Nunca me ouviste chorar.
Talvez se tivesses ouvido entendesses quando digo que me queima a pele.
Nunca me ouviste chorar.
Talvez se tivesses ouvido entendesses a fragilidade feita força que ainda hoje trago comigo.
Nunca me ouviste chorar.
Talvez se tivesses ouvido entendesses esses espasmos no meu corpo que procuro acalmar procurando o conforto do confronto com as paredes.
Nunca me ouviste chorar.
Talvez se tivesses ouvido entendesses que, às vezes, preciso que me amparem com força para não cair quando me falta a força e o ar entra descompassado e muito superficialmente.
Nunca me ouviste chorar.
Talvez se tivesses ouvido entendesses porque quero tantas vezes gritar de dor.
Não. Nunca me ouviste chorar. E mesmo que tivesses ouvido nunca irias entender. Nada.
Porque é a mim que a pele queima, é a mim que a fragilidade se faz força, é a mim que o corpo estremece a cada novo espasmo, é a mim que o confronto com as paredes traz algum conforto, é a mim que me amparam quando a força me foge no descompassado entrar superficial do pouco ar que entra, é a mim que a voz dói depois de gritar “porquê eu? Porquê?!”.
Não. Nunca me ouviste chorar. Nunca irás ouvir-me chorar. Porque mesmo que ceda aos riscos na pele para acalmar a pele queimada, apenas me permito chorar como nunca me ouviste ali, entre aquelas 4 paredes onde ponho a descoberto tudo aquilo que teima em ainda consumir-me.
Não.
Nunca me ouviste chorar.
Nunca irás ouvir. Mesmo que os riscos na pele se aprofundem e deixem marcas visíveis a qualquer um.
Nunca me ouviste chorar. E eu chorarei todas as vezes que precisar. E tantas vezes em silêncio. Escondida. De mim e do Mundo. Mas nunca mais escondida de ti. Simplesmente porque não, nunca me ouviste chorar.