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E ao octogésimo quinto dia do ano de mil novecentos e setenta e sete ela nasceu. Hoje, 46 anos depois, não acredita no número de anos que já conta, mas aceita-os como se ainda tivesse 27.

E, ao octogésimo quinto dia do ano de dois mil e quinze, ele devia ter nascido. Era a data prevista mas que não se concretizou. Não aconteceu. E hoje, 8 anos depois, ela continua com alguma dificuldade em aceitar que, para o ter, ele terá que estar para sempre noutro plano: o plano das memórias do que não aconteceu.

Já raramente falo do filho que não pude ter. Já raramente falo do que ainda me dói a sua ausência. Mas todos os dias me lembro daquela gravidez de 42 dias, daquela gravidez que não pode ser, que não era para ser.

Sim, a data prevista para o parto era o meu aniversário. Na altura, quando soube da data prevista, sorri. Achei alguma piada. Tive a certeza que seria o melhor presente de aniversário. Mas, ao fim de 42 dias, ficou apenas o colo vazio. E, desde esse dia, esta data ganhou outro peso. Aquilo que seria o melhor presente passou a ser o maior ausente. E hoje, 8 anos depois, continuo a sentir (e a saber!) que no meu bolo de aniversário faltam velas. Ainda não foi este ano que lhe juntei as velas que teimam em faltar. Mas um dia terei coragem para o fazer. Se vai ser fácil? Acredito que não. Se vai doer? Não duvido que vai doer muito. Porque não vai lá estar ninguém para apagar essas velas, ninguém que não eu própria.

Sim, o meu filho devia ter nascido no dia do meu aniversário. Mas não, o meu filho não chegou a nascer. E a única imagem que tenho dele, porque o vi, é a imagem que ninguém quer ter. Mas é a única recordação que tenho dele e que me vai acompanhar sempre.

Não, o meu aniversário deste ano não foi um aniversário mau. Foi apenas um dia vazio. Mais um dia igual aos outros. E que eu gostava que tivesse sido diferente. Mas, de uma forma ou de outra, quem gosta de mim fez-se presente. Tiraram alguns segundos para mim. E, não nego, soube bem ter esses registos, mesmo que à distância de uma qualquer rede social.

Faltaram pessoas? Na realidade, acho que só faltou uma pessoa. Mas que eu já esperava que faltasse. Não só esperava como sabia que iria faltar. Porque, quem descarta com facilidade 5 anos de uma suposta amizade, obviamente não se faz presente. Já me tinha faltado em Janeiro. Porque é que não iria faltar hoje? Afinal, “somos o que somos”. Não me esqueço destas palavras…

Sim, são 46 anos. Pelo menos é esse o resultado que dá da diferença de 2023 e 1977. Se os tenho? Claro que sim. Se os sinto? Claro que não. Fiquei ali algures nos 27. Não me sinto de outra forma, mesmo com toda a História que a minha História conta.

E entretanto as férias acabaram e amanhã é dia de regresso ao trabalho. Onde grande parte dos meus colegas têm idade para serem meus filhos. Mas não são. Porque o meu filho devia ter feito hoje 8 anos. Mas não fez. Mas fez de mim a Mãe que me deixaram ser…

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