Valorizo a memória. As memórias. É lá que tudo se mantém no depois. Independentemente do rumo, do caminho, do momento presente, a memória lembra-nos outros momentos, regista marcos no percurso.
Precisamente pela importância da memória não fico indiferente a sorrisos de outros momentos perdidos no chão de uma qualquer rua. Como estes. Incomodou-me vê-los ali. Abandonados. Uma colecção inteira de sorrisos cúmplices, de marcos de percurso, de momentos que não se repetem. Incomodou-me e por isso mesmo os recolhi. Olhei-os e prometi-lhes, aos sorrisos gravados, que os haveria de entregar a quem deles tivesse memória.
Sorri ao perceber que rapidamente os sorrisos gravados se reconheceram e sorriram também pelo meu encontro com um álbum de memórias que não se sabia sequer perdido. Que, percebi, nunca seria abandonado.
Não importa realmente se estes sorrisos se mantêm cúmplices neste momento que é agora e não naquele tempo de memórias. Importa apenas que se criaram novos sorrisos e novas memórias. E isso, para mim, é o suficiente.