2192 dias depois de 42. 6 anos. Deixei de contar os dias há muito tempo, mas não deixei de contar o Tempo. E Tempo é a única coisa que tenho, de mãos dadas com as memórias que ficaram entranhadas na pele.
Não há dia que não me lembre de tudo. Desde o primeiro dia até ao último, naquele fim de Julho de há 6 anos. O calor daquele dia, sufocante apesar do dia cinzento, entrou-me na pele e ficou.
Há 6 anos deixei oficialmente de estar grávida, depois de 11 dias a já saber que não era para ser. Que não podia ser.
6 anos depois já não choro. 6 anos depois relembro tudo. Todos os passos que dei naquele dia. Todos os gestos. Todas as palavras, que foram poucas.
E foi nesse dia de há 6 anos que tudo mudou, e não foi para melhor. Conheci em mim alguém que me era estranha, que não conhecia, que não me sabia capaz. Mas consegui, com muita ajuda e muito trabalho, chegar a um lugar seguro depois de ter perdido o pé tantas vezes.
Cheguei a acreditar que não iria sobreviver a tanto. Cheguei a desejar que a dor parasse, custasse o que custasse. Nem que tivesse que ser eu a pará-la. Cheguei muito perto do fim da linha. Mas tive a sorte de ter ajuda. A ajuda certa, no momento certo. E que se mantém até hoje.
E é graças a essa ajuda que hoje consigo olhar para trás com alguma serenidade. Não consigo dizer que estou tranquila porque não me sinto tranquila, mas talvez me sinta serena.
6 anos depois relembro. Apenas isso. E a forma como sinto este dia 6 anos depois incomoda-me e não sei explicar porquê.
2192 dias, 6 anos. Tanto que mudou. Se eu mudei não sei. Sei apenas que me prometeram que não iria mudar nada. E até nisso me falharam.
Não interessa. 6 anos ou 2192 dias depois e ainda cá estou. E continuarei a estar porque aprendi a não desistir. De mim. Unicamente de mim.