E, se perguntarem por mim, dir-vos-ei que não estou. Esta que vos fala é outra que não eu.
Há muitos anos que repito isto. 2007? 2008? Por aí. Mas sempre no registo de quem, algures no caminho, involuntariamente se desviou da rota e se perdeu. Como agora…
Eu ia dizer que os últimos meses não foram fáceis. Mas, na verdade, não é fácil há um ano. Um ano… De mal estar físico, mental, emocional. Com surpresas desagradáveis que me apanharam na curva e me arrastaram até aqui.
Um aqui que nem eu sei bem onde é ou o que é. Mas é um aqui. Desconfortável. Inseguro. Solitário. Sou só eu e o que vai dentro da minha cabeça.
E a pergunta que faço é: se eu chorar…alguém vai ouvir? Quem me vai secar as lágrimas? E pegar na minha mão?
Já tive uma resposta para todas essas perguntas. Mas hoje não sei responder. É um processo cada vez mais solitário. Cada vez mais sou eu comigo mesma. E não dá…
A vontade, hoje, é deitar a cabeça na almofada e permitir-me chorar. Mas até nisso me estou a boicotar. Não choro. Devia. Mas, como digo há um ano, não consigo. Sei que não iria resolver nada. Mas iria aliviar. Porque, sim, estou triste. Estou sozinha, mesmo sabendo que não estou. Estou num processo que é só meu. E que não sei que rumo vai tomar.
Ia escrever que não sei se vou conseguir aguentar. Mas, na realidade, aguentar é a única opção que me resta. Não sei como o vou fazer. Só sei que vou. Um pé atrás do outro. Um passo de cada vez. Por muito inútil que me sinta por não estar a fazer nada. Há 8 meses que não faço nada. Não trabalho, não faço outra coisa que não seja dar despesa e trabalho a terceiros, não sou nada.
Não procurei nada disto. Não quis nada disto. Mas isto, seja lá isto o que for, veio ter comigo e encontrou-me. Completamente desprevenida. E sem saber muito bem o que fazer a não ser viver um dia de cada vez. Dias esses que são sempre os mesmos, sempre iguais, sendo eu sempre inútil. E eu não quero nada disto! Porque eu sei que sou muito mais do que isto. Mas, ao mesmo tempo, preciso de me reencontrar. Descobrir quem é, afinal, a outra que não eu. Porque tem que ser ela agora a tomar conta. De quem? Do quê? Não faço ideia…mas tem que ser ela, a outra que não eu. Porque, a eu primária, vai ter que desaparecer aos poucos para renascer das cinzas. Fénix. Sempre Fénix. Desde sempre Fénix…
Consumo-me aos poucos. Vou encontrando a minha cinza por aí. Há partes de mim que já não existem. Outras há que se estão a perder, a destruir. Não posso voltar atrás e reencontrar quem sou. Ou quem era. Já nem sei. Sei que este é o fogo que me consome todos os dias mais um bocadinho.
Das cinzas irá nascer essa tal outra. A que não eu. Ainda não sei quem ela é, quem ela será. Ainda vamos ter que nos conhecer até à última chama, à última cinza. E depois? Depois quem sabe? Eu não sei…
Não sei o que me espera. Não sei o que esperar. Não sei nada. Sei, sim, que me perdi. Fui desviada da rota e acabei por me perder. E cabe-me a mim, só a mim, reencontrar-me…
Vou deitar a cabeça na almofada. Mas não vou conseguir chorar. Como nunca consigo. Preciso de ajuda? Claro que sim. Mas não obrigo ninguém a ficar. Seca-me as lágrimas que não caem quem quiser. Pega-me na mão quem quiser. Ou puder. Ou conseguir. O que for…
Não, esta noite que já se faz muito tardia não está a ser uma boa noite. Não vai ser fácil dormir tranquila. Não vai ser possível descansar quando tudo o que o meu corpo me exige é descanso. Mas a minha cabeça está a mil. Com mil perguntas sem resposta. Com mil afirmações que não consigo refutar. Com mil ecos de vozes que não quero ouvir. Porque o que têm para me dizer não é nada de bom.
Não está a ser uma boa noite. Não vai ser uma boa noite. Não quero estar sozinha, mas é sozinha que me vou deitar na minha cama onde queria ter um colo e um abraço para me acolher e proteger. E não tenho…
Agora, a estas desoras, vou tentar lembrar-me de como é que se faz para acalmar a mente e permitir que o corpo descanse. Amanhã o dia será longo. E, até, cansativo. E eu preciso disso: cansar o corpo para calar as vozes na minha cabeça. Hoje não foi nada disso. Por isso tive demasiado tempo para pensar. Em nada de bom. Por isso é que aqui veio outra. Que não eu. Que não reconheço. Ou que, pelo menos, já não via há muito tempo.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Tudo amanhã. Não hoje. Não agora. Não já. Amanhã…tudo amanhã…não hoje…
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