Monthly Archives: July 2020

{#213.154.2020}

2192 dias depois de 42. 6 anos. Deixei de contar os dias há muito tempo, mas não deixei de contar o Tempo. E Tempo é a única coisa que tenho, de mãos dadas com as memórias que ficaram entranhadas na pele.

Não há dia que não me lembre de tudo. Desde o primeiro dia até ao último, naquele fim de Julho de há 6 anos. O calor daquele dia, sufocante apesar do dia cinzento, entrou-me na pele e ficou.

Há 6 anos deixei oficialmente de estar grávida, depois de 11 dias a já saber que não era para ser. Que não podia ser.

6 anos depois já não choro. 6 anos depois relembro tudo. Todos os passos que dei naquele dia. Todos os gestos. Todas as palavras, que foram poucas.

E foi nesse dia de há 6 anos que tudo mudou, e não foi para melhor. Conheci em mim alguém que me era estranha, que não conhecia, que não me sabia capaz. Mas consegui, com muita ajuda e muito trabalho, chegar a um lugar seguro depois de ter perdido o pé tantas vezes.

Cheguei a acreditar que não iria sobreviver a tanto. Cheguei a desejar que a dor parasse, custasse o que custasse. Nem que tivesse que ser eu a pará-la. Cheguei muito perto do fim da linha. Mas tive a sorte de ter ajuda. A ajuda certa, no momento certo. E que se mantém até hoje.

E é graças a essa ajuda que hoje consigo olhar para trás com alguma serenidade. Não consigo dizer que estou tranquila porque não me sinto tranquila, mas talvez me sinta serena.

6 anos depois relembro. Apenas isso. E a forma como sinto este dia 6 anos depois incomoda-me e não sei explicar porquê.

2192 dias, 6 anos. Tanto que mudou. Se eu mudei não sei. Sei apenas que me prometeram que não iria mudar nada. E até nisso me falharam.

Não interessa. 6 anos ou 2192 dias depois e ainda cá estou. E continuarei a estar porque aprendi a não desistir. De mim. Unicamente de mim.

{#212.155.2020}

Demasiada confusão à minha volta é demasiada confusão para a minha cabeça. Não consigo lidar com ela, embora as circunstâncias assim mo exijam.

Aproveito o resto das férias para mergulhar num trabalho que realmente gosto. Talvez assim consiga desligar do que me rodeia e me incomoda, já que não posso afastar-me.

É frustrante, não saber lidar com isto que me rodeia tão de perto. E deixa-me a pensar em “E se há 6 anos as coisas tivessem corrido de outra forma?”. O mais certo seria ouvir-me várias vezes a dizer “eu não sei lidar com isto”…

Hoje não tem sido dos melhores dias. E o que me rodeia neste momento não está a ajudar. Por isso vou, esta noite, mergulhar em trabalho que me faz bem.

Amanhã, dia do qual tenho tendência a fugir, será melhor. Ou pelo menos assim o espero.

{#211.156.2020}

Olhar para cima e vê-la lá, a minha Lua. E lembrar-me que mesmo naquele Julho difícil de há 6 anos ela esteve sempre lá quando mais precisei. Estava lá há 6 anos como está hoje. E já que não consigo vê-la à noite, é ao final da tarde que a encontro.

O mesmo acontece comigo. Já não me procuro à noite, já não passo as noites em branco. Encontro-me todos os dias ao final da tarde. É nessa altura que me sinto mais próxima de mim. Seja agora de férias ou em dias de trabalho.

Por vezes custa-me encontrar-me, mas a Lua, a minha Lua, sei sempre que basta olhar para cima. E eu estou cansada de olhar para baixo…

{#210.157.2020}

Há dias em que não fazer nada faz sentido. Não hoje. Hoje apetecia-me fazer alguma coisa digna de nota. Mas não fiz. E a minha cabeça ressente-se de não ter feito nada.

Tenho que aproveitar melhor os dias de férias que ainda me restam. Fazer mais praia com mais tempo, embora o vento seja um obstáculo. Fazer diferente. Acalmar os alarmes que ameaçam disparar com o fim de Julho a chegar.

É preciso mudar. E aproveitar o tempo enquanto ainda posso.

Mas sinto-me, outra vez, demasiado sozinha e não gosto. Ninguém larga a mão de ninguém? Não sei. Se calhar é Julho a falar e eu a dar-lhe ouvidos. Mas estou, de facto, sozinha.

Agosto também é memória de calendário. E este ano não vai ser fácil lidar com Agosto. Mas vai ter que acontecer.

Até lá, é importante fazer diferente. Fazer melhor. Fazer acontecer.

{#209.158.2020}

Mais um dia azul com demasiada agitação à minha volta. Mais do que gostaria.

Falta muito para Julho terminar? Estou cansada do calendário…

{#208.159.2020}

Há dias que se perdem. Normalmente são os domingos. Como hoje.

Mas também esses dias são precisos para relativizar tudo o resto.

{#207.160.2020}

Há várias maneiras de ocupar a cabeça. Uma delas é ocupar as mãos. E é o que tenho feito nestas férias. Se podia ir mais vezes à praia? Podia. Mas também posso lá ir sem estar de férias. Assim aproveito para fazer o que realmente gosto, mergulho nos tecidos novamente e recordo como é bom poder criar algo.

Julho vai correndo tranquilo, apesar das memórias de calendário. Estou serena, apesar de tudo.

Amanhã será melhor. Embora hoje não tenha sido mau, amanhã será melhor…

{#206.161.2020}

Dia sem história, mas com vontade de voltar a fazer coisas…

{#205.162.2020}

Já tinha saudades do feedback ao meu trabalho. Trabalho que deixei de fazer, é certo, mas que me dá sempre muito gozo quando acontece. Como ontem. E receber hoje feedback tão positivo fez-me ganhar o dia.

Há formas tão simples de me deixarem com um sorriso. E parte desse feedback conseguiu dar-me esse sorriso que tenho tido mais contido.

Pequenos nadas, mais uma vez. Mas que me fazem sorrir sempre.

Devia continuar a visitar a máquina de costura mais vezes. Não apenas pelo feedback mas também porque me sabe e faz bem.

{#204.163.2020}

Não sair de casa o dia todo nem sempre é bom, nem sempre faz bem. Especialmente quando se está de férias. É um dia perdido. E eu não gosto de perder dias.

Para minimizar o estrago, faço render o meu tempo da melhor forma. A retomar velhos hábitos usando velhas ferramentas.

Hoje foi dia de voltar às costuras para fazer algo que há já algum tempo queria fazer. Troquei o calor da praia pelo calor na varanda enquanto cosia.

Mas nem durante esse tempo me esqueci que há silêncios que me doem.

Dou espaço aos silêncios, todos eles. Têm razão de existir e a mim resta-me aceitá-los e respeitá-los. Gostava que não existissem, é verdade. Mas não me posso esquecer que o silêncio também é uma resposta. Poderosa. E é essa resposta que me custa a aceitar. Mas aceito porque já conheço as regras do jogo, aquele jogo que perdi logo à partida.

Talvez um dia deixe de jogar. A derrota já aconteceu, não sei porque insisto em querer jogar.

Talvez um dia me distancie de vez. Por agora vou dando espaço, mesmo que a ausência não seja notada, não faça diferença.

Tudo isto custa. E por isso tento ocupar-me de forma a conseguir ocupar a cabeça, já ela preenchida com memórias e o calendário sempre numa presença que grita.

Estamos em Julho. Já não era fácil lidar com Julho. Agora tenho que lidar também com os silêncios que me doem.

Amanhã vai ser melhor. Vou obrigar-me a sair de casa. Vou até à praia. Vou jogar o corpo no mar. Sentir o sal e o Sol na pele. Vou tentar ocupar a cabeça de outra maneira. Porque o que fiz hoje na máquina de costura ficou concluído. Só me resta procurar novas formas de me ocupar e não desperdiçar os dias de férias que ainda tenho.

Amanhã vai ser melhor. Vai ter que ser melhor.

{#202.165.2020}

4 meses depois, sair do bairro. Ir até Lisboa. Enfrentar os transportes públicos. Ver gente! Estar com amigos! Ter interacção! Só pecou por ser tão pouco tempo.

Mas soube tão bem!

Daqui a 2 meses repete-se a viagem a Lisboa. Repete-se a ansiedade dos transportes públicos. É, se possível, repetem-se os amigos. E já sei que vai ser bom.

Por hoje deu para esquecer um pouco o que o calendário de há 6 anos me grita. Deu para acalmar a força dos flashbacks que me acompanharam o dia todo. Todas as memórias daquele final de tarde em que se confirmou o princípio do fim.

Sim, hoje foi um dia bom. Amanhã também vai ser.

{#201.166.2020}

Procuram-se novas memórias para serenar memórias antigas.

Ter memória de calendário não é fácil. Não ter nada que crie novas memórias é difícil também.

Procuram-se novas memórias. Rapidamente.

{#200.167.2020}

6 anos desde o resultado positivo num teste de gravidez.

Já não choro como chorei naquela noite nem nos anos seguintes. Mas a memória está cá sempre. Do que foi dito naquela noite, do que foi prometido e não cumprido, de tudo o que veio depois deste dia de há 6 anos.

Foi um caminho duro (ainda é…). E a memória de todos os momentos sempre activa, sempre presente, nem sempre ajuda. Mas já não choro, mesmo que o vazio seja tantas vezes insuportável.

6 anos depois, já não tenho os olhos no chão. Mas nem sempre é possível ou fácil olhar para cima.

6 anos depois já não choro. Mas não posso esquecer-me que as lágrimas estão sempre mais perto do que aparento.

6 anos. Como assim, 6 anos, seis?

{#199.168.2020}

Dia longo este. Sem corpo no mar, sem Sol nem sal na pele. Demasiado calor, falhas técnicas e inquietação.

Mas finalmente de férias. Tenho 2 semanas para reencontrar-me com o trabalho. Mas não lhe vou sentir a falta nesse tempo.

Agora vai ser preciso dedicar o tempo que tenho para cuidar de mim. Também preciso. Também mereço.

Vai correr bem. Com praia e distanciamento. Corpo no mar e sal na pele as vezes que forem possíveis. Porque ganhei medo ao mar. Mas não posso permitir que esse medo me impeça de sentir as ondas.

{#198.169.2020}

Mais um dia, menos um dia. Sol e sal na pele, corpo no mar.

Nem sempre os dias são bons, mas também nem sempre são maus.

Há que saber relativizar. Tudo. Especialmente os silêncios ou a pouca comunicação.

As férias estão a chegar. Há que relativizar os dias menos bons. Que também existem. Tal como o calendário que não me larga.

Vai correr tudo bem. Tem que correr tudo bem.

{#197.170.2020}

Disseram-me um dia, no início do confinamento, que íamos aprender muito com isto.

Cada vez tenho mais a certeza que o que vamos (ou não) aprender, tem a ver com o outro, como indivíduo. Desde a importância que tem para nós até à pouca importância que nos merece.

Continuo, no entanto, à espera do que vou aprender. Mas acredito que ainda é cedo.

Sei, ainda assim, que algumas pessoas vincaram o lugar na importância que já tinham para mim. E, como sempre, não podemos dar ninguém (nem nada) por garantido. E também isso tem vindo a ser cada vez mais óbvio.

De resto, conto com os meus apenas. Os outros, os que não me são, estão lá, no lugar deles e alguns cada vez mais distantes.

Já disse aqui que estou cansada disto tudo? Hoje ainda não…

{#196.171.2020}

Hoje não me apetece escrever. Apetece-me, muito, estar sossegada no meu canto. E quieta. Quase inquieta.

Mais um final de dia numa nova rotina, sempre na tentativa de fazer do hoje melhor que o ontem. Mas nem sempre essa tentativa tem o efeito desejado. Não que hoje tenha sido pior que ontem. Apenas foi igual. Mais um dia igual aos outros.

E eu estou cansada……

{#195.172.2020}

Aproveitar as circunstâncias: calor, companhia e distância. E terminar um dia de trabalho a sentir o Sol na pele, o corpo no mar.

Fazer de todos os dias um dia melhor que o anterior.

{#194.173.2020}

Parar um bocadinho para respirar. Sentir o cheiro do mar. O Sol na pele.

Parar um bocadinho. E relativizar os dias mais pesados da última semana. Que não são mais do que um reflexo dos últimos meses. Do distanciamento. Da falta de contacto social.

Absorver o que é bom. Deixar para trás o que foi mau.

Parar um bocadinho. Todos os dias. Para encaixar e continuar a avançar.

Todos os dias digo que amanhã vai ser melhor. Todos os dias é sempre um bocadinho melhor.

Por isso, amanhã vai ser melhor.

E aquele gut feeling de há uns meses voltou. Mas não sei se posso dar-lhe ouvidos. Ou não sei se quero dar-lhe ouvidos. Porque já tanta coisa mudou e não foi o que o instinto me disse há uns meses.

Mas está cá de novo. E eu não quero dar-lhe ouvidos.