Oiço dizer muitas vezes “sou faz falta quem cá está” e nunca consegui concordar. Porque falta mesmo fazem os ausentes, os que não estão. Como hoje.
Os que não estão porque já não é possível estarem, os que não estão porque não lhes foi permitido estar, os que não estão porque não eram para estar. E todos eles me fazem falta hoje. Tanta.
Quem cá está aconchega, claro. Quem está é Presente, como eu me faço Presente, Sou Presente.
Mas fazem falta os ausentes.
É Natal, dizem. Seja isso o que for para os outros. Para mim é reunião de família como há muitos anos não acontecia. É mesa preenchida de gente, é azáfama na cozinha, é perguntar se falta muito tempo para a meia noite a cada quinze minutos. É papel de embrulho. É cheiro a açúcar e canela. É risos e gargalhadas e conversas e conversetas.
É cansaço. Muito. E querer muito esconder-me debaixo das mantas e dormir até amanhã sem horários para acordar.
Nem me escondo nem durmo sem horários.
Mas estou, Sou, Presente. E continuam a faltar-me os ausentes. Os que já não podem estar, os que não tiveram permissão para estar, quem não era para estar.
Feliz Natal.