{trocanterite} 

Em Maio falava da dor. Daquela física que se torna insuportável a cada movimento, a cada passo. Daquela dor, física, que se vai aguentando enquanto a vontade é de parar e chorar até que passe. Na altura lembrava-me do relatório de um raio-X de há três anos, quase tirado a ferros ao médico que me seguia na altura: sacroileíte. Achava eu, pelo seguimento dado na altura pelo médico, que seria uma simples inflamação ali na junção do sacro ilíaco. “Perca peso que isso passa”, disse-me. Aliás, para todo e qualquer problema que lhe apresentava a resposta era sempre a mesma: “perca peso que isso passa”. O mesmo médico que, ao olhar para os resultados das análises à tiróide alterados como sempre, de hipotiroidismo com tiroidite de Hashimoto (tiróide auto-imune), me disse simplesmente “não precisa de medicação nenhuma, isso está alterado, o que é que quer que eu lhe faça se isso é mesmo assim?”, sabendo eu há quase 20 anos que sim, é necessária medicação para compensar uma tiróide que não funciona e que é atacada pelo próprio sistema imunitário.
Escrevia eu em Maio sobre a dor. Presente há anos, ainda antes da primeira queixa a esse médico. Dor constante nas ancas, especialmente na direita, com episódios agudos e prolongados no tempo e de extrema dificuldade em andar, sentar, levantar e até dormir.

Há umas semanas, depois de mais um episódio agudo, voltei ao médico. Já não ao mesmo. Depois de tantos episódios com aquele, preferi fazer parte da estatística dos “sem médico”, tendo aquele sido atribuído como médico de família há relativamente pouco tempo antes do primeiro episódio de consultas que se resumiam sempre no mesmo: “perca peso que isso passa”.
Fui, finalmente, vista por alguém com olhos de ver. Que valorizou as queixas, que me ouviu, que me examinou para despistes, que avaliou o diagnóstico e pediu os exames que devia: raio-X às duas ancas + ecografia às partes moles da anca direita.

Hoje, dia de nova consulta. Outra médica. Apresentei os exames, resumi a história e vi, pela primeira vez, um profissional de saúde a mudar de cor.

Palavras estranhas sublinhadas no relatório e a primeira pergunta: “queres que te envie para ortopedia, não queres?”
A minha resposta foi obviamente que sim, como não? Seja lá o que for que o relatório diga eu quero ver isto tratado. Porque as dores são constantes há demasiado tempo…
“O mais certo é que te enviem logo para cirurgia. Isto já devia ter sido visto há muito tempo! Tu não tens idade para este tipo de lesões! Quem aparece em ortopedia com estas lesões são pessoas de, no mínimo, 70 anos! É raríssimo com a tua idade!”
Fez relatório de consulta e enviou pedido de consulta urgente para Ortopedia de Santa Maria. Garantiu-me que se perdesse peso obviamente que seria uma mais valia, até para a recuperação do pós-operatório. Mas sabe que Hashimoto e perda de peso não são compatíveis.
Agora é esperar uns meses mas “com a tua idade e com este cenário podes ter a certeza que vais ser chamada rapidamente”.

Trocanterite é palavra nova no meu dicionário. Acentuado processo de trocanterite é parte do diagnóstico.

Espessamento significativo das inserções tendinosas no grande trocanter.

Esclerose dos tectos acetabulares.

Esclerose das vertentes articulares sacro-ilíacas.

Diminuição dos espaços articulares.

Ou em português, como me disseram há três anos: “perca peso que isso passa”. Só que não.

Aos 39 anos tenho ancas de alguém com o dobro da minha idade. E, garanto, tenho dores que não desejo a ninguém.

Enquanto espero pela carta de Santa Maria, se houver algum especialista na sala que se queira pronunciar, agradeço. Muito. Nem que seja sobre dicas de como aguentar as dores, ou aliviá-las, até ser finalmente vista por um especialista. Os químicos não resultam, já experimentei.

Já tinha tantos motivos para gostar do outro médico. Hoje junto-lhe mais um… (e sim, tenho muita vontade de apresentar queixa na Ordem, embora provavelmente não resolva nada).

3 thoughts on “{trocanterite} 

  1. Pingback: #day303 out of 365plus1 | Life is Like a Box of Chocolates

    1. Kooka Post author

      Olá, Sandra. Não fui operada nem serei tão cedo por causa da idade. De acordo com o médico ainda sou muito nova.
      Mas com fisioterapia aliviou bastante as dores e melhorou a estabilidade 🙂

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