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#day244 out of 365plus1 

Já o tinha dito antes, di-lo-ei as vezes que forem: pedir ajuda não é vergonha nenhuma.

Há um caminho pela frente que terei que percorrer, sem pressas porque estas coisas levam tempo. Será, provavelmente, um longo caminho. Mas tem um objectivo muito bem definido: fazer as pazes. Comigo.

Não é possível percorrer alguns caminhos sozinha, sem apoio. Nem sempre os amigos e a família são o suficiente para estas caminhadas. Porque, por vezes, o tombo é grande. Demasiado grande e só nos apercebemos disso no limite. Ou já depois de ultrapassar esse limite.

A Depressão dói. A Depressão arrasa. A Depressão faz-nos fechar ao Mundo, faz-nos recolher à nossa concha. Faz-nos afastar do trabalho, das coisas que nos dão prazer, das pequeninas coisas que nos fazem bem. E, acima de tudo, a Depressão faz-nos afastar das pessoas. Da família que nos quer bem. Dos amigos que nos dizem “estou aqui”, que se preocupam, que se fazem presentes, que nos estendem a mão para nos puxar para cima.

A Depressão afasta-nos do Mundo. E de nós próprios. Porque a Depressão dói e faz doer e é uma dor que muita gente não entende e, como tal, não aceita.

A Depressão não é unicamente uma questão emocional. É química também. Algumas vezes exclusivamente química. Quando o corpo não funciona correctamente, quando as hormonas estão alteradas, quando os processos neuroquímicos estão comprometidos, a Depressão facilmente se instala.

E para quem tem dificuldade em perceber, dou exemplos:

– hipotiroidismo, quando a tiróide é lenta, preguiçosa ou simplesmente não produz tiroxina, estados depressivos são sintomas comuns, podendo ser controlados com compensação de tiroxina sintética;

– tiroidite de Hashimoto, quando, para além do hipotiroidismo, a tiróide é um ser estranho que o mesmo organismo que a acolhe é o mesmo que a rejeita e ataca. Auto-imune, termo que tantas vezes ouvi ao assistir a House M. D. e que não entendia, hoje faz parte da minha ficha clínica. Não bastava ter uma tiróide que não produz o suficiente, tinha que ter uma tiróide que eu própria rejeito. Como auto-imune que é, Hashimoto não tem cura. Não são ainda conhecidos todos os efeitos no organismo, e são já demasiados, mas os estados depressivos graves fazem parte. E, também aqui, não é necessário um episódio emocional para desenvolver um quadro depressivo major. Basta mais um ligeiro descontrolo da tiróide. Por outro lado, basta haver um episódio emocional para que a tiróide se descontrole para desenvolver um quadro depressivo major. Sim, é uma espécie de pescadinha de rabo na boca. É ser preso por ter cão, preso por não ter. É experimentar um sem número de medicamentos anti-depressivos diferentes para perceber qual deles faz o melhor efeito e nenhum deles ter um efeito melhor do que um copo de água…

– serotonina, o chamado químico da felicidade. Fraca captação de serotonina no cérebro enfraquece as sinapses, as comunicações entre neurónios, e o quadro depressivo instala-se;

– falta de vitamina D, aquela que nos é dada pelo Sol. Sim, dizer que se vai fazer a fotossíntese, ao contrário do que já me têm dito (“as plantas é que fazem a fotossíntese, oh! “),  está correcto. Ao contrário das plantas não temos clorofila nem transformamos dióxido de carbono em oxigénio, mas transformamos a luz do Sol em vitamina D. E a vitamina D é dos melhores anti-depressivos que existem. Ainda por cima é gratuita, livre de impostos e 100% natural. A falta de vitamina D leva a quadros depressivos graves e incapacitantes. Sim, há pessoas que durante os meses de Inverno funcionam mal, ou não funcionam de todo por causa da Depressão. E no início da Primavera é normal vê-las a reagir, a sair da concha, a voltar ao Mundo. Até mesmo aquelas que, pelas costas, são rotuladas de “maluquinhas” porque “lá estão outra vez na fase da maluqueira” e que “há maluquinhos que só trabalham no Verão”. Infelizmente já ouvi demasiadas vezes. Não era comigo. Mas incomodou-me. Assim como me incomodam todos os estigmas e rótulos ligados à Depressão. E não adianta explicar a questão da vitamina D. Que, apesar de ser gratuita, livre de impostos e 100% natural, não tem substituto químico, ao contrário de outras vitaminas. E não adianta dar exemplos da elevada taxa de suicídio nos países nórdicos onde, por motivos óbvios, existe escassez de vitamina D.

A falta de conhecimento, a ignorância e a falta de tolerância são grandes inimigos do doente com quadro depressivo.

A Depressão dói. E nem sempre é exclusiva de quadros emocionais. E,  quando os factores  emocionais e químicos se juntam, a Depressão leva-nos a cenários muito negros. E perigosos.

Reconhecer que se precisa de ajuda não é vergonha nenhuma. Pedir ajuda especializada não é vergonha nenhuma. Existe o estigma, a ignorância, a falta de tolerância. E isso sim, são motivos de vergonha para quem não aceita que alguém esteja a sofrer de algo que não se vê. Mas que definitivamente se SENTE. E sim, dói. Muito. Tantas vezes demasiado.

#day242 out of 365plus1 

Dias cada vez mais curtos. 

Agosto a chegar ao fim e mal dei pela sua passagem… 

Nada a fazer sobre os dias mais curtos, tanto a fazer pelo Tempo que não quero continuar a desperdiçar, sem dar pela sua passagem. Não era quem dizia que “não tenho Tempo para perder Tempo”…? Era……… 

Algo vai ter que mudar. 

#day238 out of 365plus1 

“Avó, porque é que quando estamos na rua tu falas e a tia está sempre calada?” Filipe, três anos e meio. 

………talvez pelo mesmo motivo que os deixo ir e vou ficando para trás… 

#day237 out of 365plus1 

Pedir e aceitar ajuda não é vergonha.

Depressão não é sinónimo de vergonha.

Sobreviver a isto é uma luta que precisa do acompanhamento certo. Infelizmente o estigma ainda existe. Mas não é vergonha nenhuma.

#day236 out of 365plus1 

A cor que vem e vai. A passos. Devagar. 

“Nada precisa de mudar” e afinal tudo mudou mas “o Sol continua a nascer todos os dias, ou não?” mas tudo mudou. 

Um dia talvez a cor volte e se mantenha por mais tempo. Até um novo período a preto, branco e tons de cinzento. O cinzento também é cor, mas é vazia. 

“Tu és instável” define uma parte do que sou. Mas sim, sou. Sei-o. E tento lidar com isso. Agora, mais do que apenas tentar lidar, quero aprender a viver com estes processos de instabilidade, tantos deles químicos que a ciência, melhor que eu, sabe explicar. 

Não retiro a minha parte da responsabilidade da perda de cor, mas vou aprendendo que há processos que não posso controlar se não os conhecer a todos, processos internos, físicos, químicos. Neurotransmissores, dizem-me. E outros tantos. 

A cor talvez volte um dia para permanecer mais tempo. Até lá fico com o desejo que tanto tenho repetido nos últimos dias: “não queria ser assim, queria ser melhor do que isto”. Mas esta, infelizmente, sou eu. Assim. Instável. 

#day232 out of 365plus1 

Aos poucos a cor vai voltando. Ainda que o Verão seja um pouco como eu: instável. 

Instável. Sim, sou. Faz parte de quem sou. Mas não pode, não deve, definir-me no todo. Sou mais que isso. Sou mais do que os últimos dias. Semanas. Sou melhor que tudo isso. Que tudo isto. 

Mas, como sempre, e novamente, um dia atrás do outro atrás do um. Regressar ao meu caminho. A uma estabilidade que sei que não será eterna. Porque sim, sei, sou instável. Não seremos todos, no fundo? Reagimos apenas de modos diferentes. Eu reajo à flor da pele, no bom e no mau. Mas especialmente no mau. 

Não peço cuidados, cautelas nem paninhos quentes. Apenas que me aceitem assim, por inteiro, instável. Fraca que quebra. Forte que se reergue. Mesmo que tenha que bater no fundo para voltar à superfície. 

Já mergulhei nesse fundo várias vezes. A profundidades diferentes. Nunca como nos mergulhos, vários, dos últimos dois anos. Nunca como no mergulho dos últimos dias. Decididamente o mais profundo de todos. O mais negro de todos. 

Sei que tenho preocupado muita gente. Sei que tenho assustado muita gente. A minha Mãe. A minha Mãe acima de tudo. Tanta gente que me estendeu a mão nos últimos dias. Tanta gente a quem ainda não respondi porque a vontade de comunicar, tal como há dois anos quando durante 3 dias não falei, a vontade de comunicar era nula. 

Sou grata, tanto, a todos. Responderei a cada um. Nunca conseguirei retribuir à altura. 

Caí. Mergulhei. Voltei àquele fundo negro que já conhecia. Deixei-me levar ainda mais para o fundo. Assustei tanta gente. Assustei-me a mim mesma… Muito. E admiti e aceitei que precisava, preciso?, de ajuda. Pedi-a. Recebi-a. E em menos de nada tudo se conjugou para que acontecesse exactamente o que precisava. 

Não há coincidências. Nada acontece por acaso. São frases feitas? São. Mas há coisas que não se explicam. E numa noite de Lua Cheia com eclipse os astros alinharam-se quando menos esperava simplesmente por ter pedido ajuda. 

Deixemos a explicação assim, com esta imagem de astros alinhados e Lua CheiaCheia e eclipse e maré baixa e…e…e…! Até a Terra tremeu meia dúzia de horas depois. 

Aos poucos a cor vai voltando. E toda esta instabilidade, minha e do Verão, irá acalmar. 

Aos poucos voltarei a ser eu por inteiro: instável e a sentir tudo à flor da pele. 

#day231 out of 365plus1 

E depois há um dia em que algo acontece que gera movimento e me traz a única coisa que precisava: uma conversa. 

Blame it on the Full Moon and its eclipse.

#day229 out of 365plus1 

“We’re all addicted to something that takes the pain away”. 

Por enquanto, o café e os cigarros… 

#day226 out of 365plus1 

Cansa-me um bocado que me digam o que devo ou não escrever. Como devo ou não escrever. Cansa-me um bocado que me digam que me exponho demais. Que ninguém tem que levar com as dores, tristezas, o que lhe quiserem chamar. Cansa-me um bocado que me critiquem por estar online tal como estou offline: honesta, sincera e, acima de tudo, fiel a mim mesma.

Também me cansa um bocado estar online e observar as vossas vidas perfeitas, onde só existem sorrisos de felicidade que se calhar em tantos casos não são mais do que produtos de maquiagem, almoços e jantares e brunches e lanches saudáveis que ninguém quer saber, copos de gin atrás de copos de gin porque o gin está na moda e é obrigatório mostrar os gins que se bebem (ou não) para se ser aceite no rebanho da moda. Também me cansa um bocado estar online e observar as vossas férias no paraíso que, lamento informar, também não interessam a ninguém porque tantos outros também vão de férias e outros tantos não vão a lado nenhum. Também me cansa o ficar bem na fotografia para se dizer que se fez e se ajudou e agiu bem para receber aquela massagem no ego de quem necessita de aprovação de terceiros para se sentir realizado.
Cansa-me, também, que se matem a trabalhar como se fossem os únicos a fazer pela vida. Cansa-me que exponham o lado bonito das vossas vidinhas, aperfeiçoado por filtros e floreados e palavrinhas bonitas para parecer bem e ficar bem online quando, em tantos casos, não passa disso mesmo: vidinhas filtradas e floreadas e vazias, apenas carregadas de aparências.

Cansa-me, sobretudo, que me critiquem por expôr online quem sou. Sem filtros. Sem floreados. Sem palavrinhas bonitas mas vazias e carregadas de aparências. Esta sou eu. Na merda, absolutamente na merda e no fundo do poço há algumas semanas. A lutar contra uma depressão que teima em querer instalar-se e a não largar. Sou eu e as vozes na minha cabeça a gritarem-me o que fazer para acalmar a dor. Sou eu a lutar contra essas vozes e contra a vontade cada vez maior de lhes obedecer.

Exponho o que acho que devo. Há quem ache que me exponho demasiado como se fizesse uma pequena ideia, por mínima que fosse, de tudo o que se passa à minha volta. Do que me faz reagir de uma ou outra forma.

Curiosamente, só me criticam que me exponha quando estou na merda. Incomoda-vos? Acreditem, incomoda-me tremendamente mais a mim ser este o meu único escape. Porque a depressão é fodida, mas a solidão é filha da puta. E quando se juntam as duas só me resta tentar pedir ajuda escrevendo. Expondo-me.

Fico feliz pelas vossas vidas perfeitas, de sorrisos chapa 4, almoços e jantares e brunches da moda e lanches saudáveis. Os vossos baldes de gin que me lembram um consumo excessivo pela quantidade absurda que os vejo partilhados e que me levam a pensar se não terão um problema com o álcool ou, em alternativa, se não será só mais uma foto ao copo do vizinho para parecer bem no rebanho da moda do gin.

Lamento se a minha presença vos incomoda. Não se sintam na obrigação de continuar presentes quando, na realidade, 99% nem sequer estão na verdade. Se é só para aumentar números, sintam-se à vontade de reduzir um. Porque eu sou muito mais do que um número. Tenho nome. Tenho histórias e História. E tenho fases. Como agora uma fase que não é boa, nem sequer menos boa. É uma fase verdadeiramente má.

Uma fase em que preciso de ajuda, que sei que preciso, mas que não tenho vontade de procurar. Porque não quero. Porque estou cansada. Porque não quero virar um vegetal dopado sem reacção e a camuflar problemas que existem, que quero resolver e que me recusam a resolução.

Descompensada, chamaram-me há dias. Concordo. Sou a primeira a reconhecê-lo. Lamento, mas não vou pedir desculpa por este meu momento. Porque existem razões para ele.

Não peço desculpa. Mas decido retirar-me, afastar-me. Já pouco ou nada escrevo, sabendo que escrever me ajudou (muito) no tempo certo. Houve quem me tivesse dito que o que escrevia era doentio. Curiosamente a mesma pessoa que me incentivou a começar a escrever. Curiosamente a mesma pessoa que me recusou ajuda quando, há um ano e meio lhe pedi ajuda. Curiosamente a mesma pessoa que hoje se recusa a conversar. Conversar… Uma simples conversa. A mesma pessoa que me responde a um pedido de conversa com silêncio…… E esse silêncio diz-me tudo. Diz-me que há quem tenha memória curta, que há quem me ache doente pelo que escrevo, recusa uma conversa de adulto mas que se lembra que existo unicamente quando a necessidade aperta…
E esse silêncio contribui, e muito, para esta espiral depressiva em que me encontro. Com vontade de marcar o corpo para atenuar aquela dor que ninguém vê, mas que é real ao contrário do que tanta gente pensa.

A depressão é fodida. A solidão é filha da puta.
Sei que preciso de ajuda. Mas não a quero.

Não se preocupem. Não voltarei a escrever tão cedo. Porque já não faz sentido. Porque já não funciona.

E se partilhar alguma coisa que vos incomode, não se acanhem: unfriend me now.

Por aqui me fico. Talvez um dia cá volte a escrever. Quem sabe. Talvez não volte. Sei que vos será indiferente se não voltar porque não partilho festas, sunsets, sorrisos, viagens, almoços, jantares, brunches e lanches e muito menos pertenço ao rebanho da moda do gin.

Quem quiser, saberá o que fazer para me encontrar. Quem não quiser, é-me igual.

Lamento mais uma vez, mas recuso-me a pedir desculpa por ser quem e como sou: eu, igual e fiel a mim mesma. Sempre.