Domingo preguiçoso…
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Domingo preguiçoso…
Domingo preguiçoso…
Às vezes ainda me pergunto o que ando aqui a fazer.
E continuo sem saber a resposta…
Lá fora o vento e a chuva. Cá dentro aquilo que ainda me assusta por me ser estranho: uma espécie de calmaria.
Conheço os sítios mais negros onde a minha cabeça me pode levar. E assusta-me a possibilidade de lá voltar. Não reconheço tão facilmente os lugares de calmaria e quase tranquilidade onde estou agora. Porque estou sempre à espera de cair novamente no negrume.
Mas aproveito ainda assim essa calmaria. Ponho ideias em ordem. Vejo o lado positivo de uma noite de vento e chuva, sozinha em casa e em silêncio. Oiço o vento lá fora. O som dos carros a passar na água que cobre a estrada. E aqueço o corpo em mantas e edredons.
Amanhã será um novo dia de chuva e vento. Amanhã será um novo dia de desejada calmaria. Até lá saboreio o momento.
{………}
“Estás num processo de reconhecimento da mudança, devias escrever sobre isso, é importante.”
Vou escrevendo e reconhecendo a mudança. Mas não me alongo demasiado. Por medo de regredir e voltar àquele lugar escuro e feio.
Por agora respiro, não me afogo nem tenho necessidade extrema de me manter à tona. Estou bem. Ou, pelo menos, melhor. Curada? Dificilmente. Ainda há muito que trabalhar e marcos a ultrapassar.
Mas sim, reconheço a mudança.
E aceito-a tal como é: positiva.
Há dias em que parece que a paciência é pouca. Liga-se a cassete automática e vai-se repetindo a mensagem chamada atrás de chamada quando a vontade de estar ali é pouca ou mesmo nenhuma.
Hoje sei que foi ali que consegui sobreviver ao ano passado. Foi a cassete automática que ligava todos os dias que me permitiu não me perder ainda mais do que já me tinha perdido. Foi ali que me escondi do mundo e acabei por me encontrar.
Hoje sei que foi ali que consegui sobreviver e olho para trás e ainda me pergunto como é que o consegui. Porque hoje já não estou tão perdida e a paciência para a cassete automática é pouca. Mas aquele lugar, aquela cassete, farão sempre parte da minha vitória.
Hoje? A paciência é pouca. Talvez amanhã seja melhor. Porque sei que já saio ainda durante o dia, já consigo chegar a casa ainda com um resto de luz do Sol e o frio já não se entranha. Ainda há nuvens, vento, chuva. Mas o inverno está a chegar ao fim. E mais uma vez vou poder dizer que também a este inverno consegui sobreviver.
O resto? A paciência é pouca, mas os dias são cada vez maiores.
Bocadinhos de cor aqui e ali. Ou um “bom dia” quase fora de contexto. São as coisas pequeninas que mais contam e mudam o cinzento do dia lá fora e o fazem terminar com a luz do Sol.
“Bom dia”.
Bom dia e um sorriso.
{………}
Sono… De ambas.
Porque também há dias assim…
Março podia ter chegado mais risonho e menos chuvoso. Mas o que interessa é que chegou, finalmente.
Março é Março, com mais ou menos chuva, mais ou menos sol. É Março! Pouco mais importa. E é agora que tudo muda.