Monthly Archives: August 2016

#day244 out of 365plus1 

Já o tinha dito antes, di-lo-ei as vezes que forem: pedir ajuda não é vergonha nenhuma.

Há um caminho pela frente que terei que percorrer, sem pressas porque estas coisas levam tempo. Será, provavelmente, um longo caminho. Mas tem um objectivo muito bem definido: fazer as pazes. Comigo.

Não é possível percorrer alguns caminhos sozinha, sem apoio. Nem sempre os amigos e a família são o suficiente para estas caminhadas. Porque, por vezes, o tombo é grande. Demasiado grande e só nos apercebemos disso no limite. Ou já depois de ultrapassar esse limite.

A Depressão dói. A Depressão arrasa. A Depressão faz-nos fechar ao Mundo, faz-nos recolher à nossa concha. Faz-nos afastar do trabalho, das coisas que nos dão prazer, das pequeninas coisas que nos fazem bem. E, acima de tudo, a Depressão faz-nos afastar das pessoas. Da família que nos quer bem. Dos amigos que nos dizem “estou aqui”, que se preocupam, que se fazem presentes, que nos estendem a mão para nos puxar para cima.

A Depressão afasta-nos do Mundo. E de nós próprios. Porque a Depressão dói e faz doer e é uma dor que muita gente não entende e, como tal, não aceita.

A Depressão não é unicamente uma questão emocional. É química também. Algumas vezes exclusivamente química. Quando o corpo não funciona correctamente, quando as hormonas estão alteradas, quando os processos neuroquímicos estão comprometidos, a Depressão facilmente se instala.

E para quem tem dificuldade em perceber, dou exemplos:

– hipotiroidismo, quando a tiróide é lenta, preguiçosa ou simplesmente não produz tiroxina, estados depressivos são sintomas comuns, podendo ser controlados com compensação de tiroxina sintética;

– tiroidite de Hashimoto, quando, para além do hipotiroidismo, a tiróide é um ser estranho que o mesmo organismo que a acolhe é o mesmo que a rejeita e ataca. Auto-imune, termo que tantas vezes ouvi ao assistir a House M. D. e que não entendia, hoje faz parte da minha ficha clínica. Não bastava ter uma tiróide que não produz o suficiente, tinha que ter uma tiróide que eu própria rejeito. Como auto-imune que é, Hashimoto não tem cura. Não são ainda conhecidos todos os efeitos no organismo, e são já demasiados, mas os estados depressivos graves fazem parte. E, também aqui, não é necessário um episódio emocional para desenvolver um quadro depressivo major. Basta mais um ligeiro descontrolo da tiróide. Por outro lado, basta haver um episódio emocional para que a tiróide se descontrole para desenvolver um quadro depressivo major. Sim, é uma espécie de pescadinha de rabo na boca. É ser preso por ter cão, preso por não ter. É experimentar um sem número de medicamentos anti-depressivos diferentes para perceber qual deles faz o melhor efeito e nenhum deles ter um efeito melhor do que um copo de água…

– serotonina, o chamado químico da felicidade. Fraca captação de serotonina no cérebro enfraquece as sinapses, as comunicações entre neurónios, e o quadro depressivo instala-se;

– falta de vitamina D, aquela que nos é dada pelo Sol. Sim, dizer que se vai fazer a fotossíntese, ao contrário do que já me têm dito (“as plantas é que fazem a fotossíntese, oh! “),  está correcto. Ao contrário das plantas não temos clorofila nem transformamos dióxido de carbono em oxigénio, mas transformamos a luz do Sol em vitamina D. E a vitamina D é dos melhores anti-depressivos que existem. Ainda por cima é gratuita, livre de impostos e 100% natural. A falta de vitamina D leva a quadros depressivos graves e incapacitantes. Sim, há pessoas que durante os meses de Inverno funcionam mal, ou não funcionam de todo por causa da Depressão. E no início da Primavera é normal vê-las a reagir, a sair da concha, a voltar ao Mundo. Até mesmo aquelas que, pelas costas, são rotuladas de “maluquinhas” porque “lá estão outra vez na fase da maluqueira” e que “há maluquinhos que só trabalham no Verão”. Infelizmente já ouvi demasiadas vezes. Não era comigo. Mas incomodou-me. Assim como me incomodam todos os estigmas e rótulos ligados à Depressão. E não adianta explicar a questão da vitamina D. Que, apesar de ser gratuita, livre de impostos e 100% natural, não tem substituto químico, ao contrário de outras vitaminas. E não adianta dar exemplos da elevada taxa de suicídio nos países nórdicos onde, por motivos óbvios, existe escassez de vitamina D.

A falta de conhecimento, a ignorância e a falta de tolerância são grandes inimigos do doente com quadro depressivo.

A Depressão dói. E nem sempre é exclusiva de quadros emocionais. E,  quando os factores  emocionais e químicos se juntam, a Depressão leva-nos a cenários muito negros. E perigosos.

Reconhecer que se precisa de ajuda não é vergonha nenhuma. Pedir ajuda especializada não é vergonha nenhuma. Existe o estigma, a ignorância, a falta de tolerância. E isso sim, são motivos de vergonha para quem não aceita que alguém esteja a sofrer de algo que não se vê. Mas que definitivamente se SENTE. E sim, dói. Muito. Tantas vezes demasiado.

#day242 out of 365plus1 

Dias cada vez mais curtos. 

Agosto a chegar ao fim e mal dei pela sua passagem… 

Nada a fazer sobre os dias mais curtos, tanto a fazer pelo Tempo que não quero continuar a desperdiçar, sem dar pela sua passagem. Não era quem dizia que “não tenho Tempo para perder Tempo”…? Era……… 

Algo vai ter que mudar. 

{da Depressão} 

Sim, é um bocadinho assim. 
Mais logo falarei um bocadinho disso que é a Depressão e que tanta gente acha que é uma questão meramente emocional. Não é. Existe também uma grande componente química na Depressão, seja a nível cerebral ou, oh espanto, hormonal. E quando os desequilíbrios químicos cerebrais e hormonais se juntam, nem sempre é necessário um desequilíbrio emocional para que a Depressão se instale. 
Anda toda a gente animada com os desafios do Facebook que servem para absolutamente zero, fico com vontade de vos desafiar também mas desta vez a algo que pode ser útil.

#day238 out of 365plus1 

“Avó, porque é que quando estamos na rua tu falas e a tia está sempre calada?” Filipe, três anos e meio. 

………talvez pelo mesmo motivo que os deixo ir e vou ficando para trás… 

#day237 out of 365plus1 

Pedir e aceitar ajuda não é vergonha.

Depressão não é sinónimo de vergonha.

Sobreviver a isto é uma luta que precisa do acompanhamento certo. Infelizmente o estigma ainda existe. Mas não é vergonha nenhuma.

#day236 out of 365plus1 

A cor que vem e vai. A passos. Devagar. 

“Nada precisa de mudar” e afinal tudo mudou mas “o Sol continua a nascer todos os dias, ou não?” mas tudo mudou. 

Um dia talvez a cor volte e se mantenha por mais tempo. Até um novo período a preto, branco e tons de cinzento. O cinzento também é cor, mas é vazia. 

“Tu és instável” define uma parte do que sou. Mas sim, sou. Sei-o. E tento lidar com isso. Agora, mais do que apenas tentar lidar, quero aprender a viver com estes processos de instabilidade, tantos deles químicos que a ciência, melhor que eu, sabe explicar. 

Não retiro a minha parte da responsabilidade da perda de cor, mas vou aprendendo que há processos que não posso controlar se não os conhecer a todos, processos internos, físicos, químicos. Neurotransmissores, dizem-me. E outros tantos. 

A cor talvez volte um dia para permanecer mais tempo. Até lá fico com o desejo que tanto tenho repetido nos últimos dias: “não queria ser assim, queria ser melhor do que isto”. Mas esta, infelizmente, sou eu. Assim. Instável. 

#day232 out of 365plus1 

Aos poucos a cor vai voltando. Ainda que o Verão seja um pouco como eu: instável. 

Instável. Sim, sou. Faz parte de quem sou. Mas não pode, não deve, definir-me no todo. Sou mais que isso. Sou mais do que os últimos dias. Semanas. Sou melhor que tudo isso. Que tudo isto. 

Mas, como sempre, e novamente, um dia atrás do outro atrás do um. Regressar ao meu caminho. A uma estabilidade que sei que não será eterna. Porque sim, sei, sou instável. Não seremos todos, no fundo? Reagimos apenas de modos diferentes. Eu reajo à flor da pele, no bom e no mau. Mas especialmente no mau. 

Não peço cuidados, cautelas nem paninhos quentes. Apenas que me aceitem assim, por inteiro, instável. Fraca que quebra. Forte que se reergue. Mesmo que tenha que bater no fundo para voltar à superfície. 

Já mergulhei nesse fundo várias vezes. A profundidades diferentes. Nunca como nos mergulhos, vários, dos últimos dois anos. Nunca como no mergulho dos últimos dias. Decididamente o mais profundo de todos. O mais negro de todos. 

Sei que tenho preocupado muita gente. Sei que tenho assustado muita gente. A minha Mãe. A minha Mãe acima de tudo. Tanta gente que me estendeu a mão nos últimos dias. Tanta gente a quem ainda não respondi porque a vontade de comunicar, tal como há dois anos quando durante 3 dias não falei, a vontade de comunicar era nula. 

Sou grata, tanto, a todos. Responderei a cada um. Nunca conseguirei retribuir à altura. 

Caí. Mergulhei. Voltei àquele fundo negro que já conhecia. Deixei-me levar ainda mais para o fundo. Assustei tanta gente. Assustei-me a mim mesma… Muito. E admiti e aceitei que precisava, preciso?, de ajuda. Pedi-a. Recebi-a. E em menos de nada tudo se conjugou para que acontecesse exactamente o que precisava. 

Não há coincidências. Nada acontece por acaso. São frases feitas? São. Mas há coisas que não se explicam. E numa noite de Lua Cheia com eclipse os astros alinharam-se quando menos esperava simplesmente por ter pedido ajuda. 

Deixemos a explicação assim, com esta imagem de astros alinhados e Lua CheiaCheia e eclipse e maré baixa e…e…e…! Até a Terra tremeu meia dúzia de horas depois. 

Aos poucos a cor vai voltando. E toda esta instabilidade, minha e do Verão, irá acalmar. 

Aos poucos voltarei a ser eu por inteiro: instável e a sentir tudo à flor da pele. 

#day231 out of 365plus1 

E depois há um dia em que algo acontece que gera movimento e me traz a única coisa que precisava: uma conversa. 

Blame it on the Full Moon and its eclipse.

{da cobardia} 

​Existem os cobardes. E depois existes tu. COBARDE DE MERDA! Sim, tu que te recusas a enfrentar os problemas que TU próprio criaste, que preferes ESCONDER-TE e FUGIR e FINGIR que “no pasa nada”! 

COBARDE DE MERDA! Sim, TU que recusas uma conversa, UMA PORRA DE UMA SIMPLES CONVERSA que há MESES te peço para poder pôr um ponto final em PAZ! 

COBARDE DE MERDA! Sim, TU que “não queres problemas, queres soluções” e te RECUSAS a ser homenzinho e a ENCARAR um problema que TU PRÓPRIO contribuiste, e MUITO, para criar. TU que só queres saber de soluções mas que FOGES COBARDEMENTE quando a solução é tão simples. 

COBARDE DE MERDA! Problemas todos temos, blá blá blá Whiskas saquetas! Pois hoje EU tenho um problema GRANDE que se está a tornar GRAVE, e tenho a solução para ele. Mas TU, como COBARDE DE MERDA, ESCONDES-TE, FOGES, APAGAS-ME do teu mundo como se eu não existisse. 

EU é que estou no FUNDO DO POÇO e TU é que estás incomodado com isso?! TU é que foges, não sou eu quando tudo o que eu queria era NÃO TER CHEGADO a este ponto. E SIM, a cada dia que passa contribuis mais e mais para que me afunde mais um pouco quando me PROMETESTE que NÃO iria suportar tudo sozinha. E onde é que estás hoje? ESCONDIDO. Em FUGA. 

Nunca te imaginei cobarde. Afinal descubro-te um COBARDE DE MERDA! 

Não vai ser a tua atitude mesquinha, baixa, sem um pingo de integridade e absurdamente cobarde que me vai derrotar. Porque eu sou MAIS do que isto, este estado miserável que nunca procurei mas de onde irei sair à força de drogas se tiver que ser e com a força de quem me tem aquilo que TU desconheces: RESPEITO. Sou MUITO MAIS do que aquilo que tentaste que fosse. Sou muito mais que uma noite de copos. Sou muito mais do que um boneco com que se brinca só quando apetece. 

Já TU serás SEMPRE um COBARDE DE MERDA enquanto te mantiveres em fuga dos problemas que TU ajudaste a criar. Cresce! Enfrenta! Incomoda-te? Acredita, este estado miserável que nunca quis não te incomoda mais a ti do que a mim! 

COBARDE DE MERDA. E, percebi há relativamente pouco tempo, profundamente EGOÍSTA.

PS: apesar de tudo, não te desejo mal nenhum. Apenas desejo que NUNCA passes por isto. Mas depois lembro-me que os cobardes e egoístas são demasiado fracos para se permitirem SENTIR seja o que for com um mínimo de intensidade. Porque até SENTIR os assusta.

#day229 out of 365plus1 

“We’re all addicted to something that takes the pain away”. 

Por enquanto, o café e os cigarros…