Eu sei que as vozes ainda se fazem presentes mais do que gostarias. Sei que te esforças para não as ouvires. Mas sei também que já começas a não lhes dar razão. Mesmo que tantas vezes aches que as vozes estão certas. E é por isso que tens medo, eu sei.
Tens medo de perder este momento, este sentir de agora, esta espécie de serenidade em que te encontras. Que conquistaste a muito custo. Tens medo de voltar àquele lugar escuro e frio, àquele carrossel comboio fantasma montanha russa que não precisa de moedas. Tens medo que este momento seja só mais um daqueles troços antes da vertigem, do abismo, da descida rápida no vazio. Tens medo de sentir tudo aquilo de novo. Os riscos na pele, o conforto do confronto com as paredes.
Faz parte. Esse medo faz parte. É normal que tenhas medo. É o lado emocional a falar. É a emoção. É o irracional.
Mas também tens a razão ao teu lado. A parte racional que te diz que tudo isto é normal. Mesmo que estranhes toda este espécie de serenidade do momento. Mesmo que acredites que a serenidade precede sempre a tempestade. É a experiência que to diz. Mas a razão diz-te o contrário. A razão diz-te que coisas menos boas irão sempre acontecer e tu não tens como controlá-las. Mas mesmo depois dessas coisas menos boas acontecerem a serenidade acaba por regressar. A muito custo muitas das vezes. É verdade. E não é justo. Porque é que a tempestade é sempre mais fácil? Talvez por não a poderes controlar. Mas a serenidade podes conquistar. Reconquistar. Regressar a ela. Por muito duro que seja o caminho, sabes hoje que sim, é possível regressar à serenidade.
És mais de emoção do que de razão. E é por isso que tropeças tantas vezes e cais outras tantas. Porque sentes. Tudo. O bom e o mau. Intensamente e à flor da pele. É assim que és e ninguém te pede que mudes. Ou não devia pedir… Porque essa, a das emoções à flor da pele que sente tudo intensamente, és tu. Por inteiro. Com tempestades. Com serenidade. Com carrossel comboio fantasma montanha russa que não precisa de moedas. Com vozes que gritam aos teus ouvidos e que hoje fazes por não as ouvir.
É uma sensação estranha essa que sentes agora, essa espécie de serenidade. Não é? Eu sei. Mas também mereces senti-la. Mesmo que tenhas medo de a perder de um momento para o outro.
Lembra-te: por muito que haja uma parte que te falte, não estás sozinha. Nunca te esqueças disso. E sempre que a emoção precisar do equilíbrio da razão sabes onde procurá-la. Tudo, seja o que for, é sempre mais fácil quando percebemos, sabemos e aceitamos que não estamos sozinhos. E tu não estás.
Ainda que as vozes, em surdina, teimem em repetir que sim. E que é sozinha que mereces estar. Por tudo.