Daily Archives: 04/02/2016

{coexistência pacífica}

Numa espécie de “coexistência pacífica”. Que é o mesmo que dizer que eu te ignoro, assim como tu me ignoras. Ou, pelo menos, eu faço de conta. Como sempre, como desde sempre, faço de conta. Que não é nada. Que não se passa nada. Que te ignoro. Fazer de conta. Faço de conta. Há tanto tempo. Há tantos meses.

Coexistimos assim. Pacificamente. Não sei, sinceramente, porquê. Porquê manter esta falsa ligação, já que eu te ignoro assim como tu me ignoras. Ou, pelo menos, faço de conta.
Não sei porque insisto nisto. Em manter isto. Assim, à distância, a esta distância. Incomoda-me ver-me obrigada a fazer de conta que te ignoro, sabendo que me ignoras também. Não, não presumo. Sei. Porque tu mo disseste.

Andamos nisto. Há meses. No que é não sendo. No que não é sendo. No que nunca foi. No que nunca será.

Incomoda-me. Muito.
Incomoda-me ainda mais ter medo de deixar de ignorar, por receio de reacções que não entendo porque não fazem sentido.
Incomoda-me. Comparar o antes e o depois. Ou o antes e o agora.
Incomoda-me.

Não lhe quero chamar paz podre. Porque não é paz e muito menos podre, porque na verdade nunca foi guerra sequer. Mas incomoda-me. Continuo a fazer de conta também aqui. Faço de continua que não me incomoda fazer de conta que te ignoro.

Um dia, quem sabe, deixo de me incomodar. Ou deixo, eu, de fazer de conta que ignoro. Ou deixo, apenas, de fazer de conta.

Um dia. E tudo será o que tiver que ser, sabendo que não é possível ser como já foi.

Um dia.

Até lá, faço de conta.

Gulen-tasawwuf