Entrámos naquela fase em que, por todo o lado, seja em que área for, se lê “o melhor de 2014” em tudo.
Tem-me feito pensar. Tem-me feito olhar para trás. Tem-me feito reflectir.
Se, há um ano atrás, a esta hora, estava desejosa que 2013 acabasse porque, achava eu, tinha sido demasiado mau, hoje não tenho pressa que 2014 acabe. Não pensava, não sabia, não previa, há um ano atrás, que 2014 podia ser muito semelhante a 2013. Achava que não, que nada poderia ser pior. Também não posso dizer que foi pior, na verdade. Apenas diferente. E semelhante em simultâneo. Semelhante na profundidade dos dias negros, dos dias maus, dos dias que se querem esquecer. Achava, ingenuamente, que 2014 seria tranquilo.
Não foi.
Os primeiros seis meses foram dedicados a digerir os acontecimentos do final de 2013. A gerir ansiedade. A tentar aceitar e seguir em frente. A não conseguir chorar e, assim, a não conseguir digerir. A constantemente negar. A recusar que o portão não se voltaria a abrir.
Encerrou-se um capítulo. Abriu-se, de imediato, outro. Que me transportou para um lugar escuro. Demasiado escuro. Negro. Dorido. Doído, ainda hoje. Um lugar que me fez descobrir em mim um lado que desconhecia. Que nunca achei ser possível. Porque a dor, essa, faz-nos descobrir esses lugares negros, esses lados irreconhecíveis. Um capítulo que durou pouco, muito pouco tempo, mas que se irá manter sempre. Porque a memória, essa, perdura no tempo. Ameniza a dor, dizem, com o tempo. A saudade idem. Mas a memória, essa, fica sempre.
Se 2013 tinha sido dorido, 2014 transformou-se no pior dos cenários que poderia imaginar. Porque nunca sonhei sequer que assim poderia ser, que assim iria acontecer, que faria parte do meu caminho, da minha História. Mas foi. Assim. Dorido, tanto. Doído, ainda. Mas foi também esse capítulo que abriu outro. Melhor. Que me fez perceber que não, não estou sozinha. Nunca o estive, na verdade. Mas nem sempre me lembrava disso. Foi preciso descer bem fundo, ao fundo daquele lugar negro de onde, admito, cheguei a pensar em não querer sair, porque é sempre mais fácil ficar, foi preciso descer ao fundo do fundo, para perceber que não estou sozinha. Estou rodeada de pessoas lindas. Que, de uma maneira ou de outra, estiveram lá. Que me lançaram escadas. Que empurraram alavancas. Que me puxaram. Que me abriram os braços. Que me estenderam a mão. Já o tinham feito em 2013, é um facto. Mas 2014 trouxe-me a certeza que esses gestos têm um nome: Amor. E foi esse Amor, esses gestos, esses braços abertos, essas escadas lançadas, essas alavancas empurradas, essas mãos estendidas, foi esse não estar sozinha que me trouxe até aqui. Dia 30 de Dezembro do ano mais negro de que tenho memória, 2014. E hoje mais forte, muito mais, do que em Junho, Julho, Agosto. Até mesmo que Setembro.
E foi por esses gestos de Amor, essas bolas de sabão, esses pirilampos, esses pontos de fuga, essas luzes de presença, esses nascer do Sol, essas noites de Lua, Cheia ou Nova, que me fizeram perceber que é o Amor que importa. É o Amor, aquele do A maiúsculo, que nos faz crescer, que nos faz viver, mesmo quando acreditamos que apenas sobrevivemos e quando não, não queremos sair do fundo do poço. Porque, acreditem, o fundo do poço, por muito escuro, muito negro, muito horrível que seja, é confortável. E é demasiado fácil deixarmo-nos ficar ali, quietos. Sem reacção. Sem falar. 3 dias sem falar…como é possível? Não sei, mas foi. E, por estranho que possa parecer, apesar de hoje olhar para trás e saber que foram provavelmente os piores dias de sempre, foram também os mais fáceis. Porque é tão fácil, tão demasiado fácil, acomodarmo-nos à dor, ao escuro. E simplesmente ficar ali.
Foi preciso um murro na mesa. Foi preciso um abanão. Foi preciso um desafio para voltar à tona. Para ter vontade de voltar à tona. Para voltar a ver cor. Para voltar a querer ver cor. Para começar a dar importância às coisas mais pequeninas. Para começar a parar todos os dias por um bocadinho para reflectir. Para apreciar o momento, por mais simples que seja. Para aceitar o que a vida nos traz. Seja bom ou menos bom. E para agradecer. Agradecer o simples facto de acordar todos os dias. Com mais ou menos vontade de sorrir. Mas simplesmente acordar. Ter direito a mais um dia, a mais um aqui e agora.
Foi preciso isso tudo para que os últimos meses de 2014, depois de 6 meses de ansiedade angustiante, seguidos de 3 meses de dor e escuridão, foi preciso tudo isso para que o final de 2014 me trouxesse tantas coisas boas. Que não esperava. Que achava, achei durante tanto tempo, que não merecia. Síndrome de patinho feito, talvez. E trouxe, também, ou precisamente por isso, uma tranquilidade imensa, que não sei explicar, mas que está cá. Tranquilidade? Paz. Estou em paz. É isso. O final de 2014 trouxe-me paz. Interior. Coisa que, estranhamente, não conhecia.
2014, vejo-o hoje, tem sido o início de um caminho interior que não tem previsão para terminar. Porque é daqueles caminhos que não têm meta, porque se fazem um dia após o outro. 2014 trouxe-me ensinamentos muito valiosos, preciosos. Trouxe-me mudanças. Minhas. Interiores. Para melhor. Trouxe-me a tempestade das tempestades, é verdade. A dor das dores. O negro da escuridão. Mas, e pegando em frases feitas, é preciso passar pela escuridão para ver a Luz.
E hoje, depois deste ano de montanha russa, é a Luz que trago comigo em busca do ritmo da roda gigante. É o Amor. O que recebo, claro, mas acima de tudo o que dou. Porque é a dar que me sinto bem.
E se descobri a força, o poder do Amor, esse do A maiúsculo, devo-o tanto a todos os que, de uma forma ou de outra, estiveram do meu lado, ao meu lado, com a vossa Luz na minha escuridão. Porque foi o vosso Amor, a vossa incomensurável generosidade, que me trouxeram até aqui, onde estou hoje. Em Paz. E por isso mesmo sou tão grata por tudo. Por quem esteve, por quem não esteve, pelo que de bom aconteceu, mas também pelo que de mau 2014 trouxe.
Agora? Agora é sorrir, agradecer todos os dias a benção de mais um dia, e seguir em frente em cada novo aqui e agora.
Obrigada, tanto, por terem estado aí.