Daily Archives: 07/04/2016

#day98 out of 365plus1

Voltar, sempre, onde sou bem recebida. Sempre com um sorriso, colectivo, que se percebe genuíno. Onde não sabem o meu nome mas onde o nome não é importante. Onde entro e já sabem o que quero e como gosto. Onde, quando chove, me tocam nas costas e me dizem que chatice que hoje não pode estar na esplanada como gosta. Ou quando faz sol uma mão no ombro partilha que finalmente está bom para ir saborear o seu café como gosta.

Voltar, sempre, ali. Onde ninguém sabe o meu nome, onde não sei o nome de ninguém. Onde ninguém sabe quem sou, onde ninguém me trata como só mais uma operação na máquina registadora.

Retribuo sempre os sorrisos. Mesmo de manhã cedo quando ainda o dia não começou para mim mas já corre apressado lá fora. Ou especialmente de manhã, depois de 14 minutos de comboio de rostos pesados e cinzentos, depois de 1200 metros em 12 minutos de corpos em rebanho pela avenida. Sim, especialmente de manhã retribuo os sorrisos que me recebem bem dispostos onde mostro o primeiro sorriso do dia.

Ali sinto-me bem. E imagino tantas vezes como seria qualquer pessoa ser sempre recebida assim em qualquer lado. Substituir um “o que vai ser?”  por um sorriso aberto e um sonoro mas aconchegante bom dia.

Ali esqueço-me,  por momentos, da rispidez de respostas automáticas de quem me conhece e sabe o meu nome. Mas que não sabe que o café é cheio. De quem sabe quem sou mas não sabe que o café é lá fora mesmo que chova. Ali esqueço-me do frio de ser só mais um número na passagem dos dias de quem se cruza comigo há tantos anos.

Ali volto sempre. Duas vezes por dia. 5 dias por semana.
Ali não quero voltar. Uma vez talvez. Mas a última. Porque o meu Tempo diz-me que é Tempo de sorrisos sinceros e não de frio inalcançável de números e episódios.

Mereço mais. Mereço muito mais. E por isso mesmo volto ali todos os dias. E por isso mesmo começo a afastar-me, a custo porque dói, de um cenário onde não tenho papel que não o de simples figurante.

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