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Memórias à flor da pele que queimam. Não as alimento, são elas que me consomem. Que me queimam a pele. Queimam a pele ao ponto de me recordar que os riscos na pele acalmam a dor. 

Não alimento o que me consome. Faço por conseguir sobreviver a tudo isto. Faço por conseguir respirar. Choro e tento deixar sair. Tenho que deixar sair. Tem que sair. Antes que me consuma por completo. Antes que regressem os riscos na pele. Antes que……… 

“Respira fundo. Com calma. Outra vez.”, diz-me ele, ao meu lado. Onde tem estado desde aquele primeiro dia de Agosto do ano passado. “Respira. Tens que regressar agora.” Tenho que regressar de uma viagem violenta e inesperada. Inesperada pela intensidade. Pela vontade de gritar. Porquê eu? Porquê comigo? Pela vontade de bater com os punhos fechados no chão. Pela vontade de me esvaziar da raiva que ainda sinto. 

“Regressa… Vá. Respira fundo. Respira com calma.”, ao mesmo tempo que me agarra, que me abraça com força e me diz que está ali comigo. “Olha para mim. Olha para mim… Eu estou aqui. Respira fundo. Olha para mim.”, vai repetindo com calma e com todo o tempo do Mundo para que eu regresse, para que aterre de mais uma viagem de terror. 

Trabalhar a memória. Aprender a lidar com ela. Aprender a aceitar a parte dorida da memória. Não me resta mais nada que não aceitar. 

Hei-de acabar por aprender. Hei-de acabar por aceitar. Até lá, hei-de regressar a estas viagens violentas a frio. Sem anestesia. Sem atenuantes. Mas com a certeza que me é repetida constantemente de que ele, que apenas faz o seu trabalho, vai lá estar para não me deixar cair. 

Porque a alternativa não pode ser opção. 

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