Monthly Archives: June 2020

{#182.185.2020}

6 meses do ano mais estranho de sempre. 3 e meio dos quais em casa.

Estou tão farta disto… E os alarmes começam a tocar.

Não sei como vão ser os próximos tempos, sei apenas que não vão ser fáceis. E isso assusta-me porque não quero dar nenhum passo atrás.

De resto, está-me a faltar tanta coisa. Como aqueles pequenos nada que tantas vezes me aconchegam. Agora nem esses pequenos nadas aparecem. Agora que tanto preciso deles. Como preciso, tanto, de tanta coisa para me manter à tona.

Recuso voltar a descarrilar. Mesmo sabendo que o Verão, especialmente o mês de Julho, é a altura certa para o fazer. Recuso voltar a afundar-me. Mas sozinha não sei até que ponto vou conseguir aguentar. Sei que não estou completamente sozinha. Mas sinto-me hoje tão sozinha como estava há 6 anos, embora nessa altura achasse que não estava.

E como assim, já 6 anos?

Não sei até quando vou aguentar sem quebrar. E já não sei pedir ajuda. Sei apenas que vou precisar.

Ninguém larga a mão de ninguém, pedi eu há 3 meses e meio. Mas é largada que me sinto.

{#181.186.2020}

Há dias em que a vontade é de baixar os braços e quase voltar a olhar para o chão. Recuso-me, no entanto, a voltar a olhar para o chão, mesmo que baixe os braços por momentos.

Hoje é um desses dias.

Já sabia que estes novos tempos não iam ser fáceis. Os mais fáceis foram os primeiros dias de confinamento, em que o factor novidade ainda prevalecia. Mas agora o distanciamento já pesa. E se a isso juntar a minha memória de calendário, Julho que se aproxima a passos largos promete vir a ser duro.

Já o disse antes, várias vezes, mas repito: estou cansada. E sinto-me demasiado sozinha. Não o estou, mas sinto-me assim. Sozinha. Sem ver ninguém que não os vizinhos habituais. Fazem-me falta os outros, mais ou menos assíduos, mais ou menos presentes, mais ou menos próximos.

Preciso de encontrar fórmulas para superar mais este desafio. Não está a ser fácil. Mas vou ter que o superar.

Por enquanto tento dar a volta de todas as formas que me lembro. Mesmo que a vontade seja a de baixar os braços e desistir.

Não me vou permitir descarrilar. Mas pouco falta. Por vezes apetece chorar baixinho e em silêncio, mesmo sem ter motivos para chorar. Mas a vontade aparece de vez em quando.

Não posso. Não posso deixar de acreditar que vai correr tudo bem. Porque tem que correr bem.

Agora é esperar que a vontade de baixar os braços e olhar para o chão desapareça e que a vontade de deixar cair uma lágrima não se instale.

Já sobrevivi a desafios mais difíceis. Vou ter que sobreviver a este também.

{#180.187.2020}

Mais um domingo e os alarmes começam a tocar.

Devagarinho consigo passar isto. E a memória de calendário a querer começar a gritar.

Não vai ser fácil calar a memória, mas vai ser possível.

Vai ter que ser possível.

{#179.188.2020}

Levar tudo um dia de cada vez. Sem pressas nem expectativas.

Não é fácil manter o ânimo quando os dias são sempre iguais há já tanto tempo. Agora nem os fins de semana são muito diferentes dos dias de trabalho porque são passados no mesmo sítio. Por isso mesmo é preciso sair, dar uma volta maior ao fim de semana. Ir ver o mar mesmo sem pôr os pés na areia. Sair um bocadinho para tentar fazer diferente.

Não está a ser fácil. Sinto falta de ver gente, mas gente que selecciono à partida. Porque sempre que saio de casa vejo gente, mas não é a gente anónima que quero ver. Quem quero ver são as minhas pessoas, as que me são alguma coisa mais do que apenas vizinhos. E é essa ausência que me está a custar e a começar a pesar.

Mas levo um dia de cada vez. Um dia atrás do outro atrás do um. Como tem que ser. Sem pressa nem expectativas. Não adianta esperar nada porque não vai acontecer. É um discurso um bocadinho negativo? É. Mas é real. Gostava que não fosse assim, mas os tempos são estranhos neste momento. E até deixarem de o ser ainda vai demorar. Por isso tenho que me habituar a todas estas ausências.

Um dia de cada vez.

{#178.189.2020}

Um bocadinho farta disto tudo. Mas a ter que aguentar. Não Não há muito mais a fazer, apenas aguentar e acreditar que um dia vai ser melhor.

Até lá aturo gente parva e as consequências dos seus actos surreais.

Mas o que eu gostava mesmo era de ter mais com que me preocupar. Mas não tenho. Porque a vida em tempo de pandemia consegue ser chata. Consegue ser, acima de tudo, muito desmotivante. Tal como está a ser.

Tenho saudades de poder ser livre o suficiente para me encontrar com outras pessoas, sem receios de trazer para casa algo indesejável. Tenho saudades de poder dizer que não a um encontro simplesmente porque não me apetece e não porque neste momento é difícil confiar em seja quem for ou o que for.

Tenho saudades de apanhar o autocarro sem medo de tocar nos apoios ou nos bancos e poder ir até outro sítio.

Estou há 3 meses e meio no mesmo sítio, quase sem sair do meu bairro. Nunca me senti tão presa…

Estou cansada. E tenho saudades de estar com algumas pessoas. Mas não me posso esquecer que, para além de estar cansada, também tenho medo. E às vezes ter medo é importante. Como agora.

{#177.190.2020}

Estes novos tempos são assustadores. E sim, eu tenho medo. Porque não é possível controlar tudo e o que não posso controlar deixa-me sempre ansiosa. Mas, neste caso, deixa-me assustada acima de tudo.

Não sei se vai correr tudo bem. Não sei mesmo. Quero acreditar que sim, mas não depende exclusivamente de mim. Há demasiados factores externos. E é desses factores externos que tenho medo.

A irresponsabilidade de uns pode ser o problema de outros. E eu não posso fazer nada.

{#176.191.2020}

Mais um dia. Sem História nem histórias. Menos um dia.

O tempo passa. O tempo perde-se. E eu não tenho tempo para perder Tempo. No entanto, nos últimos meses dou-o sempre como perdido. Porque nada acontece nem posso fazer muito para que algo aconteça.

Já o disse antes: faz-me falta a interacção com o outro. Fazem-me falta várias pessoas.

E faz-me falta poder fazer alguma coisa para que algo aconteça.

Não está a ser fácil este período de pandemia. Que vai durar sabe-se lá até quando. E é isso que me assusta e preocupa, a imprevisibilidade do fim do distanciamento.

Já o tinha dito antes: a parte mais fácil foram os primeiros dias. Agora que o confinamento terminou não está a ser mais fácil. Muito pelo contrário. Está mais difícil do que no início aguentar o peso da solidão.

Mais um dia. Sem História nem histórias. Menos um dia. E continuo em busca de uma luz de presença que me acompanhe.

{#174.193.2020}

Apetece-me conversar… Se há uns anos, neste mesmo dia, dizia de uma forma quase apática que não me apetecia escrever ou quase comunicar, hoje apetece-me conversar. Não me apetece escrever, não é por aí que tenho vontade de comunicar. Conversar. Cara a cara. Frente a frente. Sem pressa e sem horário, conversa sem rumo pré-definido. Deixar fluir e deixar-me levar pelas palavras.

Falta-me a interacção. Falta-me a conversa presencial. Falta-me a presença do outro. Seja o outro quem for, desde que queira o mesmo que eu: conversar.

Estou cansada do distanciamento… E ainda agora vamos no início, mesmo ao fim de mais de três meses.

Manter a sanidade mental tem sido um desafio. Especialmente desde que entrei em modo “memória de calendário” há uns dias. Por precisar de algum sossego à minha volta e não o ter. Por precisar de lamber as feridas e não estar a conseguir.

Apetece-me o que preciso: conversar. De viva voz.

Não está a acontecer. Nem vai.

{#173.194.2020}

Recolhida. A precisar de sossego. Sem o ter.

Não vai ser fácil. Mas vai ser possível. Vai ter que ser possível.

{#172.195.2020}

É altura de algum recolhimento e tempo de lamber as feridas. Já não estão tão abertas como antes, mas ainda existem. E o calendário insiste em trazer-me todas as memórias. E essas sim, estão sempre bem presentes.

Recolho-me o melhor que consigo, quando tudo o que preciso, para além de lamber as feridas, é de presenças de quem sinto falta. Não sendo possível as presenças, recolho-me. Quando só me apetece dizer bem alto “Estou aqui”.

Sobrevivi aos últimos 6 anos. Como assim, já 6 anos? A dor já não é tão forte, mas ainda dói. As feridas já não sangram, mas ainda existem. E as próximas 6 semanas vão ser de teste. Um teste para perceber o grau de cicatrização do que cheguei a acreditar que não tinha cura.

Mas se sobrevivi aos últimos 6 anos, também hei-de sobreviver às próximas 6 semanas.

Volto ao mantra de antes: um dia atrás do outro atrás do um.

Com calma. Sem pressa. Mas sem tempo para perder Tempo.

{#171.196.2020}

Cansada da agitação dos últimos dias. Gosto muito de ter os Meus Dois por perto, mas há alturas em que me cansam. Como esta semana…

É demasiada confusão para a minha cabeça que, de novo, me pede sossego. Porque há memória de calendário novamente a funcionar. E hoje faz 6 anos que muita coisa, para não dizer logo tudo, começou a mudar. Em mim.

Vai ser um longo caminho até ao fim do ciclo das memórias de calendário, agora que estou fechada em casa porque o trabalho se faz à distância. Vão ser umas longas 6 semanas… E não preciso de as contar para me lembrar de tudo. Cada pormenor. Cada momento. Cada dúvida. Cada certeza.

Muita confusão à minha volta não vai ajudar. E não tenho como fugir.

{#170.197.2020}

À procura de um bocadinho mais de cor de rosa. Faz-me falta para melhorar os dias.

Os próximos meses vão ser longos, sem a interacção que me faz falta. Que durante anos não valorizei, mas que aprendi a reconhecer como sendo importante.

Já passaram 3 meses. Vêem aí mais 6.

Procura-se o cor de rosa. Isso e muito mais que não vai poder ser.

{#169.198.2020}

Parar um bocadinho todos os dias. Para pensar ou simplesmente não fazer nada. Preciso sempre de momentos para mim.

E é nesses momentos que percebo quem me faz falta, quem gostaria de ter ao meu lado nesse tempo.

És tu, claro.

{#168.199.2020}

Dias sem histórias e sem História. Também são importantes para reconhecer a importância dos dias que têm coisas para contar.

Mas cansam. Valem os pequenos nadas, pequenos apontamentos de cor em dias vazios.

Ou como um simples “bom dia” pode fazer a diferença.

{#167.200.2020}

Ter a oportunidade de olhar para cima e respirar.

Tudo se vai arranjar, de uma maneira ou de outra.

Tudo vai correr bem.

Respiro e isso é o mais importante. Junho, aquele mês em que tudo começou, está a ser tranquilo apesar de tudo. O ar entra e sai livremente, sem ansiedade nem traumas.

Olho para cima e acredito que não é a olhar para o chão que se avança, apesar de ser necessário saber por onde se avança.

Não importa a que velocidade avanço. Importa apenas que avanço.

Para além de olhar para cima, também olho para trás. Tantas vezes. Não para ver o que ficou lá atrás, mas para me recordar da distância já percorrida.

É importante parar para olhar cima. Mas também é importante saber olhar para trás. E eu olho. Sem receios. Pelo menos agora não tenho receio de olhar para trás.

Foi duro. Mas consegui chegar aqui.

Agora é continuar.

{#166.201.2020}

Aproveitar o sossego. Não fazer nada. Domingo a saber a domingo.

E tanta coisa a passar-me pela cabeça. Mas daquelas que não me inquietam, apenas passam e não ficam muito tempo.

Já lá vai o tempo da inquietude. Daquela inquietação que trouxe comigo tanto tempo que me fazia ter pipocas na cabeça.

Hoje trago apenas borboletas na barriga. Ainda cá andam, as borboletas. Todos os dias as sinto, embora estejam mais presentes menos tempo do que gostaria. Sentem-se mais com os pequenos nadas. Como ontem.

Agora é preparar-me para mais uma semana. Que se prevê agitada e com pouco ou nenhum sossego.

Aproveitem-se os últimos momentos de um domingo que está no fim. Amanhã vai ser melhor.

{#165.202.2020}

Há dias em que me apetece, muito, perder tempo. Que nunca é realmente perdido por ser tempo gasto em momentos de partilha. Como hoje. Hoje apetece-me, muito, a conversa sem rumo nem obrigação de nada. Apenas a conversa pela conversa. Pela partilha de ideias e momentos. Há quanto tempo não tenho um momento desses?

Nunca é tempo perdido, é tempo investido. Porque dessas conversas sem rumo nem obrigação muitas vezes saem novas ideias ou até mesmo formas diferentes de ver as coisas.

E hoje apetecia-me muito uma dessas conversas sem rumo nem obrigações. Numa qualquer esplanada. Sair. Ver gente. Estar com pessoas que me são algo.

Simplesmente viver um bocadinho.

Estou cansada de não o fazer…

{#164.203.2020}

Às vezes sinto novamente a vertigem da queda. Ainda me é fácil voltar a cair? Não sei, mas não quero tentar saber. Por isso olho para cima. E, percebo, é a olhar para cima que relembro que até o menos bom acaba por passar.

{#163.204.2020}

Mais um dia despido de gente. Uma quinta feira com sabor a domingo. Sem história. Sem registo de nada.

Mais um dia igual aos outros, portanto.

É preciso mudar isto. O distanciamento não pode levar a um maior isolamento. Mas o isolamento é-me demasiado natural. É-me até mesmo normal.

Não pode continuar a ser.