E os dias vão passando, um atrás do outro atrás do um. Dias mais serenos, mais tranquilos, ainda que tenha plena noção que essa serenidade, essa tranquilizar, são artificiais fruto de medicação de estabilização.
Vão passando os dias, a correr e simultaneamente sem pressa. Ou sem pressa e simultaneamente a correr? O que for… Porque vão passando, os dias, de um modo linear, numa estabilidade artificial e rígida quimicamente induzida, criando uma falsa sensação de segurança. Onde as vozes vão perdendo força e são substituídas por sussurros novos que me repetem ao ouvido que vai correr tudo bem e que este ano o Verão vai ser melhor.
O Verão ainda agora começou. E Julho ainda não começou sequer. E os dias vão passando, ao seu ritmo. Até que, de um momento para o outro, o meu ritmo passa a ser outro, volto a acelerar, volto a perder as cores, volto a recordar onde estava nesta data há 3 anos, volto a repetir para mim mesma que tenho saudades tuas, que sinto a tua falta, que nesta data há 3 anos estava grávida, que nunca aconteceu aquele diálogo que cheguei a fantasiar durante tantos anos em que iria chegar a parte em que, com um sorriso, diria “estou grávida”.
E percebo, nessa minha mudança de ritmo, que afinal ainda sinto coisas. Ainda sinto as coisas. Ainda tenho vontade de andar para trás no tempo e reviver-te. Não apenas sobreviver-te.
Percebo que aquela falta de vontade de ver o Mundo, aquela ausência de brilho nas cores à minha volta, aquela angústia de nó na garganta, aqueles olhos carregados de lágrimas ao simplesmente agradecer por permitirem que existas, percebo que tudo isso me diz que o Verão ainda agora começou, Julho ainda não começou sequer, e tenho medo do mês que aí vem… Medo de não conseguir não me afundar novamente. Medo de não conseguir não me agarrar àquelas memórias sem chorar.
E hoje novamente o nó na garganta, hoje novamente a vontade de me fechar, hoje novamente a falta de cor, hoje novamente tudo o que me doeu há 3 anos, o que me faz doer ainda hoje. Mais do que gostaria…
Hoje, mais uma vez, a ausência de cor.
Hoje, mais uma vez, um dia atrás do outro atrás do um.
Hoje. Amanhã logo se vê.