Daily Archives: 19/03/2017

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É possível sentir saudades do que não se teve? Sim, é.

Há dias em que as saudades são mais brandas. Outros há em que doem demasiado. Há, também, aqueles dias em que as saudades nos levam pelo caminho do imaginário. Imaginar como seria, como teria sido, o que acabou por não ser.

Tenho saudades do meu filho. Aquele que não chegou a nascer e que faria por estes dias 2 anos.

E hoje, especialmente hoje, tenho saudades da barriga que não cheguei a ter. Que não chegou a crescer. Mas que sinto, na memória que não é real, enorme, redonda. Tenho saudades de acariciar a minha barriga, de sentir os movimentos do meu bebé, de lhe falar. Tenho saudades do peso da minha barriga. Tenho saudades de não conseguir ver os pés. Tenho saudades de a encostar, sem querer, a tudo com que me cruzava por não conseguir ter olho para as distâncias e porque todos os dias a minha barriga estava diferente.

Tenho saudades de me sentir pesada. Tenho saudades de apoiar e cruzar as mãos junto ao peito ali onde começava a curva da barriga. Tenho saudades, tantas, de lhe tocar… Simplesmente tocar na minha barriga, como um tesouro, como um bem precioso.

Tenho saudades disso tudo. Mesmo não tendo passado por nenhuma dessas experiências. Porque 42 dias não foram tempo suficiente para que a barriga crescesse. Para que o corpo mudasse. Para que olhasse ao espelho e me visse diferente.

Tenho saudades da minha barriga. Aquela que não cresceu. Aquela que não chegou a pesar. Aquela que não guardou os movimentos do meu bebé. Aquela que não se encostou a nada porque não foi preciso medir as distâncias. Tenho tantas saudades dela. E, no entanto, nunca cheguei a tê-la.

Feliz dia do Pai. Até mesmo para quem não o quis ser. O dia da Mãe ainda está longe. Mas não vai ser melhor que o dia de hoje.

Amo-te muito. Mesmo que só te tenha tido por 42 dias. Em mim. Mesmo que, agora, sejas unicamente meu, para sempre. Fazes-me falta. Muita. O teu sorriso que nunca vi. O teu riso que nunca ouvi. A tua mão pequenina que nunca senti. O teu sono que nunca dormi.

Amo-te muito. Mais um dia sem ti, mais um dia que vives em mim.