#day177 out of 365plus1

Esqueço-me, demasiadas vezes, que este caminho é para ser feito sozinha. Por muito que me lembre da promessa de não estar sozinha, é sozinha que o tenho percorrido.
Os dias fáceis, tranquilos, passam-se bem. Mas depois há os outros. Aqueles em que a memória me ataca sem dó. E a dor volta. E volta com a dor aquela vontade de a fazer parar de doer. De infligir uma dor maior, ainda que momentânea, para abafar a outra, a que a memória me traz.

Não é só a memória que faz doer. É, também, aquela promessa não cumprida. A de não estar sozinha, de não ficar sozinha. Porque me falha, sempre, a única presença capaz de me acalmar a dor. E falha-me, também, a coragem de gritar por socorro mais uma vez. Por saber que esse pedido, esse grito, já foi ignorado antes, quando mais precisei que tivesse sido atendido.

Quero encerrar capítulos. Preciso de encerrar capítulos. Não quero, nunca quis, ser um peso, um estorvo. Para ninguém. Mas também não quero ser uma aposta de último recurso. Mereço mais e melhor que isso. Mereço mais do que silêncio e ausência quando o que preciso é presença e diálogo para encerrar um capítulo. Que ainda dói.

A memória de calendário, do calendário. Os 42 dias a repetirem-se, a recontarem-se novamente, a reviverem. Não posso avançar nos dias até ao final do Verão. Não é possível fazer de conta que não me lembro, que não revivo, que não sinto hoje a mesma ansiedade que sentia há dois anos.

Dois anos. Como é possível, dois anos? E um capítulo que não se encerra. Que nunca se encerrou por falta de vontade, de disponibilidade? Não sei. Sei, sim, que hoje me falta coragem. Coragem para dar o passo necessário para o encerrar. Porque sei que ao dar esse passo, ao tentar encerrar esse capítulo, vai doer. E vai trazer mudanças. E vai ser um passo definitivo. Porque preciso que o seja. Porque sei que continuarei a lembrar-me, a reviver, a sentir, mas quero poder fazê-lo em paz. Sem ressentimentos de promessas que ficaram por cumprir, sem ausências que me pesam, sem ter medo de ser um peso que nunca quis ser.

Dói a memória. Dói a ausência. Dói o silêncio. Mas dói, ainda mais, a dúvida, a incerteza e a minha falta de coragem para encarar a mudança.

Nunca quis ser um peso. Um estorvo. Um empecilho. Nunca quis incomodar, sabendo que incomodei e transtornei e atrapalhei. Nunca quis nada disso. Porque, como sempre, primeiro os outros, depois eu quando e se for possível.

Esqueço-me, no entanto, que apesar de percorrer este dia sozinha há tanto tempo, não posso esquecer-me do mais importante: de mim.

image

{comentários}

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.