Não tenho problemas em reconhecer quando falho. Reconheço e assumo os meus erros. E peço desculpa. Não resolve nada, eu sei, mas peço desculpa precisamente por reconhecer que falhei. E farei o meu meu melhor para que não volte a acontecer.
Tenho alguma dificuldade em aceitar quando me atiram as minhas falhas com total falta de razoabilidade. Por muito que o erro tenho sido meu, e tendo prontamente assumido a minha falha, não consigo aceitar argumentos que não são verdadeiros. Não me custa admitir a razão do outro lado. Quando a há. Não havendo, rebato. Quando estou em posição de o fazer. Quando não estou resta-me reconhecer que sim, falhei, e ouvir e calar.
Não me peçam o que não posso dar por não o ter.
Não, o dia não começou bem. Não, tenho poderes sobre-humanos.
O cansaço acumulado das últimas semanas com o culminar do último fim de semana já pesa. Muito. E a falta de razoabilidade abana. E novamente sinto que não pertenço. Ali, aqui, onde for. Não pertenço, não encaixo, não me enquadro.
Novamente e cada vez mais a vontade de me isolar, de me fechar. Talvez tornar-me um autómato em horário laboral. E mesmo fora dele. Dizem que os autómatos não sentem. Também não pertencem, não encaixam, não se enquadram. Mas cumprem a função para a qual foram programados. E não importa que o número de horas de trabalho seja largamente superior ao previsto, quando o sinal do nível de bateria se aproximar de um nível baixo basta ligar uma bateria externa até recarregar novamente. E até lá a função continua a cumprir-se sem quebras. Não sentindo absolutamente nada, nem dores, nem o peso do corpo moído nem a falta de alguém que se quer perto, mais perto e mais presente. Não tendo função na memória para reconhecer cheiros e aliá-los a momentos, a pessoas.
Fechar-me. Isolar-me. Não é viver, sei-o tão bem. Bem demais. Automatizar-me não é solução por não ser possível. Porque não tenho capacidades sobre-humanas, porque sinto. Sinto dores, sinto as palavras que me dirigem, sinto as faltas das ausências, sinto arrepios na pele e borboletas na barriga, sinto sono por aumento da dívida de horas à minha cama, sinto “mais do que devia”, sinto a vertigem causada pelo cheiro na minha roupa que me activa a memória e me leva de imediato para onde queria realmente estar agora.
Não. Hoje não foi um dia bom. Não foi um dia fácil. Mas terminar este dia longo e difícil com a presença daquele cheiro que me leva onde queria estar torna tudo mais simples.