Papoilas em Janeiro. Todos os anos me cruzava com elas a caminho do autocarro para ir trabalhar. Este ano, com o trabalho em casa, fui à procura delas. E lá estavam, no mesmo sítio de sempre, como que a lembrar-nos que o Inverno não dura para sempre.
São papoilas fora de época, ou se calhar é época delas e eu não sei. Mas seja o que for, sabe bem cruzar-me com elas.
Um ano. Passou um ano desde que me expus e deitei cá para fora o que há tanto tempo guardava comigo, em mim. Passou um ano, e ao contrário do que estava habituada, não perdi nada. Acho até que ganhei.
Nada mudou. Mas desde o primeiro dia que existe um forte gut feeling que me diz que vai mudar. Mas mudar de forma positiva. Também desde o primeiro dia que digo que vai levar algum tempo. Não sabia, nessa altura, não sabia ninguém, que o Mundo ia parar e que todas as interacções iriam ficar limitadas. E para mudar, é preciso que haja uma interacção mais próxima, ao vivo. Porque a interacção mantém-se. Diariamente. Ou praticamente diariamente, como foi desde o início.
Mas o gut feeling mantém-se, forte e intenso como sempre. Desde há mais do que um ano de exposição. Já existia antes.
E desde sempre que existem também pequenos nadas. Que para algumas pessoas se calhar são apenas isso mesmo, nadas. Mas que para mim são pequenos gestos que aconchegam. E que fazem o meu gut feeling vibrar mais forte.
Enfim…
Há papoilas em Janeiro. Há um gut feeling intenso. Há pequenos nadas.
Há esperança que tudo melhore um dia.
E há a certeza, a garantia, que um ano depois nada mudou. Porque não tinha que mudar. E ainda bem.