Daily Archives: 20/07/2015

#day336

E há um gato. Um gato que não é meu mas é. Que dormiu comigo meses a fio quando era pequeno mas já não bebé. Que fazia ninho no meu cabelo e me arranhava o pescoço enquanto “amassava pão”.
E há um gato. Que não é meu mas dormia ao meu ombro entre indecisões dos donos. E brincávamos com bolas, elásticos, sacos onde se escondia de orelhas de fora.
E há um gato que acolhi como meu até que os donos finalmente encontraram casa. Para eles e para o gato que não é meu mas é também um bocadinho.

O tempo foi passando, o gato foi crescendo. Aquele gato que era doce e simpático passou a antipático e quase anti-social. Escondeu a doçura, passou a ser quase indiferente. Mas nunca mau, porque nunca o foi.
De repente, nova mudança na vida do gato que não é meu. Deixa de ter dois donos, passa a ter um. Casa nova com telhado para passar horas ao sol a ver as andorinhas.

Lentamente voltou o gato simpático. Lentamente voltou a miar à porta à nossa chegada. E se antes vinha cumprimentar-nos à chegada só se lhe apetecesse e ainda assim só de passagem sem paragem, hoje mia à porta e não pára até lhe tocarmos e dizermos olá.
Lentamente voltou a ronronar e a dormir comigo nas minhas visitas de sofá. Lentamente voltou a deixar-se pegar ao colo quando foge para explorar as escadas que lhe são, ainda, novas.

E há um gato. Que não é meu mas que age como se fosse. Que vem em meu auxílio quando me ouve gritar por uma pancada na coluna que me fez mudar de cor e me molhou os olhos enquanto todo o corpo tremia de dor. Um gato que me defende da minha mãe por pensar que era ela a causa do meu grito, da minha dor. Há um gato que arranha de aviso à primeira. Que morde à segunda. Porque me defendeu numa atitude de lealdade que desconhecia nos gatos mas conhecia nos cães.

E há um gato que não é meu mas eu sou dele.

Há um gato que se chama Gaspar e se ao longo destes últimos 8 anos já gostava muito dele, mesmo quando estava armado em GasParvo,depois de ontem e do dia de hoje ainda gosto mais.