#day226 out of 365plus1 

Cansa-me um bocado que me digam o que devo ou não escrever. Como devo ou não escrever. Cansa-me um bocado que me digam que me exponho demais. Que ninguém tem que levar com as dores, tristezas, o que lhe quiserem chamar. Cansa-me um bocado que me critiquem por estar online tal como estou offline: honesta, sincera e, acima de tudo, fiel a mim mesma.

Também me cansa um bocado estar online e observar as vossas vidas perfeitas, onde só existem sorrisos de felicidade que se calhar em tantos casos não são mais do que produtos de maquiagem, almoços e jantares e brunches e lanches saudáveis que ninguém quer saber, copos de gin atrás de copos de gin porque o gin está na moda e é obrigatório mostrar os gins que se bebem (ou não) para se ser aceite no rebanho da moda. Também me cansa um bocado estar online e observar as vossas férias no paraíso que, lamento informar, também não interessam a ninguém porque tantos outros também vão de férias e outros tantos não vão a lado nenhum. Também me cansa o ficar bem na fotografia para se dizer que se fez e se ajudou e agiu bem para receber aquela massagem no ego de quem necessita de aprovação de terceiros para se sentir realizado.
Cansa-me, também, que se matem a trabalhar como se fossem os únicos a fazer pela vida. Cansa-me que exponham o lado bonito das vossas vidinhas, aperfeiçoado por filtros e floreados e palavrinhas bonitas para parecer bem e ficar bem online quando, em tantos casos, não passa disso mesmo: vidinhas filtradas e floreadas e vazias, apenas carregadas de aparências.

Cansa-me, sobretudo, que me critiquem por expôr online quem sou. Sem filtros. Sem floreados. Sem palavrinhas bonitas mas vazias e carregadas de aparências. Esta sou eu. Na merda, absolutamente na merda e no fundo do poço há algumas semanas. A lutar contra uma depressão que teima em querer instalar-se e a não largar. Sou eu e as vozes na minha cabeça a gritarem-me o que fazer para acalmar a dor. Sou eu a lutar contra essas vozes e contra a vontade cada vez maior de lhes obedecer.

Exponho o que acho que devo. Há quem ache que me exponho demasiado como se fizesse uma pequena ideia, por mínima que fosse, de tudo o que se passa à minha volta. Do que me faz reagir de uma ou outra forma.

Curiosamente, só me criticam que me exponha quando estou na merda. Incomoda-vos? Acreditem, incomoda-me tremendamente mais a mim ser este o meu único escape. Porque a depressão é fodida, mas a solidão é filha da puta. E quando se juntam as duas só me resta tentar pedir ajuda escrevendo. Expondo-me.

Fico feliz pelas vossas vidas perfeitas, de sorrisos chapa 4, almoços e jantares e brunches da moda e lanches saudáveis. Os vossos baldes de gin que me lembram um consumo excessivo pela quantidade absurda que os vejo partilhados e que me levam a pensar se não terão um problema com o álcool ou, em alternativa, se não será só mais uma foto ao copo do vizinho para parecer bem no rebanho da moda do gin.

Lamento se a minha presença vos incomoda. Não se sintam na obrigação de continuar presentes quando, na realidade, 99% nem sequer estão na verdade. Se é só para aumentar números, sintam-se à vontade de reduzir um. Porque eu sou muito mais do que um número. Tenho nome. Tenho histórias e História. E tenho fases. Como agora uma fase que não é boa, nem sequer menos boa. É uma fase verdadeiramente má.

Uma fase em que preciso de ajuda, que sei que preciso, mas que não tenho vontade de procurar. Porque não quero. Porque estou cansada. Porque não quero virar um vegetal dopado sem reacção e a camuflar problemas que existem, que quero resolver e que me recusam a resolução.

Descompensada, chamaram-me há dias. Concordo. Sou a primeira a reconhecê-lo. Lamento, mas não vou pedir desculpa por este meu momento. Porque existem razões para ele.

Não peço desculpa. Mas decido retirar-me, afastar-me. Já pouco ou nada escrevo, sabendo que escrever me ajudou (muito) no tempo certo. Houve quem me tivesse dito que o que escrevia era doentio. Curiosamente a mesma pessoa que me incentivou a começar a escrever. Curiosamente a mesma pessoa que me recusou ajuda quando, há um ano e meio lhe pedi ajuda. Curiosamente a mesma pessoa que hoje se recusa a conversar. Conversar… Uma simples conversa. A mesma pessoa que me responde a um pedido de conversa com silêncio…… E esse silêncio diz-me tudo. Diz-me que há quem tenha memória curta, que há quem me ache doente pelo que escrevo, recusa uma conversa de adulto mas que se lembra que existo unicamente quando a necessidade aperta…
E esse silêncio contribui, e muito, para esta espiral depressiva em que me encontro. Com vontade de marcar o corpo para atenuar aquela dor que ninguém vê, mas que é real ao contrário do que tanta gente pensa.

A depressão é fodida. A solidão é filha da puta.
Sei que preciso de ajuda. Mas não a quero.

Não se preocupem. Não voltarei a escrever tão cedo. Porque já não faz sentido. Porque já não funciona.

E se partilhar alguma coisa que vos incomode, não se acanhem: unfriend me now.

Por aqui me fico. Talvez um dia cá volte a escrever. Quem sabe. Talvez não volte. Sei que vos será indiferente se não voltar porque não partilho festas, sunsets, sorrisos, viagens, almoços, jantares, brunches e lanches e muito menos pertenço ao rebanho da moda do gin.

Quem quiser, saberá o que fazer para me encontrar. Quem não quiser, é-me igual.

Lamento mais uma vez, mas recuso-me a pedir desculpa por ser quem e como sou: eu, igual e fiel a mim mesma. Sempre.

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