Parar. Não é possível. Não é possível porque é mesmo assim. Como eu, também sou mesmo assim. Gostava de ser menos assim, agora que olho para trás.
E é a olhar para trás que questiono. Questiono tudo. Tudo o que senti até hoje. Tudo sempre sentido intensamente. “Tu sentes demasiado”, já o ouvi. Será? Será que sinto realmente? Muito ou pouco, não interessa. Será que sinto sequer ou é o meu cérebro, aquele que tem cicatrizes, que me faz acreditar que sinto realmente alguma coisa?
Questiono se, quando me doeu muito, me doeu realmente assim tanto ou se foi o meu cérebro que não soube processar e dosear? E questiono, também, se alguma vez amei. Ou se foi o meu cérebro que me iludiu ao não saber dosear o que absorvia e me fez acreditar que tinha borboletas na barriga e que era amor o que sentia.
Questiono. Hoje questiono tudo. Depois do diagnóstico questiono tudo, se tudo o que senti e vivi não foi apenas uma ilusão, uma distorção de um cérebro profundamente marcado por demasiadas experiências dolorosas. Questiono tudo aquilo que sempre achei que senti e que sempre soube ser de forma diferente dos outros.
E se não passou tudo de uma distorção…? A distorção já faz parte de mim. Porque não também distorcer o que sempre senti…?
Queria poder parar. Para perceber tudo isto que entendo mas não me entendo. E não quero ser só o resultado de traumas, más experiências. Mas não é possível parar porque é mesmo assim. Como eu, que também sou mesmo assim.
Então tento ficar quieta e sossegada no meu canto, tento assimilar, encaixar e digerir e convencer-me que sou mais que um diagnóstico.
Mas não sou. Sou Borderline. E por ser Borderline tudo o que vivi não passou de uma forma desajustada de sentir…… Desajustada e distorcida e, portanto, irreal, falsa.
Não é possível parar. Por isso fico quieta o pouco tempo que posso. E tento não me derrotar quando a única vontade é chorar. Sem saber muito bem porque motivo.