Domingo que começou azul lá fora e evoluiu para cinzento pegado. O tempo vai mudar lá fora. Mas, cá dentro, faço para que o meu céu se mantenha azul.
Foi um dia tranquilo. Com pouco mais do que sofá, manta e televisão. E a cabeça sempre dispersa, mesmo depois de mais uma conversa em consulta com o terapeuta fofinho.
Novamente a necessidade de reciprocidade. Novamente a necessidade de me focar em mim, colocar-me a mim em primeiro lugar. É o que tenho tentado fazer. Mas, na verdade, não existe muita interacção com o outro no meu dia a dia. Por isso também fica difícil de perceber se estou, ou não, a colocar-me em primeiro lugar.
Por outro lado, o simples facto de me manter quieta e calada no meu canto, de manter o meu silêncio e a minha ausência, tudo isso é colocar-me em primeiro lugar.
Não queria contar os dias. Mas conto. Assim como espero há 23 dias que o meu corpo se manifeste, há 13 dias que espero uma iniciativa do outro lado. Mas não me parece que a iniciativa vá acontecer tão cedo e é possível, praticamente provável, que o meu corpo se manifeste primeiro.
Sei que, no que diz respeito ao meu corpo, não posso intervir para terminar essa espera. Mas no resto posso. E não o vou fazer. Volto a dizer: não vou mais impôr a minha presença a quem não a quer. Se quisesse, já tinha tido tempo para se manifestar. Não o fez. Não o faz. Não o fará tão cedo… E eu não irei impedir a ausência e o silêncio de quem se manifesta com indiferença.
Começo a ficar zangada quando antes apenas ficava preocupada. Nem fico chateada…fico mesmo zangada.
Não posso, nem quero!, estar zangada. Mas o peso da indiferença deixa-me assim. E, colocando-me a mim em primeiro lugar, tenho todo o direito a estar zangada. Só que não gosto de sentir o que sinto.
Aprender a lidar com a indiferença custa. Mas ensina-me também aquela lição que preciso: primeiro estou eu. E, não havendo reciprocidade, não é possível manter a relação. É uma relação de amizade, ou era, mas não deixa de ser uma relação. E, como tal, tem que haver equilíbrio, reciprocidade. E não está a haver. De tudo o que dei em praticamente cinco anos diariamente, recebo 13 dias de silêncio, ausência e indiferença. E os dias vão continuar a contar…
Aprende! Dás mais do que recebes. Depois dói a constatação da indiferença. Aprende a dar na mesma medida. E aprende que primeiro estás tu! E, se alguém não quer receber o que dás, não dês mais. Pára. Impõe a tua ausência no lugar da tua constante presença. Só assim te valorizas. É dessa valorização que precisas, nunca te esquecendo de ti em primeiro lugar.
Amanhã? Será mais um dia na caminhada da auto-valorização. E será, mais uma vez, uma caminhada dura. Mas necessária.
Repito para mim mesma: quem quiser saber, pergunta. Quem quiser estar, está. Quem não quiser, está bem…