Monthly Archives: April 2014

Desta coisa dos cafezinhos

Tenho a certeza que muita gente levanta o sobrolho com estas partilhas que tenho feito dos cafezinhos.

Lamento, vou continuar a fazê-las até achar que devo. Sem entrar em pormenores que não interessam a ninguém. Mas sim, vou continuar.

Porque preciso. Porque, se não contar ao mundo, sinto que na realidade não existe.

Porque foram precisos estes cafezinhos para me fazer lembrar que, afinal, estou viva. E que mereço mais que o marasmo e falta de entusiasmo por mim mesma dos últimos anos.

Quem acompanhou o blog nos idos de 2003, mas especialmente de 2004, sabe que houve coisas que não foram fáceis para mim de lidar. Coisas essas que me levaram a esse marasmo. Outras tantas, que vieram por arrasto [ou não], levaram-me à falta de entusiamo por mim mesma. Foi preciso que passassem 10 anos, dez, para acordar de novo para a vida. E perceber que, porra, também mereço mais e melhor do que me tenho permitido a mim mesma nos últimos anos, anos esses que foram 10 e só hoje percebi.

Há toda uma vida lá fora. Há tanta gente lá fora. E, ao longo destes anos, que foram dez, houve algum entusiasmo que sempre soube que não passaria nunca disso, apenas entusiasmo. Mas que nunca calhou ser mais que isso. Porquê não sei. Talvez nunca tenha havido aquela coisa que cresce cá dentro que não são borboletas mas que é um bicho qualquer. Porque, e especialmente nos últimos 6 ou 7 anos, eu mesma não me permiti que houvesse. Por tantos motivos que nem eu sei quais. Ou talvez nenhum motivo, e que sei identificar tão bem. Sim, assim mesmo: tantos que não sei quais, nenhum e que sei identificar tão bem.

A culpada disto tudo? Eu. A única responsável. Esqueci-me de mim. Pus-me de parte.

E hoje, hoje percebo e sei e sinto que sim, preciso de mais, mereço mais. Muito mais. Porque não sou menos que ninguém e tenho o direito a ser feliz.

Se estes cafezinhos vão dar em mais alguma coisa, não interessa. Já estou a ganhar. Já deram em acordar-me para a vida e perceber que sim, que preciso de mais, que mereço mais, que sou mais.

E sim, amanhã há novo cafezinho, iniciativa minha, mas já decidido que há também um home made dinner. Iniciativa dele. O que vier daí? Que venha… =)

5 meses

Foi já há 5 meses que recebi o telefonema: que me tinham roubado o meu primo. Que tinham roubado o sobrinho da minha mãe. Mas pior, que tinham roubado o irmão da minha prima, o filho dos meus tios.

O filho dos meus tios.

…o filho dos meus tios…

Continuo a reviver tudo como se tivesse acontecido ontem. Aquela semana de horror, de revolta, de raiva. Aquela semana de dor. Minha, da minha mãe. Aquela semana de terror e de algo indescritível, pior que dor, dos meus tios e da minha prima. Aquela semana que numa madrugada nos roubou o meu primo, e levou com ele a minha prima e os meus tios. Que nunca mais foram os mesmos. Como poderiam sê-lo? Como poderão voltar a sê-lo?

Ainda não chorei. Ainda não consegui chorar o que tenho engasgado cá dentro sempre que revivo aquela semana que durou uma eternidade, que passou em menos de 5 minutos.

De vez em quando, a voz embarga-se, treme, caem umas lágrimas. Poucas. Nunca aquelas todas que já deviam ter saído e que continuam a consumir-me por dentro. Porque me roubaram o meu primo, porque me transfiguraram a minha prima e os meus tios.

E falo disto sempre que posso. Sempre que alguém esteja disposto a ouvir-me. Porque preciso. Porque não posso guardar cá dentro o que me corrói. Porque ainda não esgotei a raiva, a revolta que vai cá dentro.

Porque quem está na Carregueira está melhor do que estão a minha prima, os meus tios. E simplesmente está, enquanto o meu primo já não.

Não me peçam “menos”. Não me peçam para não “remexer no assunto”. Dêem-me a mão quando precisar. Como quando, há duas semanas atrás, revivi tudo numa questão de segundos só de saber que, finalmente, foi formalizada a acusação. A maior de todas. E a voz prendeu-se. Elevou-se e tremeu. E as lágrimas, sempre poucas, caíram.

Sei que não posso ter o Alexandre de volta. Mas queria, gostava, de ter a Patrícia, o Tio Zé e a Tia Mimi de volta. E isso, isso nunca irá acontecer. Porque numa madrugada, em menos de nada, num acto que, está comprovado, não foi involuntário, nos roubou uma família inteira.

Dos cafés que duram 3 horas

Ontem. Café que devia ser rapidinho porque o cansaço é mais que muito. Rapidamente se passaram 3 horas. Outra vez.

E eu gosto destas 3 horas. Muito.

{e as dm’s que continuam. E sempre a sensação de “já foste, Kooka Maria”…e já nem me importa se “já foste” ou não.}

Não tenho tempo para perder tempo. E estas três horas não são tempo perdido.

São tempo de ir conhecendo e sair novamente com a sensação “conheço-te da vida toda”.

E depois há finais de dia assim, de sentar na relva, debaixo das árvores. Com a luz perfeita para um final de dia perfeito. E continuar a conversar, a ouvir, a falar, a partilhar, a conhecer. E o sol a dizer que amanhã é outro dia, e as dm’s a prolongarem-se pela noite, porque a noite também é dia.

E, cá dentro, há um bichinho que vai crescendo. Que tinha desaparecido há muito tempo. Tanto tempo. Demasiado tempo. E não sendo borboletas na barriga, é um bichinho que enche o peito, preenche a alma. Vai crescendo devagarinho. Mas com força. Que assusta, claro. Mas que diz também “que se lixe”. Estou viva, estou “aqui e agora”. E quero [e vou!] aproveitar cada segundo disto. Seja lá isto o que for. Porque mais facilmente me arrependo do que poderia ter sido se tentasse mas não tentando do que não foi mas tentei.

Guardo tudo

Guardo cartas, guardo postais, guardo papelinhos com recados, guardo desenhos, guardo cadernos.

Um dia [re]encontro[-me em] tudo.

. Envolver . Desenvolver . Devolver .

Envolvo-me na mesma medida em que me entrego. Entrego-me na mesma medida em que me desenvolvo. Desenvolvo afectos, carinhos, amores. Desenvolvo envolvências e entregas.

Devolvo na mesma medida em que recebo. Envolvo, desenvolvo, devolvo.

E não é sempre assim?

Quando tudo tem tudo para ser tudo ou quase nada

Como voltar ao blog. Tem tudo para ser bom. Tem tudo para correr bem. Tem tudo para correr mal, também.

Tem tudo para fazer bem. Tem tudo para ser tudo aquilo que preciso. Tem tudo para ser precisamente nada do que preciso.

Tem tudo.

E no fundo não tem nada.

15 anos. Mais 22 de experiência.

De hoje: voltar a ser um bocadinho adolescente novamente. Mas já longe dos 15 anos. Fazer coisas pela primeira vez. Em muitos anos, pelo menos.

A “borboletagem” na barriga, que não é o mesmo que borboletas, pela antecipação.

A decisão de última hora de um café adiado há vários meses. E porque não hoje, já?

3 horas de conversa, interrompida apenas pelo frio e pelo imprevisto das horas. Mais meia hora à entrada do parque de estacionamento.

Nem a dor de cabeça que crescia teimosamente me demoveu de querer mais cafés. De querer saber mais. Conhecer melhor.

O que vem depois? Não sei. A piada de ser adolescente já longe dos 15 anos e simultaneamente adulta nos recém 37 é essa mesma: não saber. E não me importar com isso.