Cansada dos dias a preto e branco.
Mas não consigo reter a cor.
Não, o meu sorriso não está cá sempre. Pelo menos não aquele de há 20 anos. Nem de há 10. Ou apenas 3. O de agora, quando aparece, é tão diferente. É cinzento. Pesado. Dorido. Cansado.
Como eu. Cansada. Dorida. Pesada. Cinzenta.
Não consigo reter a cor. Perdi o cor de rosa. Não consigo plantar verde -> violeta -> rosa.
Estou cansada dos dias a preto e branco. Estou cansada disto. Um isto que não é possível de explicar. E é quase impossível de continuar a sentir. Porque não é dor. É algo para além disso cujo nome desconheço. É vazio e mais além. É negro, cinza escuro. É sombra. É frio de queimar por dentro. É estar e não estar. Aqui e ausente, distante. Porque não saio de lá, mais atrás. Sou eu e outra que nunca tinha sido. Não sou eu e outra que não quero ser. É não ter rumo e ter uma bússola. É ver o farol, luz de presença e desviar-me do caminho.
É tudo e não é nada. É sentir. Demasiado, como sempre foi. Tudo ao mesmo tempo. É a capacidade de armazenamento da memória. É a ausência do que nunca esteve realmente. É ser sozinha sem o estar. É estar sozinha sem o ser.
São os dias a preto e branco. Sou eu a não reter a cor.
Sou eu. E a outra que não eu.
Cansada.
Exausta.
Pesada.
Dorida.
Sozinha.
Vazia.