Nota de alta.
Não é vergonha nenhuma pedir ajuda. Não é vergonha nenhuma receber ajuda. Às vezes é mesmo necessária. E eu durante algum tempo resisti a aceitar que precisava de ajuda a dois tempos. Já tinha um terapeuta que desde o primeiro dia me dizia que só a ajuda dele não seria suficiente. E foi preciso muito tempo ainda até que eu lhe desse razão e aceitasse pedir a ajuda que me faltava.
Hoje olho para trás e vejo as diferenças. O como estava e o como estou. O que era e o que sou. Foi há 3 anos e quase meio que aceitei que precisava de uma ajuda química para recuperar de uma depressão muito feia.
Foram os químicos que me permitiram voltar a conseguir dormir. Foram os químicos que me permitiram acalmar e apaziguar. Foram os químicos que me permitiram voltar a centrar-me e concentrar-me.
Não foram só os químicos que me trouxeram até aqui. Houve muito trabalho conjunto com o terapeuta que nunca desistiu. Mas é dos químicos que me quero ver livre em breve, agora que finalmente tive alta de uma consulta de especialidade que se resumiu sempre a prescrições desses mesmos químicos. Nada mais que isso, descontando a primeira consulta onde fiz a única coisa que conseguia fazer na altura: chorei. E fiz chorar.
Três anos e meio depois já não choro nem faço chorar. Mantenho os químicos reduzidos até ao desmame que se quer breve. Mas é bom ouvir dizer “vou-lhe dar alta”.
Não é vergonha nenhuma assumir que se precisa de ajuda. Não é vergonha nenhuma pedir ajuda. Não é vergonha nenhuma receber ajuda. Porque nem sempre se consegue lutar sozinha, por muito que se ache que se consegue. Não consegue.
Registo o dia de hoje como um dia bom. Tive alta. E isso é o mais importante. Porque sozinha não teria conseguido. Se queria os químicos? Nunca os quis. Se foram precisos? Só com o tempo consegui perceber que sim.
Tive alta. Mas mantenho o terapeuta que não larga a mão. Desse não quero alta tão cedo. Porque ainda há muito que trabalhar com ele, mesmo que não seja já nada tão urgente como era há 4 anos quando o conheci.
De resto, estou contente com o meu caminho. Que foi duro. Mas que me trouxe a um dia bom. Dia da nota de alta.