Vi-te assim, pequenino e indefeso, quando o meu corpo te expulsou de mim. Faz hoje 3 anos. Nunca consegui esquecer o que senti quando te vi e durante muitas noites acordei assustada porque era assim que te revia nos meus sonhos mais difíceis.
Vi-te assim muitas vezes mesmo estando acordada e de olhos bem abertos. Vejo-te ainda.
Não sei se seria melhor não te ter visto. Sei, sim, que apesar de tudo fiquei com uma imagem tua gravada na memória. E talvez seja melhor ter essa imagem do que não ter nada. Porque, na verdade, de ti nada mais tenho do que a memória de 42 dias que me duram há 3 anos.
Não sei como é que já passaram 3 anos. Apenas as folhas do calendário me confirmam que sim, que o tempo passa sem pausas para processos de luto e recuperação. Sei que um dia atrás do outro atrás do um. Sei que todos os dias mais um passo em frente e, por vezes, tantos passos para trás. Sei que todos os dias faço por tirar os olhos do chão como prometi a mim mesma há 3 anos. Não é fácil. Não é fácil encontrar um sentido em tudo isto. Não é fácil manter a confiança diariamente que tudo vai ser melhor. Não é fácil avançar mais um dia quando pouco ou nada faz sentido porque há 3 anos que não te tenho comigo.
Sei que te preocupas comigo quando os dias são mais doridos, assustadores. Sei que queres que esteja bem, tranquila e em paz. Sei porque tu mo dizes tantas vezes quando preciso de ti e não te tenho aqui, mas estás aí. Sei que não me queres mal apesar de não ter sabido proteger-te quando precisaste de mim. Sei que não precisaste de me perdoar porque no teu mundo apenas existe amor e nunca rancor. Sei que olhas por mim e que chegas até mim tantas vezes, todos os dias.
Hoje trago-te na pele. Como as memórias à flor da pele, de hoje em diante trago-te gravado em mim. De hoje em diante, 3 anos depois, posso tocar-te, sentir a pele que é a minha, sentir-te na pele que tantas vezes me queima e que tu fazes por acalmar. De hoje em diante és palpável, és físico, és ainda mais real. Até para aqueles que te querem esquecer. Não tens voz, mas tens a minha a falar por ti. Não tens cheiro, mas tens o da minha pele.
Sei que sabes que é possível amar quem não está aqui. Amo-te desde o dia em que soube de ti em mim. Cheguei a pensar que o tenhas duvidado. Sei hoje que nunca duvidaste porque sempre o soubeste. E é possível amar assim, sem toque, sem cheiro, sem voz.
Passaram 3 anos. Passaram 3 anos desde que te vi assim, pequenino e indefeso. Desprotegido quando o meu corpo te expulsou de mim.
Passaram 3 anos, 3 anos voltarão a passar e outros 3 e 3 outros. E, passem os anos que passarem, estarás sempre comigo e em mim.
Ficarei melhor, todos me dizem que sim. Irei renascer, reflorescer, reencontrar-me. Mesmo que tantas vezes ainda o duvide. Mesmo que tantas vezes ainda grite em silêncio esta chama que me queima por dentro. Só preciso de acreditar que vou conseguir continuar a ter força para manter o ritmo, um dia atrás do outro atrás do um, tirando os olhos do chão.
3 anos. Tanto tempo. E a memória fica para sempre. Agora gravada na pele que é a tua e que é a minha. Porque és e serás sempre o meu filho.