#day328

O Embarkation Day foi paixão à primeira vez.

Não me peçam para explicar porque é que é giro ser runner num posto de check in e ficar ali, horas a fio em pé, à espera que alguém precise de preencher um papel que a grande maioria já entregou. Ou distribuir o Health Questionnaire a quem vai chegando. Ou, como mais recentemente, apenas lê-lo, ainda que centenas de vezes, e aguardar as respostas ao mesmo tempo que se acompanha a fila de pessoas e malas.

Não me peçam para explicar porque é que é giro recolher passaportes logo após o posto de fronteira, sentindo o vento gelado de Inverno que entra por aquela porta que nos leva à Terra de Ninguém.
Ou, já em ambiente de temperatura condicionada nas entranhas do navio, etiquetar centenas de passaportes ao mesmo tempo que se sente o tremor dos motores que movimentam aquele edifício marítimo. Para, logo em seguida, partir naquele labirinto interior da Conference Room para a sala do Phone Operator para fazer a leitura digital dos documentos etiquetados e terminar colocando 900+ passaportes por ordem alfabética.

Podia dizer que é o almoço no Bistro com vista para o Tejo. Ou para os contentores da Gare, conforme posição de atracagem. Mas o almoço é sempre o mesmo: salmão fumado, carnes frias, fruta da época que tantas vezes está verde, pão de cereais, sumo de laranja ou maçã.
Ou pelas sobremesas, tantas vezes quase intragáveis porque a cultura gastronómica é tão diferente. Com clara excepção para o cheesecake de limão, daquele cheesecake americano que vai ao forno e que, para mim, é “O” cheesecake. Ou as mini tarteletes de morango que se desfazem na boca.
Podia até ser pelo Red Velvet Cupcake, o único que até hoje me convenceu. Ou as típicas bolachas americanas.

Podia tentar explicar tudo isto e justificar com o Bistro. Mas não…

Porque, ao fim de alguns anos de Embarkation Days esporádicos, vieram os Debarkation Days.

E também aqui vos peço para que não me tentem entender quando digo que gosto, muito, de acordar às 3 da manhã para entrar na Terra de Ninguém às 5 e abandonar o navio às 19h30 como em Maio. Ou acordar às 5h30 para orientar desembarcados a partir das 7h30. Sendo que, num caso ou noutro, até às 10h temos que nos manter ali, em pé, ao sol e já com um calor abrasador, de sorriso no rosto para indicar “Pink 1, this way please” ou “Brown 4, the last row to your right” e ver que, de repente, as centenas de malas que estavam atrás de nós alinhadas e ordenadas desapareceram porque os mais de 900 passageiros já estão de regresso a casa.

Podia tentar explicar que uma hora é mais do que suficiente para descansar os pés doridos de tantas horas em pé e com calor, é suficiente para sentar um bocadinho e ganhar novo fôlego para, às 11h, iniciar o Embarkation Day. E às 11h rumamos ao navio depois de nova passagem no posto de fronteira com pórticos de raio-x e detectores de metais, identificação entregue à entrada ao Conciérge do navio de apelido Fernandes natural de Mumbai.
É regressar às entranhas daquele monstro recheado de quartos que são cabines, suítes, salas de reuniões, halls com slot machines, lojas de roupa e jóias, um piano de cauda transparente e um quarteto de cordas, um deck twelve, o mais alto, com restaurante em cima do Tejo e piscinas para vários tamanhos.

É chegar a casa depois de 14 horas e meia ou apenas 10, moída, cansada, dorida, mas com um sorriso.

Podia tentar explicar porque é que, se já gostava do Embarkation Day, agora que vem antecedido pelo Debarkation ainda gosto mais. Mas há coisas que não se explicam. Sentem-se, apenas.

Posso, no entanto, garantir que não é pelo café. Americano. Que, mesmo em formato espresso, é impossível de beber. Nem tampouco pelo fato preto+camisa branca+lenço de seda ao pescoço que me deixam com ar de adulta séria mas que não sou eu. 11141182_10153166335573800_6918244566090493868_n

{comentários}

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.