Daily Archives: 20/12/2016

#day355 out of 365plus1 

O carrossel comboio fantasma montanha russa que não precisa de moedas também descarrila. Basta uma pequena pedra no caminho, ou até mesmo um mero grão de areia na engrenagem e a viagem, já de si assustadora, torna-se quase um pesadelo. Especialmente quando pensamos que a viagem no carrossel comboio fantasma montanha russa que não precisa de moedas está mais serena e tranquila e quase conseguimos perceber que a energia que a move está cada vez mais fraca. Quase conseguimos adivinhar que o porto seguro está logo ali, depois daquela curva que vem depois da descida, daquela mesma curva que antecede a subida. Porque estamos lá em cima e de repente esse lá em cima é muito lá em cima não sendo demasiado e mantém-se sem oscilações durante algum tempo dando uma sensação de continuidade lá em cima. E por momentos quase se acredita que o carrossel comboio fantasma montanha russa que não precisa de moedas é, também ele, vítima da inércia e por falta de impulso continuará a sua marcha mas agora de forma mais constante, mais serena, mais tranquila.

Até que há uma pedra no caminho. Ou um grão de areia na engrenagem. O descarrilamento. E a viagem mais constante, mais serena, mais tranquila, transforma-se numa queda livre de um trapézio sem rede de segurança. E vem de novo a vertigem da queda, a dor do impacto. A falta de luz. Para logo se perceber que, afinal, a pedra no caminho, o grão de areia na engrenagem, o descarrilamento, também eles fazem parte do percurso dessa viagem não desejada no carrossel comboio fantasma montanha russa que não precisa de moedas.

Quero acreditar que um dia, não sei quando, essa viagem terá o seu fim. Quero acreditar que um dia, lá mais à frente, essa viagem que nunca procurei começará novamente a ser mais constante lá em cima, mas não demasiado lá em cima, mais serena, mais tranquila. Até eventualmente se transformar numa outra viagem qualquer. Sem a vertigem da queda, sem a dor do impacto de quem cai do trapézio sem rede de segurança.

Até lá apenas vou acreditando. Não sei ao certo em quê. Não sei ao certo em quem. Sei que não totalmente em mim. Porque continuo sem verbalizar tantas pequenas coisas que me são enormes de verbalizar. Mas o som simples não sai.