{#página47} 

Cansada dos dias a preto e branco.

Mas não consigo reter a cor.

Não, o meu sorriso não está cá sempre. Pelo menos não aquele de há 20 anos. Nem de há 10. Ou apenas 3. O de agora, quando aparece, é tão diferente. É cinzento. Pesado. Dorido. Cansado.

Como eu. Cansada. Dorida. Pesada. Cinzenta.

Não consigo reter a cor. Perdi o cor de rosa. Não consigo plantar verde -> violeta -> rosa.

Estou cansada dos dias a preto e branco. Estou cansada disto. Um isto que não é possível de explicar. E é quase impossível de continuar a sentir. Porque não é dor. É algo para além disso cujo nome desconheço. É vazio e mais além. É negro, cinza escuro. É sombra. É frio de queimar por dentro. É estar e não estar. Aqui e ausente, distante. Porque não saio de lá, mais atrás. Sou eu e outra que nunca tinha sido. Não sou eu e outra que não quero ser. É não ter rumo e ter uma bússola. É ver o farol, luz de presença e desviar-me do caminho.

É tudo e não é nada. É sentir. Demasiado, como sempre foi. Tudo ao mesmo tempo. É a capacidade de armazenamento da memória. É a ausência do que nunca esteve realmente. É ser sozinha sem o estar. É estar sozinha sem o ser.

São os dias a preto e branco. Sou eu a não reter a cor.

Sou eu. E a outra que não eu.

Cansada.

Exausta.

Pesada.

Dorida.

Sozinha.

Vazia.

One thought on “{#página47} 

  1. Andreia

    Tu és feita de cor…. eu vejo a cor em ti … rosa e azul na malinha que transportas ctg…rosa na camisola quentinha que veste…laranja na tua garrafa de água…como vês não passas despercebida nem nessa nem nesta vida real =P

    Reply

{comentários}

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.