Daily Archives: 02/08/2016

#day215 out of 365plus1

A minha cabeça é, neste momento, um lugar feio. Escuro. Muito pouco sossegado e nada silencioso.
Falta-lhe cor, mas não lhe falta som. Aliás, ruído. Ruído provocado pelo eco daquelas vozes que me acompanham. Que me gritam. Que me criticam. Que me gozam. Que me insultam. Que me acusam. Que me fazem duvidar de mim mesma para além de todos os outros. Vozes que me dão as respostas, certas ou erradas não importa, que a ausência, a distância e o silêncio não me dão.

São essas vozes que não me deixam, novamente, dormir. São essas vozes que me sussurram soluções para acalmar a dor. A dor que não é física mas é real. São essas vozes que me repetem que mereço essa dor, merecendo ou não. São elas que me guiam por caminhos que não quero mas que são tentadores. Novamente aqueles caminhos escuros, onde a voz, a minha voz, não quer sair. Aqueles caminhos sem saída fácil. E onde é tão fácil entrar e onde é tão confortável deixar-me ficar. Mesmo com o eco constante das vozes…

Escrever ajuda a acalmar as vozes. Ou, pelo menos, a reduzir o volume dos gritos, das críticas, das acusações.  E por isso escrevo. Ou tento continuar a escrever. Cada vez tenho menos vontade de escrever. Cada vez escrevo cenários mais negros. Doentios, se quiserem rotular assim o que escrevo.

Não escrevo para ser lida. Escrevo para exorcizar. Escrevo para me impedir de seguir os caminhos que as vozes na minha cabeça me indicam e que garantidamente me iriam acalmar a dor. Já ouvi estas vozes antes. Já ouvi estes conselhos antes. Já ouvi estas soluções. Não foi fácil resistir-lhes. Como não está a ser fácil agora. É tão mais fácil deixar-me ir, deixar-me levar por estas vozes.

Mas não quero. E por isso escrevo. Tento continuar a escrever. E tenho cada vez menos vontade de o fazer.

Há muito tempo que não dizia isto: não se preocupem se escrevo, seja mais ou menos bonito, mais ou menos colorido, ou pelo contrário mais ou menos dorido. Preocupem-se, sim, quando deixar de o fazer. Aí já terei desistido de manter à tona. Aí já terei optado por qualquer um dos caminhos que as vozes na minha cabeça me indicam. E é tão fácil deixar-me guiar por essas vozes…

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