O dia em que ficámos mais pobres… Toda a gente sabe que esta viagem tem um fim. E, aos 92 anos, é uma bonita idade para dizer que está na hora de parar.
Hoje perdemos o avô Zé. Ficámos, todos, mais pobres. Eu perdi um avô. Que me adoptou e deixou que eu o adoptasse também. Mais presente na minha vida do que o meu “avô de verdade”, desde sempre que me lembro da presença do avô Zé.
Sim, hoje ficámos, todos, mais pobres. Obrigada, vô Zé. Não me esqueço daquela passagem de ano em que, à meia noite e pondo um ponto final num ano difícil, me deu a mão e me pôs o braço por cima dos ombros quando, finalmente, consegui chorar. E ali ficámos os dois, sentados no sofá, de mãos dadas tal como verdadeiros avô e neta.
Dia triste, claro que sim. Mas que termina sabendo que foram 92 anos muito bons, dos quais 45 perto de mim.
Amanhã? Será um novo dia. O lugar que agora vagou não será preenchido. Deixa saudades. Mas amanhã será um novo dia. E, só porque sim, será bom. Vou ali dar uns mergulhos e umas braçadas até ao Bugio mesmo sem sair do sofá como fiz tantas vezes com o avô Zé. Daquelas coisas que só nós entendiamos e nos faziam rir cúmplices. Era uma coisa só nossa.
E, só porque tive este avô de adopção na minha vida, já valeu a pena.
