Daily Archives: 06/04/2016

#day97 out of 365plus1

Sol. Em tons quentes de café. Que queima a pele e aconchega.
Tenho vontade do nascer do Sol da janela. Na estrada não posso dispensar-lhe a atenção que merece. Tenho vontade do nascer do Sol da janela. Não do vidro do carro, não da estação do comboio, não do telhado. Da janela. Daquela janela por onde nunca o vi nascer. Daquela janela aberta ao horizonte de sonhos que não ouso ter, de planos que não ouso fazer, de desejos que não ouso ter.

Sol. Em tons quentes de café. Do dia que começa ainda de noite. Do vento gélido da manhã. Das horas que passam como os dias: uma hora atrás da outra atrás da uma.

O silêncio. Que me grita. O silêncio. A ausência de sinal, a luz de presença extinta, o ponto de uma fuga impossível, os pirilampos fora de época, as bolas de sabão que não formam. O silêncio. Novamente o silêncio que me grita e que eu teimo em fazer de conta que não oiço. Porque é silêncio, apenas. É a ausência numa presença constante que pesa e pisa e passa e volta para ser, de novo, ausência.

A distância que de tão curta é intransponível. Sem barreiras que a aumentem, com uma muralha que se quer fazer passar por fortaleza e que não passa de um fosso. Sem pontes, sejam móveis, levadiças, pênseis ou em arco. Sem pontos de acesso. Apenas um fosso. Em silêncio. Que me grita. Que me pesa na permanência da ausência. Que me afasta numa tão curta distância.

O Sol. Que chega de manhã cedo em tons de café. Cheio. Intenso. Sem açúcar. Que me queima o rosto envolto no vento gélido. Que me queima os lábios ao toque do plástico.

O Sol. Que quero voltar a ver nascer à janela que não me responde. A mesma do fosso. A mesma do silêncio.

O Sol. Que vou vendo nascer do vidro do carro. Na estação do comboio. Mas não da janela.

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