Às vezes esqueço-me dele, o caracol que queria ter nome e não entendia porque tinha que ser tão lento. E esqueço-me, também, da tartaruga memória que baptizou o caracol de Rebelde e o ensinou da importância da lentidão.
Não vivo no país Dente-de-Leão, mas também eu poderia chamar-me Rebelde por não entender o porquê da lentidão no meu processo. Lentidão que tantas vezes me parece que retrocedo em vez de avançar. Talvez um dia a minha tartaruga chamada Memória me ensine o que me falta aprender. E é tanto. Talvez um dia me ensine a aceitar o que ela me repete tantas vezes. Talvez aí, nesse dia, eu caracol de nome Rebelde oiça a minha tartaruga de nome Memória com todo o tempo de quem não tem pressa em ficar bem porque já fiquei.
Ainda não li o livro. Não o tenho, como poderia ter lido? Mas preciso dele. A tartaruga Memória decerto terá muito para ensinar. Ao caracol Rebelde que queria ter nome e não entendia o porquê de ser tão lento e a mim que não sei ser muito mais do que alguém que simplesmente segue um dia atrás do outro atrás do um quase sem rumo definido por ter pressa em ficar bem.
Talvez um dia o livro chegue até mim. Talvez um dia a minha memória que não a tartaruga me ajude a não olhar para ela e ver fantasmas e experiências lá de trás de forma ainda dolorosa.
Talvez um dia tudo isto. A lentidão, o não ter nome, a memória, o peso que a coruja carrega que não a deixa voar. Talvez um dia.
Talvez um dia regresse a casa, ao país Dente-de-Leão, permitindo deixar voar para longe as sementes que já não me servem.