“Sell me this pen!”
Nunca me imaginei a “vender a caneta”. Até hoje.
E a “caneta” foi vendida.
Cansada. Disto. De ter que bater à porta de uma urgência hospitalar que não se quer. Mas que se torna necessária a cada novo dia no carrossel comboio fantasma montanha russa que não precisa de moedas.
Não resultou na primeira pulseira amarela. Tem que resultar na segunda. Não quero uma terceira.
Porque cansada. Muito. Disto. E da mesa do café para um. Sempre. Como sempre.
Cansada. Tanto.
Sair daqui. Preciso. Preciso de porto seguro em tempos de tempestade.
Não é fugir. Não é esconder-me. É simplesmente sentir-me protegida. Mesmo que lá fora as tempestades continuem, mesmo sabendo que só eu posso resolvê-las. Mesmo que a minha presença no centro da tempestade seja necessária para poder resolver tudo o que tenho que, de alguma forma que não sei qual, resolver.
Preciso. Sair daqui. Um porto seguro. Sentir-me protegida. Deixar-me estar, ali. Deixar-me ser, ali. Só que não existe esse ali. Por isso vai ser no centro da tempestade que vou continuar. A estar. A ser. Sem protecção.
A Depressão?
A Depressão é a visita não programada à Feira Popular com entrada imediata no carrossel que mistura a montanha russa com o comboio fantasma. Mesmo que não se tenha comprado bilhete, não há como escapar da viagem.
Começa com a inquietação e a ansiedade da antecipação. Entra-se de mansinho nos corredores sem cor do comboio fantasma para de imediato descer vertiginosamente na montanha russa sem sequer ter chegado a subir.
É o frio na barriga, sempre o escuro dos corredores sem cor, as curvas deitadas a alta velocidade, o ar que falta no loop de cabeça para baixo e descer, descer, descer.
Por momentos um pouco de luz, de cor, de euforia da subida rápida para logo de seguida voltar a mergulhar no vazio da escuridão dos corredores. Que assustam pelo vazio, pela escuridão, pelo desconhecido.
É deixar o comboio fantasma para trás e seguir devagar, sempre no carrossel sem moedas, perdendo força pelo caminho, perdendo impulso, quase ficar parada nos carris e querer simplesmente ficar por ali, quieta, sossegada. Também não há cor ali, tudo é escuro, pouco nítido, desfocado. Pelas lágrimas ou simplesmente pela visão alterada da realidade. E ir descendo devagar, quase sem dar por isso, descendo, descendo, descendo.
Há estímulos exteriores, a espaços. Que estão do lado de fora do carrossel comboio fantasma montanha russa, daqueles sem moedas e onde é fácil entrar mas tão difícil sair. Há, a espaços, luz e cor e mãos que nos tocam e nos puxam e nos acolhem e aconchegam. E, nessa altura, a adrenalina de ter escapado, ainda que por momentos, ao carrossel comboio fantasma montanha russa é alta e traz a euforia e o riso fácil e a gargalhada alta numa ilusão de que a viagem terminou quando, na verdade, nunca parou e logo ali, logo ali a seguir à euforia novamente a curva deitada a alta velocidade, a vertigem da descida, o grito contido do medo ao perceber que é uma viagem que não quero, não quero, não quero mas da qual não consigo sair sozinha.
O medo. Do carrossel comboio fantasma montanha russa que não precisa de moedas na Feira Popular onde entrei sem dar conta e de onde não consigo sair.
Sim, a Depressão é tudo isto. É o grito da euforia da subida, é o grito do medo da descida, é o grito da adrenalina da aparente saída que não passa de uma pausa. E é o silêncio. E é a falta de luz e cor nos corredores.
Sim, a Depressão também é isto. Um isto que ainda não conhecia. E que, sei, não quero para mim. Mas sei, também, que não sei como sair deste carrossel comboio fantasma montanha russa que não precisa de moedas. Muito menos sozinha…