Ano Novo, vida nova, blá blá blá.
Ano Novo, livro novo. Páginas novas. Tanto para escrever. De preferência deixando no ano que acabou ontem os volumes anteriores. Trago comigo a continuação da história, que é minha, que é a minha. Deixo personagens para trás. Não lhes tenho lugar neste novo livro. Não lhes quero ter lugar neste novo livro.
Deixo que o vento da minha tempestade sacuda a árvore que sou. E que com esse vento da minha tempestade caiam os ramos e as folhas mais fracas. Que já não me servem. Que já não me São. E que há muito tempo já não me Estão.
Que seja o vento da minha tempestade a arrancar o que é mais fraco para evitar que me derrube. Não dói a ninguém mais do que a mim mesma. Mesmo que esse vento da minha tempestade provoque, por momentos, um furacão de palavras menos boas. Sentidas, todas elas. Que saia esse furacão de palavras em jeito de despedida no turbilhão do vento da minha tempestade, que saia tudo e arranque à força tudo o que não tem força nem coragem para se manter na árvore que sou. Que saia tudo. Só assim a minha tempestade não me derruba de vez.
Não adianta olhar para trás, para os volumes que lá ficaram. Talvez apenas como lembretes do que já passou. Nem memórias ou recordações lhe quero chamar. Apenas lembretes, um mero post-it que acaba por perder a aderência e que eventualmente se irá perder por aí. Trago comigo a história, que é a minha, trago comigo as tempestades e as calmarias. Recuso manter personagens que já foram principais e hoje são apenas sombras, ausências e silêncios.
E todas as histórias, como todas as árvores, preferem a luz, a presença e o canto das palavras ditas.
Ficam os vestígios, os danos que um dia talvez sarem, as marcas, os ramos partidos à força, as mágoas e os ressentimentos. Tudo isto um dia se transformará em cicatrizes que, como todas as cicatrizes, contarão a minha história.
Comece-se um novo livro em dia de Ano Novo depois de fechar um capítulo em noite de fim de ano. Porque, neste momento, acima de tudo estou eu. Apenas eu. E devo a mim mesma colocar-me, desta vez, em primeiro lugar. Doa o que doer a quem doer. Não irá certamente doer tanto como me tem doído a mim nos últimos 366 dias + 500 + 19 depois de 42.