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Há 3 anos: dois riscos, uma certeza. “Estás grávida?”, não quero falar disso assim, por aqui. 

Uma conversa, três horas, um parque de estacionamento. 

Revivo tudo hoje. Cada momento, cada hora, cada minuto, cada segundo, cada lágrima. 

Não te vou pedir nada, sempre soube que seria assim. Não. Não assim. Não como acabou por ser. 

29 dias de 42.

E a memória à flor da pele. E a pele tem memória. E a memória que queima a pele, que não dói apenas. Queima. E quero arrancar a minha pele. Quero rasgá-la. Arrancar cada pedaço, cada centímetro, cada milímetro de pele que me queima por dentro. 

Não me deixes cair. Por favor. Prometeste que não me deixavas cair e eu estou em queda livre. E tu, tu prometeste que não me deixavas sozinha. E olha para mim, aqui, sozinha, com a minha pele a queimar-me por dentro enquanto caio em queda livre sem paraquedas, sem rede. Sem truques, sem nada. Só eu e a minha pele em chamas. 

3 anos de 29 dias de 42. E nunca pude anunciar “estou grávida” porque tu soubeste de imediato quando te chamei para conversar. 

A pele que insiste em queimar-me por dentro, por completo. A memória à flor da pele. Não quero nada disto para mim. E é isto que tenho comigo. É isto que sou porque não soube ser melhor, não soube ser mais. E não sei aceitar. 

Porquê eu? 

Porquê comigo? 

Porquê assim? 

Porque é que queima tanto? Porque é que não consigo arrancar a minha pele por completo? Talvez assim, se o conseguisse, doesse menos. Mas, por muito que tente, a minha pele que me queima por dentro não sai. 

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