exorcismo. Porque o peso é demasiado grande para ser suportado sozinha. Porque a dor, aquela que rói e corrói por dentro, não pode ser silenciosa. Silenciada. E, por isso mesmo, a atiro para o éter. Porque tenho que a atirar para algum lado. Mas, ao mesmo tempo, preciso que me esteja disponível no éter para quando precisar de me lembrar que já tive dias piores. E, também, que já tive dias melhores e que também esses irão voltar.
Estou à beira do meu limite. Como há muito tempo não estava. Acredito na resiliência. Acredito na força para dar a volta por cima. Acredito que amanhã é outro dia e que vai ser melhor. Mesmo que não seja. Hoje, por exemplo, era para ser melhor que ontem. Não foi. Não está a ser. E prevê-se outra noite como a última. De pesadelo. De uma dor insuportável que corta o ar. De um peso que carrego comigo porque dói. E, simplesmente porque dói, continua a pesar.
Estou, de facto, à beira do meu limite. Se nos últimos seis meses trabalhei para não voltar ao abismo, hoje é lá, à beira do abismo, que estou de novo. É cíclico, dizem-me. Não pode ser, digo. Não com esta intensidade, com esta força, com este peso.
Todos os dias me esforço. Há 182 dias que me esforço para que cada dia conte. Para que em todos os dias, mesmo nos menos bons, haja sempre alguma coisa boa. Por mínima que seja. Há 182 dias que conto os dias que passam para poder olhar para trás e dizer “vê onde já chegaste”…
Mas depois há dias, como os últimos, como hoje, que já nada disso parece importar. Porque voltei a cair. E voltaram as dores que me trouxeram aqui. Mas voltaram como se fosse o primeiro dia. Com demasiada força para as suportar sozinha. E é sozinha que tenho que as suportar. E é sozinha que as tenho suportado. E é sozinha que digo que já não aguento mais. Que já não sei como conseguir olhar em frente novamente. É sozinha que penso, tanto, em desistir. De vez. Sim, penso nisso muitas vezes. Quando os dias, como os últimos, como o de hoje, se tornam demasiado insuportáveis e quando a dor sufoca, penso tantas vezes que o esforço, muitas vezes a roçar o sobre-humano, é inglório.
Porque não aguento mais. Não suporto mais. Não consigo mais.
Não contabilizo likes, não contabilizo contactos, mas contabilizo dias. E cada vez contabilizo mais dias maus, ou mesmo muito maus, do que bons ou apenas menos maus. E, também por isso, me sinto no limite. De tudo o que é humanamente suportável.
O dia de hoje? Contabilizo-o como mais um que está prestes a acabar. O bom deste dia? Dizem que ainda tenho pulsação. Consta que sobrevivi a mais um dia. E é só.
{e não me venham com o discurso, mais do que gasto, de “tu não reages como as outras pessoas”. Pois não. Eu não sou os outros. Eu sou eu. Nem sequer sou 1 num milhão. Sou 1 em mais de 7 mil milhões de pessoas no mundo. Não me peçam para ser, reagir ou sentir, “como as outras pessoas”. Eu sou EU. Reajo como EU sei reagir. Sinto como EU sei sentir. E, infelizmente, admito que sinto tudo, o bom e o mau, com demasiada intensidade. Mas, essa, sou EU. Não sei ser de outro modo.}
#tryingreallyhard
Pingback: {17 de Fevereiro de 2015} | Life is Like a Box of Chocolates