A precisar, muito, de soltar amarras. De largar o que foi e já não é. O que nunca foi. O que quase foi. O que nunca chegou a ser.
A precisar de silenciar os diálogos na minha cabeça, que são, na verdade, monólogos. Que gostaria que pudessem ser ou ter sido diálogos.
Soltar amarras, sim. Mas, ao mesmo tempo, largar a âncora para não me perder por aí novamente. Para não regressar a mares turbulentos de tempestades internas. Onde já estive, onde ameaço voltar. Não quero. Não quero este rumo. Preciso novamente encontrar o Norte. O meu Norte. O meu porto de abrigo. A minha Luz de Presença. Voltar a ter os pés no chão.
Por agora respiro. Inspiro. Expiro. Não custa, hoje. Custava há um ano. Custou durante tanto tempo.
Não custa. Custa, sim, o peso da memória. O peso dos dias que passam, que já passaram, que vão continuar a passar. Custa, sim. Custa lembrar-me todos os dias. Mesmo que não fale deles.
Solto amarras. Lanço a âncora. Mas preciso, também, de cordas que me mantenham à tona. Antes que precise delas, novamente, para me içarem.
Um dia de cada vez, novamente. Um dia. De cada vez.
Amanhã? Vai voltar a ser melhor que hoje. Que, ainda assim, foi apenas desassossegado, não exactamente mau.