Daily Archives: 21/07/2017

{#página202} 

E depois há a dança dos Mainá… 

(ainda te lembras como é focares-te nas coisas positivas, mesmo que pequeninas?) 

{do suicídio. Ou da pele que queima por dentro} 

Chester Bennington. Morte por suicídio aos 41 anos. Na data de aniversário de Chris Cornell, morte por suicídio aos 52 anos. 

É fácil ficar-se chocado com o suicídio de alguém. Muitos não entendem o porquê. Nem têm que entender. 

Suicídio não é egoísmo, como tantos dizem por aí. Suicídio é arrancar a pele que queima por dentro. A pele que prende à Depressão quem tenta sair dela. Quem luta todos os dias para sobreviver a essa pele que queima, que prende, que acaba por sufocar. 

Suicídio não é, como tantos dizem por aí, a solução fácil dos fracos. Primeiro porque não é fácil. É desespero puro. Segundo porque não é dos fracos. Os fracos são os que se movimentam por aí como se nada se passasse. Os outros, os suicidas, são os que desesperadamente lutam todos os dias, todas as horas, todos os minutos, todos os segundos, com toda a força que nem sabiam que tinham até precisarem dela. 

Suicídio não é desistir de lutar. Não é render-se à dor e ao desespero. Não é falta de coragem para enfrentar os problemas. 

Suicídio é a libertação. Da pele. Aquela que queima por dentro. Que prende. Que sufoca. 

Se é solução? Não sei. Sei, sim, que há momentos em que o desespero nos faz querer sair de nós próprios para deixarmos de sentir dor. Aquela dor que quem está de fora não sente, não vê, não entende e tantas vezes não aceita. 

Sei, sim, que todos os dias a minha pele me queima por dentro como se fosse irrigada por ácido no lugar de sangue. 

Sei, sim, que todos os dias a minha pele me prende e me condiciona os movimentos e me conduz a gestos de auto-agressão. 

Sei, sim, que todos os dias a minha pele me sufoca e me faz querer gritar e chorar em vez de rir. 

Sim, posso ser considerada de suicida. A ideação suicida está instalada. Não, nunca tentei o suicídio. Mas as vozes……… 

Não é fácil viver/conviver com alguém que sofre de Depressão. Não é fácil viver/conviver com alguém que sofre de Depressão Major. Mas não é difícil viver/conviver com um suicida. Porque nós, os que temos ideação suicida, não vos dizemos nada sobre isso. 

Olhem mais vezes para o lado. Há sinais. Dêem-se ao trabalho de olhar para o lado, para o outro, com olhos de ver. Aquele colega de comportamento que oscila entre o estar quieto no seu canto e o ser demasiado extrovertido pode estar apenas à espera que alguém lhe agarre na mão e lhe diga “estou aqui contigo”. 

Não adianta fazer de conta que não se passa nada para depois receber a notícia em choque. 

Na verdade, simplesmente não adianta fazer de conta que não se passa nada. Porque passa tudo na cabeça de um suicida. 

E na minha já passou demasiado.