Category Archives: {#2024.Maio}

{#137.230.2024}

Dia muito comprido.

Sair de casa às 9h e pouco para fazer análises. Fazer horas para o primeiro autocarro. Apanhar o segundo pouco tempo antes da hora a que tinha que estar no Hospital para mais uma consulta. Telefonar para avisar de um potencial atraso. “Não se preocupe, tem meia hora de tolerância”.

Chegar uns minutos antes da hora da consulta. Dar entrada. Seguir para a sala de espera solitária do costume e esperar…

Esperar. E esperar. E voltar a esperar mais um bocadinho. Esperar, ao todo, duas horas até ser chamada…!

Consulta chata, com testes e exames chatos e com marcação de exames para a próxima semana ainda mais chatos… Mas, já sei, tudo isto faz parte da minha nova realidade.

Almoçar às 4 da tarde. Chegar a casa às 6, depois de muito frio e alguma chuva. Aterrar no sofá. Só para acordar depois das 9 da noite…

Foi um dia muito comprido. Muito cansativo. Muito estranho. Muito “nova realidade”.

Faz parte, já sei. Amanhã é dia de descanso. Não tenho horário para acordar. Não tenho nada marcado. Mais um dia a ver o tempo passar. Em compensação, na próxima semana não faltam consultas e exames.

Já sei, faz parte. Por isso, é continuar a encolher os ombros, sorrir e acenar. Como se não se passasse nada. Mas passa…

É tarde. Estou cansada. Tenho sono. Por hoje? Já chega! Amanhã logo se vê.

{#136.231.2024}

O dia de ontem não foi bom. O de hoje foi mais sereno, mas nem por isso fácil. Mais uma vez a ver o tempo passar. Com excepção daquele encontro virtual com pessoas iguais a mim na doença guiadas por especialistas.

Conhecer mais um bocadinho do que é isto que me apanhou na curva. Saber um pouco mais. E dizer “eu também tenho”.

É importante neste turbilhão saber que não estou sozinha, não sou caso único, que há mais pessoas iguais a mim. Vou começando a conhecer. Poucas. Um conhecimento superficial. Talvez não um conhecimento mas um reconhecimento. É diferente. É reconhecer no outro o mesmo que se passa comigo na doença. Dei um passo para deixar de me sentir tão sozinha nesta viagem. Mas, e apesar de já fazer parte de um grupo grande de pessoas iguais a mim, ainda me escondo na minha concha. Como sempre fiz, aliás. Em todas as áreas, em todas as situações. Ainda hoje, quando tive boleia do Yoga para casa, a minha colega me disse: “acho que estás melhor, mais leve. Ao início não eras assim”. Pois…ao início era eu na minha concha. Mas, ao fim de um ano, é normal já me sentir mais integrada. O mesmo acabará por acontecer no grupo de pessoas iguais a mim. Eu preciso sempre de tempo.

E hoje, mais uma vez, me disseram: um dia de cada vez. E tem mesmo que ser assim. Não posso ter pressa. Não adianta de nada.

No entanto, a parede de que falei ontem, continua presente. Continuo a existir apenas a ver o tempo passar. Uma espécie de existência precária. Mas é o que é. E eu aprendi a detestar esta frase. Mas vejo-me obrigada a dar-lhe uso.

Amanhã? Mais uma voltinha no carrossel das consultas. Seja. Tão cedo não me livro das viagens ao Hospital. Se é que algum dia me vou livrar de lá ir (já sei que não…).

Agora é tentar desligar a cabeça. Especialmente aquela parte que dói. Porque continua a doer muito. É tentar desligar e enroscar para descansar e dormir. Amanhã é dia de acordar muito cedo. E, já sei, vai ser um longo dia… Mais uma vez a ver o tempo passar, independentemente de haver mais uma consulta médica pelo meio…

Amanhã será melhor. Repito isto a mim mesma todas as noites. Não quer dizer que, depois, realmente o seja mas tenho que me forçar a acreditar em alguma coisa positiva. Certo?

{#135.232.2024}

Dia longo. Muito longo. Sem programa. Sem nada para fazer. A não ser existir e ver o tempo passar.

Confusão na minha cabeça. Grande. Sei exactamente o que quero. E sei, também, que de tudo o que quero o que posso ter é nada. Nada…

Respirar e ver o tempo passar é realmente existir? Às vezes parece que não. Parece que as pessoas se esquecem de nós em vida. E é uma sensação horrível… Sim, os meus dias neste momento são horríveis, sem objectivos, sem nada. Dizem-me que é porque estou doente. E estou, eu sei. Mas não tem que ser assim para sempre. Embora, neste caso, seja mesmo para sempre.

Dizem-me, também, que lá porque estou doente não significa que não possa ter uma vida dita normal. Ou, se calhar, só muito perto disso. Mas para isso é preciso ter acesso à medicação. Que ainda não tenho. Nem sei quando vou ter nem que diferença irá fazer. Assim como também não sei o que esperar da doença. Que ainda não trato por Tu porque ainda mal nos conhecemos. Ou, pelo menos, eu a ela. Porque, olhando para trás, é possível que ela já me conheça há algum tempo. Afinal, aqueles dias em 2016 em que mal podia andar porque não sentia pés e pernas, podem não ter sido uma crise de coluna… As dores de cabeça intensas e persistentes já existiam há vários anos e mesmo nessa altura se manifestavam de vez em quando.

Olhando para trás, percebo que a sombra da doença já pairava sobre mim. Afinal, não é doença que apareça subitamente, de um dia para o outro. Vai-se aproximando e ganhando terreno. Devagarinho. Quase em silêncio. Até que, por acaso, se percebe que já cá está, já se instalou, já deixou marcas.

Não. Ainda não a trato por Tu. E ainda não me atrevo, sequer, a pronunciar-lhe o nome, muito menos escrevê-lo. Se calhar ainda estou em negação. Talvez esteja. Mas já estou cansada. A suspeita apareceu em Junho do ano passado, sei que só quando houver diagnóstico fechado é que posso pronunciar-lhe o nome, mas já é falada em termos clínicos em todo o lado, em todas as especialidades médicas por onde tenho passado. E, no relatório médico, já lá está. Não como suspeita, mas como confirmação.

Faltam resultados de exames, falta fechar o diagnóstico, falta a medicação. E falta tanto para Outubro, data da consulta com o especialista. Sei que, a qualquer momento, me pode chamar. Mas nunca mais acontece. E, mais uma vez digo, estou cansada.

Nos últimos 12 meses e meio, trabalhei pouco mais de um mês e meio. Sei que não tenho condições para voltar ao trabalho tão cedo. Não enquanto não tiver medicação. E sei, também, que vai ser preciso haver alterações. Ajustes. Não voltarei a ser a mesma.

Engraçado…não voltarei a ser a mesma…mas não é apenas no trabalho. Toda eu serei uma nova pessoa depois disto. Quero muito acreditar que serei a mesma. Mas sei que não é verdade. Porque já sinto algumas limitações que, sei, terão tendência para aumentar e complicar. Mas eu já só queria voltar a ser eu. Mais nada…

Sei tão bem o que quero. Ou o que queria. Já não sei. Sei apenas que nada do que quero posso ter. Nem aquele porto de abrigo que surgiu há quase um ano e que se mantém firme. À distância de um clique… Não terei esse abraço. Esse toque. Esse cheiro. Esse beijo…

Sinto-me perdida. Em 7 dias da semana, e terminada a fisioterapia no Hospital, os meus planos resumem-se ao fim do dia às quartas feiras e as manhãs de Sábado com as aulas de Yoga. De resto? É existir de forma invisível e ver o tempo passar.

Se eu queria isto? Não. Se procurei isto? Não! Se estes dias vazios me fazem sentido? Nenhum. Se me fazem bem? Nem um pouco. Mas cá vou andando ao sabor do vento. À espera. Sempre à espera. E sem saber o que fazer ou como fazer para dar sentido a este tempo de espera.

Não me canso de repetir: estou cansada. Do quê? Nem eu sei. Mas estou cansada. De esperar, acima de tudo. E de não ver nada para a frente. É como se tivesse uma parede à minha frente que não me permite ver ou, sequer, imaginar como será o caminho adiante. Dizem-me que será diferente. Mas que é um caminho possível de se fazer. É uma questão de procurar novas formas de seguir. E conseguir. O quê? Nem eu sei…

Apetece-me chorar? Já nem sei. Porque sei que não consigo chorar. Sei que me apetece algo que tenha o mesmo efeito, mas que eu desconheço o que seja. E lá está de novo a parede à minha frente a não me deixar ver, ou sequer imaginar, como será quando tudo estiver estabilizado. Quando já não me apetecer chorar porque já encontrei algo que me alivia e conforta mas que eu não sei o que é. Que não me deixa ver, ou sequer imaginar, a diferença que a medicação pode fazer. Parede que, no fundo, não me deixa ver, ou sequer imaginar, absolutamente nada. Porque, neste momento, na minha cabeça a confusão é muito grande. E é muito alimentada de medo. De insegurança. De falta de chão.

Sinto falta de mim mesma. Mas já não sei por onde começar a procurá-la. Ou a procurar-me. Sei que ainda existo. Mesmo que apenas veja o tempo passar. Sei que ainda estou cá e faço questão de me manter cá. Mas sinto-me invisível. Esquecida. Invalidada. Remetida para um canto. Porque, para além de sentir falta de mim mesma, também sinto falta dos outros. Daqueles de quem gosto. Daqueles que gostam de mim. Eu continuo cá…perdida, mas cá.

Cansada. Muito. Ainda vou ter que esperar. Mas continuo cá. Existo. Pequenina, insignificante, invalidada, invisível. Esquecida… Mas continuo cá.

{#134.233.2024}

Última visita à sala de espera solitária antes da Fisioterapia. Na quinta feira volto a esta sala mas para consulta de Fisiatria. Agora vou só ali ao ginásio do Hospital pela trigésima segunda e última vez e, depois do trabalho físico (e também mental!) digo adeus aos profissionais que me acompanham desde finais de Fevereiro e que me reensinaram a caminhar. Se não 100% a direito (porque nem sempre a dor de cabeça e as pernas colaboram), pelo menos a alcançar a minha melhor versão neste momento.

A Fisioterapia vai continuar, mas não aqui.

{#133.234.2024}

Não gosto de dias de resumo fácil. Como o de ontem. Mas que, ainda assim, foi mais ocupado do que o dia de hoje…

Sair da cama para o pequeno almoço no sofá. Sair do sofá para o café no cadeirão. Voltar para o sofá. Adormecer…

Acordar para almoçar já depois da hora de almoço. Café no cadeirão. Voltar para o sofá. Voltar a adormecer quase de imediato…

Acordar para jantar. E dizer “não pode ser! Eu tenho que ir à rua beber café e apanhar um bocadinho de ar!”. E fui. Tarde.

O único sítio aberto ao Domingo aqui perto é um restaurante. Que, antes das 22h, já tinha a máquina de café desligada…

Voltar para casa. Voltar ao cadeirão. Beber o meu descafeinado. Fumar o meu cigarro. E pensar e repensar que foram dois dias absolutamente desperdiçados. E os meus dias não podem continuar a ser assim. Não podem.

Amanhã termina a fisioterapia no Hospital. Não sei, ainda, quando vou começar em clínica. Mas já vejo os meus dias a passarem em branco. E não quero isso. Não pode ser! Já é mau demais não estar em condições de voltar ao trabalho. Pior mesmo só não ter absolutamente nada para fazer. Os dias de fisioterapia no Hospital, três vezes por semana, sempre têm enganado a agenda. E permitem-me a interacção com várias pessoas, desde os Bombeiros aos fisioterapeutas, até à moça da cafetaria ou os seguranças, não interessa. Eu posso ser tímida e um bocadinho bicho do mato, mas gosto de interacção. E preciso de interacção. No primeiro confinamento foi do que senti mais falta. Mas aí tinha os dias ocupados com trabalho. Agora nem isso…

Vou ter que encontrar uma solução para os dias inúteis. Sei que tenho a praia aqui tão perto. E vai começar a ser o meu objectivo. Mas, para isso, tenho que lutar comigo mesma para me tornar mais activa. Porque, como os últimos dois dias, não pode continuar…

{#132.235.2024}

Sábado e um resumo do dia tão fácil de fazer:

– manhã de Yoga. Puxada, hoje. Mas sempre tão necessária e bem vinda;

– tarde? Dormir. Dormir muito. Dormir muito até muito tarde, já a tarde se tinha despedido para dar lugar à noite…

Amanhã? Espero que seja um dia mais produtivo e menos adormecido. Vamos ver…

{#131.236.2024}

A despedir-me, para já e muito devagarinho, desta vista e desta companhia. Penúltima vinda à fisioterapia no hospital depois de uma manhã que começou cedo e com notícias confusas…

Um positivo que não se queria contrabalançado com um negativo que se esperava. Agora? Terapêutica preventiva nos próximos longos meses. Mas é mais uma porta que se abre para o que estou a precisar. Então seja. E, claro, em segurança.

Muito cansada e ainda não são 14h. E, já sei, esse cansaço vai interferir com a fisioterapia assim como interfere com tudo. Baixa-me as defesas, deixa-me mais frágil e, acima de tudo, mais sensível e insegura.

Mas vai passar. Lá pelas 15h30 aterro no sofá. E depois logo se vê. Para já, vou dizendo adeus à sala de espera solitária da fisioterapia. O sr. Alcides e a sua peruca encaracolada já cá estão. O que quer dizer que já falta pouco tempo para ir até ao ginásio.

Mas, depois da manhã corrida e confusa de hoje, o que eu preciso mesmo é do meu sofá…

——-

A fisioterapia fez-se, com mais ou menos cansaço. E o sofá só o vi já mais tarde. Foi dia de voltas trocadas com os Bombeiros, mas que valeu cada segundo passado com eles. Porque, como sempre, deu para conversar, brincar e rir. Muito! Segunda feira será o último dia de transporte feito por esta equipa. E, já lhes disse, vão deixar saudades. Ainda tenho esperança que a médica de família possa prescrever o transporte. E aí posso escolher a corporação. Claro que, ao fazê-lo, só posso escolher esta equipa.

O início da tarde foi difícil. Como disse lá em cima, muito cansada, confusa com as notícias, frágil, sensível e insegura. Mas, às vezes, tudo isso passa rapidamente simplesmente ao ouvir a voz certa no momento certo com a mensagem certa. E foi isso que aconteceu. Estava enrolada sobre mim própria a sentir-me derrotada e extremamente insegura. Mas ouvir aquela voz, aquela mensagem, aquele lembrete, foi o suficiente para tudo melhorar.

Já me disseram “salta fora” referindo-se a uma história que nasceu completamente por acaso e que se tem desenvolvido há quase um ano de uma forma tão simples e bonita. Claro que existem condicionantes, começando logo pela distância e outros mas pelo meio, mas também é isso que torna esta situação mais especial. Saltar fora não vai acontecer. Até porque é algo que me faz bem, tão bem. E, como qualquer pessoa, eu tenho direito a ter algo que me faz bem. E também surgiu no momento certo. E a verdade é que, ao fim de praticamente um ano e com tudo aquilo que me envolve no momento, alguém não desistiu de mim, não abriu mão de mim. Continua cá. Todos os dias. E se isso não diz tudo então não sei o que o fará dizer.

Sim, estou confusa com as notícias desta manhã, mas ao mesmo tempo tranquila porque, neste caso, o negativo sobrepõe-se ao positivo. E isso é bom. Agora é só uma questão de prevenção. Que vai levar longos meses, eu sei. E muita vigilância médica para aguentar a carga química. Mas, depois de ter sido apanhada na curva, já estou por tudo. O caminho é por aí? Então é por aí que vamos.

Agora é hora de dar o dia por terminado. Dar descanso ao corpo. Acalmar a mente. Amanhã é dia de acordar cedo e sair de casa para uma manhã de Yoga. E que também me tem feito tão bem. A todos os níveis.

O resto? Logo se vê. Mas é com um sorriso no rosto que olho para trás e percorro cada minuto desta sexta feira, até mesmo quando as notícias dos resultados me deixaram confusa…

{#130.237.2024}

ansiedade

(an·si·e·da·de)


nome feminino

1. Comoção aflitiva do espírito que receia que uma coisa suceda ou não.

2. Sofrimento de quem espera o que é certo vir.

“Ansiedade”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/Ansiedade.

——-

Sair de casa de manhã cedo para mostrar, no braço, o resultado de um exame. Chegar à paragem do autocarro e perceber que é dia de greve dos autocarros… Ligar para o CDP, explicar porque não consigo comparecer e fazer uma brevíssima descrição do local do teste. Ouvir do outro lado “se está assim é porque tem aí alguma coisa, tem mesmo que ser vista”… Para mim, não seria mais do que uma leve reacção à picada. Não está vermelho. Praticamente não está inchado, apenas tem um ligeiríssimo alto que mal se nota, só passando o dedo. E mesmo assim…! Claro que não fiquei descansada com as palavras da enfermeira. “Venha cá amanhã, sem falta. Tem que ser vista!”

Merda, pensei. Claro que consultei o Dr. Google. Sei que não devia. Afinal, o Dr. Google pode ter muita informação, mas não é clara nem acessível para quem não estudou o assunto.

Já meti na cabeça, entretanto, que será um resultado positivo. À partida, e na ausência dos restantes resultados de raio-X e análise ao sangue, a ser positivo deverá ser algo latente. Tem tratamento, claro. Mas é um resultado que não quero…

Tirando a greve dos autocarros que me obrigou a adiar o resultado do teste e um atendimento na Segurança Social, o dia foi bom. Visita dos meus tios para almoço com entrega de um polvinho de peluche que eu tinha pedido só porque sim, conversa e risota ao almoço sabem sempre bem. A tarde? Foi completamente apagada no sofá. Como sempre. Mas a última noite não foi fácil… Adormecer, com calor, depois das 2h da manhã para acordar às 7h para apanhar o autocarro que não havia, claro que me deixou de rastos. Ainda consegui dormir um bocadinho de manhã até à chegada dos meus tios, mas não foi suficiente. Já sei que na noite a seguir ao Yoga Nidra tenho que dormir muito. E, normalmente, no dia seguinte acordo sempre muito tarde. Desta vez, não houve tempo para isso.

Mais uma vez digo: eu não sei fazer resumos. E tinha combinado com o professor de Yoga enviar-lhe uma mensagem com a descrição do que senti durante a experiência de relaxamento profundo de ontem. Que, mais uma vez, foi uma daquelas experiências que poucos entendem ou, sequer, aceitam. Mas ele entende. E, claro, foi uma mensagem extensa e detalhada. Que só terminei de escrever às 2h da manhã. Eu preciso mesmo de aprender a fazer resumos. Porque não sei mesmo escrever pouco…

Não interessa. O dia passou, eu apaguei no sofá e só depois disso é que comecei realmente a perceber a ansiedade que se instalou em mim depois de falar com a enfermeira. E a ansiedade não é nada de agradável. Custa senti-la. Mas custa ainda mais ter que lidar com ela. E eu tenho que o fazer…

Amanhã de manhã vou mostrar o meu braço à enfermeira e saber o resultado. O resultado final só dia 22 na consulta com a médica de Infecciologia que, para além do resultado deste teste, já terá também o raio-X e o resultado das análises. E aí sim, saberei com 100% de certeza se tenho ou não alguma coisa latente… Era só isto que me estava a faltar agora…

Não vou pensar mais nisso agora. Já é tarde, amanhã é dia de sair de casa cedo outra vez e eu não posso deixar que a ansiedade tome conta de mim como já tomou tantas vezes.

Por hoje chega. Tenho um polvinho e uma corujinha de peluche à minha espera para passar a noite. Um par improvável? Talvez. Mas que, de certa forma, retrata um bocadinho da minha realidade. E se não posso ter a companhia do meu Polvinho, então que tenha um polvinho de peluche.

E amanhã? Vai ser uma manhã corrida. Ir ao CDP logo cedo para lá estar às 9h30m, voltar para casa a correr, almoçar às 11h10m para ter o transporte dos Bombeiros para a fisioterapia antes do meio dia à minha porta e só iniciar o tratamento às 14h para estar de volta a casa às 15h30m. E só aí vou conseguir parar. Se apagar no sofá apaguei. Já é o costume. Mas o importante agora é desligar a cabeça e parar a ansiedade.

O resto? Amanhã logo se vê.

{#129.238.2024}

Há dias como o de ontem, onde nada parece fazer sentido, onde se acumulam todas as questões, todas as dúvidas, todas as inseguranças, todas as vozes na minha cabeça. E não tem mal nenhum ter tudo isso a estragar o final do dia. Faz parte. Porque, queira eu ou não, eu também sou isso. Mas não sou isso. Sou muito mais. Sou tanto mais do que só isso.

Admito que continuo à procura da totalidade do que sou, de quem sou. Mas acho que essa totalidade nunca será encontrada, porque estamos (todos!) em constante mudança, em constante evolução. É uma descoberta que se vai fazendo, todos os dias se descobre mais um bocadinho, todos os dias temos, em nós, mais alguma coisa nova. Também é verdade que, neste momento confuso, fica mais fácil de me perder. Mas, depois, há dias como o de hoje. Em que não se passou nada de especial, um dia normal de fisioterapia e Yoga Nidra. Mas também é em dias assim, em que aparentemente não se passou nada de especial, que se dá mais um pequeno passo em frente. Ia dizer que era mais um passo em frente para o regresso à normalidade, mas já não sei o que é isso de normalidade. É um conceito tão volátil, tão dependente de tantos factores externos (e até internos), tão ao sabor do vento que já não sei mesmo o que é isso de normalidade. O que é normal para uns pode não ser normal para outros. E isso é tão confuso e não me apetecem coisas confusas.

Apetecem-me, sim, coisas simples. Tão simples como ir sozinha para o Yoga e voltar para casa também sozinha. Coisa que não acontecia há muito tempo e que hoje vejo como uma pequena vitória, especialmente porque o tempo que demorei a fazer o percurso está muito próximo do tempo de há um ano, quando as dificuldades em caminhar ainda não eram tão grandes. É verdade que hoje caminho com o apoio de uma bengala. Mas, pelos vistos, de forma mais firme e segura.

É verdade que pode, a qualquer momento, voltar a piorar. A tendência será sempre essa. O título “progressiva” não engana. Os danos existem, estão cá para interferir com a minha vida, mas enquanto puder dar um passo de cada vez com firmeza e segurança, ainda que com o apoio da bengala, irei continuar a fazê-lo.

Sei que mexer-me, caminhar, ir do ponto A ao ponto B vai ter que fazer parte da minha rotina de trabalho físico. Para poder dizer a mim mesma que não baixei os braços nem desisti de mim. Vou voltar a ter dias menos bons, a roçar o maus, faz parte! Vou voltar a ter questões, dúvidas, inseguranças, vozes na minha cabeça. Faz parte! Eu sou assim. Todos nós somos assim. Se isso faz de mim fraca? Nem pensar! Se isso faz de mim instável? Quem é que tem 100% de dias sempre bons? Quem é que nunca tem questões, dúvidas, inseguranças, vozes na cabeça? Ninguém. Portanto, ter dias assim não faz de mim instável. Faz, isso sim, de mim um ser humano como qualquer outro.

Sim, o dia hoje ainda acordou com restos das nuvens cinzentas de ontem à noite. Mas foi abrindo. O transporte com os Bombeiros do costume até ao Hospital (e regresso) faz-me bem. Gosto (muito) da energia que se sente naquele veículo. Onde conversamos, rimos, brincamos. Eu e dois Bombeiros, mais nada. Não precisamos de mais nada. Ao ponto de, naquele dia em que fui calada o tempo todo, me terem dito “você hoje não está bem, pois não? Veio o caminho todo calada…”. E não estava, de facto. Era só mais uma dor de cabeça, mas intensa o suficiente para não me permitir conversar. Mas hoje não foi assim. Aliás, em todos os outros dias, não foi assim. Tal como hoje: conversar, rir, brincar. Sempre. Foi o suficiente para dissipar as nuvens cinzentas que amanheceram comigo.

Fisioterapia tranquila mas onde sinto a falta dos meus estagiários. Porque, com eles, também se juntavam esses três ingredientes: conversar, rir, brincar. Trabalhámos muito e a sério. Mas também brincámos muito. E rimos bastante. E, pelo meio, também conversámos. Agora, sem eles, trabalho sozinha. Dão-me os exercícios para fazer e as ferramentas necessárias e eu faço o que é para ser feito. Mas é diferente. Útil e necessário, claro que sim!, mas simplesmente diferente.

Já o final do dia, já depois de ter passado em casa, o Yoga. Que é sempre bom. Também conversamos, brincamos, rimos. E trabalhamos. Mesmo quando é difícil. E se não consigo à primeira, repito e insisto. Posso não conseguir hoje, mas sei que, não desistindo, vou conseguir. E o corpo e a mente agradecem. E ainda agradecem mais o Yoga Nidra. O relaxamento profundo. O sair daqui para um sítio que eu não sei dizer onde ou o que é, mas saio e vou. Voltar custa sempre tanto. E toda a experiência demora a recuperar. O ir e, principalmente, o voltar. Mas já não passo sem esse final de dia às quartas feiras. Ao sábado não temos o relaxamento profundo com meditação guiada, mas mesmo no relaxamento dito normal de final de aula, também vou. Não sei onde. Só sei que vou… E custa sempre tanto voltar…

É mais uma coisa minha a explorar. A conhecer. A entender. Mais uma coisa que faz parte de mim, de quem eu sou. E que, aos poucos, devagarinho, vou começando a conhecer. E, diz quem sabe e me guia nestes episódios, que tudo isto, especialmente aquilo que sinto quando volto, tem que ser analisado. Pois que seja! Estou muito curiosa com todas estas experiências que me sabem tão bem. E que me fazem tão bem também.

Sim, ontem o final do dia foi difícil. Mas já passou. Mantenho, no entanto, uma coisa que disse ontem: sempre Fénix. E todos os dias renasço depois das chamas e das cinzas. Agora é hora de dar descanso ao corpo. A mente, essa, está a mil. Mas hoje sem vozes a ecoar na minha cabeça. E amanhã? Encolho os ombros. Logo se vê. O que vier vem… E eu cá estarei para receber o que vier.

{#128.239.2024}

E, se perguntarem por mim, dir-vos-ei que não estou. Esta que vos fala é outra que não eu.

Há muitos anos que repito isto. 2007? 2008? Por aí. Mas sempre no registo de quem, algures no caminho, involuntariamente se desviou da rota e se perdeu. Como agora…

Eu ia dizer que os últimos meses não foram fáceis. Mas, na verdade, não é fácil há um ano. Um ano… De mal estar físico, mental, emocional. Com surpresas desagradáveis que me apanharam na curva e me arrastaram até aqui.

Um aqui que nem eu sei bem onde é ou o que é. Mas é um aqui. Desconfortável. Inseguro. Solitário. Sou só eu e o que vai dentro da minha cabeça.

E a pergunta que faço é: se eu chorar…alguém vai ouvir? Quem me vai secar as lágrimas? E pegar na minha mão?

Já tive uma resposta para todas essas perguntas. Mas hoje não sei responder. É um processo cada vez mais solitário. Cada vez mais sou eu comigo mesma. E não dá…

A vontade, hoje, é deitar a cabeça na almofada e permitir-me chorar. Mas até nisso me estou a boicotar. Não choro. Devia. Mas, como digo há um ano, não consigo. Sei que não iria resolver nada. Mas iria aliviar. Porque, sim, estou triste. Estou sozinha, mesmo sabendo que não estou. Estou num processo que é só meu. E que não sei que rumo vai tomar.

Ia escrever que não sei se vou conseguir aguentar. Mas, na realidade, aguentar é a única opção que me resta. Não sei como o vou fazer. Só sei que vou. Um pé atrás do outro. Um passo de cada vez. Por muito inútil que me sinta por não estar a fazer nada. Há 8 meses que não faço nada. Não trabalho, não faço outra coisa que não seja dar despesa e trabalho a terceiros, não sou nada.

Não procurei nada disto. Não quis nada disto. Mas isto, seja lá isto o que for, veio ter comigo e encontrou-me. Completamente desprevenida. E sem saber muito bem o que fazer a não ser viver um dia de cada vez. Dias esses que são sempre os mesmos, sempre iguais, sendo eu sempre inútil. E eu não quero nada disto! Porque eu sei que sou muito mais do que isto. Mas, ao mesmo tempo, preciso de me reencontrar. Descobrir quem é, afinal, a outra que não eu. Porque tem que ser ela agora a tomar conta. De quem? Do quê? Não faço ideia…mas tem que ser ela, a outra que não eu. Porque, a eu primária, vai ter que desaparecer aos poucos para renascer das cinzas. Fénix. Sempre Fénix. Desde sempre Fénix…

Consumo-me aos poucos. Vou encontrando a minha cinza por aí. Há partes de mim que já não existem. Outras há que se estão a perder, a destruir. Não posso voltar atrás e reencontrar quem sou. Ou quem era. Já nem sei. Sei que este é o fogo que me consome todos os dias mais um bocadinho.

Das cinzas irá nascer essa tal outra. A que não eu. Ainda não sei quem ela é, quem ela será. Ainda vamos ter que nos conhecer até à última chama, à última cinza. E depois? Depois quem sabe? Eu não sei…

Não sei o que me espera. Não sei o que esperar. Não sei nada. Sei, sim, que me perdi. Fui desviada da rota e acabei por me perder. E cabe-me a mim, só a mim, reencontrar-me…

Vou deitar a cabeça na almofada. Mas não vou conseguir chorar. Como nunca consigo. Preciso de ajuda? Claro que sim. Mas não obrigo ninguém a ficar. Seca-me as lágrimas que não caem quem quiser. Pega-me na mão quem quiser. Ou puder. Ou conseguir. O que for…

Não, esta noite que já se faz muito tardia não está a ser uma boa noite. Não vai ser fácil dormir tranquila. Não vai ser possível descansar quando tudo o que o meu corpo me exige é descanso. Mas a minha cabeça está a mil. Com mil perguntas sem resposta. Com mil afirmações que não consigo refutar. Com mil ecos de vozes que não quero ouvir. Porque o que têm para me dizer não é nada de bom.

Não está a ser uma boa noite. Não vai ser uma boa noite. Não quero estar sozinha, mas é sozinha que me vou deitar na minha cama onde queria ter um colo e um abraço para me acolher e proteger. E não tenho…

Agora, a estas desoras, vou tentar lembrar-me de como é que se faz para acalmar a mente e permitir que o corpo descanse. Amanhã o dia será longo. E, até, cansativo. E eu preciso disso: cansar o corpo para calar as vozes na minha cabeça. Hoje não foi nada disso. Por isso tive demasiado tempo para pensar. Em nada de bom. Por isso é que aqui veio outra. Que não eu. Que não reconheço. Ou que, pelo menos, já não via há muito tempo.

Amanhã. Amanhã. Amanhã. Tudo amanhã. Não hoje. Não agora. Não já. Amanhã…tudo amanhã…não hoje…

{#127.240.2024}

Ao contrário do que foi o fim de semana e do que são, habitualmente, os meus dias, esta segunda feira começou cedo e foi muito longa e ocupada.

Análises e testes a pensar na futura medicação. Fisioterapia. Consulta. Rever amigos. Sair de casa cedo, chegar (de vez) a casa à hora do jantar.

4 km nas pernas. Uma sessão de fisioterapia puxada. Cheguei cansada, claro. E, o dia todo, a dor de cabeça sempre presente. Mas foi mais um dia para tratar de mim. E bem preciso.

Amanhã? Vai ser acordar quando acordar, sem horário e sem nada marcado. Descansar e recuperar de manhã. À tarde? Quero ir ao paredão. Se vou, não sei. Mas quero acreditar que sim.

Por agora, e mais cedo do que o habitual, dou o dia por terminado. Estou muito cansada…e já não me sentia assim tão moída há algum tempo. Mas também há algum tempo que não tinha um dia tão preenchido como hoje.

{#126.241.2024}

Domingo. E foi mais um dia desperdiçado.

Acordar cedo com dor de cabeça depois de mais uma noite interrompida em que entre as 4h30 e as 6h30 não se dormiu. Acreditar que, durante a manhã, iria melhorar. Não melhorou.

Aterrar no sofá perto da hora de almoço e simplesmente apagar durante quase 5 horas…

Eu não quero isto para mim. Este sono constante não é normal. A dor de cabeça intensa e persistente, que não passa com nada, também não é normal. Se fazem parte da Doença das Mil Caras? Não sei. Quando tiver o diagnóstico fechado pergunto ao médico. Mas está difícil de ter o diagnóstico fechado…faz hoje três meses que tive a primeira consulta e consequente internamento. E conclusões ainda não tenho nenhuma. E eu já só quero que a dor de cabeça passe…

Passa das 23h e amanhã é dia de madrugar para mais análises. Dizem que estas são fundamentais para saber qual a medicação a aplicar. Mas a minha vontade não é ir dormir. É chorar. Porque a dor de cabeça não passa. E incomoda demais. E eu estou cansada de andar assim…

Nada do que para aqui escrevi hoje fará muito sentido, mas também não estou em condições para articular grandes discursos. Só quero descansar sem dores de cabeça. Acho que não peço muito…

Mas vou para a cama. A dor de cabeça não passa e chorar não acontece. Por isso mais vale tentar descansar. O dia amanhã vai ser longo. Muito longo. Análises logo de manhã algures em Almada. Regresso a casa para trocar de roupa e almoçar muito cedo para, mais uma vez, ir para a fisioterapia. Voltar a casa para, novamente, trocar de roupa. Voltar a Almada para consulta na clínica onde irei continuar a fisioterapia e finalmente voltar para casa.

Vai ser um longo dia. E, já sei, a dor de cabeça vai estar presente, como está sempre… Por isso, amanhã logo se vê como corre o dia. O dia de hoje foi desperdiçado porque não fiz o que tinha para fazer nem fiz o que queria fazer. Tirando o café sozinha ao fim do dia. E, mais uma vez, me sinto tão sozinha no meio de tudo isto…dizem-me que não estou sozinha, mas é sozinha que me sinto. Eu e as Mil Caras da Doença que me apanhou na curva…

Mas, e não posso deixar passar em branco, são 11 meses desde que disse olá e alguém me respondeu. Parece que foi ontem. Mas já foi há 11 meses. E continua a responder-me. Todos os dias. E isso faz-me sentir, no mínimo, aconchegada. E é tão bom…

{#125.242.2024}

Sábado, já sabemos, é aquele dia aborrecido da semana. Com excepção das manhãs que começam sempre com Yoga. Uma aula que deveria durar uma hora facilmente chega às duas. E sabe tão bem.

Gostava de ser daquelas pessoas que começam o dia com alguma sequência de Yoga logo pela manhã em casa. Mas não tenho conhecimento para isso. Por isso nem arrisco. Mas gostava de fazer uma simples sequência, como a saudação ao Sol, por exemplo. Que, em parte, é simples. Mas só me lembro das primeiras posições. Por isso…

Já não passo sem o Yoga. Podia fazer todos os dias. Mas acompanhada, claro. Já em tempos o fiz, noutro centro, com outros horários, outras disponibilidades, outros professores. Outra vida, talvez…

No final da aula, há sempre o relaxamento. E tenho notado que, quando me deixo levar pelo estado de relaxamento, é-me cada vez mais difícil voltar ao eu activo. Regressar ao ritmo normal do dia. Ou, como costumo dizer, voltar a encaixar. Aterrar. O que for.

No Yoga Nidra, que é exclusivamente dedicado ao relaxamento profundo, já sei que facilmente vou. Não sei para onde, só sei que vou. E, começo a perceber, o mesmo tem acontecido no simples relaxamento no final da aula. Não sei se é bom sinal ou não, sei que simplesmente acontece. E sim, é difícil voltar. Vejo as minhas colegas no final do relaxamento a desaparecerem muito rapidamente. E eu sou sempre a última a sair. Porque ainda não encaixei de volta…

Quando finalmente saio, venho muito leve, muito lenta, muito não-sei-explicar. Mas sei que me faz bem. A todos os níveis.

E por isso vou continuar. Um ano depois de me inscrever ali, não há como voltar atrás.

O resto do Sábado nem teve tempo de ser aborrecido. Frio e chuva lá fora? Mantas e sofá cá dentro. Claro que adormeci. Apaguei completamente. Não sei se ainda por estar muito relaxada ou se simplesmente porque sim. Mas foram três horas…

Anyway, há muita coisa que quero saber, conhecer, aprender, questionar. Entender, acima de tudo. Mas sim, o meu caminho também é por aqui. Que, no fundo, acredito que de alguma forma está tudo ligado. E acho que é o momento de começar a procurar mais, saber mais, entender mais. Sobre mim mesma. Aquela parte que não é visível a olho nu mas que sei que existe em mim. Está na hora? Não sei. Talvez. Mas há já tanto tempo que tanta gente me aponta essa direcção. Não podem estar todos enganados.

O trabalho é todo meu, eu sei. Mas agradeço quando me apontam direcções possíveis para que eu possa decidir por onde ir. É só isso que peço. É só isso que preciso…

Hoje já deixei, fora de horas, algumas questões no ar. Não terei resposta hoje, claro. Mas, se vierem, nada mais serão do que orientações. Depois segui-las-ei se perceber que são para mim. Mas serão luzes no meu mapa que me ajudarão a entender. Entender o quê? Nem eu sei ao certo. E é isso que quero saber. Preciso saber.

Hoje de manhã foi bom. Foi muito bom, como é sempre. Agora é esperar por quarta feira. Até lá, é como tudo o resto: um dia de cada vez. Sem pressa. Depois logo se vê.

{#124.243.2024}

Sexta feira. Embora todos os dias sejam um longo dia de fim de semana, só mudam um bocadinho as actividades. E hoje foi, mais uma vez, dia de fisioterapia.

São já perto de 30 sessões realizadas e faltam apenas 4 a serem realizadas no hospital para terminar a fisioterapia hospitalar. De seguida, mantém-se a fisioterapia em clínica. Não sei ainda por quanto tempo nem quantas sessões serão. Mas, na verdade, são já notórias as melhorias.

Até há bem pouco tempo eu própria não sentia nem via essas melhorias. Mas já me diziam que sim, que estava melhor. Fisioterapeutas, médicos, bombeiros, a minha mãe, o professor de Yoga, toda a gente via. Menos eu. Que sou sempre a última a ver em mim o que é positivo. E desta vez não foi excepção.

Lembro-me de, em Dezembro, ao voltar do paredão apoiada à minha mãe, já com dificuldade em manter o caminhar equilibrado, ao ver a minha dificuldade o Meu Um, Metade do Meu Tudo, ter olhado para mim e ter dito: “oh tia, não te preocupes. Um bocado de fisioterapia e isso fica bom outra vez!”. E, como sempre, o Miguel tinha razão.

Não sei se vou conseguir ou não largar a bengala. Esta parte está mais ligada à parte psicológica do que à parte física. Porque, para variar, tenho medo. Sei que já fiz perto de 3 km sem bengala e sem apoio, mas não estava sozinha e, para manter o equilíbrio, bastava-me esticar o braço e tinha ali a minha mãe. Sei que disse à fisiatra que o meu objectivo é, de facto, largar a bengala. Mas também me lembro da resposta dela: “com as lesões que tem, não sei se vai conseguir”…

Logo se vê. Para já continua a ser um dia de cada vez. Na quarta feira já voltei do Yoga sozinha, ao fim de vários meses sempre na companhia da minha mãe, primeiro agarrada a ela para me equilibrar e depois, já de canadiana e posteriormente a bengala, porque não me achava capaz de fazer o caminho sozinha novamente. Mas fiz. E, amanhã, voltarei a fazê-lo.

Sim, já sinto e vejo melhorias. Felizmente. Ainda há algum trabalho a fazer, mas aquele que eu achava ser o mais difícil, voltar a ter equilíbrio a caminhar, está bem encaminhado. Não diria concluído porque tenho noção que posso regredir. Mas, sim, está muito bem encaminhado. E só posso agradecer à equipa que tem tratado de mim. Eram estagiários? Ainda a terminar o curso? Eram. Mas souberam fazer o seu trabalho muito bem. E, apesar de ter havido dias de trabalho pesado, também houve espaço para rir e brincar. E isso foi tão importante.

Aquela porta ainda se irá abrir para mim mais umas poucas vezes. 4, se não estou em erro. Mas foi para lá daquela porta que reaprendi a andar, que recuperei o equilíbrio e que reencontrei uma parte de mim que julgava perdida. E foram perto de 30 passagens para lá daquela porta que valeram muito a pena…

{#123.244.2024}

E quando o teu corpo te grita para parares, o que é que fazes? Ouves, obedeces e páras. O dia todo. Mesmo que tenhas acordado cedo.

Hoje foi assim. Amanhã não será. À tarde, depois da fisioterapia, talvez. Mas, para já, é a dor de cabeça que se faz presente. E, mesmo sendo quase 23h, ainda há tanto para fazer. No computador. Se a cabeça já me dói agora, depois do que ainda tenho para fazer hoje, não quero imaginar como vai estar. Se posso deixar para amanhã? Por mim poderia. Mas os outros…sempre os outros primeiro. Mesmo quando devia ser eu primeiro. Para variar, não sou…

{#122.245.2024}

Sábado que não foi. Foi quarta feira. Feriado. Dia em que o Yoga que ia acontecer ao fim do dia, como acontece todas as quartas feiras, aconteceu de manhã, no horário dos sábados. Foi o suficiente para me baralhar um pouco o calendário. But then again, desde Setembro que, para mim, os dias são todos o mesmo. Ainda me vou guiando pelos horários do Yoga para me orientar na semana. Mas hoje o jogo ficou mesmo estranho. Não é sábado. É quarta feira. Não me posso esquecer disso.

E, à quarta feira, depois da aula normal de Yoga, temos Yoga Nidra. Tenho que ler mais sobre isso, sim basicamente é uma sessão de meditação guiada. Que ainda não me levou a nenhum sítio como aquele onde estive o ano passado, mas que, confirmei hoje com o professor, me levou a algo no tempo, se é que posso descrever desta forma.

Voltar de um estado de relaxamento profundo é sempre difícil. E, já sei, comigo a meditação facilmente me leva para algum lugar de onde me é difícil regressar sem ajuda. Mas tenho trabalhado sempre para regressar mais facilmente. E quando regresso é-me demorado voltar ao estado de alerta normal. Acontece sempre lentamente.

Na semana passada, no entanto, ao regressar ao estado de alerta em que, depois do relaxamento deitadas, nos sentamos de pernas cruzadas, ao colocar as mãos em cima dos joelhos como é suposto, tive a nítida sensação de estar bem mais pequena em tamanho, quase como se tivesse novamente apenas 5 anos de idade…

Foi muito estranho. Uma sensação que, não nego, assusta. Porque eu tenho noção do tamanho do meu corpo mas, naquele momento, senti nitidamente que tinha andado para trás no meu tempo…

Não tinha tido, entretanto, oportunidade de falar com o professor. Queria, muito, partilhar essa experiência com ele. E hoje, depois da medicação guiada em que voltei a sentir o meu corpo mais pequeno do que é na realidade, partilhei com ele. E a resposta foi: isso é sinal de que houve uma regressão. Assim, sem hesitar.

Contei-lhe, muito por alto, a experiência que tive há um ano. Uma regressão. Onde me encontrei enquanto criança. Não houve tempo para falarmos muito. Mas a partilha ficou lá. A mensagem chegou lá. Ao ponto de, esta noite, ter recebido mensagem dele a referir que foi uma experiência sensorial.

Mas que não é para ficar a matutar agora. Havemos de conversar sobre tudo isso. E eu vou querer saber mais. Conhecer mais. Entender mais. Mas, o que já entendi, é que mais uma vez me apontam numa direcção: a espiritual. Não duvido disso.

Mas não vou ficar agora presa nesse pensamento. Vou simplesmente deixá-lo a pairar. E, se no próximo sábado tivermos oportunidade, iremos falar sobre isso. E eu quero muito falar sobre isso. Porque, já sei, há algo em mim que sobressai e que é perceptível a quem sabe ver. E é tão curioso como já várias pessoas que não se conhecem, nunca falaram, nunca sequer se cruzaram, me apontam todas na mesma direcção…

Quarta feira que não foi sábado, foi feriado. De manhã, Yoga e Nidra. E à tarde aquilo que já tenho notado depois do Nidra: dormir profundamente. Não sei se é normal. Mas já percebi que é depois do Nidra que mais durmo profundamente.

Fico com esta na cabeça até sábado. Ou seja lá quando for que iremos conversar sobre isto. Mas é bom saber que não estou sozinha e que tenho quem me possa orientar de alguma forma…

Hoje foi este o meu dia. Com duas coisas que me fizeram sentir muito bem:

– quando o professor de Yoga, à saída, diz a uma responsável pelo espaço que eu sou uma aluna exemplar porque não desisti nem desisto apesar das notórias dificuldades;

– fazer o caminho de regresso a casa sozinha, com o apoio da bengala, claro, e em apenas 20 minutos quando com companhia já passou largamente dos 30.

São pequenos passos, pequenas vitórias. Mas que me sabem muito bem. E que me fazem ainda melhor. Porque, já sei, posso não voltar ao meu normal, mas sei que vou chegar ao meu melhor.

Amanhã? É outro dia. E depois logo se vê. Mas sinto-me bem. Sinto-me aconchegada. E, para mim, é só isso que importa.