Doem-me as árvores quebradas. Lembram-me que também eu quebro.
Não há tanto tempo assim, quebrei forte. E há pouco lembrei-me de uma rápida conversa nessa altura, quando disse que não estava bem e resumidamente disse porquê. A resposta dela: “oh não! Isso não pode ser!”… Dei por mim a imaginar um novo diálogo actualizado ao dia de hoje e dei por mim em conflito comigo mesma. Porque a resposta imediata seria aquela que todos querem ouvir, “já passou”. Mas a resposta certa seria sempre “não, ainda não passou”. Porque, na verdade, não, não passou. Se acalmou? Sim. Mas agora com o silêncio e a ausência voltou um bocadinho daquilo que senti naquela altura.
Hoje houve uma espécie de “estou aqui”. Sem palavras, apenas uma reacção, apenas para se fazer presente de forma absolutamente ausente. Não me serve para parar a contagem. 15. E, se a contagem dos 24 finalmente terminou porque o meu corpo reagiu, dos 15 parece-me que é para continuar.
Não serei eu a interromper essa contagem. E dou por mim a pensar que, se calhar, o outro lado pensa da mesma maneira. Duvido que pense assim, no entanto. Mas e se pensar? Ficamos os dois a pensar o mesmo…
Mas não, o outro lado não pensa o mesmo. Tem mais coisas em que pensar. E eu sempre soube o meu lugar na lista de prioridades. Por isso, não. Não pensa a mesma coisa. E esse marcar presença de hoje, de forma tão distante, sem dizer uma palavra, doeu. Porque o que eu queria era um simples olá. Não um gesto de marcar presença mantendo a ausência.
Não, já não espero nada. Nem tenho expectativas de nada. Prefiro assim. Sei que, dali, já não vem nada. Mas lembro-me de todas as conversas, desde o primeiro dia. Do que foi dito, especialmente quando a terça feira aconteceu. Que me foi cobrada a minha mudança, quando não precisava de mudar. E eu voltei a sorrir e voltei aos rituais habituais. Para, agora, ter que aprender a lidar com o silêncio e a ausência. Tanto do outro lado como do meu lado. Mas, do meu lado, para me proteger. Para não me permitir sofrer com uma situação que não me leva a lado nenhum.
Um dia a contagem será interrompida. Não serei eu a interromper essa contagem. Não de iniciativa minha. Só vejo dois motivos para interromper: um postal que, acredito, não vai chegar, e um aniversário a acontecer. Em Outubro. Que é seguido de outro aniversário, aquele que marca o início desta história de praticamente cinco anos. E que, neste momento, parece estar no fim…
Não. Não vou impôr a minha presença. Não vou interromper a contagem. Não vou impedir o silêncio e a ausência. Vou, sim, afastar-me todos os dias mais um bocadinho. Depois? Logo se vê. Sei que me vai custar. Vai doer. Mas também sei que vou sobreviver.
No fundo, sou um bocadinho árvore, mesmo que quebrada. Apesar dos danos, mantenho-me de pé. E acolho o que se aproximar e que queira permanecer. O que não quiser estar presente, não será impedido de se ausentar.
Doa o que doer. Em primeiro lugar estou eu. Árvore quebrada, em silêncio, distante. Mas sempre onde me sabem encontrar. Só não encontra quem não quer. E, quem quer saber, pergunta. Quem não quer…bem, quem não quer saber mantém o silêncio e a ausência. E a indiferença.
Amanhã? Logo se vê. Mas será um dia bom. Porque eu quero que seja. E só isso importa.
