Mais um dia igual aos outros. Mais um dia cinzento visto pela janela. Mais uma consulta por telefone. Mais uns meses valentes de medicação que queria deixar de tomar.
Mais um dia de trabalho e mais uma vez a certeza que não somos mais do que apenas números.
Estou cansada. De estar permanentemente fechada. Do trabalho. De tudo. Ou quase tudo.
Vão-me valendo os poucos momentos de partilha, de pequenos nadas. São breves momentos, mas que me trazem ânimo de manhã e me ajudam a dormir à noite.
“Está estável”, disse-me hoje a médica. E de imediato me lembrei da frase “tu és instável, sempre foste” dita como se fosse uma verdade absoluta. Não. Eu não sou instável. Ou melhor, somos todos instáveis. Porque não é possível estar-se sempre bem todos os dias sem excepção. E agora dizerem-me que estou estável faz-me pensar que um dia posso voltar a não estar. O que estou, na realidade, é bem. Eu estou bem. Muito longe do que estava quando fui pela primeira vez à consulta que durante tanto tempo recusei. E nessa fase não estava instável. Estava mal. Muito mal.
Ainda me custa o rótulo de estável ou instável. Porque na verdade todos somos instáveis. Não é possível estar-se bem 100% do tempo, porque as emoções não são estanques. Há dias bons e há dias menos bons e até dias maus e muito maus.
Mas querem, para efeitos de registo, dizer que estou estável. Então seja. Eu prefiro dizer que estou bem, mesmo que todos os dias de forma diferente. E isso não faz de mim alguém instável.
Enfim, mais um dia igual aos outros, mais um dia cinzento visto pela janela. Amanhã será melhor, nem que seja por haver previsões de Sol, mesmo que só o vá ver pela janela. De resto, posso ser só um número no trabalho, mas sei que fora dele sou muito mais que isso. E sei que estou bem. E só isso me importa agora.