Daily Archives: 10/07/2015

#day326

Há conversas cá em casa que, volta e meia, se repetem. A última, a de ontem, hoje não me largou todo o dia.
Ingenuamente cheguei a pensar, há uns tempos largos, que não seria necessário repetir porque o motivo dessas conversas estaria longe.

Não está, afinal. E ontem repetiram-se as perguntas. Especialmente a mais ouvida, “porquê isto?”, que nunca tinha tido resposta a não ser silêncio. Mas ontem teve. “Não sei”. E eu sei que não sabes. Acredito nisso. Porque nem eu sei. Nunca soube.

Acrescentei uma nova pergunta que me assaltou há uns dias, “desde quando?”. E a resposta, sincera, foi novamente “Não sei”. E acrescida de “vocês parece que têm uma barreira que vos separa”.

E temos. Desde sempre. Ou desde aquele momento em que nem tu nem eu sabemos identificar no Tempo.

Mas sei, eu, e tu também, que eu apenas reajo. Voltei a lembrar-te, uma vez mais, que o modo como ajo com os outros, sejam os outros quem forem, é apenas o reflexo da forma como os outros me tratam. Pela primeira vez concordaste.

Falámos do meu feitio. Que, sei, nem sempre é fácil. Especialmente em momentos de tempestade como agora. Em que rebento facilmente. “Acção -> reacção”, digo-te. E eu sei que me entendes. E me aceitas tal e qual assim, como sou.

Sei que nem toda a gente entende o meu feitio. E disse-te que há quem me pinte de forma mais negra do que na realidade sou, julgando que me conhece quando não conhece nada. Para quem o outro lado sempre foi o Mar da Tranquilidade enquanto eu nunca fui mais do que o Cabo das Tormentas.

Vi a tua desilusão, vi-te magoada quando me perguntaste “disse-te mesmo isso? Assim?” e te confirmei que sim, foi essa a comparação. Riste sarcástica, respiraste fundo e disseste-me, segura de ti, segura de mim, “as pessoas não te conhecem. Acham que sim, mas não te conhecem de todo”.
Desta vez fiquei eu em silêncio. Não soube o que responder. E percebi que ias continuar a falar. De mim. Para mim. Abertamente. “As pessoas têm medo da tua frontalidade. Porque tu és assim, frontal, desde pequenina. Sempre disseste tudo, apontaste erros e falhas. E ninguém gosta de ser confrontado com os seus erros. Mas tu sempre foste assim e continuas a ser. Não queiras ser de outra forma, porque esta és tu”.

E foi aí, foi aí, Mãe, que tantas peças se encaixaram, tanta coisa começou a fazer sentido.

Obrigada, Mãe. Por tudo. E, especialmente, por me aceitares como sou e me pedires para não ser de outra forma.11709851_10153162599093800_4446612950074340374_n