Daily Archives: 22/07/2015

#day338

Visitas habituais por caminhos diferentes. Caminhos habituais em horários diferentes. Andamos nisto há uns dias. Andamos? Ando. Eu. Que por cada nova alteração de percurso ou de horário fico com um sorriso no canto da boca. Porque caminhos diferentes podem levar-nos, e levam-nos, aos sítios de sempre. Porque horários diferentes em que se percorrem caminhos de sempre levam-nos a sítios onde pertencemos de uma ou outra forma.

Não, não tem que fazer sentido para mais ninguém que não eu mesma. Como acordar cedo depois de dormir pouco e ainda assim andar em passo de saltarico, em pontas dos pés. Só não salto de poça em poça porque não está a chover, mas chovesse e seria eu a primeira a não abrir o guarda-chuva e iria saltar de poça em poça cantarolando por aí com um brilhozinho nos olhos e um sorriso ao canto da boca.

Brilhozinho nos olhos e um sorriso ao canto da boca…? Sim. Brilhozinho nos olhos e um sorriso ao canto da boca por ter fechado uma porta. Por ter decidido perder a chave, porque é uma porta que não me interessa reabrir. Porque, por trás dessa porta, vem uma corrente de ar resultado de uma instabilidade pior que a atmosférica ou marítima. Vem uma instabilidade que de manhã diz, docemente, “branco” e poucas horas depois agride com “preto”. Fecho a porta e não olho para trás. Não por receio, não por mais nada que não seja isto: aquela corrente de ar é provocada por uma energia que não é para mim. Fecho a porta. Fecho o capítulo e termino o livro. Fica lá, na prateleira da memória. Porque, apesar de tudo, faz parte da minha História apesar das histórias. Mal contadas, mal vividas. Sentidas, todas elas, como tinha que as sentir. Mas agora, agora é memória, apenas. Não quero. Não mais. Mas sigo serena. Em paz. Comigo. Com o Mundo.

Fechar uma porta, reabrir outra. Seguir conforme a corrente. Ir. Reagir. Pedir. Aceder. Fazer. Estar. No fundo, viver. O momento, acima de tudo o momento, seja ele quando for. Porque sobreviver já não é o meu caminho. Foi. Durante o tempo que teve que ser, foi sobreviver. Hoje, hoje é viver. De novo. Novamente, um dia de cada vez. O hoje, o agora. Relembro-me todos os dias: ontem já foi, hoje estou cá, e amanhã? Estarei? O aqui. O agora. O já, se assim for. E vou.

E é tudo isso, tudo isso num só dia, num só fim de dia, num início de noite. E é tudo isso, portas que se fecham, que se abrem, que se reabrem, caminhos que se percorrem, habituais a horas diferentes, diferentes para chegar ao mesmo destino. Seja! É tudo isso que me faz ter um brilhozinho nos olhos e um sorriso ao canto da boca. E que me faz saborear cada minuto de espera pelo barco que se perdeu por dez minutos e ainda faltam 50 para partir o próximo. E que me faz deixar ficar dentro do carro com o rádio ligado alto enquanto canto a acompanhar o ritmo da travessia do Tejo, os 30 minutos de travessia. Mas sempre, sempre, com um sorriso ao canto da boca.

E recordo-me que ontem, ontem dia de fechar uma porta, me irritei profundamente ao decidir-me, de vez, a bater com ela. E poucas horas depois ria. Não um riso de gargalhada, mas risadinhas que se podiam confundir com álcool do vinho gelado, ou até mesmo com risinho nervoso. Mas que não era nada disso. Ou não era apenas isso. Era a certeza. A certeza que rir é tão melhor que me irritar. A certeza que, afinal, ainda sei rir. E ainda consigo rir. Pensei durante demasiado tempo que não voltaria a ter vontade. Mas aos poucos fui recuperando essa vontade de rir e fui-me permitindo fazê-lo. E o risinho de ontem, 9 graus de risinho, dizem, foi mais uma certeza. Que, sim, tudo está bem. E que, se por um lado há coisas que mudam, outras há que se mantêm. E é-me tão importante que algumas coisas não mudem. Não tenham mudado. Enquanto outras tenham que mudar terminando.

“Ainda bem”…ainda bem, sim. Ainda bem que volto aos saltaricos de poça em poça mesmo quando não chove, ao brilhozinho nos olhos e o sorriso ao canto da boca. Ainda bem. E sabe tão bem o ainda bem.

Nada disto tem que fazer sentido, mas para mim faz. Tanto. Porque é meu. Porque é para mim. Porque é de mim, de dentro.

E repito(-me): ainda bem.

Sim, hoje foi mais um dia bom. Ainda bem. E, penso agora nisso, são já mais os dias bons do que os outros. Ainda bem. São dias de bolas de sabão, como aquela em que decidi viver, abrindo a porta só para o que me faz bem, enquanto me envolvo de todas as cores do arco-íris.

E é assim que embarco neste foco: não há mais pontos de fuga. Mas mantêm-se os pirilampos, as luzes de presença e a minha Lua.

Tranquila. Calma. Serena. Acima de tudo? Em Paz. “Ainda bem”. Ainda bem ♥11036617_10153186945353800_8797878582806270080_n

{das bolas de sabão}

Sempre gostei de bolas de sabão. Mas só há pouco tempo aprendi que, sim, podemos viver numa bola de sabão. Podemos pintá-la de uma única cor ou preenchê-la com todas as cores do arco-íris.
Pode ser opaca, mas eu prefiro-a translúcida.
Aprendi, também, que na nossa bola de sabão só entra o que e quem nós quisermos. Estranhamente só há poucos dias decidi mudar a casa que é a minha bola de sabão de todas as cores. Mudei-lhe também a porta de entrada (as bolas de sabão também têm portas de entrada) e a respectiva fechadura. A chave velha deitei-a fora, embora goste e “coleccione” chaves antigas. A chave nova só abre a porta nova ao que e a quem eu quiser. À porta, do lado de fora, fica tudo aquilo que não me faz bem.

Porque, na minha bola de sabão, sou eu que lá vivo. E na minha bola de sabão apenas pode entrar quem merece o meu tempo. Aquele que eu não tenho Tempo para perder.

Já tinha saudades das bolas de sabão. Mas tinha ainda mais saudades de me sentir assim: serena, tranquila, em paz. Comigo e com o Mundo.

E com o peso de uma bola de sabão: extremamente leve…♥