É importante não me esquecer do que escrevi ontem. Porque é importante não me esquecer de mim.
Se é fácil cumprir com o que disse que não faria? Não. Especialmente quando penso em deixar cair as prioridades. Ou apenas mudar-lhes a ordem. Mas é necessário. Tão necessário…
A minha ausência continua a ser indiferente. E, sendo-o de forma tão óbvia, não cabe a mim fazer-me presente. Quem me quiser presente, sabe como me encontrar. E é só disso que não me posso esquecer. O resto? Por muito que custe, é encolher os ombros, sorrir e acenar.
Porque é que me ofereço no trabalho para fazer mais horas? Para manter a cabeça ocupada. Coisa que não acontece quando estou em trabalho presencial a sair à hora certa e a ter que enfrentar, unicamente na minha companhia, demasiado tempo para pensar no que não devo. É muito tempo sozinha comigo mesma. É dar tempo e espaço à minha cabeça para dispersar para onde não deve.
É cansativo e difícil ser eu. Ter que, sozinha, conviver comigo mesma é um desafio diário. Mas não me envergonho de quem sou ou do que sou. É muito fácil, para quem está fora da minha cabeça, lidar comigo. O difícil é estar cá dentro…
Não, não foi um dia fácil. Sempre que tive um momento livre, por muito curto que fosse esse momento, a minha cabeça partiu para onde não devia. Porque tenho saudades de falar com quem não se arrisca a tomar a iniciativa e me faz sentir ignorada. É a indiferença que pesa e magoa.
Sei que um dia esse peso vai aligeirar. Mas a mágoa é possível que fique colada às memórias que ficam.
Se podia não pensar em nada disto quando termino o meu dia? Devia. Mas não posso…porque ainda não me é possível esquecer tudo o que sinto. E eu sou de sentir. Tudo. O bom e o mau. E, neste momento, é o mau que estou a sentir. E não quero. Porque, sei, ao sentir o mau vou estar a transformar aos poucos algo que até há pouco tempo era bonito em algo menos positivo.
Não era nada disto que eu queria para mim há quase cinco anos. Mas é o que tenho. E é-me urgente aprender a lidar com isto…seja lá o que for, mas que neste momento se pode resumir a uma palavra que, cada vez mais, vai pesando e magoando: indiferença.
Enfim…um dia de cada vez. Sem pressa. Mas com alguma urgência para deixar de doer tanto…
Amanhã será melhor. Hoje não foi fácil. Mas amanhã volto a encolher os ombros, sorrir e acenar. Ou apenas e só encolher os ombros, porque o sorriso esbate-se todos os dias e acenar implica que haja um receptor do aceno. E não há…
