Oito anos depois de 42 dias. Colo vazio. Para sempre.
Ainda é um dia que me dói, que me pesa. O tempo, admito, tem ajudado. Não a esquecer porque não se esquece, mas a atenuar a dor e a saudade. Mas o colo, esse, estará para sempre vazio. E é isso que dói. Saber que sim, estive grávida por 42 dias, mas não tenho o meu filho. E sinto muito a falta de dar e receber colo. Aquele colo de mãe que não sou porque não tenho o meu filho.
Oito anos, como se tivessem sido apenas oito dias. Tanta coisa aconteceu, tanta coisa mudou, outra tanta permaneceu igual. Eu? Acho que me perdi pelo caminho e ainda não me reencontrei totalmente. Tento criar novas memórias que também me relembrem quem sou. Não apenas o que sou. Porque o que sou eu sei dizer. Mas quem sou fico sempre na dúvida.
Sei também o que não sou. Não sou mãe. Por muito que algumas pessoas me digam que sim, que o sou, na verdade não sou. Não cheguei a ser. E esse vazio dói ainda. E acredito que nunca deixará de doer.
Quis fazer do dia algo de diferente. Não fiz. E tive o último jantar que queria ter, com as últimas pessoas com quem queria estar. Porque o meu filho devia estar ali, com aquelas crianças da mesma idade. Mas não esteve. Nunca estará.
Os anos vão passando e eu não duvido que, numa história que envolve duas pessoas, eu sou a única que a recorda e revive. A outra metade desta história simplesmente desapareceu. Há alguns anos… E, claro, no entender dele a culpa de ter desaparecido é minha. Porque, e não me esqueço, “tu és instável, sempre foste”. Para alguém que não quer problemas, quer soluções, como apregoa para quem o quiser ouvir, esquece-se de que todas as soluções têm consequências. E, neste caso concreto, as consequências ficaram todas para mim.
“Eu vou estar sempre aqui” ou “o tempo que precisares” foram promessas que duraram pouco. Porque esse sempre não durou muito e o tempo que eu precisar foi-me negado, porque ao fim de oito anos ainda preciso desse tempo.
Oito anos que podiam ser oito dias. 2922 dias. Como se fosse ontem.
Tenho vontade de chorar. Mas não consigo. Sinto apenas. E preciso do meu espaço e do meu tempo para sentir… Apenas isso.
Sei que amanhã será um dia melhor. Hoje foi duro, mas amanhã será melhor. Volto ao trabalho depois das férias, volto a ocupar a cabeça. Sim, será melhor.
Por hoje resta-me sentir a ausência, a tristeza, a dor que ainda me acompanha. Mas sei que, também isto, vai passar. Ou, pelo menos, acalmar. Mas hoje tenho todo o direito de simplesmente sentir…